Os símbolos da cruz e do peixe

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 02:00

De acordo com King e com outros numismatas e arqueólogos, a cruz foi colocada naquele lugar como um símbolo da vida eterna. Como um Tao, ou cruz egípcia, era utilizada nos mistérios báquicos e eleusinos. Símbolos do duplo poder gerador, era colocada sobre o peito do iniciado, após o cumprimento do seu "novo nascimento", e depois que os mystai retornassem do seu batismo no mar. Era um sinal místico de que seu nascimento espiritual se regenerara e unira sua alma astral com seu espírito divino e de que ele estava pronto para ascender em espírito às moradas bem-aventuradas da luz e da glória - as Eleusinia.(Os Mistérios ELESIANOS, remonta ao ano de 1.800a.C., e segundo Epifânio, era praticado nos dias de Inaco.) O Tao era um talismã mágico, ao mesmo tempo que um emblema religioso. Foi adotado pelo cristãos através dos gnósticos e dos cabalistas, que o usaram corretamente, como suas jóias testemunham, e que tinham o Tao (ou cruz ansata) dos egípcios e a cruz latina dos missionários budistas que a haviam trazido da índia (onde ela ainda pode ser encontrada) dois ou três séculos a.C. Os assírios, os egípcios, os americanos antigos, os hindus e os romanos possuíam-na com várias, mas muito pequenas modificações de forma. Até uma época muito avançada na Idade Média, foi considerada um encanto poderoso contra a epilepsia e a possessão demoníaca; e o "signo de Deus vivo", trazidos na visão de São João pelo anjo que vinha do Este "para marcar os servidores de nosso Deus em suas testas", era o mesmo Tao místico - a cruz egípcia. No vitral de Saint-Dénis (França), esse anjo está representado marcando com esse sinal a fronte do eleito; a legenda diz: SIGNUM TAY. King, o autor de Gnostics, lembra-nos nesse livro que "essa marca é geralmente trazida por Santo Antônio, um recluso egípcio". O verdadeiro significado do Tao nos é dado pelo São João cristão, pelo Hermes egípcio e pelos brâmanes hindus. É evidente que, para o apóstolo, pelo menos, ele significava o "nome Inefável", como ele denomina esse "sinal do Deus vivo" poucos capítulos adiante, o "nome do Pai escrito em suas frontes".

O Brahmâtma, o chefe dos iniciados hindus, possuía sobre a cobertura da sua cabeça suas chaves cruzadas, símbolo do mistério da vida e da morte; e, em alguns pagodes budistas da Tartaria e da Mongólia, a entrada de uma câmara no templo, que geralmente continha a escada que leva ao dagoba interior (Dagoba é um pequeno templo de forma globular em que são preservadas as relíquias de Gautama.), e os pórticos de alguns prachidas (Os prachidas são construções de todas as formas e dimensões, como os nossos mausoléus, e são consagrados a oferendas votivas aos mortos.) estão ornamentados com uma cruz formada de dois peixes, que se encontra também em alguns zodíacos budistas. Não nos espantaríamos em saber que o emblema sagrado dos túmulos das catacumbas, em Roma, a vesica piscis, deriva desse mesmo signo zodiacal budista. É fácil formar uma idéia do quanto essa figura geométrica se difundiu nos símbolos mundiais pelo fato de que há uma tradição maçônica segundo a qual o templo de Salomão foi construído sobre três fundações que formavam o "Tao triplo", o três cruzes.

No seu sentido místico, a cruz egípcia deve a sua origem, como emblema, à compreensão, pela filosofia primitiva, de um dualismo andrógino de toda manifestação da natureza, que procede do ideal abstrato de uma divindade igualmente andrógina, ao passo que o emblema cristão é um simples efeito do acaso. Se a lei mosaica tivesse prevalecido, Jesus teria sido apedrejado (Os registros talmúdicos afirmam que, após ter sido enforcado, ele foi apedrejado e sepultado sob a água, na junção de dois rios. Mishnah Sanhedrin, VI, 4; Talmude da Babilônia, mesma cláusula, 48a, 67a [citado por E. Renan]). O crucifixo era um instrumento de tortura e tão comum entre os romanos, quanto desconhecido das nações semíticas. Era chamado "Árvore da Infância". Só mais tarde é que ele foi adotado como símbolo cristão; mas, durante as duas primeiras décadas, os apóstolos olhavam para ele com horror. Não é certo que João tivesse em mente a cruz cristã quando falava do "sinal do Deus vivo", mas o Tao místico - o Tetragrammaton, ou nome poderoso, que, nos talismãs cabalísticos mais antigos, era representado pelas quatro letras hebraicas que compõem a Palavra Sagrada.

