Os patriarcas da bíblia

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 19:09

A afirmação de que a história de Noé não passa de uma outra versão, em seu sentido oculto, da história de Adão e seus três filhos, pode ser comprovada em todas as páginas do livro Gênese Adão é o protótipo de Noé. Adão cai porque come o fruto proibido do conhecimento celeste; Noé porque experimenta o fruto terrestre, representando o suco da uva o abuso do conhecimento numa mente não equilibrada, Adão é privado de seu envoltório espiritual; Noé, de suas vestes terrestres; e a nudez de ambos os faz sentirem-se envergonhados. A iniqüidade de Caim é repetida por Cam. Mas os descendentes de ambos são mostrados como sendo os mais sábios das raças da Terra, e recebem por essa razão os nomes de "serpentes" e "filhos de serpente", o que significa filhos da sabedoria, e não de Satã, como alguns sacerdotes gostariam de entender a palavra. A inimizade entre a "serpente" e a "mulher" só foi estabelecida na medida em que este "mundo do homem" mortal e fenomênico "nasceu da mulher". Antes da queda carnal, a "serpente" era Ophis, a sabedoria divina, que não precisa de matéria para procriar os homens, sendo a Humanidade totalmente espiritual. Daí a guerra entre a serpente e a mulher, ou entre o espírito e a matéria. Se, em aspeto material, a "velha serpente" é matéria, e representa Ophiomorphos, em seu sentido espiritual ela se torna Ophis-Christos. Na magia dos antigos sírios-caldeus, ambos estão reunidos no signo zodiacal do andrógino de Virgo-Scorpio, e podem ser devididos ou separados sempre que necessário. Assim como a origem do "bem e do mal", o sentido dos S.S. e

Z.Z. sempre foi intercambiável, e se em algumas ocasiões os S.S. sobre os selos e os talismã sugerem a má influencia serpentina e denotam um desígnio de magia negra para com os outros, noutras ocasiões eles podem ser encontrados sobre as taças sacramentais da Igreja e indicam a presença do Espírito Santo ou da sabedoria pura.

Os madianitas eram tidos como homens sábios, ou filhos de serpentes, assim como os cananitas e os camitas, e tal era o seu renome que vemos Moisés, o profeta, guiado e inspirado pelo "Senhor", curvando-se diante de Hobab, o filho de Raguel, o madianita, e implorando-lhe para ficar com o povo de Israel; "Não nos abandones, eu te peço, pois conheces os lugares onde devemos acampar NO DESERTO, e tu serás os nossos olhos". Além disso, quando Moisés envia espiões para explorar a terra de Canaã, eles trazem como uma prova da sabedoria (cabalisticamente falando) e da excelência da terra um ramo com um cacho de uvas, cujo peso tornou necessário que dois homens o transportassem pendente de um vara. Além disso, acreditam: "Lá, vimos os filhos de ANAC". Estes são os gigantes, os filhos de Anac, "que são descendentes dos gigantes, e tinham a impressão de sermos gafanhoto diante deles e assim também lhes parecíamos".

Anace é Henoc, o patriarca, que não morre, e que é o primeiro possuidor do "nome mirífico", segundo a Cabala e o ritual da franco-maçonaria.

Comparando os patriarcas bíblicos com os descendentes de Vaisvasvata, o Noé hindu, e as antigas tradições sânscristas sobre o dilúvio, no Mahâbhârata bramânico, descobrimo-los espelhados nos patriarcas védicos que são os tipos primitivos com base nos quais todos os outros foram modelados. Mas antes de fazer a comparação, é preciso compreender os mitos hindus em seu verdadeiro significado. Cada uma dessas personagens míticas tem, além de um significado astronômico, um sentido espiritual ou moral, e antropológico ou físico. Os patriarcas não são apenas deuses evemerizados - os pré-diluvianos correspondendo aos grandes doze deuses de Berosus, e aos dez Prajâpatis, e, os pós-diluvianos, aos sete deuses da famosa tábua da Biblioteca de Nínive, - mas representam também os eões gregos, as Sephiroth cabalísticas, e os signos zodiacais, enquanto tipos de raças humanas. Explicaremos agora essa variação do dez ao doze, provando-a com a própria autoridade da Bíblia. Eles não são os primeiros deuses descritos por Cícero, que pertencem à hierarquia dos poderes superiores, os Elohim - mas se enfileiram antes na segunda classe dos "doze deuses", os Dii minores, e que são os reflexos terrestres dos primeiros, entre os quais Heródoto coloca Hércules. Mas, por causa do grupo dos doze, Noé graças à sua posição no ponto de transição, pertence à Tríade babilônica superior, Nuah, o espírito das águas. Os demais são idênticos aos deuses inferiores da Assíria e da Babilônia, os quais representam a ordem inferior de emanações, que, sob a direção de Bel, o Demiurgo, o ajudavam em sua obra, tal como os patriarcas que assistiam a Jeová - o "Senhor Deus".

