A Magia Praticada Pelo Clero Cristão. Teogonia Comparada, Uma Nova Ciência

Enviado por Estante Virtual em qui, 22/11/2012 - 20:50
Onde podemos encontrar, nos anais da Magia europeia, encantamentos mais habeis do que na misteriosa solidao dos claustros? Alberto Magno, o famoso bispo e feiticeiro de Ratisbona, jamais foi superado em sua arte. Roges Bacon era um monge, e Tomas de Aquino um dos mais eminentes discipulos de Alberto. Trithemius, abade dos beneditinos de Spanheim, foi o mestre, amigo e confidente de Cornelio Agripa; e enquanto as confederacoes de teosofos se disseminaram amplamente pela Alemanha, onde nasceram, ajudando-se mutuamente, e lutando durante anos pela aquisicao de conhecimento esoterico, todo aquele que conseguisse tornar-se o discipulo favorito de certos monges poderia ser rapidamente iniciado em todos os ramos importantes da sabedoria oculta.
 
Tudo isso faz parte da historia e nao pode ser negado. A Magia, em todos os seus aspectos, foi amplamente e quase abertamente praticada pelo clero ate a Reforma. E mesmo aquele que foi outrora chamado de gPai da Reformah, o famoso John Reuchin, autor de Mundo maravilhoso e amigo de Pico della Mirandola, o mestre e instrutor de Erasmo, de Lutero e de Melanchton, era cabalista e ocultista.
 
Em seu insaciavel desejo de estender o dominio da fe cega, os primitivos arquetipos da Teologia crista foram forcados a ocultar, na medida do possivel, as suas verdadeiras fontes. Para esse efeito, eles queimaram ou destruiram, como se afirma, todos os manuscritos originais sobre Cabala, Magia e ciencias ocultas que lhes cairam nas maos. Eles supunham, em sua ignorancia, que os escritos mais perigosos dessa especie tinham desaparecido com o ultimo gnostico; mas um dia eles descobrirao o seu engano. Outros documentos autenticos e igualmente importantes reaparecerao, talvez, "de maneira inesperada e quase miraculosa".
 
Existem estranhas tradicoes correntes em varias partes do Oriente - no Monte Athos e no Deserto de Nitria, por exemplo - entre certos monges, e entre doutos rabinos da Palestina, que passam suas vidas comentando o Talmude. Eles dizem que nem todos os rolos e manuscritos, que segundo a historia teriam sido queimados por Cesar, pela turba crista em 389, e pelo general arabe Omar, desapareceram como se acredita comumente; e a historia que eles contam e a seguinte: "Ao tempo da disputa pelo trono em 51 a.C. entre Cleopatra e o seu irmao Dionisio Ptolomeu, o Bruckion, que continha mais de setecentos mil rolos, todos guarnecidos de madeira e de pergaminhos a prova de fogo, estava em reparos, e uma grande porcao dos manuscritos originais, que eram considerados os mais preciosos, e que nao tinham duplicatas, foram guardados na casa de um dos bibliotecarios. Como o fogo que consumiu o resto foi apenas resultado de um acidente, nao se tomou nenhuma precaucao nesse momento. Mas, acrescentam eles, varias horas se passaram entre o incendio da frota, por ordem de Cesar, e o instante em que os primeiros edificios situados nas proximidades do posto queimaram por sua vez, e em que todos os bibliotecarios, auxiliados por varias centenas de escravos afetos ao museu, conseguiram salvar os rolos mais preciosos. Tao perfeita e solida era a fabricacao do pergaminho, que enquanto, em alguns rolos, as paginas internas e a guarnicao de madeira foram reduzidas a cinzas, em outros, a guarnicao de pergaminho permaneceu intata. Esses detalhes foram todos escritos em grego, latim e em dialeto caldaico-siriaco, por um jovem douto de nome Theodas, um dos escribas empregados no museu.
 
A Enciclopedia Britanica, em seu artigo sobre Alexandria, diz: "Quando o templo de Serapis foi demolido (...) a valiosa biblioteca foi pilhada e destruida; e vinte anos depois as prateleiras vazias suscitaram o arrependimento (...) etc.". Mas nao relata a sorte a sorte posterior dos livros pilhados.
 
