A Queda na Geração Explicada Pelos Antigos Filósofos

Enviado por Estante Virtual em sab, 17/12/2011 - 04:12

Por outro lado, os filósofos que explicavam, à sua maneira, a "queda da geração", encaravam o espírito como algo totalmente distinto da alma. Eles admitiam a sua presença na cápsula astral exclusivamente no que concerne às emanações ou aos raios espirituais do "ser luminoso". O homem e a alma deviam conquistar a imortalidade acendendo à unidade como a qual, em caso de sucesso, ambos finalmente se unem, e na qual se absolvem, por assim dizer. A individualização do homem após a morte dependia do espírito e não da alma e do corpo. Embora a palavra "personalidade", no sentido que se lhe dá comumente, seja um disparate, se aplicada literalmente à nossa essência imortal, esta, no entanto, 'e uma entidade distinta, imortal e eterna per se; e, como no caso dos criminosos sem remissão, em que o fio luminoso que une o Espírito à Alma desde o instante do nascimento de uma criança é violentamente cortado, e a entidade desencarnada é condenada a partilhar do destino dos animais inferiores, a dissolver-se gradualmente no éter, e a ter a sua individualidade aniquilada - mesmo assim o espírito permanece um ser distinto. Ele se torna um espírito planetário, um anjo, pois os deuses dos pagãos ou os arcanjos dos cristãos, emanações da Causa primeira, não obstante a afirmação arriscada de Swedenborg, jamais foram ou serão homens, pelo menos em nosso planeta.

Essa questão foi, em todos os tempos, o tropeço dos metafísicos. Todo o esoterismo da Filosofia Budista baseia-se neste misterioso ensinamento, compreendido por tão poucas pessoas e deturpado, completamente, por muitos dos mais sábios eruditos. Mesmo os metafísicos estão por demais propensos a confundir o efeito com a causa. Uma pessoa pode ter conquistado a sua vida imortal, e permanecer o mesmo Eu Interior que era sobre a Terra, por toda a eternidade; mas isto não implica necessariamente que ela deve permanecer o Sr. Fulano ou Beltrano que era na Terra, ou perder a sua individualidade. Portanto, a alma e o corpo terrestre do homem podem, no sombrio Além, ser absolvidos no oceano cósmico dos elementos sublimados, e cessar de sentir o seu Ego, se este Ego não mereceu elevar-se mais alto; e o espírito divino permanecer ainda uma entidade inalterada, embora a experiência terrestre de sua emanações possa ser totalmente obliterada no instante da separação de um veículo indigno.

Se o "espírito", ou a parte divina da alma, preexiste como um ser distinto por toda a eternidade, como Orígenes, Sinésio e outros padres cristãos ensinaram, e se é idêntico à alma metafisicamente objetiva, como poderia ele não ser eterno? Assim sendo, o que importa um homem levar uma vida animal ou uma vida pura se, faça o que fizer, nunca pode perder a sua individualidade? Esta doutrina é tão perniciosa em suas conseqüências como a da expiação vicária. Tivesse este último dogma sido demonstrado ao mundo sob a sua verdadeira luz, juntamente com a falsa idéia de que somos todos imortais, e a Humanidade tornar-se-ia melhor com a sua propagação. O crime e o pecado teriam sido evitados, não por medo ao castigo da Terra, ou a um inferno ridículo, mas em consideração àquilo que está enraizado profundamente em nossa natureza interior - o desejo de uma vida individual e distinta no Além, a certeza positiva de que não podemos alcançá-la se não nos "aproximamos do reino do céu pela força", e a convicção de que nem as preces humanas nem o sangue de um outro homem nos salvarão de destruição individual após a morte, a menos que estejamos firmemente unidos durante a nossa vida terrestre com o nosso próprio espírito imortal - nosso DEUS.

Pitágoras, Platão, Timeu de Locris e toda a escola alexandrina derivavam a alma da alma do mundo, e esta era, segundo os seus próprios ensinamentos - o éter; algo de uma natureza tão pura que só podia ser percebido pela nossa visão interior. Portanto, ela não pode ser a essência da Mônada, ou a causa, pois a anima mundi é apenas o efeito, a emanação objetiva daquela. O espírito humano e a alma são ambos preexistentes. Mas, enquanto o primeiro existe como uma entidade distinta, uma individualização, a alma existe como matéria preexistente, uma parte insciente de um todo inteligente. Ambos foram formados originalmente a partir do oceano eterno de Luz; mas, como já o disseram os teósofos, há no fogo tanto um espírito visível como um invisível. Eles faziam uma distinção entre a anima bruta e a anima divina. Empédocles acreditava firmemente que todos os homens e animais possuem duas almas; e em Aristóteles descobrimos que ele chama uma de alma raciocinante, e a outra de alma animal. De acordo com esses filósofos, a alma raciocinante provém de fora da alma universal, e a outra, de dentro. Essa região divina e superior, na qual localizaram a divindade suprema e invisível, consideravam-na eles (o próprio Aristóteles, inclusive) como um quinto elemento, puramente espiritual e divino, ao passo que à anima mundi propriamente dita como composta de uma natureza pura, ígnea e etérea difundida por todo o universo, em suma - o éter. Os estóicos, os maiores materialistas da Antigüidade, excetuavam o Deus Invisível e a Alma Divina (Espírito) de uma tal natureza corpórea. Epicuro, cuja doutrina, militando diretamente contra a intervenção de um Ser Supremo e dos deuses na formação ou governo do mundo, o colocava muito acima dos estóicos no que respeita ao ateísmo e ao materialismo, ensinava, não obstante, que a alma é de essência pura e sensível, formada dos átomos mais suaves, mais refinados e mais puros, cuja descrição ainda nos conduz ao mesmo éter sublimado. Arnóbio, Tertuliano, Irineu e Orígenes, não obstante suas crenças cristã, acreditavam, com os mais modernos Spinoza e Hobbes, que a alma era corpórea, embora de uma natureza muito pura.

