Etimologia de Iaô

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 02:09

O primeiro esquema (Encontra-se no cap. IV) - o dos ofitas -, desde o início, difere da descrição dada pelos padres, na medida em que torna Bythos, a profundidade, uma emanação feminina, e lhe atribui um lugar que corresponde ao de Pleroma, mas numa região muito superior, ao passo que os padres nos asseguram que os gnósticos davam o nome de Bythos à Causa Primária. Como no sistema cabalístico, ele representa o vazio ilimitado e infinito no qual está oculto nas trevas o motor Primeiro Desconhecido de tudo. Ele envolve como um véu: em suma, reconhecemos novamente o "Shekinah" do Ain-Soph. Tomado separadamente, o nome de `IAO, Iao, assinala o centro superior, ou antes o presumido em que se supõe que o Desconhecido possa permanecer. Em torno de Iao, corre a legenda CEMEC EIAAM ABPAΣA≡, "O eterno Sol-Abrasax" (o sol espiritual central de todos os cabalistas, representando em alguns diagramas destes últimos pelo círculo de Tiphereth).

Dessa região de insondável Profundeza surge um círculo formado de espirais, que, na linguagem do simbolismo, significa o grande ciclo, composto de ciclos menores. Enrolada em seu interior, de modo a seguir as espirais, repousa a serpente - emblema da sabedoria e da eternidade - o Andrógino Dual: o ciclo que representa Ennoia, a Mente Divina, e a Serpente - o Agathodaimôn, o Ophis - a Sombra da Luz. Ambos eram os Logoi dos ofitas; ou a unidade como Logos que se manifesta como um princípio duplo de bem e mal, pois, de acordo com suas concepções, esses dois princípios são imutáveis, e existem desde a eternidade, e continuarão a existir para sempre.

Este símbolo explica a adoração por esta seita da Serpente, como o Salvador, enrolada em torno do pão Sacramental, ou de um Tao. Como unidade, Ennoia e Ophis são o Logos; quando separados, um é Árvore da Vida (espiritual), o outro, a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Por conseguinte, descobrimos Ophis incitando o primeiro par humano - a produção material de Ialdabaôth, mas que devia seu princípio espiritual a Sophia-Akhamôth - a comer o fruto proibido, embora Ophis represente a Sabedoria Divina.

A Serpente, a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, e a Árvore da Vida, são símbolos transplantados do solo da Índia. A Arasamaram, a árvore baniana, tão sagrada para os hindus, desde que Vishnu, durante uma de suas encarnações, repousou sob sua enorme sombra e aí ensinou filosofia e ciência à Humanidade, é chamada de Árvore do Conhecimento e Árvore da Vida. Sob a protetora ramada dessa rainha das flores, os gurus ensinam a seus pupilos as primeiras lições sobre a imortalidade e os iniciam nos mistérios da vida e da morte. Na tradição caldaica, os Yava-ALEIM do Colégio Sacerdotal passam por ter ensinado aos filhos dos homens como se tornarem iguais as eles. Até o presente, Foh-tchou, (Foh-tchou significa literalmente, em chinês, o senhor de Buddha, ou o mestre das doutrinas de Buddha-foh.) que vive em seu Foh-Maëyu, ou templo de Buddha, no topo do "Kuen-lun-shan", a grande montanha, produz seus maiores milagres religiosos sob uma árvore chamada, em chinês, de Sung-Ming-Shu, ou a Árvore do Conhecimento e a Árvore da Vida, pois a ignorância é morte, e só o conhecimento dá imortalidade. Esse maravilhoso espetáculo ocorre de três em três anos, quando uma enorme multidão de budistas chineses se junta em peregrinação no local sagrado.

Ialdabaôth, o "Filho das Trevas" e o criador do mundo material, habitava o planeta Saturno, que o identifica ainda mais com o Jeová judeu, que era o próprio Saturno, de acordo com os ofitas, que lhe recusam o nome sinaítico. De Ialdabaôth emanam seis espíritos que habitam, respetivamente, com seu pai, os sete planetas. Estes são: Tsabaôth - Marte; Adonaios - Sol; Iao - Lua; Eloaios - Júpiter; Astaphaios - Mercúrio (espírito da água); e Horaios - Vênus, espírito do fogo.

