Considerações Sobre a Morte Física

Enviado por Estante Virtual em qui, 22/12/2011 - 03:05

A ciência vê o homem como uma agregação de átomos temporariamente unidos por uma misteriosa força chamada princípio de vida. Para o materialista, a única diferença entre um corpo vivo e um morto é que no primeiro essa força é ativa e no outro, latente. Quando extintas ou completamente latentes, as moléculas obedecem a uma atração superior, que as espalha e dissemina pelo espaço.

Essa dispersão deve ser a morte, se é possível conceber uma coisa como a morte, em que as próprias moléculas do corpo morto manifestam uma intensa energia vital. Se a morte é apenas a parada da máquina digestora, locomotiva e pensante, como pode a morte ser real e não relativa, antes que a máquina se quebre por completo e as suas partículas se dispersem? Enquanto algumas delas estão unidas, a força vital centrípeta pode sobrepuljar a ação centrífuga dispersiva. Diz Éliphas Lévi: "A mudança atesta o movimento, e o movimento apenas revela a vida. O cadáver não se decomporia se estivesse morto; todas as moléculas que o compõem estão vivas e lutam por separar-se. E imaginais que o espírito se liberta simplesmente para não mais existir? Que o pensamento e o amor podem morrer quando as formas mais grosseiras da matéria não morrem? Se a mudança deve chamar-se morte, morremos e renascemos todos os dias, pois a cada dia nossas formas sofrem uma mudança".

Os cabalistas dizem que um homem não está morto quando o seu corpo está enterrado. A morte nunca é súbita; pois de acordo com Hermes, nada se opera na Natureza por transições violentas. Tudo é gradual, e assim como é preciso um longo e gradual desenvolvimento para produzir o ser humano, do mesmo modo o tempo é necessário para retirar completamente a vitalidade da carcaça. "A morte não pode ser um fim absoluto, assim como o nascimento não é um início verdadeiro. O nascimento prova a preexistência do ser, e a morte prova a imortalidade", diz o mesmo cabalista francês.

Embora acreditando implicitamente na ressurreição da filha de Jairo, o chefe da sinagoga, e em outros milagres bíblicos, os cristãos instruído, que de outro modo se sentiriam indignados ao se chamados de supersticiosos, acolhem fatos como o de Apolônio e a jovem que segundo o seu biógrafo foi ressuscitada por ele, com uma desdenhosa incredulidade. Diógenes Laércio, que menciona uma mulher ressuscitada por Empédocles, não é tratado com mais respeito; e o nome do taumaturgo pagão, aos olhos dos cristãos, é apenas um sinônimo para impostor. Nossos cientistas são, afinal, um pouco mais racionais; eles agrupam todos os profetas e apóstolos bíblicos e todos os fazedores de milagres pagãos em duas categorias de tolos alucinados e hábeis impostores.

Mas, deixando de lado a incrível ficção de Lazaro, selecionamos dois casos: a filha do chefe da sinagoga chamada novamente à vida por Jesus, e a noiva coríntia ressuscitada por Apolônio. No primeiro caso, desconsiderando por completo a significativa expressão de Jesus - "Ela não está morta mas adormecida", o clero força o seu deus a violar as suas próprias leis e oferecer injustamente a um o que nega a todos os outros, e sem nenhum melhor objetivo em vista do que o de produzir um milagre inútil. No segundo caso, não obstante as palavras do biógrafo de Apolônio, tão claras e precisas que não subsiste a menor razão para distorcê-las, eles acusam Filotrasto de deliberada impostura. Quem poderia ser mais honesto do que ele, quem menos acessível à acusação de mistificação, pois, descrevendo a ressurreição da jovem pelo sábio de Tiana, na presença de uma grande multidão, diz o biógrafo, "ela parecia estar morta".

Embora outras palavras, ele indica muito claramente um caso de animação suspensa; e, então acrescenta imediatamente, "como a chuva caía muito abundante sobre a jovem", enquanto estava ela sendo carregada à pira, “com a sua fase virada para cima, isto, também, poderia ter excitado os seus sentidos”. Isso não mostra claramente que Filotrasto não viu nenhum milagre nessa ressurreição? Isso não implica, ademais, algo como a grande sabedoria e habilidade de Apolônio, "que como Asclepíades tinha o mérito de distinguir com um golpe de vista entre a morte real e a aparente"?

Uma ressurreição, depois de a alma e o espírito se terem inteiramente separado do corpo, e o último fio magnético se ter cortado, é tão impossível quanto para um espírito uma vez desencarnado reencarnar uma vez mais neste mundo, exceto nas circunstâncias descritas nos capítulos anteriores. "Uma folha, uma vez caída, não se religa ao ramo", diz Éliphas Lévi. "A lagarta torna-se uma borboleta, mas a borboleta não retorna ao estado de larva. A Natureza fecha a porta atrás de tudo que passa, e puxa a vida para a frente. As formas passam, o pensamento permanece, e não chama de volta o que uma vez se exauriu."

Por que se imaginaria que Asclepíades e Apolônio gozavam de poderes excepcionais para discernir a morte real? Tem qualquer moderna escola de Medicina este conhecimento para comunicar a seus estudantes? Que as suas autoridades respondam por eles. Os prodígios de Jesus e Apolônio são tão bem atestados que parecem autênticos. Se num e noutro caso a vida foi ou simplesmente suspensa, resta o fato importante de que por algum poder, peculiar a eles, os dois fazedores de milagres chamaram o aparentemente morto de volta à vida por um instante.

