Emanação do Universo Objetivo

Enviado por Estante Virtual em sab, 17/12/2011 - 00:49

Em primeiro lugar, a sua cosmogonia prova até que ponto foi errônea a opinião que prevaleceu nas nações civilizadas de que Brahmâ foi sempre considerado pelos hindus como o seu chefe ou seu Deus Supremo. Brahmâ é um divindade secundária e, como Jeová, é "um ser que move as águas". Ele é o deus criador e, nas suas representações alegóricas possui quatro cabeças, correspondentes aos quatro pontos cardeais. Ele é o demiurgo, o arquiteto do mundo. "No estado primordial da criação", diz Polier, em sua Mythologie dês Indous, "o universo rudimentar, submerso na água, repousava no seio Eterno. Emanado desse caos e dessas trevas. Brahmâ, o arquiteto do mundo, repousava sobre uma folha de lótus, flutuava [movia-se?] sobre as águas, incapaz de nada discernir entre águas e trevas". Isto é idêntico quanto possível à cosmogonia egípcia, que mostra, nas suas frases de abertura, Hathor ou a Mãe Noite (que representa as trevas incomensuráveis) como o elemento primordial, que recobria o abismo infinito, animado pela água e pelo espírito universal do Eterno, que habitava sozinho no caos. Como nas escrituras judaicas, a história da criação abre-se com o espírito de Deus e sua emanação criadora - uma outra divindade. Percebendo um estado de coisas tão lúgubre, Brahmâ, consternado, assim se exprime: "Quem sou? Donde vim?". Ouve então uma voz: "Dirige tua voz a Bhagavat - O Eterno, conhecido também como Parabrahman", Brahmâ, abandonando a sua posição natatória, senta-se sobre o lótus numa atitude de contemplação e medita sobre o Eterno, que, satisfeito com essa prova de piedade, dispersa as trevas primordiais e abre o seu entendimento. "Depois disso, Brahmâ sai do ovo universal [o caos infinito] sob a forma de luz, pois e seu entendimento agora está aberto, e se põe a trabalhar, move-se sobre as águas eternas, com o espírito de Deus nele; em sua capacidade de ser que move as águas eternas, com o espírito de Deus nele; em sua capacidade de ser que move as águas ele é Nârâyana (*)e, por serem elas o primeiro lugar do movimento (ayana) de Nara, este foi denominado de Nãrayana (o que se move sobre as águas). ( * Na simbologia esotérica, representa a primeira manifestação do princípio vital, difundindo-se no Espaço Infinito. ["As águas foram chamadas de nârãs porque foram produzidas por Nara (o Espírito Divino, o Espírito nascido de si mesmo)

Para os hindus, o lótus é o emblema do poder produtivo da Natureza, pela ação do fogo e da água (o espírito e a matéria). "Eterno", diz uma estrofe da Bhagavad-Gîtâ [cap. XI], "eu vejo Brahmâ, o criador, entronizado em ti sobre o lógus!" e Sir W. Jones nos diz que as sementes do lótus contêm - mesmo antes de germinarem - folhas perfeitamente formadas, formas miniaturas daquilo em que, como plantas perfeitas, elas se transformarão um dia; ou, como diz o autor de The Hearthen Religion - "a Natureza nos dá assim um espécime da pré-formação das suas produções"; acrescentando que "a semente de todas as plantas fanerógamas que trazem flores propriamente ditas contêm um embrião de plantas já formado".

Para os budistas, ele tem a mesma significação. Mahâ-Mâyâ, ou Mahâ-Devi, a mãe de Gautama Buddha, deu à luz o seu filho anunciado pelo Boddhisattva (o espírito de Buddha), que apareceu ao pé do seu leito com um lótus em sua mão. Assim, também Osíris e Hórus são representados pelos egípcios constantemente em associação com a flor de lótus.

