Quatro escolas de teologia budistas

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 18:54

Há quatro escolas de Teologia budista. No Ceilão, no Tibete, e na Índia. Uma é mais panteísta do que ateísta, mas as três outras são puramente teístas.

As especulações de nossos filósofos baseiam-se na primeira. Quanto à segunda, à terceira e à quarta, seus ensinamentos variam apenas no modo externo de expressão.

Quanto às concepções práticas, e não teóricas, sobre o Nirvana, eis o que diz um cético racionalista: "Interroguei várias centenas de budistas nas próprias portas de seus templos, e não encontrei um só que não se esforçasse, jejuasse e se entregasse a toda sorte de austeridade para se aperfeiçoar e adquirir imortalidade, não para atingir a aniquilação final.

"Há mais de 300.000.000 de budistas que jejuam, rezam e trabalham. (...) Por que tachar esses 300.000.000 de homens de idiotas e tolos, por macerarem seus corpos e se imporem as mais terríveis privações de toda natureza, a fim de atingir a aniquilação fatal que os deve levar para parte alguma?"

Assim como esse autor, também nós interrogamos budistas e bramanistas, e lhes estudamos a filosofia. Apavarga significa algo muito diferente da aniquilação. Trata-se apenas de procurar tornar-se mais e

mais semelhante a Ele, de quem o devoto é apenas uma das refulgentes centelhas, tal é a aspiração de todo filósofo hindu, e a esperança do mais ignorante nunca consiste em perder a sua individualidade. "De outro modo", como outrora observou um estimado correspondente da autora, "a existência mundana e individual se assemelharia à comédia de Deus e à nossa tragédia; aprazaria a Ele que trabalhássemos e sofrêssemos, e morte para nós por sofrê-lo".

Ocorre o mesmo com a doutrina da metempsicose, tão distorcida pelos eruditos europeus. Mas quando o trabalho de tradução e análise fizer maiores processos, belezas religiosas serão descobertas nas antigas fés.

Prof. Whitney sublinhou em suas tradução dos Vedas a grande importância que essa obra concede aos cadáveres de seus fiéis, segundo se pode ler nas seguintes passagens, citadas da obra do Sr. Whitney, a propósito dos ritos funerários:

“Levanta-te e anda! Reúne todos os membros de teu corpo,
e não os deixes em abandono; teu espírito partiu, segue-o agora;
onde quer que ele te agrade, vai para lá”.
(...)
“Reúne teus membros, e com ajuda dos ritos eu os modelarei para ti.
(...)
“Se Agni esqueceu algum membro ao enviar-te para o mundo
de teus pais, eu to darei de novo, para que com todos os teus
membros te regozijes no céu entre teus pais.

O “corpo” aqui referido não é o corpo físico, mas o astral - o que é uma grande distinção, como se pode ver.

Além disso, a crença na existência individual do espírito imortal do homem figura nos seguintes versos do cerimonial hindu de cremação e enterro.

“Aqueles que na esfera da terra permanecem estacionados;
os que moram nos reinos da felicidade;
os pais que por mansão têm a terra, a atmosfera e os céus.
Ante-céu se chama o terceiro céu
onde está o sólio de teus pais”. - (Rig-Veda, X, 14.)

Visto o alto conceito que esses povos têm de Deus e da imortalidade do espírito do homem, não é de surpreender que uma comparação entre os hinos védicos e os estreitos e nada espirituais livros mosaicos resulte em vantagem para os primeiros na mente de todo erudito sem preconceitos. Mesmo o código de Manu é incomparavelmente superior ao do Pentateuco de Moisés, no sentido literal do qual todos os eruditos não iniciados dos dois mundos não conseguem encontrar uma única prova de que os antigos judeus acreditavam numa vida futura ou num espírito imortal no homem, ou de que o próprio Moisés ensinava tal coisa. No entanto, alguns eminentes orientalistas têm começado a suspeitar que a “letra morta” oculta algo não aparente à primeira vista. Assim, conta-nos o Prof. Whitney que “quando observamos mais profundamente as formas do moderno cerimonial hindu não descobrimos a mesma discordância entre credos e preceitos; um não é explicado pelo outro”, diz esse grande erudito americano. E acrescenta : “Somos forçados a concluir, ou que a Índia derivou seu sistema de ritos de alguma fonte estrangeira, e os praticou cegamente, sem cuidar de sua verdadeira importância, ou que esses ritos são o produto de outra doutrina de data mais antiga, tendo sido mantidos no uso popular depois da decadência do credo de que eles eram a expressão original”.

