Da Dualidade da Alma e Suas Manifestações

Enviado por Estante Virtual em sab, 17/12/2011 - 13:36

Aristóteles, em sua dedução filosófica Sobre os sonhos, mostra claramente essa doutrina da alma dupla, ou alma e espírito. "É necessário averiguar em que porção da alma aparecem os sonhos", diz ele. Todos os gregos antigos acreditavam não só que uma alma dupla, mas até mesmo que uma alma tripla existisse no homem. E até Homero denomina de, a alma animal, ou a alma astral, que o Sr. Draper chama de "espírito", de alma divina - termo com que Platão também designava o espírito superior.

Os jainistas hindus concebem que a alma, que eles chamam de Jîva, está unida desde a eternidade a dois corpos etéreos sublimados, um dos quais é invariável e consiste dos poderes divinos da mente superior; o outro é variável e composto das paixões grosseiras do homem, das suas afeições sensuais e dos atributos terrestres. Quando a alma se torna purificada após a morte, ela encontra o seu Vaikârika, ou espírito divino, e se torna um deus. Os seguidores dos Vedas, os brâmanes sábios, explicam a mesma doutrina no Vedanta. De acordo com o seu ensinamento, a alma, enquanto uma porção do espírito universal divino ou mente imaterial é capaz de se unir à essência da sua Entidade superior. O ensinamento é explícito; a Vedanta afirma que todo aquele que obtêm o completo conhecimento de seu deus se torna uma deus, embora esteja em seu corpo mental, e adquire supremacia sobre todas as coisas.

Citando da teologia védica a estrofe que diz que "Existe, na verdade, apenas uma Divindade, o Espírito Supremo; ele é da mesma natureza que a alma do homem", o Sr. Draper quer provar que as doutrinas budistas chegaram à Europa oriental por meio de Aristóteles. Acreditamos que esta asserção é inadmissível, pois Pitágoras, e Platão depois dele, ensinaram-na bem antes de Aristóteles. Se, por conseguinte, os platônicos posteriores aceitaram em sua dialética os argumentos aristotélicos sobre a emanação, isto só aconteceu porque as suas idéias coincidiam em algum aspecto com as dos filósofos orientais. O número pitagórico da harmonia e as doutrinas esotéricas de Platão sobre a criação são inseparáveis da doutrina budista da emanação; e o grande objetivo da Filosofia Pitagórica, a saber, libertar a alma astral dos laços da matéria e dos sentidos e torná-la, assim apta à contemplação eterna das coisas, é uma teoria idêntica à doutrina budista da absolvição final. É o Nirvana, interpretado em seu sentido correto; uma doutrina metafísica que os nossos eruditos sânscritos modernos mal começaram a entrever.

A "doutrina esotérica" não concede a todos os homens, por igual, as mesmas condições de imortalidade. "O olho nunca veria o Sol se ele não fosse da mesma natureza do Sol", disse Plotino. Só "por meio da pureza e da castidade superiores nós nos aproximaremos de Deus e receberemos, na contemplação d'Ele, o conhecimento verdadeiro e a intuição escreve Porfírio. Se a alma humana se descuidou durante a sua vida terrena de receber a iluminação de seu espírito divino, do Deus interno, não sobreviverá longo tempo a entidade astral à morte do corpo físico. Do mesmo modo que um mostro deformado morre logo após o seu nascimento, assim, também, a alma astral grosseira e materializada em excesso se desagrega logo depois de nascida no mundo suprafísico fica abandonada pela alma, pelo glorioso Augoeides. As suas partículas, que obedecem gradualmente à atração desorganizadora do espaço universal, escapam finalmente para fora de toda possibilidade de reagregação. Por ocasião da ocorrência de tal catástrofe, o indivíduo deixa de existir. Durante o período intermediário entre a sua morte corporal e a desintegração de forma astral, esta, limitada pela atração magnética ao seu cadáver horripilante, vagueia ao redor das suas vítimas e suga delas a sua vitalidade. O homem, tendo-se subtraído a todos os raios de luz divina, perde-se na escuridão e, em conseqüência, apega-se à Terra e a tudo o que é terreno.

Nenhuma alma astral, mesmo a de um homem puro, bom e virtuoso, é imortal no sentido estrito da palavra; "dos elementos ela foi formada - aos elementos deve voltar". Mas, ao passo que a alma do iníquo é absolvida sem redenção, a de qualquer outra pessoa, mesmo modernamente pura, simplesmente troca as suas partículas etéreas por outras ainda mais etéreas; e, enquanto permanecer nela uma centelha do Divino, o homem individual, ou antes o seu Ego pessoal, não morrerá. "Após a morte", diz Proclo, "a alma [o espírito] continua a permanecer no corpo aéreo [forma astral], até que esteja completamente purificado de todas as paixões irritáveis e voluptuosas (...) ela se livra então do corpo aéreo por uma segunda morte, como já o fizera com o seu corpo terrestre. É assim que os antigos dizem que existe um corpo celestial sempre unido à alma e que é imortal, luminoso e da natureza da estrela."

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