Todos estes fatos tendem a provar o parentesco comum deste símbolo nos três sistemas religiosos - hindu, egípcio e judaico-cristão. Em qualquer lugar em que o lírio da água mística (lótus) seja representado, ele significa a emanação do objetivo para fora do oculto ou do subjetivo - o pensamento eterno da Divindade sempre invisível que passa do abstrato ao concreto ou forma visível. Assim, logo que as trevas foram dissipadas e que "havia luz", o entendimento de Brahmâ foi aberto, e ele viu no mundo ideal (até então eternamente oculto no pensamento Divino) as formas arquetípicas de todas as coisas infinitas futuras que devem ser chamadas à existência e, assim tornadas visíveis. Nesse primeiro estágio da ação, Brahmâ ainda se tornou o arquiteto, o construtor do universo, pois lhe será preciso, como um arquiteto, familiarizar-se primeiramente com o plano e compreender as formas ideais que repousavam no seio do Uno Eterno, tal como as folhas futuras do lótus estão ocultadas na semente dessa planta. E é nessa idéia que devemos procurar a origem e explicação do versículo da cosmogonia judaica em que se lê: "E Deus disse: Produza a terra (...) árvores frutíferas que dêem fruto, segundo a sua espécie, e que contenham a sua semente em si mesma". Em todas as religiões primitivas, o "Filho do Pai" é o Deus Criador - isto é, Seu pensamento tornado visível; e antes da era cristã, desde a Trimûrti dos hindus até as tríades das escrituras judaicas, segundo a interpretação cabalística, todas as nações velaram simbolicamente a trina natureza de sua Divindade suprema. No credo cristão vemos apenas o enxerto artificial de um ramo novo num tronco velho; e a adoção pelas Igrejas grega e romana do símbolo do lírio, que o arcanjo segura no momento da Anunciação, mostra um pensamento que possui precisamente a mesma significação simbólica.

O lótus é o produto do fogo (calor) e da água, daí um símbolo dual do espírito e matéria. O Deus Brahmâ é a primeira pessoa da trindade, assim como Jeová (Adão-Cadmo) e Osíris, ou antes Poemandro, ou o Poder do Divino Pensamento, de Hermes; pois é Poemandro quem representa a raiz de todos os deuses solares egípcios. O Eterno é o Espírito de Fogo, que desperta e frutifica e desenvolve numa forma concreta tudo o que nasce da água ou da terra primordial, que evolui de Brahmâ; mas o universo é o próprio Brahmâ, e este é o universo. Esta é a filosofia de Spinoza, extraída por ele da de Pitágoras; e é a mesma pela qual Bruno morreu como mártir. Este fato histórico demonstra quanto a Teologia cristã se afastou do seu ponto de partida. Bruno foi massacrado pela exegese de um símbolo que fora adotado pelos primitivos cristãos e interpretado pelos apóstolos! O ramo de lírio do Boddhisattva, e mais tarde de Gabriel, que representa o fogo e a água, ou a idéia de criação e de geração, se põe de manifesto no primeiro sacramento batismal.

As doutrinas de Bruno e de Spinoza são quase idênticas. Bruno, que reconhece que Pitágoras é a fonte de sua informação, e Spinoza, que, sem com ela concordar tão francamente, permite que a sua filosofia traia o segredo, enceram a Causa primária do mesmo ponto de vista. Para eles, Deus é uma Entidade plenamente per se, um Espírito Infinito, e o único Ser inteiramente livre e independente dos efeitos e de outras causas; que, por essa mesma Vontade que engendrou todas as coisas e deu o primeiro impulso a toda lei cósmica, mantém perpetuamente em existência e em ordem todas as coisas do universo. Assim como os svâvhâvikas hindus - A mais antiga escola de budismo existente. Seus partidários atribuíram a manifestação do Universo e os fenômenos da vida ao Svabhâva ou natureza respectiva das coisas -, chamados erroneamente de ateus, que pretendem que todas as coisas, tanto os homens quanto os deuses e os espíritos, tenham nascidos de Svabhâva ou de sua própria natureza, Spinoza e Bruno foram ambos levados à conclusão de que Deus deve ser procurado na Natureza e não fora dela. Com efeito, sendo a criação proporcional ao poder do Criador, tanto o Universo quanto o Criador devem ser infinitos e eternos, uma forma que emana da sua própria essência e que, por sua vez, cria uma outra forma

O PROF. DOMÊNICO BERTI, EM SUA Life of Bruno, e compilada de documentos originais recentemente publicados, provam, sem que dúvida alguma possa subsistir, quais foram as suas verdadeiras filosofia, crença e doutrinas. Em comum com os platônicos de Alexandria, e com os cabalistas de época mais recente, ele estima que Jesus fosse um mago no sentido atribuído a essa palavra por Porfírio e por Cícero, que a chama de divina sapiênci (conhecimento divino), e por Fílon, o Judeu, que descreveu os magos como os investigadores mais assombrosos dos mistérios ocultos da Natureza, não no sentido aviltado dado à palavra magia em nosso século. Na sua nobre concepção, os magos eram homens santos que, isolando-se de qualquer outra preocupação terrestre, contemplaram as virtudes divinas e compreenderam mais claramente a natureza divina dos deuses e dos espíritos; e então iniciaram outros nos mesmos mistérios, que consistem numa conservação de um intercâmbio ininterrupto com os seres invisíveis durante a vida.

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