Mas, no caso do que os fisiologistas chamam "morte real", e que não o é realmente, o corpo astral se retirou; talvez a decomposição local se tenha manifestado. Como seria o homem trazido novamente às vida? A resposta é, o corpo interior deve ser forçado a reentrar no corpo exterior, e a vitalidade a ser redespertada neste último. O relógio parou, e deve estar quebrado. Se a morte é absoluta; se os órgãos não cessaram apenas de agir, mas perderam a suscetibilidade de ação renovada, então seria preciso lançar todo o universo no caos para ressuscitar o cadáver - seria preciso um milagre. Mas, como dissemos antes, o homem não morre quando está frio, rijo, sem pulso, sem respiração, e mesmo mostrando sinais de decomposição; ele não está morto quando é enterrado, nem depois, mas quando um certo ponto é atingido. Este ponto é, quando os órgãos vitais se decompuseram de tal maneira que, reanimando-se, eles não realizariam as suas funções costumeiras; quando a mola central e a roda denteada da máquina, por assim dizer, estão de tal modo desgastadas pela ferrugem, que elas se quebrariam à primeira volta da chave. Até que esse ponto não seja atingido, o corpo astral pode ser forçado, sem milagre, a reentrar em seu primeiro tabernáculo, por um esforço de sua própria vontade, ou sob o impulso irresistível da vontade de alguém que conheça as potências da Natureza e saiba como dirigi-las. A centelha não se extinguiu, mas está apenas latente - latente como o fogo no sílex, ou o calor no ferro frio.

Nos casos da clarividência cataléptica mais profunda, tais como os obtidos por Du Potet, e descritos muito minuciosamente pelo falecido Prof. William Gregory, em suas Letters on Animal Magnetism, o espírito está tão desengajado do corpo que lhe seria impossível reentrar nele sem um esforço da vontade do mesmerizador. O paciente está praticamente morto, e, se deixado a si mesmo, o espírito escaparia para sempre. Embora independente do invólucro físico semilivre ainda está unido a ele por um cordão magnético, descrito pelos clarividentes como de aspeto sombrio e nebuloso em contraste com o brilho inefável da atmosfera astral pela qual eles olham. Plutarco, relatando a história de Tespésio, que caiu de uma grande altura, e permaneceu por três dias aparentemente morto, conta-nos a experiência deste durante o seu estado de morte parcial. "Tespésio", diz ele, "observou então que era diferente dos mortos pelos quais estava cercado. (...) Eles eram transparentes e cercados de um brilho, mas ele parecia arrastar atrás de si uma radiação negra ou um linha de sombra." Toda a sua descrição, minuciosa e circunstanciada em seus detalhes, parece ser corroborada pelos clarividentes de todas as épocas, e, até onde esse testemunho pode ser admitido, é importante. Os cabalistas, como os vemos interpretados por Éliphas Lévi, em sua Science des Esprits, dizem que "Quando um homem cai em seu sono derradeiro, mergulha em primeiro lugar numa espécie de sonho, antes de ganhar consciência no outro lado da vida. Ele vê, então, numa bela visão, ou num pesadelo terrível, o paraíso ou o inferno, em que ele acredita durante a sua existência mortal. Eis por que acontece com freqüência a alma aflita volta violentamente à vida terrestre que acabou de deixar, e por que alguns que estavam realmente mortos, i.e., que, se deixados sós e quietos, teriam passado tranqüilamente para sempre num estado de letargia inconsciente, quando enterrados prematuramente voltam à vida no túmulo".

Lévi diz que a ressurreição não é impossível enquanto o organismo vital permanecer intato, e a alma astral ainda está ao alcance. "A Natureza", diz ele, "nada faz por sobressaltos, e a morte eterna é sempre precedida por um estado que partilha um pouco da natureza da letargia. É um torpor que um grande choque ou o magnetismo de uma vontade são capazes de sobrepujar." Lévi explica dessa maneira a ressurreição do homem morto ao contato com os ossos de Eliseu. Ele a explica dizendo que a alma estava errando nesse momento junto ao corpo; os convivas da cerimônia fúnebre, de acordo com a tradição, foram atacados por salteadores; e como o seu pavor se comunicasse simpaticamente a ela, a alma foi tomada de horror à idéia de ver seus restos profanados, e "reentrou violentamente no corpo para erguê-lo e salvá-lo". Aqueles que acreditam na sobrevivência da alma podem nada ver nesse incidente que tenha um caráter sobrenatural - trata-se apenas de uma manifestação perfeita da lei natural. Narrar a um materialista um caso como esse, ainda que bem atestado, seria uma tarefa inútil; o teólogo, sempre contemplando além da natureza uma providência especial, considera-o um milagre. Diz Éliphas Lévi: "Eles atribuíam a ressurreição ao contato com os ossos de Eliseu; e, logicamente, a adoração de relíquias data dessa época".

Balfour Stewart está certo - os cientistas "nada sabem, ou quase nada, da estrutura e das propriedades últimas da matéria orgânica ou inorgânica".

Estamos agora em terreno tão firme que daremos um novo passo adiante. O mesmo conhecimento e o mesmo controle das forças ocultas, incluindo a força vital que possibilitou ao faquir deixar temporariamente e depois reentrar em seu corpo, e a Jesus, Apolônio e Eliseu de ressuscitarem os mortos, possibilitou aos antigos hierofantes animarem estátuas, e fazê-las agir como criaturas vivas. É o mesmo conhecimento e poder que permitiram a Paracelso criar os seus homunculi; a Aarão transformar a sua vara numa serpente e num ramo florido; a Moisés cobrir o Egito com rãs e outras pestes; e ao teurgista egípcio de nossos dias vivificar a sua mandrágora pigméia, que tem vida física mas não alma. Não era mais surpreendente para Moisés, em condições favoráveis, chamar à vida grandes répteis e insetos, do que para nosso físico moderno, nas mesmas condições favoráveis, chamar à vida insetos menores, que ele chama de bactérias.

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