A antiguidade dos livros sagrados do Egito

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 19:07

Lendas, mitos, alegorias, símbolos, se pertencem à tradição hindu, caldaica ou egípcia, são lançados à pilha como ficção. Dificilmente são eles honrados com uma pesquisa superficial sobre suas relações possíveis com a astronomia ou os emblemas sexuais. Os mesmos mitos - quando e por que mutilados - são aceitos como Escrituras Sagradas, mais - como Palavra de Deus! É isso História imparcial? É isso justiça para com o passado, o presente ou o futuro? "Não poderemos servir a Deus e a Mammon", disse o Reformador, há dezenove séculos. "Não podemos servir à verdade e ao preconceito público", deveríamos dizer com mais propriedade ao nosso próprio século. Contudo, nossas autoridades pretendem estar a serviço da primeira.

Há poucos mitos em qualquer sistema religioso que não tenham um fundamento histórico e científico. Os mitos, como afirma corretamente Pococke, "revelam-se agora como fábulas, apenas na medida em que não os compreendemos; e como verdades, na medida em que eram outrora entendidos. Nossa ignorância consiste em ter feito da história um mito; e esta ignorância é uma herança helênica, conseqüência da vaidade helênica.

Bunsen e Champollion já demonstraram que os livros sagrados do Egito são muito mais antigos do que a parte mais antiga do Livro Gênese. E uma pesquisa mais cuidadosa parece agora corroborar a suspeita - que para nós é uma certeza - de que as leis de Moisés são cópias do código do Manu bramânico. Portanto, segundo todas as probabilidades, o Egito deve sua civilização, suas instituições civis e suas artes, à Índia.

Sabido é que os orientalistas não se puseram de acordo quanto à época de Zoroastro, e, enquanto a questão não ficar estabelecida, será talvez mais seguro acreditar implicitamente nos cálculos bramânicos pelo Zodíaco, do que nas opiniões dos cientistas. Há a de Bunsen, que situa Zoroastro na Bactriana, e a emigração dos bactrianos ao Indo em 3794 (a.C.), e o nascimento de Moisés em 1392 (a.C.). Mas é difícil situar Zoroastro antes dos Vedas, considerando que toda a sua doutrina já se acha nos Vedas. Na verdade, ele demorou no Afeganistão por um período mais ou menos problemático antes de cruzar o Puñjâb; mas os Vedas foram iniciados neste último país. Eles indicam o progresso dos hindus, assim como o Avesta o dos iranianos. E há a de Haug, que atribui o Aitareya-Brâhmanam - um comentário especulativo bramânico sobre o Rig-Veda, muito mais recente do que o Veda - ao período entre 1400 e 1200 a.C., ao passo que os Vedas são por ele situados entre os anos 2000 e 2400 a.C. Max Müller sugere cautelosamente certas dificuldades nessa computação cronológica, mas não a nega em absoluto. Seja como for, e supondo que o Pentateuco foi escrito pelo próprio Moisés - embora dessa forma ele teria por duas vezes registrado sua morte -, se Moisés nasceu como acredita Bunsen, em 1392 a.C., o Pentateuco não poderia ter sido escrito antes dos Vedas. Especialmente se Zoroastro nasceu em 3784 a.C. Se, como afirma o Dr. Haug, alguns dos hinos do Rig-Veda foram escritos antes de Zoroastro ter realizado seu cisma, por volta de 3700 a.C., e Max Müller diz que "os zoroastristas e os seus ancestrais partiram da Índia durante o período védico", como podem algumas partes do Antigo Testamento remontar à mesma data, "ou até antes dos hinos mais antigos do Veda"?

Concordam em geral os orientalistas em que os âryas, em 3000 a.C., ainda estavam nas estepes a leste do Cáspio, e unidos. Rawlinson conjectura que eles "migraram para leste" oriundos da Armênia como centro comum, ao passo que duas correntes congêneres a migrar, uma para norte, além do Cáucaso, e outra para oeste, além da Ásia Menor e da Europa. Ele acredita que os âryas, num período anterior ao século XV antes de nossa era, estavam "sediados na região banhada pelo Indo Superior". Daí os âryas védicos migraram para o Puñjâb, e os âryas zêndicos para oeste, estabelecendo os países históricos. Mas essa, como as demais, é uma hipótese, e como tal é dada.

