Na primeira observação feita por Jesus a propósito de João Batista, vemo-lo afirmar que este é o "Elias, que deverá vir". Esta afirmação, no caso de não ser uma interpolação posterior para simular o cumprimento de um profecia, dá a entender que Jesus, além de nazareno, também era cabalista e acreditava na reencarnação, pois nesta doutrina só estavam iniciados os essênios, nazarenos e discípulos de Simão, ben-Yohai, de Hillel, sem que nada soubessem dela os judeus ortodoxos nem os galileus. A seita dos saduceus negava a imortalidade da alma.
"Mas o autor desta restitutio foi nosso mestre Mosah, a paz seja com ele! Que foi a revolutio [transmigração] de Seth e de Helbel, para que pudesse cobrir a nudez de seu primeiro pai, Adão", diz a Cabala. Portanto, ao sugerir que João Batista era a revolutio ou transmigração de Elias, Jesus dá provas incontestáveis da escola a que pertencia.
Mas essa doutrina da permutação, ou revolutio, não deve ser entendida como uma crença na reencarnação. Que Moisés era considerado como a transmigração de Abel e Seth não implica que os cabalistas - os que foram iniciados, pelo menos - acreditassem que o espírito idêntico de qualquer dos filhos de Adão reaparecera sob a forma corporal de Moisés. Isso apenas mostra qual o modo de expressão que empregavam para assinalar um dos mistérios mais profundos da Gnose oriental, um dos artigos de fé mais majestosos da Sabedoria Secreta. Esse modo era propositadamente velado a fim de revelar e ocultar a verdade apenas pela metade. Implicava que Moisés, como outros homens divinos, havia alcançado o maior de todos os estados sobre a Terra - o mais raro de todos os fenômenos psicológicos - a união perfeita do espírito imortal com a Díada terrestre. A Trindade estava completa. Um deus havia encarnado. Mas quão raras são essas encarnações!