(N. C. - Tetragrammaton - “Quando, no princípio, o seu Pai \ ..., o Inconcebível, o Sem-Existência e em Sexo \ o Ain-Soph cabalístico \, desejou que o seu Inefável \ o Primeiro Logos ou Æon \ nascesse, e que o seu Invisível se revestisse de uma forma, sua boca se abriu e pronunciou o Verbo, semelhante a Ele mesmo. Este Verbo (Logos), como permanecesse próximo, manifestou-se sob a forma do Uno Invisível, demostrando assim o que era. O Nome \ Inefável \ foi articulado \ por meio do Verbo \ da seguinte maneira. Ele \ o Supremo Logos \ pronunciou a primeira Palavra de seu Nome... que era uma combinação \ sílaba \ de quatro elementos \ letras \. Depois foi acrescentada a segunda combinação, também composta de quatro elementos. Em seguida, a terceira de dez elementos, que foi sucedida pela quarta, com doze elementos. A pronúncia de todo o nome compreende, portanto trinta elementos e quatro combinações. Cada elemento tem suas próprias letras, seu caráter, pronúncia, agrupamento e semelhanças peculiares; mas nenhum deles percebe a forma daquilo de que é o elemento, nem entende a voz do seu vizinho ; contudo, o som que cada um emite diz tudo \ o possível \ quando ele julga ser bom chamar ao todo... E são estes sons que manifestam na forma de Æon Sem Existência e Não-Gerável; e são estas formas que se chamamos Anjos que perpetuamente contemplam a Face do Pai \ o Logos, o “Segundo Deus”, que permanece próximo a Deus, o “Inconcebível”, segundo Filon \”. do Libro A Doutrina Secreta de H. P. B.Volume II.)

Sabe-se que os emblemas cristãos mais antigos - antes da representação da aparência corporal de Jesus - foram o Carneiro, o Bom Pastor e o Peixe. A origem deste último emblema, que tanto embaraçou os arqueólogos, torna-se, assim, compreensível. Todo o segredo repousa no fato, facilmente perceptível, de que, ao passo que na Cabala o Rei Messias é chamado de "Intérprete ou Revelador do Mistério e mostrado como a quinta emanação, no Talmude - por razões que explicaremos agora -, o Messias é muito freqüentemente designado como "DAG" ou Peixe. Trata-se de uma herança dos caldeus e tem relação - como o próprio nome indica - com o Dagon babilônio, o homem-peixe, que foi o instrutor e o intérprete do povo, a quem ele apareceu. Abarbanel explica o nome, dizendo que o sinal de sua vinda (do Messias) "é a conjunção de Saturno e Júpiter no signo de Pisces". Em conseqüência, na medida em que os cristãos queriam a todo preço identificar o seu Cristos com o Messias do Velho Testamento, eles o adotaram tão prontamente, que se esqueceram de que a sua verdadeira origem datava de uma época bastante anterior ao Dagon babilônico. Para termos uma idéia da extensão em que os cristãos primitivos confundiam o ideal de Jesus com qualquer dogma cabalístico, basta consultar a linguagem com que Clemente de Alexandria se dirigiu a seus irmãos em religião.

Quando debatiam sobre a escolha do símbolo mais apropriado para lhes lembrar Jesus, Clemente os advertiu com as seguintes palavras: "Gravai sobre a gema do vosso anel uma pomba, ou um barco empurrado pelo vento [o Argha], ou um peixe". Estava o bom padre, ao escrever essa sentença, obsedado pela lembrança de Josué, filho de Nun (chamado Jesus nas versões gregas e eslava); ou havia ele esquecido a interpretação real desses símbolos pagãos? Josué, filho de, ou Nave (Navis), poderia com absoluta propriedade adotar a imagem de um barco, ou mesmo a de um peixe, pois Josué significa Jesus, filho de deus-peixe; mas era realmente muito arriscado conectar os emblemas de Vênus, de Astartê e de todas as deusas hindus - o argha, a pomba e o peixe - com o nascimento "imaculado" de seu deus! Parece que nos primeiros dias do Cristianismo existia uma diferença muito pequena entre Cristo, Baco, Apolo e Krishna hindu, a encarnação de Vishnu, cujo primeiro avatar originou este símbolo do peixe.

No Bhâgavata-Purâna bem como em muitos outros livros, mostra-se o deus Vishnu assumindo a forma de um peixe com uma cabeça humana, a fim de reencontrar os Vedas perdidos durante o dilúvio. Tendo ajudado Vaivasvata a escapar com toda a sua família na arca, Vishnu, tomado de piedade pela Humanidade fraca e ignorante, permaneceu com eles durante algum tempo. Foi esse deus que os ensinou a construir casas, a cultivar a terra e a agradecer à Divindade desconhecida, que ele representava, por meio da construção de templos e da instituição de uma adoração regular; e, como ele continuasse metade peixe, metade homem, todo o tempo, a cada pôr-do-sol ele voltava ao oceano, onde passava a noite.

