Mas a pesquisa moderna demonstrou, com evidência inimpugnável, que todo o quadro genealógico do décimo capítulo do Gênese refere-se a heróis imaginários e que os versículos finais do nono são pouco mais do que uma parte da alegoria caldaica de Xisuthros e do dilúvio mítico, compilada e organizada para preencher o arcabouço de Noé. Mas supondo que os descendentes desses cananeus, “os malditos”, se indignassem com o ultraje não-merecido. Ser-lhe-ia muito mais fácil virar a mesa e responder a essa indireta, baseados numa fábula, como um fato provado por arqueólogos e estudiosos da simbologia - a saber, que Seth, o terceiro filho de Adão, o antepassado de todo Israel, o Ancestral de Noé e progenitor do “povo escolhido”, não é outro senão Hermes, o deus da sabedoria, também chamado Thoth, Tat, Seth,. e Sat-an; e que ele era, além disso, quando considerado sob este aspecto mau, Typhon, o Satã egípcio, que também era Set. Para o povo Judeu - cujos homens cultos, como Filo ou Josefo, o historiador, consideram os seus livros mosaicos como um alegoria - essa descoberta importa muito pouco. Mas para os cristãos, que, como des Mousseaux, muito tolamente aceitam as narrativas da Bíblia como história literal, o caso é muito diferente.
Concordamos com esse piedoso escritor no que diz respeito à afiliação; e sentimos a cada dia que passa que alguns dos povos da América Central serão identificados com os fenícios e com os israelitas mosaicos, bem como sentimos também que será provado que estes últimos se dedicaram pertinazmente à mesma idolatria - se a idolatria existe - do Sol e à adoração da serpente, como os mexicanos. Há provas - provas bíblicas - de que dois dos filhos de Jacó, Levi e Dan, bem como Judá, casaram-se com mulheres cananéias e seguiram os cultos das suas esposas. Naturalmente, todo cristão protestará, mas a prova pode ser encontrada na Bíblia traduzida, mutilada como se pode vê-la hoje. Jacó, ao morrer, descreve assim os seus filhos: “Vem a ser Dan”, diz ele, “como uma serpente no caminho, uma cerastes na vereda, que morde a unha do cavalo para que caia para trás o seu cavaleiro. Eu esperei a tua salvação, Senhor!”. A respeito de Simão e de Levi, o patriarca (ou Israel) observa que eles (...) “são irmãos; instrumentos de crueldade estão em suas casas. Ó minha alma, não tome parte no seu segredo, não participe da sua assembléia” (Gênese, XLIX, 17-8 e 5-6). Bem, no original, as palavras “seu segredo” lêem-se O seu SOD. E SOD era o nome dos grandes mistérios de Baal, Adonais e Baco, que eram todos eles deuses do Sol e tinham serpentes como símbolos. Os cabalistas explicam a alegoria das serpentes ferozes dizendo que esse era o nome dado à tribo de Levi, a todos os levitas em suma,. e que Moisés era o chefe dos Sodales. E este é o momento de provarmos nossas afirmações.
Moisés é mencionado por muitos historiadores antigos como um sacerdote egípcio; Manetho diz que ele era um Hierofante de Hierópolis e um sacerdote do culto do deus do Sol Osíris e que o seu nome era Osarsiph. Os historiadores modernos, que aceitam o fato de que ele “aprendera toda a sabedoria” dos egípcios, também devem submeter à interpretação correta da palavra sabedoria aquilo que se conhecia em todo o mundo como um sinônimo de iniciação nos mistérios sagrados dos magos. Nunca acometeu o leitor da Bíblia a idéia de que um estranho nascido em seu país e levado a um país estrangeiro não pudesse ser e não fosse admitido - não queremos dizer à iniciação final, o mistério maior de todos, mas pelo menos a partilhar do conhecimento do sacerdócio menor, ao qual pertenciam os mistérios menores? No Gênese, XLII, 32, lemos que nenhum egípcio podia sentar-se para comer pão com os irmãos de José, “pois isso é uma abominação para os egípcios”. Mas que os egípcios comeram “com ele (José) servidos à parte”. Isso prova duas coisas: 1º) que José, o que quer que tivesse no coração, havia, em aparência pelo menos, mudado a sua religião, casado com a filha de um sacerdote da nação “idólatra” e se tornado ele próprio um egípcio; de outra maneira, os nativos não teriam comido pão com ele. E 2º) que Moisés, posteriormente, se não fosse um egípcio de nascimento, tornou-se ao ser admitido no sacerdócio e, assim, era um SODALE. Por indução, a narrativa da “serpente de bronze” (o caduceu de Mercúrio ou Asclépio, o filho do deus Sol Apolo-Píton) tornou-se lógica e natural. Devemos ter em mente que a filha do Faraó, que salvou Moisés e o adotou, é chamada por Josefo de Thermethis; e que este, segundo Wilkinson, é o nome da áspide consagrado a Ísis; além disso, diz-se que Moisés descende da tribo de Levi.