Esse credo não decaiu, e sua filosofia oculta, tal como a entendem agora os hindus iniciados, é exatamente a mesma de há 10.000 anos. Mas podem nossos eruditos esperar seriamente que aqueles a revelem ao primeiro pedido; ou esperam ainda eles penetrar os mistérios da Religião Universal por seus ritos populares exotéricos?

Nenhum brâmane ou budista ortodoxo negaria o mistério da encarnação cristã; mas eles a compreendem à sua própria maneira, e como poderiam negá-lo? A pedra fundamental de seu sistema religioso são as encarnações da Divindade. Sempre que a Humanidade está prestes a cair no materialismo e na degradação moral, um Espírito Superior se encarna na criatura selecionada para o propósito. O “Mensageiro do Superior” liga-se à dualidade da matéria e da alma, e, completando-se assim a Tríada por meio da união de sua Coroa, nasce um Salvador, que ajuda a Humanidade a retornar ao caminho da verdade e da virtude. A Igreja cristã primitiva, imbuída de filosofia asiática, partilhava evidentemente da mesma crença - do contrário jamais teria erigido em artigo de fé o segundo advento, nem inventado a fábula do anti-Cristo como uma precaução contra as possíveis encarnações futuras. Nem teria imaginado que Melquisedeque foi um avatâra de

Cristo. Eles só precisariam folhear a Bhagavad-Gitâ para descobrir Krishna ou Bahgavat dizendo a Arjuna: “Aquele que me segue está salvo pela sabedoria e também pelas obras. (... Assim que a virtude declina no mundo, eu me torno manifesto para salva-lo”.

Na verdade, é muito difícil não partilhar essa doutrina das encarnações periódicas. Não tem o mundo testemunhado, em raros intervalos, o advento de personagens tão grandiosos como Krishna, Sakyamuni e Jesus? Como estes dois últimos caracteres de Krishna parece ter sido um ser real, deificado por sua escola em algum tempo no alvorecer da história, e inserido no quadro do venerando programa religioso. Comparai os dois Redentores, o hindu e o cristão, separados no tempo por um espaço de alguns milhares de anos; colocai entre eles Siddhârtha Buddha, que reflete Krishna e projeta na noite do futuro a sua própria sombra luminosa, com sujos raios foram esboçadas as linhas gerais do mítico Jesus, e de cujos ensinamentos os do Cristo histórico, e descobrireis que sob uma mesma capa idêntica de lenda poética viveram e respiraram três figuras humanas reais. O mérito individual de cada um delas ressalta do mesmo colorido mítico, pois nenhum caráter indigno poderia ter sido selecionado para a deificação pelo instinto popular, tão infalível e justo quanto desimpedido. O brocardo Vox populi, vox Dei foi outrora verdadeiro, embora falso quando aplicado à atual massa dominada pelo clero.

Kapila, Orfeu, Pitágoras, Platão, Basilides, Marcion, Amônio e Plotino fundaram escolas e semearam os germes de muitos e nobres pensamentos, e, ao desaparecerem, deixaram atrás de si o brilho de semideuses. Mas as três personalidades de Krishna, Gautama e Jesus surgiram como deuses verdadeiros, cada qual em sua época, e legaram à Humanidade três religiões edificadas na imperecível rocha dos séculos. O fato de que as três, especialmente a fé cristã, tenham sido adulteradas com o tempo, e de que a última seja quase irreconhecível, não se deve a nenhuma falha dos nobres reformadores. São os clérigo que se intitulam de cultivadores da “vinha do Senhor” que devem prestar contas à posteridade. Purificai os três sistemas da escória dos dogmas humanos, e a pura essência permanecerá a mesma. Mesmo Paulo, o grande, o honesto apóstolo, no ardor de seu entusiasmo, perverteu involuntariamente as doutrinas de Jesus, ou então seus escritos foram desfigurados depois de reconhecidos. O Talmude, o registro de um povo que, não obstante a sua apostasia do Judaísmo, sentiu-se compelido a reconhecer a grandeza de Paulo como filósofo e teólogo, diz a propósito de Aher (Paulo), no Yerushalmi, que “ele corrompeu a obra daquele homem”- ou seja Jesus.