Rivalizando com os ferozes adoradores de Maria do quarto seculo, os modernos perseguidores clericais do liberalismo e da "heresia" encerrariam voluntariamente todos os hereticos e seus livros em algum moderno Serapiao e os queimariam vivos. A causa desse odio e natural. A pesquisa moderna nunca desvelou tanto, como agora, o segredo. "Nao e hoje a adoracao dos santos e anjos" - disse o Bispo Newton, anos atras - "em todos os respeitos, identica a adoracao dos demonios dos primeiros tempos? So o nome e diferente, a coisa e exatamente a mesma (...) exatamente os mesmos tempos, as mesmas imagens, que eram outrora consagrados a Jupiter e outros demonios, sao agora consagrados a Virgem Maria e a outros santos (...) todo o Paganismo converteu-se e aplicou-se ao Papismo."
 
Por que nao ser franco e acrescentar que "uma boa porcao dele foi adotada tambem pelas religioes protestantes?"
 
A propria designacao apostolica de Pedro origina-se dos misterios. O Hierofante ou pontifice supremo portava o titulo caldeu pether, ou interprete. Os nomes Phtah, Peth'r, a residencia de Balsam, Patara, e Patras, os nomes das cidades oraculares, pateres ou pateras e, talvez, Buddha, tudo provem da mesma raiz. Jesus diz: "Sobre esta petra edificarei minha Igreja, e as portas do Hades nao prevalecerao contra ela", entendendo por petra o templo sobre a rocha, e por metafora, os misterios cristaos, cujos adversarios eram os antigos deuses dois misterios do mundo subterraneo, adorados nos ritos de Isis, Adonis, Atis, Sabasio, Dionisio e Eleusis. Nenhum apostolo Pedro jamais esteve em Roma; mas o Papa, tomando o cetro de Pontifex Maximus, as chaves de Jano e Cibele, e adornando a sua cabeca crista como o capelo da Magna Mater, copiado da tiara de Brahmatma, o Supremo Pontifice dos iniciados da India antiga, tornou-se o verdadeiro Peter-Roma, ou Petroma. (A tiara do Papa e igualmente uma perfeita copia da do Dalai-Lama do Tibete.).
 
A Igreja Catolica Romana tem dois inimigos bem mais poderosos do que os "hereticos" e os "infieis"; e esses sao - a Mitologia Comparada e a Filologia.
 
A prova conclusiva e fornecida por muitos eruditos, e nao cabe duvida de que a India foi a alma mater, nao apenas da civilizacao, das artes e das ciencias, mas tambem de todas as grandes religioes da antiguidade, do Judaismo e, por consequencia, do Cristianismo, inclusive. Herder localiza o berco da humanidade na India, e mostra Moises como um habil e relativamente moderno compilador das antigas tradicoes bramanicas: "O rio que circunda o pais (a India) e o sagrado Ganges, que toda a Asia considera como o rio paradisiaco. La esta tambem o biblico Bihon, que nao e outro senao o Indo. Os arabes o chamam assim ate hoje, e os nomes dos paises banhados por ele ainda entre os hindus". Jacolliot afirma ter traduzido todos os antigos manuscritos de folhas de palmeira que teve a sorte de ver permissao dos bramanes dos pagodes. Numa dessas traducoes, encontramos passagens que nos revelam a indiscutivel origem das chaves de Sao Pedro, e o motivo da subsequente adocao do simbolo por Suas Santidades, os Papas de Roma.
 
Ele nos mostra, baseado no testemunho do Agrushada Parikshai, que traduz livremente como "o Livro dos Espiritos" (Pitris), que, seculos antes de nossa era, os Iniciados do templo escolhiam um Conselho Superior, presidido pelo Brahmatma, ou chefe supremo de todos esses Iniciados; que esse pontificado so podia ser exercido por um bramane que alcancasse a idade de oitenta anos; que o Brahmatma era o unico guardiao da formula mistica, resumo de toda ciencia, contida nas tres misteriosas letras:
 
A
U         M
 
que significam criacao, conservacao e transformacao. So ele podia expor-lhe o significado na presenca dos iniciados do terceiro e superior grau. Dentre os iniciados, todo aquele que revelasse aos profanos uma unica verdade, ou mesmo o menor dos segredos confiados a seu cuidado, era condenado a morte.
Aquele que recebia a confidencia partilhava do mesmo destino.
 
