O Apóstolo Paulo Pertencia ao "Círculo" dos Iniciados

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 00:27

O Apóstolo dos Gentios era corajoso, franco sincero e muito culto; o Apóstolo da Circuncisão era covarde, cauteloso, insincero e muito ignorante. Não há nenhuma dúvida de que Paulo foi, parcialmente pelo menos, se não totalmente, iniciado nos mistérios teúrgicos. A sua linguagem, a fraseologia tão peculiar aos filósofos gregos, certas expressões usadas pelos iniciados são muitos sinais audíveis para essa suposição. Nossa suspeita foi reforçada por um artigo muito bem escrito, publicado em jornais nova-iorquinos, intitulado Paul and Plato, em que seu autor emite uma observação notável e, para nós muito precisa. Nas suas Epístolas aos Coríntios, ele nos mostra um Paulo abundante em "expressões sugeridas pelas iniciações de Sabazius e Elêusis e pelas leituras dos filósofos [gregos]. Ele [Paulo] se diz um idiôtes - uma pessoa ignorante no que concerne à Palavra, mas não à gnosis ou conhecimento filosófico. `Dizemos sabedoria entre os prefeitos ou iniciados' - escreve ele - `não a sabedoria divina num mistério, secreta - que nenhum dos arcontes deste mundo conheceu'". (I Coríntios,II,6,7,8.)

O que mais quer o apóstolo dizer com estas palavras inequívocas, senão que ele próprio, que fazia parte dos mystae (iniciados), falava de coisas expostas e explicadas apenas nos mistérios? A "sabedoria divina num mistério que nenhum dos arcontes deste mundo conheceu" faz evidentemente alguma referência direta ao basileus da iniciação eleusiniana que ele conhecia. O basileus pertencia à comitiva do grande hierofante e era um arconte de Atenas; e, assim, era um dos principais mystae, pertencente aos mistérios interiores, aos quais apenas um número muito seleto e pequeno tinha acesso. Os magistrados que supervisionavam os eleusinos eram chamados arcontes.

Uma outra prova de que Paulo pertencia ao círculo dos "iniciados" repousa no seguinte fato. Sua cabeça foi tosquiada em Anchrea (onde Lúcio Apuleio foi iniciado) porque "ele tinha um voto". Os nazars - ou os postos à parte -, como vemos nas Escrituras judaicas, tinham de cortar seus cabelos, que usavam longos, e que "nenhuma navalha tocou" em tempo algum, e sacrificá-los no altar da iniciação. E os nazars eram uma classe de teurgos caldeus. Veremos depois que Jesus pertenceu a essa classe.

Paulo declara que "De acordo com a graça de Deus que me foi dada, como sábio arquiteto lancei o fundamento".

Esta expressão, arquiteto, usada apenas uma vez em toda a Bíblia, e justamente por Paulo, pode ser considerada como uma verdadeira revelação. Nos mistérios, a terceira parte dos ritos era chamada Epopteia, ou revelação, recepção dos segredos. Em substância, ela significa aquele estágio de clarividência divina em que tudo o que pertence a esta Terra desaparece e a visão terrena é paralisada e a alma pura e livre une-se ao seu Espírito, ou Deus. Mas a significação real da palavra é "vigilante", de eu me vejo. Em sânscrito, a palavra avâpta tem o mesmo significado, e também o de obter. A palavra epopteia é um composto, de sobre e de, ver, ou ser um vigilante, um inspetor - também utilizada para um arquiteto. O título de mestre-pedreiro, na Franco-maçonaria, deriva daí, no sentido que ele tinha nos mistérios. Em conseqüência, quando Paulo se diz ser um "arquiteto", ele está usando uma palavra eminentemente cabalística e maçônica, e que nenhum dos outros apóstolos utiliza. Assim, ele se declara um adepto, que tem o direito de iniciar outros.

Se pesquisarmos nessa direção, como esses guias seguros, os mistérios gregos e a Cabala, diante de nós, será fácil encontrar a razão secreta pela qual Paulo foi tão perseguido e odiado por Pedro, João e Tiago. O autor da Revelação era um cabalista judeu pur sang, com toda a aversão aos mistérios herdada por ele de seus ancestrais. (Não é necessário afirmar que o Evangelho segundo São João não foi escrito por João, mas por um platônico ou gnóstico pertencente à escola neoplatônica.) O ciúme que sentia durante a vida de Jesus estendeu-se a Pedro; e foi só depois da morte do seu Mestre comum que vemos os dois apóstolos - dos quais o primeiro vestiu a Mitra e o Petalon dos rabinos judaicos - pregar com tanto zelo o rito da circuncisão. Aos olhos de Pedro, Paulo, que o humilhara, e ao qual considerava ser superior a ele em "conhecimentos gregos" e Filosofia, devia parecer naturalmente um mágico, um homem poluído com a "Gnoses", com a "sabedoria" dos mistérios gregos - e, talvez, "Simão, o Mago". (O fato de Pedro ter perseguido o "Apóstolo dos Gentios", com esse nome, não implica necessariamente que não existisse um Simão, o Mago, individualmente distinto de Paulo. Ele deve ter-se tornado um nome genérico de ofensa. Theodoret e Crissóstomo, os primeiros e mais prolíficos comentadores do gnosticismo daquela época, parecem fazer de Simão um rival de Paulo e afirmam que eles trocaram muitas mensagens entre si. O primeiro, um diligente propagandista daquilo que Paulo chama de "antítese da Gnose" (I Timóteo, VI,20), deve ter sido um espinho doloroso nas costelas do apóstolo. Há provas suficientes da existência real de um Simão, o Mago.)