Ademais, diz Rawlinson, seguindo evidentemente a Max Müller: "A história primitiva dos âryas constitui por muitos séculos uma lacuna absoluta." Mas muitos brâmanes eruditos declararam ter encontrado traços da existência dos Vedas já em 2100 a.C.; e Sir William Jones, tomando como guia os dados astrológicos, situa o Yajur-Veda em 1580 a.C. Isso seria ainda "antes de Moisés."

É na suposição de que os âryas não deixaram o Afeganistão pelo Puñjâb antes de 1500 a.C. que Max Müller e outros sábios de Oxford puderam estimar que partes do Velho Testamento remontam à mesma data, ou até antes, dos hinos mais antigos do Veda. Por conseguinte, enquanto os orientalistas não nos puderem indicar a data correta em que Zoroastro, nenhuma autoridade será mais bem considerada no que respeita à época dos Vedas do que os próprios brâmanes.

Sendo por demais sabido o fato de que os judeus tomaram muitas de suas leis dos egípcios, examinemos quem eram os egípcios. Em nossa opinião - que é, naturalmente, a de uma pobre autoridade -, eles eram os indianos antigos, e em nosso primeiro volume citamos passagens do historiador Kullûka-Bhatta que corroboram tal teoria. É o seguinte o que entendemos por Índia antiga:

Nenhuma região no mapa - exceto talvez a antiga Cítia - é mais incertamente definida do que a que leva a designação da Índia. A Etiópia é talvez o único paralelo. Ela era a pátria das raças cuchitas e camítas, e situava-se a leste da Babilônia. Tinha outra o nome de Indostão, quando as raças negras, adoradoras de Bala-Mahâdeva e Bhavânî-Mahâdevî, dominavam esses país. A Índia dos primeiros sábios parece ter sido a região localizada nas nascentes do Oxus e do Jaxartes. Apolônio de Tiana cruzou o Cáucaso ou o Hindus Kush, onde encontrou um rei que o dirigiu à morada dos sábios - descendentes talvez daqueles a quem Amiano chama de "Brachmanas da Índia Superior", e a quem Hystaspes, o pai de Dario (ou, mais provavelmente, o próprio Darius Hystaspes), visitou; e, tendo sido instruído por eles, infundiu seus ritos e idéias nas observações mágicas. Essa narrativa sobre Apolônio parece indicar Caxemira como a região que ele visitou, e os Nâgas - após a sua conversão ao Budismo - como seus mestres. Nessa ocasião, a Índia ariana não se estendia além do Punñjâb.

A nosso ver, o maior obstáculo que se antepõe no caminho do progresso da etnologia sempre foi a tríplice progênie de Noé. Na tentativa de reconciliar as raças pós-diluvianas com a descendência genealogia de Sem, Cam e Jafé, os orientalistas cristianóides se lançaram a uma tarefa impossível de cumprir. A arca de Noé da Bíblia tem sido um leito de Procusto no qual eles procuram a tudo amolar. A atenção foi desastre desviada das verdadeiras fontes de informações no que respeita à origem do homem, e uma alegoria meramente local foi erroneamente tomada como um relato histórico emanado de uma fonte inspirada. Estranha e infeliz escolha! Dentre todos os escritos sagrados das nações básicas, oriundas do berço primitivo da Humanidade, o Cristianismo escolheu para seu guia os registros e as escrituras nacionais do povo menos espiritual talvez da família humana - o semita. Um ramo que nunca foi capaz de desenvolver, a partir de seus numerosos idiomas, uma língua capaz de encarnar as idéias do mundo moral e intelectual; cuja forma de expressão e cuja inclinação mental jamais conseguiu se elevar mais alto do que as figuras de linguagem puramente sensuais e terrestres; cuja literatura nada deixou de original, nada que não foi tomado do pensamento ariano; e cuja ciência e filosofia carecem totalmente das nobres caraterísticas que caracterizam os sistemas altamente espirituais e metafísicos das raças indo-européias (jaféticas).

Busen mostra que o camita (a língua do Egito) era um depósito da Ásia ocidental, que continha os germes do semítico e que, portanto, "testemunhavam a primitiva unidade das raças semiticas e arianas". Devemos lembrar, a esse respeito, que os povos da Ásia sudoeste e ocidental, incluindo os medas, eram todos âryas. No entanto, ainda não se provou quem foram os mestres originais e primitivos da Índia. O fato de que esse período está agora fora do alcance da história documentaria não exclui a probabilidade de nossa teoria de que esses mestres pertencia à poderosa raça de construtores, chamada etíopes orientais ou âryas de pele negra (a palavra Ârya significa simplesmente "guerreiro nobre", um "bravo"). Eles governaram de modo supremo toda a Índia antiga, enumerada mais tarde como possessão daqueles que os nossos cientistas chamam de povos de fala sânscrita.