"Finalmente, para coroar esse habil sistema", diz Jacolliot, "existia uma palavra ainda superior ao misterioso monossilabo A U M, que tornava aquele que lhe possuia a chave igual ao proprio Brahma. So o Brahmatma possuia esta chave, e a transmitia ao seu sucessor numa caixa fechada.
 
"Essa palavra desconhecida, que nenhuma forca humana pode, mesmo hoje - quando a autoridade bramanica foi esmagada sob as invasoes mongolicas e europeias; quando todo pagode tem seu Brahmatma -, forca-lhe a revelacao, era gravada num triangulo de ouro e preservada num santuario do templo de Asgartha, cujas chaves apenas o Brahmatma possuia. Ele tambem portava sobre a sua tiara duas chaves cruzadas, seguras por dois bramanes ajoelhados, simbolos de preciso deposito que tinha em guarda (...) Essa palavra e esse triangulo estavam gravados sobre a placa do anel que esse chefe religioso utilizava como um dos signos de sua dignidade; ambos eram tambem reproduzidos num sol dourado sob o altar, onde toda manha o Sumo Pontifice oferecia o sacrificio do sarvamedha, ou sacrificio a todas as forcas da natureza".
 
Nao e isso bastante claro? E afirmarao ainda os catolicos que foram os bramanes de ha 4.000 anos que copiaram o ritual, os simbolos e as vestes dos Pontifices romanos? Nao ficariamos nem um pouco surpresos.
 
Origenes, Clemente de Alexandria, Calcidio, Metodio e Maimonides, com base na autoridade do Targum de Jerusalem, a maior autoridade ortodoxa dos judeus, afirmavam que as duas primeiras palavras no Genese - BE-RESHITH, significam Sabedoria, ou Principio, e que a ideia de que tais palavras significam "no principio" jamais foi partilhada fora dos meios profanos, que nao tinham permissao para penetrar mais profundamente no sentido esoterico da sentenca. Beausobre, e depois dele Godfrey Higgins, demonstraram o fato. "Todas as coisas", diz a Cabala, "derivam, por emanacao, de um principio; e esse principio e o Deus [desconhecido e invisivel]. DEle emana imediatamente um poder substancial, que e a imagem de Deus, e a fonte de todas as subsequentes emanacoes. Esse segundo principio produz, pela energia [ou vontade e forca] da emanacao, outras naturezas, que sao mais ou menos perfeitas, de acordo com seus diferentes graus de distancia, na escala da emanacao, da Fonte Primeira de existencia, e que constitui diferentes mundos, ou ordens de ser, todos unidos ao poder eterno de que emanam. A materia nao e senao o efeito mais remoto da energia emanativa da Divindade. O mundo material recebe sua forma da acao imediata dos poderes bem abaixo da Fonte Primeira do Ser (...) Beausobre afirma ter Santo Agostinho, o maniqueu, dito o seguinte: `E se por Reshith entendemos o Principio ativo da criacao, e nao o seu inicio, nesse caso percebemos claramente que Moises jamais pretendeu dizer que o ceu e a Terra foram as primeiras obras de Deus. Ele apenas disse que Deus criou o ceu e a Terra por meio do Principio, que e Seu Filho. Nao e ao tempo que ele se refere, mas ao autor imediato da criacao'". Os anjos, segundo Agostinho, foram criados antes do firmamento, e, de acordo com a interpretacao esoterica, o ceu e a Terra foram criados depois deles, emanados do segundo Principio, ou o Logos - a Divindade criadora. "A palavra principio", diz Beausobre, "nao significa que o ceu e a Terra foram criados antes de qualquer outra coisa, pois, para comecar, os anjos foram criados antes disso; porem que Deus fez tudo atraves de Sua Sabedoria, que e Seu Verbum, e que a Biblia crista chamou de Principio", adotando assim o sentido exoterico da palavra conferido as multidoes. A Cabala - tanto oriental, quanto a judia - mostra que inumeras emanacoes (as Sephiroth judias) originaram-se do Primeiro Principio, o principal dos quais era a Sabedoria. Essa Sabedoria e o Logos de Filon e Miguel, o chefe dos Aeons (ou EONS, Espiritos Estrelares) gnosticos e o Ormasde dos persas; Minerva, deusa da sabedoria, dos gregos, que emanou da cabeca de Jupiter e a Segunda Pessoa da Trindade crista. Os primeiro padres da Igreja nao tiveram de quebrar a cabeca em demasia; eles encontraram uma doutrina adrede preparada que existia em todas as teogonias milhares de anos antes da era crista. Sua Trindade nao e senao o trio das Sephiroth, as primeiras tres luzes cabalistas que, segundo Moises Nachmanides, "Jamais foram vistas por alguem, nao havendo nenhum defeito nelas, nem qualquer desuniao". O primeiro numero eterno e o Pai, ou o caos primitivo, invisivel e incompreensivel dos caldeus, do qual emana o Inteligivel. O Phtah egipcio, ou "o Principio de Luz - nao a luz em si, e o Principio de Vida, embora nao tenha em si nenhuma vida". A Sabedoria pela qual o Pai criou o ceus e o Filho, ou o androgino cabalista Adao-Cadmo. O Filho e o mesmo tempo o Ra Masculino, ou Luz da Sabedoria, Prudencia ou Inteligencia, Sephirah, a Sua parte feminina, e desse ser dual procede a terceira emanacao, Binah ou Razao, a segunda Inteligencia - o Espirito Santo dos cristaos. Por conseguinte, trata-se estritamente falando, de uma TETRAKTYS ou quaternidade, consistindo da Primeira Monada Ininteligivel, e de sua triplice emanacao, que constitui propriamente a nossa Trindade.
 
