A Evolução da Teoria Hindu

Enviado por Estante Virtual em sab, 17/12/2011 - 01:04

Isto posto, mostraremos agora a hipótese da evolução dos antigos brâmanes, tal como eles lhe deram corpo na alegoria da árvore cósmica. Os hindus representam a sua árvore mítica, que chamam Asvattha, de uma forma que difere da dos escandinavos. Figura extraída do Livro O Homem, Deus e o Universo.

Os hindus a descrevem crescendo ao contrário, os ramos estendendo-se para baixo e as raízes para cima; aqueles caracterizam o mundo externo dos sentidos, o universo cósmico visível, e estas, o mundo invisível do espírito, porque as raízes têm sua gênese nas regiões celestes, onde a Humanidade, desde a criação do mundo, colocou a sua divindade invisível. Como a energia criativa se originou nesse ponto primordial, os símbolos religiosos de todos os povos são igualmente ilustrações dessa hipótese metafísica exposta por Pitágoras, Platão e outros filósofos. "Estes caldeus," diz Fílon, "opinavam que o Cosmos, entre as coisas que existem, é um simples ponto, que é ele próprio ou Deus (Theos) ou o que nele é Deus, e compreende a alma de toda as coisas."

A Pirâmide egípcia também representa simbolicamente esta idéia da árvore cósmica. Seu ápice é o elo místico entre o céu e a terra, e sustenta a raiz, ao passo que a base representa os ramos espalhados que se estendem pelos quatro pontos cardiais do universo da matéria. Ela comporta a idéia de que todas as coisas tiveram origem no espírito - pois a evolução começou originalmente por cima e prosseguiu para baixo, e não ao contrário, como ensina a teoria darwiniana. Em outras palavras, houve uma materialização gradual de formas até que se atingisse o derradeiro rebaixamento fixo. Este ponto é aquele no qual a doutrina da evolução moderna adentra a área das hipóteses especulativas. Chegando a este período, acharemos mais fácil de entender a Antropogênese de Haeckel, que traça a genealogia do homem "desde a sua raiz protoplasmática, fermentada no vaso dos mares que existiram antes que as mais antigas rochas fossilíferas fossem depositadas", de acordo com a exposição do Professor Huxley. Poderemos acreditar que o homem evoluiu "pela evolução gradual de um mamífero semelhante organicamente ao macaco", e é mais fácil ainda fazê-lo quando lembramos que (embora numa fraseologia mais condensada e menos elegante, mais ainda compreensível) a mesma teoria foi ensinada, segundo Berosus, muitos milhares de anos antes de seu século, pelo Homem-peixe Oannes, ou Dragão, o semidemonio da Babilônia. Podemos acrescentar, como um fato de interesse, que esta antiga teoria da evolução foi conservada em alegoria e lenda, mas também retratada nos muros de certos templos da Índia, e, numa forma fragmentária, foi encontrada nos do Egito e nas lousas de Nemrod e Nineve, escavadas por Layard.

Mas o que está no fundo da teoria darwiniana sobre a origem das espécies? No que lhe concerne, nada senão "hipóteses inverificáveis". Pois, como assinala, ele considerava todos os seres "como os descendentes direto de alguns poucos seres que viveram muito antes que a primeira camada do sistema siluriano fosse depositada". Ele não procurava mostrar-nos quem eram esses "poucos seres". Mas isto responde completamente ao nosso propósito, pois, na admissão de sua existência, recorre aos antigos para corroborar a idéia e recebe o selo da aprovação científica. Com todas as modificações por que passou o nosso globo no que respeita a temperatura, clima, solo e - se merecermos perdão, em face dos progressos recentes - a sua condição eletromagnética, seria muito temerário afirmar que qualquer coisa da ciência atual contradiz a antiga hipótese do homem ante-siluriano. Os machados de sílex encontrados inicialmente por Baucher de Perthes, no vale do Somme, provam que homens devem ter existido numa época tão antiga que desafia os cálculos. Se acreditarmos em Buchner, o homem deve ter existido mesmo durante e antes da época glacial, uma subdivisão do período quaternário ou diluviano que provavelmente se estendeu muito além daquela. Mas quem pode dizer-nos qual a próxima descoberta que nos aguarda?

Ora, se temos provas irrefutáveis de que o homem existiu tá tanto tempo assim, devem ter ocorrido modificações extraordinárias em seu sistema físico, correspondentes às modificações de clima e atmosfera. Isto não parece provar, por analogia, que remontando para trás, deve ter havido outras modificações que indicam que os progenitores mais remotos dos "gelados gigantes" foram coevos dos peixes devonianos ou dos moluscos silurianos? É verdade que eles não deixaram machadinhas de sílex atrás de si, nem ossos ou depósitos nas cavernas; mas, se os antigos estão certos, as raças daquele tempo eram compostas não apenas de gigantes, ou "poderosos homens de renome", mas também de "filhos de Deus". Se aqueles que acreditam na evolução do espírito tão firmemente como os materialistas acreditam na da matéria são acusados de ensinar "hipóteses inverificáveis", como podem eles facilmente retorquir aos seus acusadores dizendo que, por sua própria confusão, a evolução física é ainda "uma hipótese inverificada, senão realmente inverificável"! Os primeiros têm aos mesmo a prova indutiva dos mitos legendários, cuja imensa antiguidade é admitida por filósofos e arqueólogos; ao passo que os seus antagonistas nada têm de semelhante, a menos que eles se socorram de uma parte dos antigos hieróglifos e suprimam o resto.

