O Instinto nas Manifestações da Natureza

Enviado por Estante Virtual em sab, 17/12/2011 - 13:34

O instinto do índio blackfoot de Macaulay é mais digno de fé do que a razão mais instruída e desenvolvida no que concerne ao sentido interior do homem que lhe assegura a sua imortalidade. O instinto é o dote universal da Natureza conferido pelo Espírito da própria Divindade; a Razão, o lento desenvolvimento de nossa constituição física, é uma evolução de nosso cérebro material adulto. O instinto, tal uma centelha divina, esconde-se no centro nervoso inconsciente dos moluscos ascidiáceos e manifesta-se no primeiro estágio de ação do seu sistema nervoso numa forma que o fisiólogo denomina ação reflexa. Ele existe nas classes mais inferiores dos animais acéfalos, bem como naqueles que têm cabeças distintas; cresce e se desenvolve de acordo com a lei da evolução dupla, física e espiritual; e, entrando no seu estágio consciente de desenvolvimento e de progresso nas espécies cefálicas já dotadas de sensório e de gânglios simetricamente distribuídos, esta ação reflexa - que os homens de ciência denominam automática, como nas espécies inferiores, ou de instintiva, como nos organismos mais complexos que agem sob a influência do sensório e do estímulo que se origina de sensação distinta - é sempre uma e a mesma coisa. É o instinto divino em seu progresso incessante de desenvolvimento. Esse instinto dos animais, que agem a partir do momento do seu nascimento nos limites prescritos para cada um pela Natureza e que sabem como, exceto em caso de acidente que procede de um instinto superior ao seu, preservá-los infalivelmente - esse instinto pode, se quiser uma definição exata, ser chamado de automático; mas ele deve ter, no interior do animal que o possui, ou fora dele, a inteligência de qualquer coisa ou de alguém para o guiar.

Essa crença, ao contrario, em vez de se chocar com a doutrina da evolução e do desenvolvimento gradual defendida pelos homens eminentes da nossa época, simplifica-se e completa-a. Ela prescinde de uma criação especial para cada espécie; pois, onde o primeiro lugar deve ser dado ao espírito informe, a forma e a substância material são de importância secundária. Cada espécie aperfeiçoada na evolução física apenas oferece mais campo de ação à inteligência dirigente para que ela aja no interior do sistema nervoso melhorado. O artista extrairá melhor as suas ondas de harmonia de um Érard real do que o conseguiria de uma espineta do século XVI. Por isso, fosse esse impulso instintivo impresso diretamente sobre o sistema nervoso do primeiro inseto, ou cada espécie o tivesse desenvolvido em si mesma instintivamente por imitação dos atos dos seus semelhantes, como o pretende a doutrina mais aperfeiçoada de Herbert Spencer, isso pouco importa para o assunto de que tratamos. A questão diz respeito apenas à evolução espiritual. E se rejeitamos essa hipótese como acientífica e não-demonstrada, então o aspeto físico da evolução também cairá por terra por sua vez, porque uma é tão não-demonstrada quanto o outro e a intuição espiritual do homem não está autorizada a concatenar os dois, sob o pretexto de que ela seja "Não-filosófica". Desejemo-lo ou não, teremos de volta à velha dúvida dos Banqueteadores de Plutarco de saber se foi o pássaro ou se foi o ovo que primeiro fez a sua aparição no mundo.

Agora que a autoridade de Aristóteles está estremecida em seus fundamentos pela de Platão e que os nossos homens de ciência recusam toda autoridade - não, odeiam-na, exceto a sua própria; agora que a estima geral da sabedoria humana coletiva está no seu nível mais baixo - a Humanidade, encabeçada pela própria ciência, deve ainda retornar inevitavelmente ao ponto de partida das filosofias mais antigas. Nossa maneira de ver está perfeitamente expressa por um dos redatores da Popular Science Monthly. "Os deuses das seitas e dos cultos", diz Osgood Mason, "talvez estejam frustrados com o respeito a que estão acostumados, mas, ao mesmo tempo, está demonstrado no mundo, com uma luz doce e mais serena, a concepção, tão imperfeita quanto ainda possa ser, de uma alma consciente, originadora de coisas, ativa e que tudo penetra - a `Super-alma', a Causa, a Divindade; não-revelada pela forma humana ou pela palavra, mas que preenche e inspira toda alma vivente no vasto universo de acordo com as suas medidas; cujo templo é a Natureza e cuja adoração é a admiração." Isto é puro platonismo, Budismo, e as idéias exaltadas mas justas dos primeiros arianos em sua deificação da Natureza. E tal é a expressão do pensamento fundamental de todo teósofo, cabalista e ocultista em geral; e, se a compararmos com a citação de Hipócrates, que demos acima, encontramos nela exatamente o mesmo pensamento e o mesmo espírito.

A criança carece de razão, pois que esta ainda está latente nela; e, durante esse tempo, ela é inferior ao animal em relação aos instinto propriamente dito. Ela há de se queimar e de se afogar antes de aprender que o fogo e a água destroem e constituem perigo para ela, ao passo que o gatinho evitará ambos

instintivamente. O pouco de instinto que a criança possui extingue-se à medida que a razão, passo a passo, se desenvolve. Poder-se-ia objetar, talvez, que o instinto não pode ser um dom espiritual, porque os animais o possuem em grau superior ao do homem, e os animais não têm alma. Tal é errônea e está baseada em fundamentos muito pouco seguros. Ela provêm do fato de que a natureza interior do animal pode ser ainda menos sondada do que a do homem, que é dotado de fala e nos pode exibir os seus poderes psicológicos.

Mas que outras provas, senão as negativas, temos nós de que o animal não possui uma alma que lhe sobreviva, ou que não seja imortal? No terreno estritamente científico, podemos aduzir tanto argumentos a favor quanto contra. Para dizê-lo mais claramente, nem o animal oferece prova alguma a favor da sobrevivência, ou mesmo contra ela, de suas almas após a morte. E do ponto de vista da experiência científica é impossível colocar aquilo que não tem existência objetiva no domínio de uma lei exata da ciência. Mas Descartes e Du Bois-Reymond esgotaram as suas imaginações sobre este assunto e Agassiz não pôde conceber a idéia de uma existência futura que não fosse partilhada pelos animais e mesmo pelo reino vegetal que nos cerca.

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