Além desses, muitos dos quais eram deuses locais, as divindades protetoras dos rios e das cidades, havia quatro classes de genii. Ezequiel, em sua visão, fá-los amparar o trono de Jeová. Esse fato, se identifica o "Senhor Deus" judeu com um dos deuses da trindade babilônica, relaciona, ao mesmo tempo, o atual Deus cristão com a mesma Tríade, visto que são esses quatro querubins, se o leitor estiver lembrado, que Irineu faz Jesus cavalgar, e que são mostrados como os companheiros dos evangelistas.

Percebe-se com grade clareza a influência cabalística hindu sobre o livro de Ezequiel e sobre o Apocalipse na descrição das quatro bestas, que simbolizam os quatro reinos elementares - terra, ar, fogo, e água. Como é sabido, elas são as esfinges assírias, mas essas figuras também estão gravadas nas paredes de quase todos os pagodes hindus.

O autor do Apocalipse copia fielmente em seu texto (ver cap. IV, vers. 7) o pentagrama de Pitágoras, do qual o admirável esboço de Éliphas Lévi é reproduzido adiante.

Adeusa Indu Ardhanârî (ou, como se poderia grafar com mais propriedade, Ardhonârî, visto que o segundo a é pronunciado quase como o inglês o) é representada tendo à sua volta as mesmas figuras. Elas se assemelha exatamente à "roda do Adonai" de Ezequiel, conhecida como "Os Querubins de Ezequiel", que indica, sem nenhuma dúvida, a fonte de onde o profeta hebreu tirou suas alegorias. Por conveniência da comparação, colocamos a figura no pentagrama. * ( ARDHA-NÂRÎ (Sânc.) - Literalmente: “meio mulher”. Shiva representado como andrógino, metade macho e metade fêmea; um tipo de energias masculinas e femininas combinada.)

Acima dessas feras estão os anjos ou espíritos, divididos em dois grupos: os Igili, ou seres celestiais, e os Am-anaki, ou espíritos terrestres, os gigantes, filhos de Anac, de quem se queixaram os espiões a Moisés.

A Kabbala Denudata dá aos cabalistas um relato muito claro - embora confuso aos profanos - das permutações ou substituições de uma pessoa a outra. Assim, por exemplo, diz que "as centelhas" (a centelha ou alma espiritual) de Abarão foram tomadas de Miguel, o chefe dos Eões e emanações superior da Divindade - tão superior de fato que, aos olhos dos gnósticos, Miguel é idêntico a Cristo. E no entanto Miguel e Henoc são a mesma pessoa. Ambos ocupam o ponto de junção da cruz do Zodíaco como "homem". A centelha de Issac era a de Gabriel, o chefe da hoste angélica, e a centelha de Jacó foi tomada de Uriel, o chamado "fogo de Deus", o espírito de penetração mais aguda em todo o Céu. Adão não é o Cadmo, mas Adão Primus, o Microprosopos (Palavra grega, significa a “Face Menor”.). Num de seus aspectos, ele é Enoque, o patriarca terrestre e pai de Mathusalém. Ele que "caminha com Deus" e "não morreu", é o Henoc espiritual, que simboliza a Humanidade, eterna em espírito e eterna na carne, embora esta morra. Morte, mas apenas como um novo nascimento, pois o espírito é imortal; portanto, a Humanidade não pode morrer, já que o Destruidor se tornou o Criador, sendo Henoc o símbolo do homem dual, espiritual e terrestre. Daí seu lugar no centro da cruz astronômica.