Podemos agora retornar ainda mais uma vez à simbologia dos tempos antigos, e aos seus mitos psico-religiosos. Sob as figuras emblemáticas e da fraseologia peculiar do clero da Antiguidade repousam indicações ainda não descobertas no ciclo atual.

Mas há mitos que falam por si. Podemos incluir nesta classe os primeiros criadores de ambos os sexos de todas as cosmogonias. Os gregos Zeus-Zen (éter), e Ctônia (a terra caótica) e Métis (a água), suas esposas; Osíris e Ísis-latona - o primeiro representando também o éter -, a primeira emanação da Divindade Suprema, Amun, a fonte primordial de luz; a deusa terra e água também; Mithras, o deus nascido da rocha, símbolo do fogo cósmico masculino, ou a luz primordial personificada, e Mithra, a deusa do fogo, simultaneamente sua mãe e esposa; o elemento puro do fogo (o princípio ativo ou masculino) visto como luz e calor, em conjunção com, a terra e a água, ou como matéria (elementos femininos ou passivos da geração cósmica). Mithras é o filho de Bordj, a montanha cósmica persa, da qual ele reluz como um raio brilhante. Brahmâ, o deus do fogo, e sua prolífica consorte; e o Agni hindu, a divindade refulgente, de cujo corpo saem milhares de correntes de glória e sete línguas de fogo, e em cuja honra os brâmanes Sangika preservam até hoje o fogo perpétuo; Sivã, personificado pela montanha cósmica dos hindus - o Meru (Himalaia). Este terrível deus do fogo, que, segundo consta a lenda, desceu do céu, como o Jehovah judeu, numa coluna de fogo, e uma dúzia de outras divindades arcaicas de ambos os sexos, todos proclamam o seu significado oculto. E o que podem estes mitos duais significar senão o princípio psicoquímico da criação primordial? A primeira revelação da Causa Suprema em sua tripla manifestação de espírito, força e matéria; a correlação divina, no seu ponto de partida de evolução, alegorizado como casamento do fogo e da água, produtos do espírito eletrizante, união do princípio masculino ativo com o elemento feminino passivo, que se tornam os pais de sua criança telúrica, a matéria cósmica, a prima matéria, cujo espírito é o éter [e cuja sombra é] a LUZ ASTRAL!

Assim, todas as montanhas mundiais e ovos cósmicos, as árvores cósmicas e as serpentes e colunas cósmicas podem ser consideradas como incorporação de verdades da Filosofia Natural, cientificamente demonstradas. Todas essas montanhas contêm, com suas variações insignificantes, a descrição alegoricamente expressa da cosmogonia primordial; a árvore cósmica, a da evolução posterior do espírito e da matéria; as serpentes e colunas cósmicas, exposições simbólicas dos vários atributos dessa dupla evolução em sua correlação infindável de forças cósmicas. Nos misteriosos recessos da montanha - a matriz do universo -, os deuses (poderes) preparam os Vermes atômicos da vida orgânica, e ao mesmo tempo a bebida da vida, que, quando ingerida, desperta no homem-matéria o homem-espírito. O soma, a bebida sacrificial dos hindus, é essa bebida sagrada. Pois, quando da criação da prima matéria, enquanto as suas porções grosseiras eram utilizadas para o mundo físico embrionário, a sua essência mais divina penetra o universo, permanecendo invisivelmente e encerrando nas suas ondas a criança recém-nascida, desenvolvendo e estimulando a sua atividade à medida que ela lentamente saía do caos eterno.

Da poesia de concepção abstrata, estes mitos cósmicos passaram gradualmente às imagens concretas dos símbolos cósmicos, como a arqueologia agora os tem encontrado. A serpente, que exerce um papel proeminente nas imagens dos antigos, foi degradas por uma absurda interpretação da serpente do livro Gênese num sinônimo de Satã, o Príncipe das Trevas, quando ela é o mais engenhoso de todos os mitos em seus diversos simbolismos. Num deles, como agathodaimon, é o emblema da arte de curar e de imortalidade do homem. Ela enfeita as imagens da maior parte dos deuses sanitários e higiênicos. A taça da saúde, nos mistérios egípcios, era enlaçada por serpentes. Como o mal só pode originar-se de um extremo do bem, a serpente, em outros aspetos, torna-se símbolo da matéria; que, quanto mais se distancia de sua fonte espiritual primeira, mais se torna sujeita ao mal. Nas mais antigas imagens do Egito, assim como nas alegorias cosmogônicas de Kneph, a serpente cósmica, quando simboliza a matéria, é usualmente representada encerrada num círculo; ela repousa estendida ao longo do equador, indicando assim que o universo da luz astral, a partir do qual o mundo físico proveio, enquanto limita este último, é ele próprio limitado por Emepht, ou a Causa primeira Suprema. Ptah, que produz Râ, e as miríades de formas às quais dá vida, são reapresentados deslizando para fora do ovo cósmico, porque esta é a forma mais familiar daquilo em que se deposita e se desenvolve o germe de todo o ser vivo. Quando a serpente representa a eternidade e a imortalidade, ela abarca o mundo, mordendo a cauda, não oferecendo assim nenhuma solução de continuidade. Ela se torna então a luz astral. Os discípulos de escola de Feredides ensinavam que o éter (Zeus ou Zen) é o céu empíreo superior, que encerra o mundo superno e sua luz (a astral) é o elemento primordial concentrado.

