A Animação de Estátuas Praticada Pelos Antigos

Enviado por Estante Virtual em qui, 22/12/2011 - 03:00

Certamente, não conseguimos ver em que o químico moderno é mesmo mágico do que o antigo teurgista ou o filósofo hermético, exceto nisso: os últimos, reconhecendo a dualidade da Natureza, têm um campo de pesquisa experimental duas vezes maior. Os antigos animavam estátuas, e os hermetistas chamavam à vida, tirando-as dos elementos, as formas de salamandras, gnomos, ondinas e silfos, que não pretendiam criar, mas simplesmente tornar visíveis mantendo aberta a porta da Natureza, de sorte que, sob condições favoráveis, elas pudessem se tornar visíveis. O químico põe em contato dois elementos contidos na atmosfera, e desenvolvendo uma força latente de afinidade, cria um novo corpo - a água. Nas pérolas esferoidais e diáfanas que nascem dessa união de gases, nascem os germes da vida orgânica, e em seus interstício moleculares escondem-se o calor, a eletricidade e a luz, exatamente como o fazem no corpo humano. Donde provêm esta vida numa gota d'água recém-formada pela união de dois gases? E o que é a água em si? Sofrem o oxigênio e o hidrogênio alguma transformação que oblitera suas qualidade simultaneamente com a obliteração de sua forma? Aqui está a resposta da ciência moderna: "Se o oxigênio e o hidrogênio existem como tais, na água, ou se são produzidos por alguma transformação desconhecida e inconcebível de sua substância, eis uma questão sobre a qual podemos especular, mas da qual nada sabemos". Nada sabendo sobre um assunto tão simples quanto a constituição molecular da água, ou o problema mais profundo do surgimento da vida nesse elemento, não faria bem o Sr. Maudsley em exemplificar o seu próprio princípio, e "manter uma calma aquiescência à ignorância até que a luz se faça".

As afirmações dos partidários da ciência esotérica de que Paracelso produzia, quimicamente, homunculi a partir de certas combinações ainda desconhecidas da ciência exata são, como de ordinário, relegadas ao depósito das fraudes desacreditadas. Mas por que? Se os homunculi não foram feitos por Paracelso, mas foram produzidos por outros adeptos, e isto há não mais de mil anos. Eles foram produzidos, de fato, exatamente de acordo com o mesmo princípio em virtude do qual o químico e o físico dão vida aos seus animalcula.

Desde tempos imemoriais a especulação dos homens de ciência tem tido por objeto saber o que é essa força vital ou princípios de vida. Só a "doutrina secreta" é capaz de fornecer a chave à nossa mente. A ciência exata reconhece apenas cinco poderes na Natureza - um molar e quatro nucleares; os cabalistas, sete; e nesses dois poderes adicionais está encerrado todo o mistério da vida. Um deles é o espírito imortal, cujo reflexo vincula-se por liames invisíveis até mesmo com a matéria inorgânica; a outra, deixamos a cada um descobrir por si mesmo. Diz o Prof. Joseph Le Conte: "Qual é a natureza da diferença entre o organismo vivo e o organismo morto? Não podemos descobrir nenhuma, física ou química. Todas as forças físicas e químicas extraídas do fundo comum da natureza, e encarnadas no organismo vivo, parecem estar ainda encarnadas no morto, até que pouco a pouco ele caia em decomposição. E no entanto a diferença é imensa, é incomensuravelmente grande. Qual é a natureza dessa diferença expressa na fórmula da ciência material? o que é que partiu, e para onde foi? Há aqui alguma coisa que a ciência não pode ainda compreender. E no entanto é essa coisa que desaparece na morte, e antes da decomposição, que representa no mais alto sentido a força vital!"

Por mais difícil, ou antes impossível que pareça à ciência descobrir o motor invisível, universal de tudo - a Vida -, explicar-lhe a natureza, ou mesmo sugerir uma hipótese razoável para ela, o mistério não passa de um pseudomistério, não apenas para os grandes adeptos e videntes, mas mesmo para os que acreditam genuína e firmemente num mundo espiritual. Para o simples crente, não favorecido com um organismo pessoal provido dessa sensibilidade nervosa e delicada que lhe permitiria - como ao vidente - perceber o universo visível refletido como num espelho no Invisível, e, por assim dizer, objetivamente, a fé divina permanece. Esta última está firmemente enraizada em seus sentidos interiores; em sua infalível intuição, com a qual a fria razão nada tem a ver, ele sente que ela não pode enganá-lo. Que os dogmas errôneos, invenções humanas, e a sofisticaria teológica se contradigam; que ambas se destruam, e que a sutil casuística de uma derrote o raciocínio de outra; a verdade permanece uma só, e não há uma só religião, seja ela cristã ou não, que não esteja firmemente edificada sobre a rocha dos séculos - Deus e o espírito imortal.

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