Retomemos, porém, o fio de nossa narrativa com Buddha.
Nem ele, nem Jesus jamais escreveram uma única palavra de suas doutrinas. Devemos tomar os ensinamentos dos mestres segundo o testemunho dos discípulos, e tomos portanto, o direito de julgar ambas as doutrinas de acordo como seu valor intrínseco. Onde mais repousa o peso da lógica constata-lo nos resultados dos freqüentes encontros entre os missionários cristãos e os teólogos budistas (punghi). Estes últimos sempre levaram a melhor sobre os seus oponentes. Por outro lado, o "Lama de Jeová" raramente consegue dominar seu temperamento, para grande deleite do Lama de Buddha, e demonstra praticamente sua religião de paciEncia, misericórdia e caridade insultando seus adversários com a linguagem menos canônica que se pode imaginar. Testemunhamo-lo repetidas vezes.
A despeito da notável semelhança entre os ensinamentos diretos de Gautama e Jesus, observamos que os seus respectivos seguidores partem de dois pontos de vista diametralmente opostos. O sacerdote budista, seguindo literalmente a doutrina ética de seu mestre, permanece assim fiel ao legado de Gautama, ao passo que o ministro cristão, destorcendo os preceitos registrados pelos quatro Evangelhos, ensina, não o que Jesus ensinou, mas as interpretações absurdas, e amiúde perniciosas, de homens falíveis - Papas, Luteros e Calvinos incluídos. Aqui estão dois exemplos selecionados de ambas as religiões. Deixamos ao leitor a tarefa de julgá-los:
"Não acrediteis em alguma coisa porque muitos falam dela", diz Buddha; "não penseis que isso é uma prova de sua verdade.
"Não acrediteis meramente porque a afirmação escrita de algum antigo sábio o disse; nunca estareis certos de que o escrito não foi revisado pelo dito sábio, ou de que se possa nele confiar. Não acredites em vossas fantasias, pensando que, por ser extraordinária uma idéia, ela deve ter sido inculcada por um Deva, ou por algum ser maravilhoso.
"Não acrediteis em conjecturas, isto é, escolhendo algo ao acaso como um ponto de partida, e dele tirando conclusões. Antes de contar o dois, o três, e o quarto, tende bem fixo para vós o número um (...)
"Não acrediteis meramente com base na autoridade de vossos mestres, nem acrediteis e pratiqueis simplesmente porque eles acreditaram e praticaram.
"Eu [Buddha] vos digo, deveis saber por vós mesmos que ‘isto é mau, isto é punível, isto é censurado pelos sábios, a crença nisto não trará vantagens a ninguém, mas causará infelicidade’. E quando souberes isto, evitai-o."