Tal é a origem da serpente, metamorfoseada nos séculos cristãos em Satã. Ela é o Od, o Ob e o Or de Moisés e dos cabalistas. Quando em seu estado passivo, quando age naqueles que são inadvertidamente arremessados em sua corrente, a luz astral é Ob, ou Python. Moisés estava determinado a exterminar todos os que, sensíveis à sua influência, se deixavam cair sob o fácil controle dos seres vivos que se movem nas ondas astrais na água; seres que nos cercam e que Bulwe-Lytton chama no Zanoni de "os guardiões do limiar". Ela se torna o Od assim que é vivificada pelo efluxo consciente de uma alma imortal, pois então as correntes astrais estão agindo sob a tutela seja de um adepto, um espírito puro, seja de um hábil mesmerizador, que é ele próprio puro e sabe como dirigir as forças cegas. Em tais casos, mesmo um espírito planetário superior, um da classe de seres que nunca se encarnaram (embora existam muitos entre estas hierarquias que viveram em nossa terra), desce ocasionalmente à nossa esfera, e purificando a atmosfera circundante torna o paciente capaz de ver e abre nele as fontes da genuína profecia divina. Quanto ao termo Or, a palavra é utilizada para designar certa propriedades ocultas do agente universal. Pertence mais diretamente ao domínio do alquimista, e não oferece nenhum interesse ao público geral.

O autor do sistema filosófico Homoiomeriano, Anaxágoras de Clezemenae, acreditava firmemente que os protótipos espirituais de todas as coisas, assim como os seus elementos, podiam ser encontrados no Éter infinito, onde eram geradas, de onde provinham e para onde retornavam oriundos da Terra. Como os hindus, que personificam seu Âkasa (céu ou éter) e dele fizeram uma entidade deifica, os gregos e os latinos deificaram o Éter. Virgílio chama Zeus de pater omnipotens aether, Magnus, o grande deus Éter.

Uma vez admitida a existência de um tal Universo Invisível - como parece ser igualmente o fato se as especulações dos autores do Unseen Universe forem aceitas pelos seus colegas -, muitos fenômenos, até aqui misteriosos e inexplicáveis, tornar-se-ão claros. Ele age sobre o organismo dos médiuns magnetizados, penetra-os e satura-os de lado a lado, dirigido pela vontade poderosa de um mesmerizador ou pelos seres invisíveis que produzem o mesmo resultado. Assim que a operação silenciosa é realizada, o fantasmas astral ou sideral do paciente mesmerizado deixa paralisada sua envoltura de carne, e, depois de ter vagado pelo espaço infinito, se detêm no limiar da misteriosa "fronteira". Para ele, a entrada do portal que marca o acesso à "terra do silêncio" está agora apenas parcialmente entreaberta; ela só escancarará à frente do sonâmbulo em transe no dia em que, unido com a sua essência imortal superior, ele tiver abandonado para sempre o seu corpo mortal. Até então, o vidente só pode ver através de uma fenda; dependerá de sua agudeza perceptiva a extensão do campo visual.

A trindade na unidade é uma idéia que todas as nações antigas sustentaram em conjunto. As Três Devatâs, a Trimúrti hindu, as Três Cabeças da Cabala judia. "Três cabeças foram esculpidas, uma na outra e esta sobre outra". A trindade dos egípcios e a da mitologia grega eram igualmente representações da primeira emanação tripla que contém dois princípios: o masculino e o feminino. É a união do Logos masculino, ou sabedoria, a Divindade revelada, com a Aura ou Anima Mundi feminina - "o Pneuma sagrado", a Sephira dos cabalistas e a Sophia dos gnósticos refinados - que produziu todas as coisas visíveis e invisíveis. Enquanto a verdadeira interpretação metafísica desse dogma universal permaneceu nos santuários, os gregos, com seus instintos poéticos, a personificação em inúmeros mitos encantados. Nas Dionisíacas de Nono, o deus Baco, entre outras alegorias, é representado como um amante da brisa suave e benigna (o Pneuma Sagrado), sob o nome de Aura Plácida.

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