O simbolismo da Arca de Noé

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 19:08

Noé, ou Nuah, como todas as manifestações evemerizadas do Irrevelado - Svâyambhuva (de Svayanbhû) -, era andrógino. Por isso, em algumas passagens, ele pertencia à Tríada puramente feminina dos caldeus, conhecida como “Nuah, a Mãe universal”. Já mostramos em outro capítulo que toda Tríada masculina tem a sua contraparte feminina, um em três, como a anterior. Ela era o complemento passivo do princípio ativo, o seu reflexo. Na Índia, a Trimûrti é reproduzida na Sakti-trimûrti, feminina; e na Caldéia, Ana, Belita e Davkina corresponde a Anu, Bel, Nuah. As três primeiras resumindo-se numa só - Belita.

“Deusa soberana, senhora do abismo inferior, mãe dos deuses, rainha da fecundidade.”

Enquanto umidade primordial, donde tudo provém, belita é Tiamat, o mar, a mãe da cidade de Erch (a grande necrópole caldaica), portanto, uma deusa infernal. No mundo dos astros e dos planetas, ela é conhecida como Ishtar ou Astoreth. Portando, ela é idêntica a Vênus, e a todas as outras Rainhas do Céu, às quais bolos e pães são ofertados em sacrifício, e, como sabem todos os arqueólogos, à Eva a mãe de tudo o que vive, e a Maria.

A Arca, na qual se preservam os germes de todas as coisas necessárias para repovoar a Terra, representa a sobrevivência da vida, e a supremacia do espírito sobre a matéria, através do conflito das forças opostas da Natureza. Na carta Astro-Teosófica do Rito Ocidental, a Arca corresponde ao umbigo, e é colocada no lado esquerdo, o lado da mulher (a Lua), um de cujos símbolos é a coluna esquerda do templo de Salomão - Boaz. O umbigo está relacionado com o receptáculo no qual se frutificam os germes da raça. A Arca é a Argha sagrada dos hindus, e, portanto, pedemos perceber com facilidade a sua relação com a arca de Noé, quando aprendemos que a Argha era um vaso oblongo, utilizado pelos sumo-sacertotes como cálice sacrificial no culto de Ísis, Astarte e Vênus-Afrodite, todas as quais eram deusas dos poderes gerativos da Natureza, ou da matéria - representando simbolicamente, portanto, a Arca que contém os germes de todas as coisas vivas.

Admitamos que os pagãos tinham e têm agora - como na Índia - símbolos estranhos, que, aos olhos dos hipócritas e dos puritanos, parecem escandalosamente imorais.

Ao descrever o culto dos egípcios, diz a Sra. Lydia Maria Child: “Essa reverência pela produção da Vida introduziu no culto de Osíris o emblema sexual, tão comum no Industão. Um colossal imagem dessa espécie foi apresentada ao seu templo em Alexandria, pelo Rei Ptolomeu Philadelphus. (...) A reverência pelo mistério da vida organizada levou ao reconhecimento de um princípio masculino e feminino em todas as coisas espirituais ou materiais. (...) Os emblemas sexuais presentes em todas as esculturas de seus templos pareceriam impuros se descritos, mas nenhuma mente limpa e séria poderá comtemplá-la sem testemunhara óbvia simplicidade e solenidade com que o assunto é tratado.

A água do dilúvio, que na alegoria representa o “mar’ simbólico, Tiamat, simboliza o caos turbulento, a matéria, chamado “o grande dragão”. De acordo com a doutrina gnóstica e Rosa-cruz medieval, a mulher não estava incluída no plano inicial da criação. Ela resultou da fantasia impura do homem, e, como dizem os hermetistas, é “uma intrusa”. Gerada por um pensamento impuro, ela veio à existência na demoníaca “sétima hora”, quando os verdadeiros mundos “sobrenaturais” já haviam passado, e os mundos “naturais” ou ilusórios começavam a evoluir no “microcosmo descendente”, ou, em termos mais claros, no arco do grande ciclo. Originalmente “Virgo”, a Virgem Celestial do Zodíaco, se tornou “Virgo-Scorpio”. Mas, ao desenvolver sua companheira, o homem a dotou involuntariamente de seu próprio quinhão de espiritualidade, e o novo ser a quem sua “imaginação” havia trazido à vida tornou-se o seu “Salvador” dos laços de Eva-Lilith, a primeira Eva, que tinha um quinhão maior de matéria em sua composição do que o primitivo homem “espiritual”.