Entretanto, antes que essa fusão seja realizada pela ciência honesta e pelas gerações futuras, lancemos uma vista d’olhos ao quadro atual das três legendárias religiões.

 

AS LENDAS DOS TRÊS SALVADORES
KRISHNAGAUTAMA BUDDHAJESUS DE NARARÉ
Época: Incerta. A ciência européia teme comprometer-se. Mas os cálculos bramânicos a fixaram por volta de há 5.000 anos.Época: Segundo a ciência européia e os cálculos cingaleses, há 2.540 anos.Época: Supõe-se que tenha sido há 1877 anos. Seu nascimento e sua ascendência real foram ocultados de Herodes, o tirano.
Krishna descendente de uma família real, mas é educado por pastores; é chamado de Deus Pastor. Seu nascimento e sua ascendência divina são mantidos em segredo de Kansa.Gautama é o filho de um rei. Seus primeiros discípulos são pastores e mendigos.Jesus. Descende da família real de Davi. É adorado por pastores em seu nascimento, e é chamado de “Bom Pastor”. (Ver Evangelho segundo São João.)
Encarnação de Vishnu, a segunda pessoa da Trimûrti (Trindade). Krishna foi adorado em Maturâ, no rio Jumnâ.Segundo alguns, uma encarnação de Vishnu; segundo outros, uma encarnação de um dos Buddhas, e mesmo de Âdi-Buddha, a Sabedoria Suprema.Uma encarnação do Espírito Santo, portanto a segunda pessoa da Trindade, agora a terceira. Mas a Trindade só foi inventada 325 anos depois de seu nascimento. Foi a Matarea, Egito, e aí produziu os seus primeiros milagres.
Krishna é perseguido por Kansa, Tirano de Madura, mas escapa miraculosamente. Na esperança de destruir a criança, o rei mata milhares de varões inocentes.As lendas budistas estão livres deste plágio, mas a lenda católica que o transforma em São Josafá mostra que seu pai, rei de Kapilavastu, matou inocentes jovens cristãos (!!).Jesus é perseguido por Herodes, Rei da Judéia, mas escapa para o Egito guiado por um anjo. Para se assegurar de sua morte, Herodes ordena uma massacre de inocentes, e 40.000 crianças são mortas.
A mãe de Krishna foi Devakî, uma virgem imaculada (porém que havia dado à luz oito filhos antes de Krishna).A mãe de Buddha foi Mâyâ ou Mâyâdevî; não obstante o seu casamento, manteve-se virgem imaculada.A mãe de Jesus foi Mariam, ou Miriam; casou-se com o marido, mas manteve-se virgem imaculada, embora tenha tido várias crianças além de Jesus. (Ver Mateus, XIII, 55, 56.)
Krishna é dotado de beleza, onisciência e onipotência desde o nascimento. Produz milagres, cura os aleijados e cegos, e expulsa demônios. Lava os pés dos Brâmanes, e, descendo às regiões inferiores (inferno), liberta os mortos, e retorna a Vaikuntha - o paraíso de Vishnu. Krishna era o próprio Deus Vishnu em forma humana.Buddha é dotado dos mesmos poderes e qualidades, e realiza prodígios semelhantes. Passa sua vida com mendigos. Pretende-se que Gautama era diferente de todos os outros Avatâras, tendo todo o espírito de Buddha em si, ao passo que os demais tinham apenas uma parte (ansa) da divindade.Jesus tem os mesmos dons. (Ver os Evangelhos e o Testamento Apócrifo.) Passa sua vida com pecadores e publicanos. Expulsa igualmente os demônios. A única diferença notável entre os três é que Jesus é acusado de expulsar os demônios pelo poder de Belzebu, ao passo que os outros não. Jesus lava os pés de seus discípulos, morre, desce ao inferno, e sobe ao céu, depois de libertar os mortos.
Krishna cria meninos de carneiros, e vice-versa. Esmaga a cabeça da Serpente.Gautama esmaga a cabeça da Serpente, e. i., abole o culto de Nâga por fetichismo; mas, como Jesus, faz da Serpente o emblema da sabedoria divina.Conta-se que Jesus esmagou a cabeça da Serpente, de acordo com a revelação original do Gênese.
Também transforma meninos em cabritos e cabritos em meninos.
Krishna é Unitário. Persegue o clero, acusa-o de ambição e hipocrisia, divulga os grandes Segredos do Santuário - a Unidade de Deus e a imortalidade de nosso espírito. A tradição diz que ele caiu vítima de sua vingança. Seu discípulo favorito, Arjuna, nunca o abandona. Há tradições fidedignas segundo as quais ele morreu perto de uma árvore (ou cruz), sendo atingido no pé por uma flecha. Os eruditos mais sérios concordam em que a Cruz irlandesa, em Tuam, erigida muito antes da era cristã, e asiática.Buddha abole a idolatria; divulga os mistérios da Unidade de Deus e o Nirvana, cujo verdadeiro significado era conhecido apenas pelos sacerdotes. Perseguido e expulso do país, escapa da morte reunindo ao seu redor algumas centenas de milhares de crentes em seu Budado. Finalmente morre, cercado por uma hoste de discípulos, com Ânanda, seu primo e amado discípulo, o líder de todos eles. O’Brien acredita que a Cruz irlandesa em Tuam diz respeito a Buddha, mas Gautama jamais foi crucificado. Em muitos templos ele é representado sentado sob uma árvore cruciforme, que é a “Árvore da Vida”. Em outra imagem, ele está sentado sobre Nâga, o Râjâ das Serpentes com uma cruz em seu peito.Jesus rebela-se contra a antiga lei judaica; denuncia os Escribas e Fariseus, e a sinagoga por hipocrisia e intolerância dogmática.
Quebra o Sabbath, e desafia a Lei. É acusado pelos judeus de divulgar os segredos do Santuário. É condenado a morrer numa cruz (uma árvore).
Dos poucos discípulos que havia convertido, um o trai, um o nega, e os outros desertam por fim, exceto João, o discípulo que ele amava. Jesus, Krishna e Buddha, os três salvadores, morrem sobre ou sob árvores, e estão relacionados com cruzes que simbolizam os tríplices poderes da criação.