Em suas dadas funções e descrição, os sete planetas são idênticos aos Sapta-lokas hindus, os sete locais ou esferas, ou os mundos superiores ou inferior, pois representam as sete esferas cabalísticas. Para os ofitas, eles pertencem às esferas inferiores. Os monogramas desses planetas gnósticos são igualmente budistas, diferindo estes últimos embora em pequena escala, dos das usuais "casas" astrológicas.

O diagrama nazareno, exceto numa troca de nomes, é idêntico ao dos gnósticos, que, evidentemente, dele extraíram suas idéias, acrescentando umas poucas designações derivadas dos sistemas de Basilides e Valentino. Para evitar repetições, apresentaremos os dois quadros em paralelo.

Assim, descobriremos que, na Cosmogonia nazarena, os nomes de seus poderes e genii estão nas seguintes relações com os dos gnósticos:

NAZARENOGNÓSTICO-OFITA
PRIMEIRA TRINDADE
Senhor FERHO - a Vida que não é Vida - o Deus Supremo. A Causa que produz a Luz, ou o Logos in abscondito. A água de Jordanus Maximus - a água da Vida, ou Ajar, o princípio feminino. Unidade numa Trindade, encerrada em ISH AMON.
PRIMEIRA UNIDADE NUMA TRINDADE
IAÔ - o Inefável Nome da Divindade Desconhecida - Abraxas, e o "Abraxas, e o "Sol Espiritual Eterno", Unidade encerrada na Profundeza, Bythos, princípio feminino - o círculo ilimitado, no qual repousam todas as formas ideais. Dessa Unidade emana a
SEGUNDA TRINDADE
(A manifestação da primeira)
SEGUNDA TRINDADE
(idem)
1. Senhor MANO - o Rei da Vida e da Luz – Rex Lucis. A Primeira VIDA, ou o homem primitivo.1. Ennoia - mente.
2. Senhor Jordão - manifestação ou emanação de Jordanus Maximus – as águas da graça. Segunda VIDA.2. Ophis, o Agathodaimôn.
3. O Pai Superior - Abathur. Terceira VIDA. Essa Trindade produz também uma díada - Senhor Lehdoio, e Phtahil, o genius (o primeiro, uma emanação perfeita; o segundo, uma emanação imperfeita).
Senhor Jordão - "o Senhor de todos os Jordão". manifesta NETUBTO (Fé sem Obras).
3. Sophia - Andrógina - sabedoria, que, por sua vez - fecundada pela Luz Divina -, produz Cristos e Sophia-Akhamôth (um, perfeito, a outra, imperfeita), como uma emanação.
Sophia Akhamôth emana Ialdabaôth - o Demiurgo, que produz a criação material e sem alma. "Obras sem Fé (ou graça).

 

Ademais, os sete genii planetários ofitas, que emanam um do outro, reaparecem na religião nazarena, sob o nome de "Sete demônios impostores", ou estrelares, que "enganarão a todos os filhos de Adão". São eles: Sol; Speritus Venereus (o Espírito Santo, em seu aspeto material), a mãe dos "sete estrelares mas dispostos", que correspondem ao Akhamôth gnóstico; Nebu, ou Mercúrio, "Um falso Messias, que depravará o antigo culto de Deus"; SIN (ou Luna, ou Shuril); KHÎYÛN (ou Saturno); Bel-Júpiter; e o sétimo, Nerig, Marte (Codex Nazaraeus, I. p.55).

O Cristos dos gnósticos é o chefe dos sete Aeons, os sete espíritos de Deus segundo São João; os nazarenos têm também seus sete genii ou bons Aeôns, cujo chefe é Rex Lucis, seu Cristo. Os Sapta-Rishis, os sete sábios da Índia, habitam os Sapta-Puras, ou as sete cidades celestiais.