Esses hindus, ao que se supõe, teriam entrado no país oriundos do noroeste; conjectura-se que alguns deles teriam trazidos consigo a religião bramânica, e a língua dos conquistadores era provavelmente o sânscrito. Nossos filósofos trabalharam com esses três magos dados desde que a imensa literatura sânscrita foi anunciada por Sir William Jones - e sempre com os três filhos de Noé torcendo o pescoço. Tal é a ciência exata, livre de preconceitos religiosos! Na verdade, a etnologia teria sido a maior ganhadora, se esse trio noético tivesse sido posto ao mar antes de a arca alcançar a terra firme!

Os etíopes são geralmente classificados no grupo semita; mas veremos em seguida que essa classificação não se lhes enquadra bem. Consideraremos também a sua possível vinculação à civilização egípcia, que, como assinala um autor, parece ser dotada da mesma perfeição desde os tempos primitivos, não tendo experimentado a evolução e o progresso, como no caso dos outros povos. Por razões que agora aduziremos, estamos preparados para afirmar que o Egito deve a sua civilização, sua comunidade e suas artes - mormente a arte da construção - à Índia pré-védica, e que foi uma colônia dos âryas de pele escura, ou aqueles que Homero e Heródoto chamam de etíopes orientais, i. e., os habitantes da Índia setentrional, que trouxe ao Egito sua já adiantada civilização nas eras pré-cronológicas que Bunsen chama de pré-menitas, mas que corresponde aos tempos históricos.

Em Índia in Greece de Pococke, encontramos o seguinte sugestivo parágrafo: "O relato completo das guerras travadas entre o chefe solar, Oosras (Osíris), o Príncipe dos Guclas, e `TU-PHOO', corresponde na verdade ao simples fato histórico das guerras entre os apianos, ou tribos do Sol de Oudh, e o povo de `TU-PHOO', ou TIBETE, que era, de fato, de raça lunar, e budista, e inimigos de Râma, e dos `AITYO-PIAS', ou povo de Oudh, posteriormente os `AITH-IO-PIAS' da África".

Lembramos ao leitor a esse respeito que Râvana, o gigante, que, no Râmâyana, trava uma batalha com Râma Chandra, é mostrado como Rei de Lanka, o antigo nome do Ceilão; e que o Ceilão, naqueles dias, formava parte talvez do continente da Índia setentrional, e era povoado pelos "etíopes orientais". Conquistada por Râma, o filho de Dasaratha, o Rei Solar do antigo Oudh, uma colônia desse povo migrou para o norte da África. Se, como muitos supõem, a Ilíada de Homero e muito do seu relato da guerra de Tróia foi plagiada do Râmâyana, então as tradições que surgiram como base a esta última obra devem datar de uma tremenda antigüidade. Deixa-se assim uma ampla margem à história pré-cronológica por um período durante o qual os "etíopes orientais" podem ter estabelecido a hipotética colônia de Mizra, como a sua alta civilização indiana.

Que há mais consangüinidade entre os etíopes e as raças arianas de pele escura, e entre estas e os egípcios, eis algo que ainda está para ser provado. Descobriu-se recentemente que os antigos egípcios eram de tipo caucasianos, e que a forma de seus crânios é puramente asiática. Se sua pele era de cor menos escura do que a dos etíopes modernos, os próprios etíopes devem ter tido outrora uma tez mais clara. Ofato de que, para os reis etíopes, a ordem da sucessão dava a coroa ao sobrinho do rei, ao filho de sua irmã, e não ao seu próprio filho, é extremamente sugestivo. É esse um velho costume que prevalece até hoje na Índia setentrional. O Râjâ não é sucedido por seus próprios filhos, mas pelos filhos de sua irmã.

De todos os dialetos e idiomas que se acredita serem semitas, só o etíope é escrito da esquerda para a direita, como o sânscrito e o indo-ariano.

Assim, contra a teoria que atribui a origem dos egípcios a uma antiga colônia indiana, não há nenhum impedimento mais grave do que o desrespeitoso filho de Noé, Cam - ele próprio um mito. Mas a forma primitiva do culto religioso egípcio, de seu governo, de sua teocracia e de seu clero, seus usos e costumes, tudo indica uma origem indiana.

 

Outras páginas interessantes: