Da antiguidade das religiões

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 02:10

Exceto uns poucos arqueólogos imparciais que reconhecem um claro elemento budista no gnosticismo, assim como em todas as seitas efêmeras, pouco conhecimento temos de autores que, escrevendo sobre o Cristianismo primitivo, conferiram ao assunto a sua devida importância. Não temos fatos suficientes para, pelo menos, sugerir algum interesse nesta direção? Não aprendemos que já nos dias de Platão havia "brâmanes" - leia-se missionários budistas, samaneus, samãs ou shamans - na Grécia, e que num dado momento eles invadiram o país? Não mostra Plínio que eles se estabeleceram nas costas do Mar Morto, por "milhares de anos"? Fazendo o devido desconto ao exagero, restam-nos ainda vários séculos antes de nossa era como margem. E não é possível que sua influência tenha deixado marcas mais profundas em todas essas seitas do que geralmente se acredita? Sabemos que a seita jainista afirma derivar o Budismo de seus dogmas - esse Budismo que existia antes de Siddhârtha, mais conhecido como Gautama Buddha. Os brâmanes hindus, a quem os orientalistas europeus negam o direito de conhecer qualquer coisa a respeito de seu próprio país, ou de entender sua linguagem e seus registros melhor do que aqueles que nunca estiveram na Índia, com base no mesmo princípio pelo qual os judeus são proibidos, pelos teólogos cristãos, de interpretar suas próprias Escrituras -, os brâmanes, dizíamos, têm registros autênticos. E estes mostram que a encarnação do regaço da Virgem Avany do primeiro Buddha - Luz Divina - teve lugar alguns milhares de anos antes de Cristo, na ilha do Ceilão. Os brâmanes rejeitam a afirmação de que ele foi um dos avatâra de Vishnu, mas admite o surgimento de um reformador do Bramanismo nesse época. A história da Virgem Avany e de seu filho divino, Sâyamuni, está registrada em um dos livros sagrados dos budistas singaleses - o Culla-Niddesa; e a cronologia bramânica fica a grande revolução budista e a guerra religiosa, e o desenvolvimento subseqüente do Sâkya-muni no Tibete, na China, no Japão e em outros lugares, no ano 4.620 a.C.

É claro que Gautama Buddha, o filho do Rei de Kapila-vastu, e o descendente do primeiro Sâkya, através de seu pai, que era da casta guerreira, Kshatriaya, não inventou sua filosofia. Filantrópico por natureza, suas idéias foram desenvolvidas e amadurecidas quando ele ainda estava sob a tutela de Tîrthamkara, o famoso guru da seita jainista. Esta afirma que o Budismo atual era um ramo divergente de sua própria filosofia, e que ela é a única a congregar os poucos seguidores do primeiro Buddha, a quem se permitiu ficar na Índia, após a expulsão de todos os outros budistas, provavelmente porque haviam assumido algum compromisso, abraçando certas noções bramânicas. É curioso, para dizer o mínimo, que três religiões dissidentes e inimigas, como Bramanismo, Budismo e Jainismo, concordem tão perfeitamente em suas tradições e cronologias quanto ao Budismo, e que nossos cientistas dêem ouvidos apenas às suas próprias injustificadas e especulações e hipóteses. Se o nascimento de Gautama pode, com alguma razão, ser fixado por volta do ano 600 a.C., então os Buddhas precedentes devem ter algum lugar na cronologia. Os Buddhas não são deuses, mas simplesmente indivíduos protegidos pelo espírito de Buddha - o raio divino. Ou será que é porque, incapazes de sair da dificuldade pela ajuda apenas de suas próprias pesquisas, nossos orientalistas preferem suprimir e negar o todo, a atribuir aos hindus o direito de conhecer algo sobre sua própria religião e história? Estranha maneira de descobrir a verdade!

O argumento comum aduzido contra a pretensão jainista, no tocante a ser a fonte da restauração do antigo Budismo, de que o dogma principal desta última religião é oposto à crença dos jainistas, não resiste à análise. Os budistas, dizem nossos orientalistas, negam a existência de um Ser Supremo; os jainistas admitem um, mas protestam contra a afirmação de que "Ele" pode interferir no governo do universo. Os budistas não negam em absoluto tal coisa. Mas se algum erudito desinteressado pudesse estudar cuidadosamente a literatura jainista, nos milhares de livros preservados - os deveríamos dizer ocultos - em Râjputâna, Jaisalmer, em Pattan e outros lugares; e especialmente se ele pudesse apenas ter acesso aos mais velhos de seus volumes sagrados, descobriria uma perfeita identidade de pensamento filosófico, se não de ritos populares, entre os jainistas e os budistas. O Âdi-Buddha e o Âdinâtha (ou Âdisvara) são idênticos em essência e propósito. Mas, se seguirmos os traços dos jainistas, com seus reclamos quanto à possessão dos templos-cavernas mais antigos, e seus registros de um antigüidade quase incrível, dificilmente poderemos vê-los sob uma luz diferente daquela em que eles próprios se vêem. Devemos admitir com toda certeza que eles são os únicos verdadeiros descendentes dos primitivos proprietários da Índia antiga, desapossados por aquelas misteriosas hordas conquistadoras de brâmanes de pele clara que vemos, na aurora da história, surgir como os primeiros pioneiros nos vales do Jumnâ e do Ganges. Os livros dos Sravakas - os únicos descendentes dos Arhats, os jainistas primitivos, os eremitas nus das florestas de outrora, podaríamos lançar alguma luz talvez sobre muitas questões enigmáticas. Mas terão os nossos eruditos europeus, na medida em que seguem à sua própria política, tido jamais acesso aos volumes correto? Temos nossas dúvidas a esse respeito. Perguntai a qualquer hindu digno de fé como os missionários trataram os manuscritos que por má sorte caíram em suas mãos, e julgai então se podemos censurar os nativos por tentarem salvar da profanação os "deuses de seus pais".

 

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