Nas jóias ofitas de King, encontramos o nome de Iao repetido e amiúde confundido com o de Ievo, ao passo que este último representa simplesmente um dos genii antagônicos a Abraxas. A fim de que tais nomes sejam tomados como idênticos com o nome de Jeová judeu, não tardaremos em dar a explicação dessa palavra. Parece-nos muito estranho que tantos eruditos arqueólogos tenham tão pouco se empenhado para mostrar que há mais de um Jeová, e que o nome teve origem com Moisés. Iao é certamente um título do Ser Supremo, e diz respeito apenas parcialmente ao Inefável Nome; mas ele não se originou com os judeus, nem foi propriedade única destes. Mesmo se aprazou a Moisés conferir esse nome ao "Espírito" tutelar, a suposta divindade nacional protetora do "povo escolhido de Israel", não há nenhuma razão possível para que outras nacionalidades O recebam como o Deus Supremo e Único. Mas negamos sumariamente tal pretensão. Além disso, há o fato de que Yâho ou Iao era um "Nome dos mistérios" desde o início, pois jamais foram empregados antes da época do Rei Davi. Anteriormente, poucos ou nenhum nome próprio havia sido composto com iah ou yah. Parece antes que Davi, tendo estado entre os tirenses e os filisteus (2 Samuel), deles tenha trazido o nome de Jeová. Ele nomeou Zadok sumo-sacerdote, e é dai que provêm os zadoquias ou saduceus. Viveu e reinou em primeiro lugar em Hebron, Habir-on ou cidade de Kabir, onde os ritos dos quatro (deuses dos mistérios) eram celebrados. Nem Davi, nem Salomão reconheciam a Moisés ou à sua lei. Eles aspiravam construir um templo a Iao, como as estruturas erigidas por Hirão a Hércules e Vênus, Adon e Astartê.

Diz Fürst: "O antiquíssimo nome de Deus - Yâho (...) que em grego se escreve 'Iaw, parece, à parte sua etimologia, ter sido um antigo nome místico da divindade suprema dos semitas. Foi assim que ele foi passado a Moisés, quando este teve a sua iniciação em HOR-EB - a caverna - sob a direção de Jethro, o sacerdote kenita ou cainita de Madiã. Na antiga religião dos caldeus, vestígios da qual se acham entre os neoplatônicos, a divindade suprema entronizada acima dos sete céus, que representa o princípio de luz espiritual Nous (Nous, a designação dada por Anaxágoras à Divindade Suprema, foi tomada do Egito, onde o chamavam NOUT) e que é concebida como um demiurgo, (Por um pequeno número, todavia, pois os criadores do universo material sempre foram considerados como divindades subordinadas ao Deus Supremo.) chamava-se 'Iaw, que era, como o Yâho hebreu, misteriosa e indizível (...) e cujo nome só era comunicado aos iniciados (...) Os fenícios tinham um deus supremo, cujo nome era trilítero (literatrina) e secreto (...) e que era 'Iaw.

Para compreender o sentido real e primitivo do termo 'IAO e a razão pela qual ele se tornou a designação para a mais misteriosa de todas as divindades, precisamos buscar a sua origem na fraseologia figurativa de todos os povos primitivos. Devemos, antes de mais nada, recorrer, para nossa informação, às fontes mais antigas. Num dos Livros de Hermes, por exemplo, afirma-se que o número DEZ é a mãe da alma, e que a vida e a luz estão nele unidos. Pois "o número 1 (um) nasce do espírito, e o número 10 (dez) da matéria", "a unidade fez o DEZ, o DEZ, a unidade".

Uma vez que reconhecemos o fato de que, entre todos os povos da mais alta Antigüidade, a concepção mais natural da Primeira Causa que se manifesta em suas criaturas - as quais não podiam deixar de lhe atribuir toda a criação - era a de uma divindade andrógina; de que o princípio masculino era considerado como o espírito invisível vivificante, e o feminino, a mãe Natureza, poderemos então compreender por que essa misteriosa causa veio a ser inicialmente representada (na escrita pictográfica, talvez) como a combinação do alfa e do Ômega dos números, um decimal, e depois como IAÔ, um nome trilítero, que contém em si uma profunda alegoria.