Essa doutrina da possibilidade de se perder a alma e, em conseqüência, a individualidade, é contrária às teorias ideais e às idéias progressivas de alguns espiritualistas, embora Swedenborg a aceite plenamente. Eles jamais aceitarão a doutrina cabalista que ensina que apenas pela observância da lei da harmonia essa vida individual futura pode ser obtida; e que quando mais o homem interior e exterior se desvia desta fonte de harmonia, cujo manancial reside em nosso espírito divino, mais difícil é para ele retomar o terreno perdido.

Mas, enquanto os espiritistas e outros partidários do Cristianismo têm pouca ou nenhuma idéia dessa possível morte e obliteração da personalidade humana, devido à separação da parte imortal da perecível, os swedenborguianos a compreendem plenamente.

Pitágoras ensinava que todo o universo é um vasto sistema de combinações matematicamente corretas. Platão mostra a divindade geometrizando. O mundo é sustentado pela mesma lei de equilíbrio e de harmonia sobre a qual foi erigido. A força centrípeta não se poderia manifestar sem a força centrífuga nas revoluções harmoniosa das esferas; todas as formas são o produto dessa força dual da Natureza. Assim, para ilustrar o nosso exemplo, podemos designar o espírito como a força centrífuga, e a alma como as energias centrípetas e espirituais. Quando em movimento centrípeto da alma terrestre que tende para o centro que a atrai; impedi-lhe a marcha bloqueando-a com uma quantidade de matéria mais pesada do que a que ela pode suportar, e a harmonia do todo, que era a sua vida, se destrói. A vida individual só pode prosseguir quando sustentada por esta força dupla. O menor desvio da harmonia a prejudica; quando ela está irremediavelmente destruída, as forças se separam e a forma gradualmente se aniquila. Após a morte do depravado e do perverso, chega o momento crítico. Se, durante a vida, o último e desesperado esforço do eu interior para reunir-se com o raio debilmente bruxuleante de seu pai divino é negligenciado; se esse raio é mais e mais ocultado pela espessa crosta da matéria, a alma, uma vez livre do corpo, segue as suas atrações terrestres, e é magneticamente atraída e retida pelo denso nevoeiro da atmosfera material. Ela começa, então, a cair cada vez mais baixo, até se encontrar, voltando à consciência, no que os antigos chamavam de Hades (O Reino das Sombras). A aniquilação de uma tal alma nunca é instantânea; pode durar séculos, talvez, pois a Natureza nunca age aos saltos e arrancos, e, visto que a alma astral é formada de elementos, a lei da evolução deve seguir seu curso. Começa então a terrível lei da compensação, o Yin-yuan dos budistas.

Esta categoria de espíritos chama-se "elementar terrestre" ou "material", em oposição às outras classes. No Oriente, eles são conhecidos como os "Irmãos das Trevas". Velhacos, abjetos, vingativos e desejosos de desforrar os seus sofrimentos sobre a Humanidade, eles se transformam, até a aniquilação final, em vampiros, em espíritos necrófagos e em refinados atores. Eles são as "estrelas" principais no grande palco espiritual da "materialização", cujos fenômenos eles desempenham com a ajuda das criaturas genuínas "elementais" mais inteligentes, que flutuam em redor e os acolhem com prazer em suas próprias esferas. Henry Khunrath, o grande cabalista alemão, representa, numa gravura de sua rara obra Amphitheatrum Sapientiae Aeternae, as quatro classes desses "espíritos elementares" humanos. Uma vez transposto o limiar do santuário de iniciação, uma vez que um adepto tenha erguido o "Véu de Ísis", a deusa misteriosa ciumenta, ele nada deve temer; mas saber que estará em constante perigo.

Embora o próprio Aristóteles, antecipando os fisiólogos modernos, considerasse a mente humana como uma substância material, e ridicularizasse os hilozoístas, ele acreditava plenamente na existência de uma alma "dupla", ou espírito e alma.

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