"Foi ele"- diz o livro sagrado - "que ensinou os homens, após o dilúvio, tudo o que era necessário à sua felicidade.

"Certa vez ele mergulhou na água e nunca mais voltou, pois a terra se cobrira novamente com vegetação, frutos e gado.

"Mas ele ensinara aos brâmanes o segredo de todas as coisas" (Bhâgavata-Purâna, VIII, 24).

Até aqui, vemos nessa narrativa o duplo da história fornecida pelo babilônico Berosus sobre Oannes, o peixe-homem, que não é outro senão Vishnu - a menos, na verdade, que admitamos que foi a Caldéia que civilizou a Índia!

Talvez possamos lançar luzes adicionais sobre essa embaraçante questão do peixe-símbolo se lembrarmos ao leitor que, de acordo com o Gênese, o primeiro dos seres vivos criados, o primeiro tipo de vida animal, foi o peixe. "E Elohim disse: `Que as águas produzam em abundância criaturas que possuem vida' (...) e Deus criou grandes baleias (...) e a manhã e a tarde construíram o quinto dia" [Gênese, I, 20-3]. Jonas foi engolido por um grande peixe e lançado para fora três dias depois. Os cristãos consideram esse fato como uma premunição dos três dias de sepultura de Jesus que precederam a sua ressurreição - embora a afirmação dos três dias seja tão fantasiosa quanto todo o resto e também seja adotada para enquadrar com a ameaça de destruição do templo e de sua reconstrução em três dias. Entre o sepultamento e a alegada ressurreição transcorreu apenas um dia - Sabbath judaico -, pois ele foi enterrado na tarde da sexta-feira, ressuscitado na aurora do domingo. Todavia, sejam quais forem as circunstâncias que devam ser tomadas com uma profecia, a história de Jonas não pode ser considerada uma delas.

É significativo que essa dupla denominação de "Messias" e "Dag" (peixe), dos talmudistas, pudesse ser aplicada ao Vishnu hindu, o Espírito "Conservador" e a segunda pessoa da trindade bramânica. Essa divindade, que já se havia manifestado, ainda é considerada como o futuro Salvador da Humanidade e Redentor escolhido, que ressurgirá em sua décima encarnação ou avatâra, como o Messias dos judeus, para conduzir os bem-aventurados e restituir-lhes os primeiros Vedas. No seu primeiro avatar, pretende-se que Vishnu tenha aparecido à Humanidade sob a forma de um peixe. No templo de Râma, há uma representação desse deus que corresponde perfeitamente à de Dagon, tal como Berosus no-lo apresenta. Ele possuía o corpo de um homem que saía da boca de um peixe e segura em suas mãos o Veda perdido. Vishnu, além disso, é o deus da água, em certo sentido, o Logos do Parabrahman, pois, como as três pessoas da divindade manifestada intercambiam constantemente seus atributos, vemo-lo, no mesmo templo, representado reclinado sobre a serpente de sete cabeças, Ananta (eternidade) e se movendo, como o Espírito de Deus, sobre a superfície das águas originais.

Vishnu é, evidentemente, o Adão-Cadmo dos cabalistas, pois Adão é o Logos ou o primeiro Ungido, da mesma maneira que o segundo Adão é o Rei Messias.

Lakshmî, a contrapartida passiva ou feminina de Vishnu, o criador e o conservador, também é chamada Âdi-Mâyâ. Ela '[e a "Mãe do Mundo", Devamatrî, a Vênus-Afrodite dos gregos; também Ísis e Eva. Ao passo que Vênus nasceu da espuma do mar, Lakshmî brota da água, quando da agitação do mar; nascida, ela é tão bela, que todos os deuses se apaixonam por ela. Os judeus, emprestando os seus tipos onde os pudessem conseguir, calcaram a sua primeira mulher no padrão de Lakshmî. É curioso que Viracocha, o Ser Supremo do Peru, significa, literalmente, "espuma do mar".

Já dissemos acima que, de acordo com os cálculos secretos peculiares aos estudiosos da ciência oculta, Messias é a quinta emanação, ou potência. Na Cabala judaica, em que os dez Sephiroth emanam de Adão-Cadmo (colocado abaixo da coroa), ele vem em quinto lugar. Assim também no sistema gnóstico; assim também no budista, em que o quinto Buddha - Maitreya - aparecerá em seu último advento para salvar a Humanidade antes da destruição final do mundo. Se Vishnu é representado em sua futura e última aparição como o décimo avatar ou encarnação, é apenas porque cada unidade, considerada como um andrógino, manifesta-se duplamente. Os budistas que rejeitam essa encarnação bissexual reconhecem apenas cinco. Assim, ao passo que Vishnu fará sua última aparição na sua décima encarnação, Buddha cumprirá o mesmo em sua quinta. (Os Sephiroth cabalísticos são dez, ou cinco pares).

 

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