IAÔ, em tal caso, significaria - etimologicamente falando - o "Alento da Vida", gerado ou produzido entre um princípio natural masculino ereto e um princípio feminino como a forma de um ovo; pois, em sânscrito, as significa "ser", "viver ou existir", sendo sua significação original a de "respirar". "Foi com base nessa raiz", diz Max Müller, "em seu sentido original de `respirar', que os hindus formaram asu, "alento", e asura, o nome de Deus, que significa, seja o "alento", seja o doador do alento". Seu sentido é certamente este último. Em hebraico, "Iâh" e "Iâh" significa "vida". Cornélio Agripa, em seu tratado sobre a Preeminência da Mulher, mostra que a palavra Eva sugere uma comparação com os símbolos místicos dos cabalistas, tendo o nome da mulher uma afinidade com o inefável Tetragrammaton, o nome mais sagrado da divindade. Os nomes antigos tinham sempre uma consonância com as coisas que representavam. Em relação ao misterioso nome da Divindade em questão, a insinuação até aqui inexplicável dos cabalistas quanto à eficácia da letra H, "que Abarão retirou de sua esposa Sarah" e "colocou no meio de seu próprio nome", torna-se clara.

Os tempos mais sagrados dos hindus são os do Jagan-nâtha. Essa divindade é reverenciada por todas as seitas da Índia igualmente, e Jagan-nâtha é chamado de "Senhor do Mundo". Ele é o deus dos mistérios, e seus templos, que são muito numerosos em Bengala, têm todos a forma de uma pirâmide.

Não há nenhuma outra divindade que forneça tal variedade de etimologista quanto Yâho, nem um nome que possa ser pronunciado de maneira tão diversa. Foi apenas associando-o com os pontos massoréticos que os rabinos das épocas posteriores conseguiram transformar Jeová em "Adonai" - ou Senhor. Philo Byblius grafa-o em caracteres gregos como 'IEYΩ (IEVO). Theodoret diz que os samaritanos pronunciavam tal nome com 'Iaßé (Yabe), e os judeus Aïa; Diodorus afirma que "os judeus relatam que Moisés chamava seu Deus de "Iaϖ", o que a faria pronunciar como já indicamos - Iah-Ô. É com base na autoridade da própria Bíblia, por conseguinte, que afirmamos que antes de sua iniciação por Jethro, seu sogro, Moisés jamais ouviu a palavra Yâho. A futura Divindade dos filhos de Israel chama da pira ardente e dá Seu nome como "Eu sou o que sou", e especifica cuidadosamente que é o "Senhor Deus dos Hebreus" (Êxodo, III,18), não de outras nações. A julgar por seus próprios atos, através dos relatos judeus, temos dúvidas de que o Cristo, se tivesse surgido nos dias do Êxodo, seria bem recebido pela irascível Divindade sinaítica. Contudo, o "Senhor Deus", que se torna, segundo Sua própria confissão, Jeová apenas no sexto capítulo do Êxodo (versículo 3), vê sua veracidade posta em dúvida no Gênese, XXII, 9, 14, em cuja passagem revelada Abarão edifica um altar a Jehovh-Jireh.

Por conseguinte, pareceria natural estabelecer uma diferença entre o Deus dos mistérios 'Iaw, adotado desde a mais alta antigüidade por todos os que participavam do conhecimento esotérico dos sacerdote, e suas contrapartes fonéticas, tratadas com tão pouca reverência pelos ofitas e outros gnósticos. Tendo sido oprimidos, como o Azâzêl dos desertos, pelos pecados e iniqüidades da nação judaica, parece agora difícil para os cristãos terem que confessar que aqueles a quem consideravam aptos a considerar o "povo eleito" de Deus - seus únicos predecessores no monoteísmo - eram, até um período muito tardio, tão idólatras e politeístas quanto os seus vizinhos. Os sagazes talmudistas escaparam por longos séculos da acusação, escondendo-se atrás da invenção massorética. Mas, como em todas as outras coisas, a verdade veio por fim à luz. Sabemos agora que Ihoh, deve ler-se Yâhoh e Yâh, não Jeová. Yâh dos hebreus é exatamente o Iacchos (Baco) dos mistérios; o Deus "de quem se espera a libertação das almas - Dioniso, Iacchos, Iachoh, Iahoh, Iao". Aristóteles, portanto, estava certo quando disse: "Joh, era Oromazdes e Ahriman Pluto, pois Deus do céu, Ahura-Mazda, monta uma carroça que o Cavalo do Sol segue". E Dunlap cita Salmos, LXVIII, 4 que diz:

