As Sessões Espíritas na Índia

Enviado por Estante Virtual em qui, 22/12/2011 - 03:01

Todo animal é mais ou menos dotado da faculdade de perceber, se não espíritos, pelo menos algo que permanece no momento invisível ao homem comum, e só pode ser discernido por um clarividente. Fizemos centenas de experiências com gatos, cachorros, macacos de várias espécies, e, uma vez, com um tigre domesticado. Um espelho negro e redondo, conhecido como "cristal mágico", foi fortemente mesmerizado por um cavalheiro hindu nativo, que habitava anteriormente em Dindigul e agora reside um local mais retirado, entre as montanhas conhecidas como Ghauts Ocidentais. Ele havia domesticado o filhote de um tigre, que lhe fora enviado da costa do Malabar, região da Índia em que os tigres são proverbialmente ferozes; e foi com esse interessante animal que fizemos nossas experiências.

Como os antigos marsi e psylli, os célebres encantadores de serpentes, esse cavalheiro afirmava possuir o misterioso poder de domar qualquer espécie de animal. O tigre fora reduzido a um crônico torpor mental, por assim dizer; e tornou-se tão inofensivo e dócil quanto um cachorro. As crianças podiam provocá-lo e puxá-lo pelas orelhas, e ele só tremia e gemia como um cachorro. Mas todas as vezes que o forçavam a olhar o "espelho mágico", o pobre animal caia instantaneamente numa espécie de frenesi. Seus olhos se enchiam de um terror humano; gemendo de desespero, incapaz de desviar os olhos do espelho, ao qual o seu olhar parecia preso por um encantamento magnético, ele se contorcia e tremia até cair em convulsões por medo de alguma visão que para nós permanecia desconhecida. Ele então se deitava, gemendo fracamente mas ainda olhando fixamente para o espelho. Quando este era retirado, o animal ficava ofegante e aparentemente prostrado por cerca de duas horas. O que via ele? Que retrato espiritual de seu próprio mundo animal invisível poderia produzir um efeito terrífico sobre o animal selvagem e naturalmente feroz e temerário? Quem pode dizê-lo? Talvez aquele que produziu a cena.

O mesmo efeito sobre animais foi observado durante as sessões espiritistas, com alguns veneráveis mendicantes; e também quando um sírio, meio pagão, meio cristão, de Kunankulam (Estado de Cochim), um reputado feiticeiro, foi convidado a reunir-se a nós a bem da experiência.

Éramos nove pessoas ao todo - sete homem e duas mulheres, uma das quais nativa. Além de nós, havia no quarto o jovem tigre, grandemente ocupado com um osso; um vânderoo, ou um macaco-leão, que, com a sua pele negra e a sua barba e bigode brancos, e olhos vivos e brilhantes, parecia a personificação da malícia; e um belo papa-figo dourado, limpando calmamente a sua causa de cores brilhantes num poleiro, colocado próximo a uma grande janela da varanda. Na Índia, as sessões "espiritistas" não ocorrem na escuridão, como na América, e não se requer nenhuma condição, a não ser silêncio total e harmonia. Estava-se portanto em plena luz do dia, que penetrava através das portas e janelas abertas, com um burburinho longínquo provindo das florestas circunvizinhas e a selva enviando-nos o eco de miríades de insetos, pássaros e animais. Estávamos instalados no meio de um jardim no qual a casa fora construída, e ao invés de aspirar a atmosfera sufocante de uma sala de sessões, estávamos cercados de ramalhetes de eritrina cor de fogo - a árvore coral -, inalando os aromas fragrantes das árvores e arbustos, e as flores da begônia, cuja pétalas branca tremiam na brisa suave. Em suma, estávamos cercados de luz, harmonia, e perfumes. Grandes buquês de flores e arbustos, consagrados aos deuses nativos, tinham sido colhidos para a circunstância, e colocados nos cômodos. Tínhamos o manjericão suave, a flor de Vishnu, sem a qual nenhuma cerimônia religiosa pode ter lugar em Bengala; e os ramos da Ficus religiosa, a árvore dedicada à mesma divindade brilhante, entremisturando as suas folhas com as flores rosas do lótus sagrado e a tuberosa da Índia, ornamentavam profusamente as paredes.

Enquanto o "abençoado" - representado por um faquir sujo mas, não obstante, realmente santo - permanecia imerso em autocontemplação, e alguns prodígios espirituais eram realizados sob a direção de sua vontade, o macaco e o pássaro exibiam alguns poucos sinais de inquietude. Só o tigre tremia visivelmente a intervalos, e olhava fixamente para toda a peça, como se seus olhos verdes fosforescentes estivessem seguindo alguma presença invisível flutuando para cima e para baixo. Essa coisa ainda imperceptível aos olhos humanos devia ter-se tornado objetiva para ele. Quanto ao vânderro (macaco), toda a sua vivacidade tinha desaparecido; ele entorpecido, e repousava abandonado e sem movimento. O pássaro deu alguns poucos, se tanto, sinais de agitação. Havia um som como o de asas batendo suavemente no ar; as flores viajavam pela peça, deslocadas por mãos invisíveis; e como uma belíssima flor tingida de azul celeste caísse sobre as patas cruzadas do macaco, este teve um sobressalto nervoso, e procurou refugiar-se sob o manto branco de seu dono. Essas manifestações duraram cerca de uma hora, e seria muito longo relatar elas; a mais curiosa de todas foi a que fechou a série de maravilhas. Como todos se queixassem do calor, tivemos uma chuva de orvalho devidamente perfumado. As gotas caiam fortemente e abundantemente, e produziam uma sensação de frescor inexprimível, que refrescavam as pessoas sem molhá-las.

Quando o faquir deu a sua exibição de magia branca por encerada, os "feiticeiros" ou os encantadores, como são chamados, prepararam-se para exibir seu poder. Fomos gratificados por uma série de maravilhas que os relatos dos viajantes tornaram familiares ao público, provando, entre outras coisas, o fato de que os animais possuem naturalmente a faculdade da clarividência, e mesmo, ao que parece, a habilidade de discernir entre os bons e os maus espíritos. Todas as façanhas do feiticeiro foram precedidas de fumigações. Ele queimou ramos de árvores resinas e arbustos que enviavam colunas de fumaça. Embora não houvesse nada em tudo isso capaz de aterrorizar um animal que fizesse uso de seus olhos físicos, o tigre, o macaco e o pássaro exibiam um indescritível horror. Sugerimos a idéia de que os animais podiam ser aterrorizados pelos ramos incendiados, o costume familiar de acender fogueiras em volta do campo a fim de afastar as feras selvagens. Para não deixar nenhuma dúvida a esse respeito, o sírio se aproximou do tigre agachado com um ramo de árvore bael (consagrada a Shiva), e a agitou diversas vezes sobre a sua cabeça, murmurando, nesse ínterim, os seus encantamentos. Os seus olhos saltavam das órbitas como bolas de fogo; sua boca espumava; ele se precipitava ao solo, como se procurasse um buraco no qual se esconder; ele soltava um rugido atrás do outro, o que causava centenas de ecos da selva e da floresta. Finalmente, lançando um último olhar ao ponto do qual os olhos não se haviam despregado, ele fez um esforço supremo, quebrou a corrente, e saltou pela janela da varanda, carregando uma peça de estrutura consigo. O macaco tinha fugido há muito, e o pássaro caíra do poleiro como que paralisado.

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