Como entao nao constatar de imediato que, se os cristaos nao tivessem propositadamente desfigurado em sua interpretacao e traducao o texto do Genese mosaico, para adapta-lo as suas proprias concepcoes, teria sido impossivel sua religiao com seus dogmas atuais. Uma vez compreendida a palavra Reshith em seu novo sentido de Principio e nao de Inicio, e aceita a doutrina anatematizada das emanacoes, a posicao da Segunda Pessoa da Trindade torna-se insustentavel. Pois, se os anjos sao as primeiras emanacoes divinas oriundas da Substancia Divina, que existiam antes do Segundo Principio, entao o Filho antropomorfico e, na melhor das hipoteses, uma emanacao como aqueles, e pode tanto ser o Deus hipostaticamente quanto nossas obras visiveis sao nos mesmo. Que essas sutilezas metafisicas jamais entraram na cabeca do honesto e sincero Paulo (apostolo) e evidente; e tanto mais o e porque, como todos os judeus eruditos, ele estava bem familiarizado com a doutrina das emanacoes e jamais pensou em deturpa-la. Como pode alguem imaginar que Paulo identificava o Filho com o Pai, quando ele nos diz que Deus criou Jesus "um pouco menor do que os anjos" (Hebreus, II, 9), e um pouco maior do que Moises! "Pois esse HOMEM foi considerado de maior gloria do que Moises" (Hebreus, III, 3). Ignoramos quais ou quantas falsidades foram interpoladas posteriormente nos Atos pelos padres da Igreja; mas e evidente que Paulo sempre considerou a Cristo como um homem "cheio de Espirito de Deus", eis um ponto que nao admite discussao: "No arche era o Logos, e o Logos estava com Theos" (Joao, I,1.).
 
A Sabedoria, a primeira emanacao de Ain-Soph; o Protogonos, a Hypostasis; o Adao-Cadmo dos cabalistas, o Brahma dos hindus; o Logos de Platao, e o "Inicio" de Sao Joao - sao o Reshith, do Livro do Genese. Se corretamente interpretado, ele subverte, como assinalamos, o elaborado sistema da teologia crista, pois prova que atras da Divindade criadora ha um deus SUPERIOR; um planejador e arquiteto; e que o primeiro e apenas o Seu agente executor - uma simples FORCA!
 
"Todos sabem", escreveu Fausto, o grande maniqueu do seculo IV, "que os Evangelhos nao foram escritos por Jesus Cristo, nem por seus apostolos, mas muito tempo depois por algumas pessoas desconhecidas, que, julgando com razao que nao lhes dariam credito quando constassem coisas que nao haviam testemunhado, encabecaram suas narrativas com os nomes dos apostolos ou dos discipulos contemporaneos".
 