Mas foram os hebreus o criadores dessa idéia? Acreditamos que não. Toda nação que possuía um sistema astronômico, e especialmente a Índia, tinha pela cruz a mais alta reverência, pois ela era a base geométrica do simbolismo religioso dos seus avatâras; da manifestação da Divindade, ou do Criador, em sua criatura, o HOMEM; de Deus na Humanidade e da Humanidade em Deus, como espíritos. Os monumentos mais antigos da Caldéia, da Pérsia e da Índia exibem a cruz dupla ou de oito pontos. Esse símbolo, que se encontra com facilidade, como todas as outras figuras geométricas da natureza, tanto nas plantas quanto nos flocos de neve, levou o Dr. Lundy, em seu misticismo supercristão, a chamar essas flores cruciformes que formam uma estrela de oito pontas pela junção das duas cruzes de - "Estrela Profética da Encarnação, que une céu e terra, Deus e homem". Tal frase está muito bem expressa; mas o velho axioma cabalístico, "Em cima, como embaixo", seria mais apropriado, pois revela o mesmo Deus para toda a Humanidade, e não apenas para um punhado de cristãos. Trata-se da cruz Cósmica do Céu, reproduzida na Terra pelas plantas e pelo homem dual: o homem físico que suplanta o "espiritual" no ponto de junção do qual está o mítico Libra-Hermes-Enoch. O gesto de uma mão que aponta para o Céu é contrabalançado pelo de outra que aponta para a terra; gerações incontáveis abaixo, regenerações incontáveis acima; o visível apenas como manifestação do invisível; o homem de pó abandonado ao pó, o homem de espírito renascido no espírito; tal é a humanidade finita que é o Filho do Deus Infinito. Abba, o Pai; Amona, a Mãe; o Filho, o Universo. Essa Tríada primitiva se repete em todas as teogonias. Adão-Cadmo, Hermes, Henoc, Osíris, Krishna, Ormasde ou Christos são todos uma mesma personalidade. Eles ficam como Metatrons entre o corpos e a alma - espíritos eternos que redimem a carne pela regeneração da carne abaixo, e da alma pela regeneração acima, em que a Humanidade caminha uma vez mais com Deus.

O símbolo da cruz ou do Tao egípcio (Símbolo antigo da imortalidade e da vida), é muito anterior à época atribuída a Abarão, o pretenso antepassado dos israelitas, pois, do contrário, Moisés não poderia tê-lo aprendido dos sacerdotes. E que o Tao era tido como sagrado pelos judeus, assim como por outras nações "pagãs", prova-o um fato admitido tanto pelos sacerdotes cristãos como pelos arqueólogos infiéis. Moisés, em Êxodos, XII, 22, ordena a seu povo que marque as ombreiras e os lintéis das casas com sangue, para que o "Senhor Deus" não se engane e castigue alguns do povo eleito, no lugar dos condenados egípcios. E essa marca é um Tao! A mesma cruz manual egípcia, com a metade de cujo talismã Hórus desperta os mortos, tal como vê na ruína de uma escultura em Dendera. Quão gratuita é a idéia de que todas essas cruzes e símbolos foram proferidos inconsciente de Cristo, prova-o plenamente o caso dos judeus graças a cuja acusação Jesus foi condenado à morte. Assinala, por exemplo, o mesmo erudito autor em Monumental Cheistianity que "os próprios judeus conheciam esse signo de salvação antes de rejeitarem ao Cristo"; e em outro lugar afirma que "a vara de Moisés, utilizada em seus milagres diante do Faraó, era, sem dúvida, essa crux ansata, ou algo semelhante, empregada também pelos sacerdotes egípcios". Portanto, cabe inferir logicamente que 1a., se os judeus cultuavam os mesmos símbolos que os pagãos, não eram melhores do que estes; e 2a., que, tão versados como eram no simbolismo oculto da cruz, em face de sua espera por séculos do Messias, eles no entanto rejeitaram tanto o Messias cristão, quanto a Cruz cristã, então deve ter havido algo de errado com ambos.

Aqueles que "rejeitam" a Jesus como "Filho de Deus" não eram pessoas que ignoravam os símbolos religiosos, nem os poucos saduceus ateístas que o condenaram à morte, mas sim, homens instruídos na sabedoria secreta, que conheciam tanto a origem quanto o sentido do símbolismo cruciforme, e que rejeitaram tanto o emblema cristão quanto o Salvador nele suspenso, porque não queriam ser partidários dessa blasfema imposição sobre o povo comum.

Quase todas as profecias sobre Cristo são creditadas aos patriarcas e aos profetas. Se uns poucos destes últimos podem ter existido como personagens reais, todos os primeiros não passam de mito. Tentaremos prova-lo por meio da interpretação oculta do Zodíaco, e da relação de seus signos com esses homens antediluvianos.