 

RESULTADO

Em meados do século XVIII, contavam essas três religiões com os seguintes números de seguidores:

DE KRISHNADE BUDDHADE JESUS
1º. Bramamistas: 60.000.000Budistas: 450.000.000Cristãos: 260.000.000 (Seg. Max Miller)

  

Tal é o estado atual dessa três grandes religiões. Cada uma das quais se reflete por sua vez em sua sucessora. Tivéssemos os dogmatizadores cristãos parado aqui, os resultados não teriam sido tão desastrosos, pois teria sido difícil, de fato, fazer um mau credo dos sublimes ensinamentos de Gautama, ou de Krishna, como Bhagavat. Mas eles foram adiante, e acrescentaram ao puro Cristianismo primitivo as fábulas de Hércules, Orfeu e Baco. Assim como os muçulmanos não admitem que seu Corão se baseia no substrato da Bíblia judaica, não confessam os cristãos que devem quase tudo às religiões hindus. Mas os hindus têm a cronologia para prová-lo. Vemos os melhores e mais eruditos de nossos lutando inutilmente por mostrar que as extraordinárias semelhanças - no que se refere à identidade - entre Krishna e Cristo se devem aos espúrios Evangelhos da Infância e do de Santo Tomás, que teriam “provavelmente circulado na costa do Malabar, e dado cor à história de Krishna”. Por que não aceitar a verdade, e, invertendo o problema, admitir que Santo Tomás, fiel à política de proselitismo que caracterizou os cristãos primitivos, ao encontrar no Malabar o original do Cristo mítico em Krishna, tentou reunir os dois; e, adotando em seu evangelho (do qual todos os demais foram copiados) os detalhes mais importantes da história do Avatâra hindu, enxertou a heresia cristã na religião primitiva de Krishna. Para quem estiver familiarizado com o espírito do Bramanismo, a idéia de os brâmanes aceitarem qualquer coisa de um estrangeiro é simplesmente ridícula. Que eles, o povo mais fanático no que respeita aos assuntos religiosos, que, durante séculos, não pôde ser compelido a adotar o mais simples dos costumes europeus, sejam suspeitos de ter introduzido em seus livros sagrados lendas não averiguadas sobre um Deus estrangeiro, eis algo tão absurdamente ilógico que é realmente uma perda de tempo tentar contraditar a idéia!

 

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