Ao comentar o assunto, A. Franck, o sabio e erudito judeu do Instituto e tradutor da Cabala, expressa a mesma ideia. "Nao temos razao", pergunta ele, "em considerar a Cabala como um precioso vestigio da filosofia religiosa do Oriente, que, transportado para Alexandria, se misturou a doutrina de Platao, e sob o nome usurpado de Dionisio, o Areopagita, bispo de Atenas, convertido e consagrado por Sao Paulo, foi assim capaz de penetrar no misticismo da Idade Media?"
 
Diz Jacolliot: "O que e entao essa filosofia religiosa do Oriente, que penetrou no simbolismo mistico da cristandade? Respondemos: Essa filosofia, tracos da qual encontramos entre os magos, os caldeus, os egipcios, os cabalistas hebreus e os cristaos, nao e outra senao a dos bramanes hindus, discipulos dos pitris, ou espiritos residentes nos mundos invisiveis que nos cercam".
 
Mas se os gnosticos foram destruidos pelas perseguicoes, a Gnose, baseada na secreta ciencia das ciencias, ainda vive. Ela e a terra que ajuda a mulher e esta destinada a abrir sua boca para engolir o Cristianismo medieval, o usurpador e assassino da doutrina do grande Mestre. A Cabala antiga, a Gnose, ou o conhecimento tradicional secreto, jamais ficou sem os seus representantes, em qualquer epoca ou pais. As trindades dos iniciados, reveladas a historia ou ocultadas sob o veu impenetravel do misterio, foram preservadas e fixadas atraves das idades. Elas foram conhecidas como Moises, Aholiab e Bezaleel, o filho de Uri, o filho de Hur, como Platao, Filon e Pitagoras, etc. Na Transfiguracao, vemo-las como Jesus, Moises e Elias, os tres Trismegisto; e os tres cabalistas Pedro, Tiago e Joao - cuja revelacao e a chave de toda a sabedoria. Descobrimo-las no crepusculo da historia judia como Zoroastro, Abraao e Terah, e depois como Henoc, Ezequiel e Daniel.
 
Quem, dentre aqueles que sempre estudaram as filosofias antigas, que compreende intuitivamente a grandeza de suas concepcoes, a infinita sublimidade de seus conceitos sobre a Divindade, pode hesitar, por um instante, de dar preferencia a suas doutrinas sobre a Teologia incompreensivel, dogmatica e contraditoria das centenas de seitas crista? Quem, tendo uma vez lido Platao e penetrado o seu Ąo ov, "a quem ninguem jamais viu, exceto o Filho", [de duvidar de que Jesus foi um discipulo da mesma doutrina secreta que instruiu o grande filosofo? Pois, como ja mostramos antes, Platao nunca afirmou ser o criador de tudo que escreveu, mas deu todo o credito a Pitagoras, que, por sua vez, assinalava o remoto Oriente como a fonte de que derivaram sua informacao e sua filosofia. Colebrooke mostra que Platao o confessa em suas epistolas, e diz que ele extraiu seus ensinamentos das doutrinas antigas e sagradas!. Alem disso, e inegavel que as teologias de todas as grandes nacoes concordam entre si e mostram que cada uma e parte de "um todo estupendo". Como os demais iniciados, vemos Platao em grandes dificuldades para ocultar o verdadeiro significado de suas alegorias. Toda vez que o assunto toca os maiores segredos da Cabala oriental, segredo da verdadeira cosmogonia do universo e do mundo ideal preexistente, Platao esconde sua filosofia na mais profunda escuridao. Seu Timeu e tao confuso que so um iniciado pode compreender-lhe o sentido secreto. E Mosheim pensa que Filon encheu suas obras com passagens diretamente contraditorias com o unico proposito de ocultar a verdadeira doutrina. Pelo menos uma vez, vemos um critico na pista certa.
 
E essa propria ideia da Trindade, assim como a doutrina tao amargamente condenada das emanacoes, qual e a sua mais remota origem? A resposta e facil, e as provas estao agora as maos. Na mais sublime e profunda de todas as filosofias, a da universal "Religiao da Sabedoria", os primeiros tracos da qual a pesquisa historica agora encontra na antiga religiao pre-vedica da India. Como assinala o muito caluniado Jacolliot, "Nao e nas obras religiosas da Antiguidade, tais como os Vedas, o Zend-Avesta, a Biblia, que temos de procurar a exata expressao das dignas e sublimes crencas daquelas epocas".
"A sagrada silaba primitiva, composta das tres letras A-U-M, na qual esta contida a Trimurti [Trindade] Vedica, deve ser mantida em segredo, como outro triplo Veda", diz Manu, no Livro XI, Sloka 266.
 