Portando, a mulher figura na cosmogonia relacionada com a “matéria”, ou o grande abismo, como a “Virgem do Mar”, que esmaga o “Dragão” sob seus pés. O “Diluvio” recebe também amiúde, na fraseologia simbólica, o nome de “o grande Dragão”. Para quem está familiarizado com essas doutrinas, fica mais do que sugestivo saber que para os católico a Virgem Maria é não só a padroeira dos marinheiros cristãos, mas também a “Virgem do Mar”. Assim era Dito, a padroeira dos marinheiros fenícios, e, juntamente com Vênus e outras divindades lunares - tendo a Lua uma forte influência sobre as marés - a “Virgem do Mar”. Mar, o “Mar”, é a raiz do nome Maria. A cor azul, que simbolizava para os antigos o “Grande Abismo” ou o mundo material, e portanto o mal, tornou-se sagrada para a nossa “abençoada Senhora”. É a cor da “Notre Dame de Pais”. Devido à sua relação com a serpente simbólica, tinham aversão por essa cor os ex-nazarenos discípulos de João Batista, os atuais mandeus de Basra.

Entre as belas gravuras de Maurício, há uma que representa Krishna esmagando a cabeça da serpente Uma mitra de três pontas lhe cobre a cabeça (simbolizando a Trindade), e o vencido reptil envolve o corpo do deus hindu. Essa gravura mostra de onde proveio a inspiração para a caracterização de uma história posterior extraída de uma pretensa profecia. “Porei uma hostilidade entre ti a mulher, e entre a tua linhagem e a dela; e ela te esmagará a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”

A primeira figura representa Krishna esmagando a cabeça da Serpente; e, na segunda a Serpente ferindo o calcanhar de Krishna. ( O arant egípcio também é representado com os braços estendidos na forma de um crucifixo, e esmagando a “Serpente”; e Hórus (o Logos) é representado cortando a cabeça do dragão, Tífon ou Apófis. (O termo orant confundiu um grande número de estudiosos teosóficos e parece ter sido um tropeço para um ou dois editores anteriores de Ísis sem véu. Alguns especulavam sobre ter sido o nome de algum deus ou alguma divindade. A palavra deriva do latim orans, - antis, part. Pres. De orare, orar. Na arte grega antiga, é usado para uma figura feminina em postura de prece. Na arte cristã primitiva, era uma figura, geralmente feminina, que tinha as mãos reunidas como que em oração. Essa figuras são muito comuns em catacumbas e a postura era vista como especialmente significava, porque lembrava a posição de Cristo na cruz. Essas figuras também podem ser encontradas no simbolismo egípcio. N. Org.).

Mas quão estranhamente elástico e quão adaptável a tudo se revelou essa filosofia mística depois da era cristã! Quando foram os fatos, irrefutáveis, irrefragáveis, e inquestionáveis, tão pouco capazes de restabelecer a verdade do que em nosso século de casuísmo e de velharia cristã? Se prova que Krishna era conhecido como “Bom Pastor”, séculos antes do ano 1 d.C., que ele esmagou a Serpente Kâlîanâga, e que foi crucificado - tudo isso não é senão uma antecipação profética do futuro! Se mostram o escandinavo Thor, que esmagou a cabeça da Serpente com sua maça em forma de cruz, e Apolo, que matou Píton, as mais impressionantes semelhanças com os heróis das fábulas cristãs - tornam-se eles apenas concepções originais de mentes “pagãs”, “trabalhando sobre as antigas profecias dos Patriarcas relativas ao Cristo, pois estavam integradas na única Revelação universal.”

O dilúvio é portanto, a “Velha Serpente”, ou o grande abismo da matéria, o “dragão do mar” de Isaías (XXVII, 1), o mar que a arca cruza em segurança em seu caminho ao monte da Salvação. Mas, se ouvimos falar da arca de Noé, e da Bíblia em suma, é porque a mitologia dos egípcios estava à disposição de Moisés (se é que Moisés escreveu qualquer coisa da Bíblia), e porque ele estava familiarizado com a história de Hórus, que navegava em seu barco de forma serpentina, e que mata a Serpente com sua lança, e com o sentido oculto dessas fábulas, e sua origem real. É por essa razão também que encontramos no Levítico, e em outras partes de seus livros, páginas inteiras de leis idênticas às de Manu.