Se o leitor tiver em mente as idéias hindus sobre a cosmogonia, dadas no Capítulo IV (do Livro Ísis Sem Véu, volume III), melhor compreenderá a relação entre os patriarcas bíblicos antediluvianos e esse enigma dos comentadores - "a roda de Ezequiel". Assim, recorda-se: 1a., que o universo não é uma criação espontânea, mas uma evolução da matéria preexistente; 2a., que ele não é senão uma dentre as infinitas séries de universos; 3a., que a eternidade é recortada em grandes ciclos, em cada um dos quais ocorrem doze transformações de nosso mundo, causadas alternadamente pelo fogo e pela água. De sorte que quando um novo período menor se inicia, a Terra se modifica de tal forma, mesmo geologicamente, que quase se transforma praticamente num novo mundo; 4a., que no curso dessas doze transformações, a Terra se torna mais grosseira a cada passagem das seis primeiras, ficando tudo que há sobre ela - o homem inclusive - mais material, ao passo que nas seis últimas transformações ocorre o contrário, tornando-se tanto a Terra, como o homem, cada vez mais refinados e espirituais a cada mudança; 5a., que quando o ápice do ciclo é atingido, ocorre uma dissolução gradual, e toda forma viva e objetiva é destruída. Mas quando esse ponto é alcançado, a Humanidade está apta a viver tanto subjetivamente, como objetivamente. E não só a Humanidade, mas também os animais, as plantas e os átomos. Após um período de descanso, dizem os budistas, por ocasião da autoformação de um novo mundo, as almas dos animais, e de todos os seres, exceto os que alcançaram o Nirvana supremo, retornarão à Terra novamente para concluir seus ciclos de transformação, e converter-se, por sua vez em homens.

Essa estupenda concepção, os antigos a sintetizaram para a instrução do povo comum, num simples plano pictórico - o Zodíaco, ou cinto celeste. Ao invés dos doze signos agora utilizados, havia originalmente apenas dez, conhecidos do público em geral, a saber: Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem-Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes. Estes signos eram exotéricos. Mas além desses havia dois signos místicos, inseridos, o que só os iniciados sabiam, no meio ou no ponto de junção em que agora está Libra, e no signo agora chamado Escorpião, que segue a Virgem. Quando era necessário torná-los exotéricos, esses dois signos secretos eram acrescidos sob seus nomes atuais como véus para ocultar os verdadeiros nomes que davam a chave de todo o segredo da criação e divulgava a origem do "bem e do mal".

A verdadeira doutrina astrológica sabéia ensinava secretamente que nesse duplo signo estava a explicação da gradual transformação do mundo, de seu estado espiritual e subjetivo para o estado "bissexuado" e sublunar. Os doze signos eram dessa forma divididos em dois grupos. Os seis primeiros chamavam-se de linha ascendente, ou linha do macrocosmo (o grande mundo espiritual); os seis últimos, de linha descendente, ou linha do microcosmo (o pequeno mundo secundário) - mero reflexo do primeiro, por assim dizer. Essa divisão chamava-se de roda de Ezequiel, e era completa da seguinte maneira: Primeiro vinham os cinco signos ascendentes (evemerizados nos patriarcas), Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, e o grupo se fechava com Virgem-Escorpião. Vinha então o ponto crucial, Libra, após o que a primeira metade do signo Virgem-Escorpião era duplicada e transferida para liderar o grupo inferior ou descendente do microcosmo que termina em Peixe, ou Noé (dilúvio). Para torna-lo mais claro, o signo de Virgem-Escorpião, que aparecia originalmente como, tornou-se simplesmente Virgem, e a duplicação, M, ou Escorpião, foi colocada depois de Libra, o sétimo signo (que é Henoc, ou anjo de Metron, ou Mediador entre o espírito e a matéria, ou Deus e homem). Ela se tornou Escorpião (ou Caim), signo ou patriarca que levou a Humanidade à destruição, segundo a teologia exotérica; mas, de acordo com a verdadeira doutrina da religião da sabedoria, ele indicou a degradação de todo o universo em seu curso de evolução descendente do subjetivo ao objetivo.

A invenção do signo de Libra é acreditada aos gregos, mas não se diz geralmente que foram apenas os iniciados dentre eles que fizeram uma alteração nos nomes comunicando a idéia e o nome secreto àquele "que sabiam", e deixando as massas em sua habitual ignorância. Não obstante, foi essa uma bela idéia, a de Libra, ou balança, que expressa, na medida do possível, sem desvenda-lo, a verdade total e última. Eles pretendiam com esse signo indicar que, quando o curso da evolução havia levado os mundos ao ponto máximo de materialidade, em que as terras e os seus frutos era mais toscos, e seus habitantes mais brutos, o ponto crucial havia sido alcançado - as forças estavam em equilíbrio. No ponto mais baixo, a centelha divina ainda cintilante do espírito começa a transferir o impulso ascendente. Os pratos da balança simbolizam esse equilíbrio eterno necessário a um universo de harmonia, de justiça exata, de equilíbrio entre as forças centrípetas e centrífugas, entre trevas e luz, espírito e matéria.

 

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