Instinto e a Razão, Explicada Pelos Antigos

Enviado por Estante Virtual em sab, 17/12/2011 - 13:36

Do Instinto e da Razão. De acordo com os antigos, a Razão procede do divino; o Instinto do puramente humano. O segundo (o instinto) é um produto dos sentidos, uma sagacidade compartilhada com os animais mais inferiores, mesmo aqueles que não têm razão; o outro (a razão) é o produto das faculdades reflexivas, que denota a judiciosidade e a intelectualidade humanas. Em conseqüência, um animal desprovido de poderes de raciocínio tem, no instinto inerente ao seu ser, uma faculdade infalível que é apenas uma centelha do divino que reside em cada partícula de matéria inorgânica - próprio espírito materializado. Na Cabala judaica, o segundo e o terceiro capítulo do Gênese são explicados da seguinte maneira: Quando o segundo Adão foi criado "do pó", a matéria tornou-se tão grosseira, que ela reina como soberana. Dos seus desejos emanou a mulher, e Lilith possuía a melhor parte do espírito. O Senhor Deus, "passeando no Éden no frescor do dia" (o crepúsculo do espírito, ou a Luz Divina obscurecida pela sombra da matéria), amaldiçoou não só aqueles que cometeram o pecado, mas também o próprio solo e todas as coisas vivas - a tentadora serpente-matéria acima de tudo.

Quem, a não ser os cabalistas, é capaz de explicar este aparente ato de injustiça? Como devemos compreender esta maldição de todas as coisas criadas, inocentes de todo crime? A alegoria é evidente. A maldição é inerente à própria matéria. Segue-se que ela está condenada a lutar contra a sua própria grosseria para conseguir a purificação; a centelha latente do espírito divino, embora asfixiada, ainda permanece; e a sua

invencível atração ascensional obriga-a a lutar com dor e com suor a fim de se libertar. A lógica nos mostra que, assim como toda matéria teve uma origem comum, ela deve ter atributos comuns e que, assim como a centelha vital e divina encontra-se no corpo material do homem, também ela deve estar em cada espécie subordinada. A mentalidade latente, que, nos reinos inferiores, é considerada semiconsciência, consciência e instinto, é enormemente moderada no homem. A razão, produto do cérebro físico, desenvolve às expressas do instinto a vaga reminiscência de uma onisciência outrora divina - o espírito. A razão, símbolo da soberania do homem físico sobre os outros organismos físicos, é freqüentemente rebaixada pela instinto do animal. Como o seu cérebro é mais perfeito do que o de qualquer outra criatura, as suas emanações devem naturalmente produzir os resultados superiores da ação mental; mas a razão serve apenas para a consideração das coisas materiais; ela é incapaz de auxiliar o seu possuidor no conhecimento do espírito. Perdendo o instinto, o homem perde os seus poderes intuitivos, que são o coroamento e o ponto culminante do instinto. A razão é a arma grosseira dos cientistas - a intuição, o guia infalível do vidente. O instinto ensina à planta e ao animal o tempo propício para a procriação das suas espécies e guia a fera na procura do remédio apropriado na hora da doença. A razão - orgulho do homem - fracassa no refrear as propensões da sua matéria e não tolera nenhum obstáculo à satisfação ilimitada dos seus sentidos. Longe de levá-lo a ser o seu próprio médico, a sua sofisticação sutil leva-o muito freqüentemente à sua própria destruição.

Como tudo o mais que tem origem nos mistérios psicológicos, o instinto foi durante muito tempo negligenciado no domínio da ciência. "Vemos o que indicou ao homem o caminho para ele encontrar um alívio para todos os seus sofrimentos físicos", diz Hipócrates. "É o instinto das raças primitivas, quando a razão fria ainda não havia obscurecido a visão interior do homem. (...) A sua indicação jamais deve ser desdenhada, pois é apenas ao instinto que devemos os nossos primeiros remédios". Cognição instantânea e infalível de uma mente onisciente, o instinto é em tudo diferente da razão finita; e, no progresso experimental desta, a natureza divina do homem é amiúde completamente tragada quando ele renuncia à luz divina da intuição. Uma se arrasta, a outra voa; a razão é o poder do homem; a intuição, a presciência da mulher!

Plotino, discípulo do grande Ammonius Saccas, o principal fundador da escola neoplatônica, ensinou que o conhecimento humano tinha três degraus ascendentes: opinião, ciência e iluminação. Explicou-o dizendo que "o meio ou instrumento da opinião é o sentido, ou a percepção; o da ciência, a dialética; o da iluminação, a intuição [ou o instinto divino]. A esta última subordina-se a razão; ela é o conhecimento abstrato fundado na identificação da mente com o objeto conhecido".

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