Quanto a Pedro, a crítica bíblica já mostrou que ele talvez não tivesse nada a ver com a fundação da Igreja latina em Roma, senão fornecer o pretexto de que o astucioso Irineu se aproveitou para fazer beneficiar essa Igreja com o novo nome do apóstolo - Petros ou Kêphas, um nome que se prestava tão bem, com um jogo de palavra, para ser associado ao de Petroma, o duplo jogo de tabletes de pedra usados pelo Hierofante nas iniciações durante o mistério final. Nisso, talvez, repouse escondido todo o segredo das pretensões do Vaticano. Como o Prof. Wilder tão bem sugere: "Nos países orientais, a designação Pether, [em fenício e em caldaico, um intérprete] parece ter sido o título desse personagem [o Hierofante]. (...) Há nesses fatos uma reminiscência das circunstâncias peculiares da lei mosaica (...) assim como a pretensão do Papa de ser o sucessor de Pedro, o Hierofante ou intérprete da religião cristã".

Uma inscrição encontrada no túmulo da Rainha Menthu-hetep, da 11ª dinastia (2.782 a.C.), que se reconheceu ter sido transcrita do sétimo capítulo do Livro dos mortos (que data de pelo menos 4.500 a.C.), é mais do que sugestiva. Esse texto monumental contém um grupo de hieróglifos que, interpretados, se lêem:

PTR. RF. SU.

Peter - ref - su.

A palavra, PTR, foi interpretada, parcialmente devido a uma outra palavra escrita num outro grupo de hieróglifos, sobre uma estrela, sob a forma de um olho aberto. Bunsen menciona ainda outra explicação de PTR - "mostrar". "Parece-me" - observa ele - "que nosso PTR é literalmente a forma `Patar' do velho aramaico e do hebraico, que ocorre na história de José como a palavra específica para interpretação; donde Pitrun deva ser o termo para interpretação de um texto, de um sonho". Num manuscrito do século I, uma combinação de textos demóticos e gregos, provavelmente um dos poucos que escaparam miraculosamente ao vandalismo cristão dos séculos II e III, quando todos esses manuscritos preciosos foram queimados sob acusação de Magia, encontramos diversas vezes repetidas uma frase que, talvez, possa lançar luzes sobre essa questão. Com relação a um dos heróis principais do manuscrito, constantemente referido como "o Iluminador Judeus" ou Iniciado, acredita-se que ele só se comunique com o seu Patar; esta palavra está escrita em caracteres caldaicos, e é associada, uma vez com o nome Shimeon. Muitas vezes, o "Iluminador", que raramente interrompe sua solidão contemplativa, nos é mostrado habitando uma caverna e ensinando, não oralmente, mas por intermédio do Patar, as multidões de discípulos ávidos de aprender que se postavam do lado de fora. O Patar recebe as palavras de sabedoria aplicando o ouvido a um buraco circular escavado num tabique que ocupa o instrutor dos seus ouvintes e as transmite à multidão, com explicações e comentários. Este era, com pequenas modificações, o método utilizado por Pitágoras, que, como sabemos, nunca permitiu que os seus neófitos o vissem durante os anos de provação, mas os instruída postado atrás de uma cortina que fechava a entrada da sua caverna.

Mas, fosse o "iluminador" do manuscrito grego-demótico idêntico a Jesus ou não, continua válido o fato de que o vemos servir-se de um termo usado nos "mistérios" para designar aquele que mais tarde a Igreja católica elevará à categoria de porteiro do Reino do Céu e de intérprete da vontade de Cristo. A palavra Patar ou Peteer coloca ambos, mestre e discípulo, no círculo da iniciação e em relação com a "Doutrina Secreta". O grande Hierofante dos antigos mistérios nunca permitiu que os candidatos o vissem ou ouvissem pessoalmente. Ele era o deus ex machina, a Divindade invisível que preside, transmitindo sua vontade e suas instruções por meio de um intermediário; e, 2.000 anos depois, descobrimos que os Taley-Lamas do Tibete seguiram por séculos o mesmo programa tradicional durante os mistérios religiosos mais importantes do Lamaísmo. Se Jesus conheceu o significado secreto do título que ele atribuiu a Simão, então ele era um iniciado; de outra maneira, ele não o teria conhecido; e se ele era um iniciado dos essênios pitagóricos, dos magos caldaicos ou dos padres egípcios, então a doutrina ensinada por ele era apenas uma porção da "Doutrina Secreta" ensinada pelos hierofantes pagãos aos poucos adeptos selecionados admitidos aos áditos sagrados.

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