Svayambhu e a Divindade nao revelada; e o Ser que existe por si; e o germe central e imortal de tudo que existe no universo. Tres trindades emanam e nele se confundem, formando uma unidade Suprema. Essas trindades, ou a triplice Trimurti, sao: Nara, Nari e Viraj - a Triadi inicial; Agni, Vayu e Surya - a Triada manifesta; Brahma, Vishnu e Shiva, a Triada criadora. Cada uma dessas Triadas torna-se menos metafisicas e mais adaptada a inteligencia vulgar a medida em que desce. A ultima torna-se assim apenas o simbolo em sua expressao concreta; conclusao necessaria de uma concepcao puramente metafisica. Ao lado de Svayambhu, ha as dez Sephiroth dos cabalistas hebreus, os dez Prajapatis hindus - o Ain-Soph dos primeiros, que corresponde ao grande Desconhecido, expresso pelo A U M mistico dos ultimos.
 
Diz Franck, o tradutor da Cabala:
 
"Os dez Sephiroth (...) dividem-se em tres classes, cada uma das quais nos apresenta a divindade sob um aspeto diferente, embora o todo permaneca uma Trindade indivisivel.
 
"Os primeiros tres Sephiroth sao puramente intelectuais no que concerne a Metafisica; expressam a identidade absoluta da existencia e do pensamento, e formam o que os modernos cabalistas chamam de mundo inteligivel" - que e a primeira manifestacao de Deus.
 
"Os tres seguintes (...) fazem-nos conceber Deus em um de seus aspectos, como a identidade entre bondade e sabedoria; noutro aspeto, eles nos mostram, no bem Supremo, a origem da beleza e da magnificencia [na criacao]. Por isso, eles se chamam virtudes, ou constituem o mundo sensivel.
 
gFinalmente, sabemos, pelo ultimo desses atributos, que a Providencia Universal, o Artista Supremo, e tambem Forca absoluta, a causa Todo-Poderoso, e que, ao mesmo tempo, essa causa e o elemento gerador de tudo que existe. Sao estes ultimos Sephiroth que constituem o mundo natural, ou a natureza em sua essencia e em seu principio ativo, natrua naturans".
 
Essa concepcao cabalistica revela-se identica a da filosofia hindu. Todo aquele que ler Platao e seu dialogo Timeu encontrara essas ideias fielmente reproduzidas pelo filosofo grego. Alem disso, a imposicao do segredo era tao estrita para os cabalistas, como o era para os iniciados de Adyta e os iogues hindus.
 
"Fecha tua boca, para que nao fales disto [o misterio], e teu coracao, para que nao pense em voz alta; e se teu coracao escapar, tra-lo de volta, pois tal e o objetivo de nossa alianca".
 
"Esse e o segredo que da morte: fecha tua boca para nao revela-lo ao vulgo; comprime teu cerebro para que nada escape dele e caia noutra parte" (Agrushada-Pariskshai).
 
Mas, se o conhecimento dos poderes ocultos da Natureza abre a percepcao espiritual do homem, alarga-lhe as faculdades intelectuais, e o leva infalivelmente a uma veneracao mais profunda do Criador, por outro lado a ignorancia, a estreiteza dogmatica e um medo infantil de contemplar o fundo das coisas levam invariavelmente ao fetichismo e a supersticao.
 
Quando Cirilo, o Bispo de Alexandria, abracou abertamente a causa de Isis, a deusa egipcia, e a antropomorfizou em Maria, a mae de Deus, e a controversia trinitaria estalou, desde esse momento, a doutrina egipcia da emanacao do Deus criador oriundo de Emepht comecou a ser torturada de mil maneiras, ate que o Concilio concordou com a sua adocao na forma atual, que vem a ser o Ternario desfigurado dos cabalistas
 
Salomao e Filon! Mas como sua origem era ainda por demais evidente, deram o nome de Cristo ao leste", ao Adao-Cadmo, ao Verbo, ao Logos, identificando-o em essencia e existencia com o Pai ou Anciao dos Dias. A Sabedoria oculta, segundo o dogma cristao, tornou-se identica e coeterna com a sua emanacao, o Pensamento divino.

 

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