Os animais embarcados na arca são as paixões humanas. Eles simbolizam certas provas de iniciação, e os mistérios que foram instituídos em muitas nações em homenagem a essa alegoria. A arca de Noé deteve-se no décimo sétimo dia do sétimo mês. Temos aqui novamente o número, assim como nas “feras limpas” que ele colocou em número de sete na arca. Falando sobre os mistérios aquáticos de Biblos, diz Luciano: “No topo de um das duas colunas edificadas por Baco, fica um homem por sete dias”. Ele supões que tal era feito em honra de Deucalião. Elias, quando orava no topo do Monte Carmelo, enviou um servo para observar uma nuvem no mar, e repete “Retorna sete vezes, Na sétima vez, o servo lhe diz: “Eis que sobre do mar uma nuvem pequena com a mão de um homem’”

“Noé é uma revolutio de Adão, assim como Moisés é uma revolutio de Abel e Seth”, diz a Kabala; vale dizer, uma repetição ou outra versão da mesma história. A grande prova disso é a distribuição dos caracteres na Bíblia. Por exemplo, a começar de Caim, o primeiro assassino, todo quinto homem em sua linha de descendência é um assassino. Assim, vieram Enoch, Irad, Mehujael, Mathusalém, e o quinto é Lemech, o segundo assassino, e ele é o pai de Noé. Desenhando-se a estrela de cinco pontas de Lúcifer (que tem seu ponto coronal voltado para baixo), e escrevendo o nome de Caim sob a ponta inferior, descobrir-se-á que todo quinto nome - que será desenhado sob o de Caim - é o de um assassino. No Talmude, essa genealogia é dada por inteiro, e treze assassinos se enfileiram na linha sob o nome de Caim, Isso não é uma coincidência. Siva é o Destruidor, mas é também o Regenerador. Caim é um assassino, mas é também o criador de nações, o inventor. Essa estrela de Lúcifer é a mesma que João vê cair na Terra em se Apocalipse.

Em Tebas, ou Theba, que significa arca - Sendo TH-ABA sinônimo de Kartha ou Tiro, Ástu ou Atenas, e Urbs ou Roma, e significando também “cidade”-, encontam-se as mesmas folheações descritas nas colunas do templo de Salomão. A folha de oliva bicolorida, a folha de figueira de três lobados, e a folha de louro lanceolada tinham todas sentido tanto esotérico, como populares ou vulgares, para os antigos.

As pesquisas dos egiptólogos apresentam outra corroboração da identidade entre as alegorias da Bíblia e as terras dos Faraós e dos caldeus. A cronologia dinástica dos egípcios, registrada por Heródoto, Manetho, Eratosthenes, Diodorus Siculus, e aceita por nosso arqueólogos, dividia os períodos da história egípcia sob quatro cabeçalhos gerais: O domínio dos deuses, dos semideuses, dos heróis e dos homens mortais. Combinando os semideuses e os heróis numa única classe, Bunsem reduz os períodos a três: Os deuses regentes, os semideuses ou heróis - filhos de deuses, mas nascidos de mães mortais - e os manes, que foram os ancestrais das tribos humanas. Essas subdivisões, como todos podem perceber, correspondem perfeitamente aos Elohim bíblicos, filhos de Deus, gigantes e homens noéticos mortais.

Diodorus de Sicília e Berosus dão-nos os nomes dos doze grandes deuses que governam os doze meses do ano e os doze significados do zodíaco. Esses nomes, que incluem Nuah, são por demais conhecidos para merecerem um repetição. O Jano de duas faces estava também à testa dos doze deuses, e nas figuras que o representam ele segura as chaves dos domínios celestes. Depois de todos esses terem servido como modelos para os patriarcas bíblicos, ainda prestaram um outro serviço - especialmente Jano - ao fornecerem uma cópia a São Pedro e aos seus doze apóstolos, o primeiro do qual também tinha duas faces em sua negação, e igualmente era representado segurando as chaves do Paraíso.

 

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