"Louvai-o por seu nome Yâh,
Que monta os céus a um cavalo".

e então que "os árabes representavam Iauk (Iach) por um cavalo. O Cavalo do Sol (Dionísio)". Iah é um abrandamento de Iah", explica ele. "h e h são intercambiáveis; assim como também, e se abranda em h. Os hebreus exprimem a idéia da VIDA tanto por um h quanto por um h; como hiah, `ser', hiah, `ser'; Iah, Deus da Vida, Iah, `Eu sou'". Podemos portanto repetir essas linhas de Ausônio:

"Os filhos de Ogyges chamam-me Baco; o Egito pensa que sou Osíris;
Os misianos chamam-me Phanaces; os indianos vêem-me como Dionísio;
Os ritos romanos fazem-me Liber; a raça árabe pensa que sou Adoneus;
Os lucanenses, o Deus Universal (...)"

E o povo eleito, Adónis e Jeová - poderíamos acrescentar.

Quão pouco se compreendeu a filosofia da antiga doutrina secreta, provam-nos as atrozes perseguições dos Templários pela Igreja, sob a acusação de adorarem o Demônio na forma de um bode - Baphomet! Sem aprofundar os antigos mistérios maçônicos, não há um só maçom - dentre os que sabem alguma coisa, que não esteja a par da verdadeira relação entre Baphomet e Azâzêl, o bode expiatório do deserto, cujo caráter e cujo significado foram inteiramente pervertidos nas traduções cristã. "Esse terrível e venerável nome de Deus", diz Lanci, bibliotecário do Vaticano, "através da pena dos glossários bíblicos, transformou-se num demônio, numa montanha, num deserto, num bode. Na Royal Masonic Cyclopaedia, de MacKenzie, o autor assinala com correção que "essa palavra deveria ser dividida em Azaz e El", pois ela "significa Deus da Vitória, mas é aqui empregada no sentido de Autor da morte, em contraste com Jeová, o Autor da vida; este último recebia um bode morto como oferenda". A Trindade hindu é composta de três personagem, que se podem converter numa única. A Trimûrti é una, e, em sua abstração, indivisível. No entanto, vemos que uma divisão metafísica tem lugar desde o início. Ao passo que Brahmâ, embora coletivamente represente os três, permanecendo sob o pano, Vishnu é o Dador da Vida, o Criador, o Preservador, e Shiva é o Destruidor, a divindade mortuária. "Morte ao doador da Vida, vida ao propiciador da Morte. A antítese simbólica é grande e bela", diz Bliddon. "Deus est Daemon inversus" - essa frase dos cabalistas torna-se agora clara. É apenas o intenso e cruel desejo de apagar o último vestígio das antigas filosofias, pervertendo-lhe o sentido, por medo de que os seus próprios dogmas não lhe sejam corretamente atribuídos, que impele a Igreja Católica a exercer uma tal perseguição sistemática contra os gnósticos, os cabalistas e mesmo os relativamente inocentes maçons.

Ai de nós! Quão pouco a divina semente, disseminada pelas mãos do humilde filósofo judeu, fincou raízes ou produziu qualquer fruto! Se aquele que verberou a hipocrisia, que lutou contra a prece pública, recriminando-lhe o exibicionismo inútil, pudesse lançar seu pesaroso olhar sobre a Terra, das regiões de beatitude eterna, veria ele que essa semente não caiu, nem num terreno estéril, nem à margem do caminho. Não, ela fincou fundas raízes no solo mais fértil; aquele enriquecido até a pletora pelo sangue e pela mentira humana.

 

Outras páginas interessantes: