Comparações Entre a Prece, o Desejo e a Vontade. O Mesmerismo, e o Espiritismo Moderno

Enviado por Estante Virtual em sab, 17/12/2011 - 13:37

A prece abre a visão espiritual do homem, pois prece é desejo, e o desejo desenvolve a VONTADE; as emanações magnéticas que precedem do corpo a cada esforço - mental ou físico - produzem a auto-sugestão e o êxtase. Plotino recomendava a solidão para a prece, como o meio mais eficiente de obter o que se pedia; e Platão aconselhava àqueles que oravam "permanecer em silêncio na presença dos seres divinos, até que eles removessem a nuvem de seus olhos e os tornassem aptos a ver graças à luz que sai deles mesmos". Apolônio sempre se isolava dos homens durante a "conversação" que mantinha com Deus e, quando sentia necessidade de contemplação divina ou prece, cobria a cabeça e todo o corpo nas dobras do seu branco manto de lã. "Quanto orares, entra no teu aposento e, após teres fechado a porta, ora a teu Pai em segredo", diz o Nazareno, discípulo dos essênios.

Todo ser humano nasceu com o rudimento de sentido inferior chamado intuição, que pode ser desenvolvido para aquilo que os escoceses conheciam como "segunda visão". Todos os grandes filósofos que, como Plotino, Porfírio e Jâmblico, empregaram esta faculdade ensinaram essa doutrina. "Existe uma faculdade da mente humana", escreve Jâmblico, "que é superior a tudo o que nasce ou é engendrado. Através dela somos capazes de conseguir a união com as inteligências superiores, ser transportados para além das cenas deste mundo e participar da vida superior e dos poderes peculiares dos seres celestiais."

Sem a visão interior ou intuição, os judeus nunca teriam tido a sua Bíblia, nem os cristãos teriam Jesus. O que Moisés e Jesus deram ao mundo foi o fruto de suas intuições ou iluminações; mas os teólogos que os têm sucedido, adulteraram dogmática e muitas vezes blasfemamente a sua verdadeira doutrina.

Aceitar a Bíblia como uma "revelação" e sustentar a fé numa tradução literal é pior do que um absurdo - é uma blasfêmia contra a majestade Divina do "Invisível". Se tivemos de julgar a Divindade e o mundo dos espíritos por aquilo que dizem os seus intérpretes, agora que a Filologia caminha a passos de gigante no campo das religiões comparadas, a crença em Deus e na imortalidade da alma não resistiria por mais um século aos ataques da razão. O que sustenta a fé do homem em Deus e numa vida espiritual vindoura é a intuição; esse produto divino de nosso íntimo que desafia as pantomimas do padre católico romano e os seus ídolos ridículos; as mil e uma cerimônias do brâmane e seus ídolos; e as jeremiadas dos pregadores protestantes e o seu credo desolado e árido, sem ídolos, mas com um inferno sem limites e uma danação esperando ao final de tudo. Não fosse por essa intuição - imortal, embora freqüentemente indecisa por ser obscurecida pela matéria -, a vida humana seria uma paródia e a Humanidade, uma fraude. Esse sentimento inerradicável da presença de alguém do lado de fora e do lado de dentro de nós mesmo é tal, que nenhuma contradição dogmática, nenhuma forma externa de adoração pode destruir na Humanidade, façam os cientistas e o clero o que puderem fazer. Movida por tais pensamentos sobre a infinitude e a impessoalidade da Divindade, Gautama Buddha, o Cristo hindu, exclamou: "Como os quatro rios que se atiram ao Gânges perdem os seus nomes tão logo mesclem as suas águas com as do rio sagrado, assim também todos aqueles que acreditam em Buddha deixaram de ser brâmanes, xátrias, vaixiás e sudras!".

O Velho Testamento foi compilado e organizado segundo a tradição oral; as massas nunca conheceram o seu significado real, pois Moisés recebeu ordem de comunicar as "verdades ocultas" apenas aos velhos de setenta anos sobre os quais o "Senhor" soprava o espírito que pairava sobre o legislador. Maimônides, cuja autoridade e cujo conhecimento da História Sagrada dificilmente podem se recusados, diz: "Quem quer que encontre o sentido verdadeiro do livro do Gênese deve ter o cuidado de não o divulgar. (...) Se uma pessoa descobrir o seu verdadeiro significado por si mesma, ou com o auxílio de outra pessoa, ela deve guardar silêncio; ou, se falar dele, deve falar apenas obscuramente e de uma maneira enigmática.

Esta confissão de que está escrito na Escritura Sagrada é apenas uma alegoria foi feita por outras autoridades judias além do Maimônides; pois vemos Josefo declarar que Moisés "filosofou" (falou por enigmas em alegoria figurativa) ao escrever o livro do Gênese. Eis por que a ciência moderna, não se preocupando em decifrar o verdadeiro sentido da Bíblia e permitindo que toda a cristandade acredite na letra morta da teologia judaica, constitui-se tacitamente em cúmplice do clero fanático. Ela não tem o direito de ridicularizar os registros de um povo que nuca os escreveu com a idéia de que eles pudessem receber essa interpretação estranha por parte das mãos de uma religião inimiga. Um dos caracteres mais tristes do Cristianismo é o fato de os seus textos sagrados terem sido dirigidos contra ele e de os ossos dos homens mortos terem sufocado o espírito da verdade!

"Os deuses existem", diz Epicuro, "mas eles não são o que a turba, supõe eles sejam". E, entretanto, Epicuro, julgado como de hábito por críticos superficiais, passa por materialista e é apresentado como tal.

Mas nem a grande Primeira Causa, nem a sua emanação - espírito humano, imortal - foram abandonadas "sem um testamento". O Mesmerismo e o Espiritismo moderno estão aí para atestar as grandes verdades. Por cerca de quinze séculos, graças às perseguições brutalmente cegas dos grandes vândalos dos primeiros tempos da história cristã, Constantino e Justiniano, a SABEDORIA antiga degenerou lentamente até mergulhar no pântano mais profundo da superstição monacal e da ignorância. O pitagórico "conhecimento das coisas que são"; a profunda erudição dos gnósticos; os ensinamentos dos grandes filósofos honrados em todo o mundo e em todos os tempos - tudo isto foi rejeitado como doutrinas do Anticristo e do Paganismo e levado às chamas. Com os últimos sete homens sábios do Oriente, o grupo remanescente dos neoplatônicos - Herméias, Priciano, Diógenes, Eulálio, Damácio, Simplício e Isidoro -, que se refugiaram na Pérsia, fugindo das perseguições fanáticas de Justiniano, o reino da sabedoria chegou ao fim.

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