Os Mistérios da Vontade Dirigida

Enviado por Estante Virtual em qui, 22/12/2011 - 03:03

Tendo sempre em mente que repudiamos a idéia do milagre, podemos agora perguntar que objeção lógica se pode fazer contra a afirmação de que a reanimação de mortos era realizada por muitos taumaturgos? Poderia ir mais longe e dizer que a força de vontade do homem é tão tremendamente potencial que pode reanimar um corpo aparentemente morto, fazendo retroceder a alma esvoaçante que ainda não rompeu o fio por meio do qual a vida unia a ambos. Dezenas de tais faquires permitiram que fossem enterrados vivos diante de milhares de testemunhas, e semanas depois ressuscitarem. E se os faquires têm o segredo deste possesso artificial, idêntico ou análogo à hibernação, por que não conceder que os seus ancestrais, os ginosofistas, e Apolônio de Tiana, que havia estudado com estes na Índia, e Jesus, e outros profetas e videntes, que conheciam mais dobre os mistérios da vida e da morte do que qualquer um dos nossos modernos homens de ciência, podiam ressuscitar homens e mulheres mortos? E por estarem familiarizados com este poder - esse algo misterioso "que a ciência ainda não conseguiu compreender", como confessa o Prof. Le Conte -, conhecendo, além disso, "de onde vem ele e para onde vai" Eliseu, Jesus, Paulo, Apolônio e ascetas entusiastas e sábios iniciados podiam chamar novamente à vida com facilidade todo homem que "não estivesse morto, mas apenas dormindo", e sem qualquer milagre.

Se as moléculas do cadáver estão impregnadas da Força Vital e das Forças químicas do organismo vivo, o que pode impedi-las de serem novamente postas em movimento, desde que conheçamos a natureza da Força Vital, e como comandá-la? O materialista não pode oferecer nenhuma objeção, pois para ele não se apresenta a questão de reinsuflar vida à alma. Para ele a alma não tem existência, e o corpo humano deve ser encarado simplesmente como um engenho vital - uma locomotiva que se movimentará após o fornecimento de calor e força, e parará quando estes cessarem. Para o teólogo, o caso oferece dificuldades maiores, pois, a seu ver, a morte corta por inteiro o vínculo que une o corpo a alma, e esta pode tanto retornar àquele sem um milagre quanto o recém-nascido pode ser compelido a voltar à sua vida fetal depois do parto e da secção do cordão umbilical. Mas o filósofo hermético coloca-se entre esses dois antagonistas irreconciliáveis, senhor da situação. Ele conhece a natureza da alma - uma forma composta de fluído nervoso e éter atmosférico - e sabe como a Força Vital pode tornar-se ativa ou passiva à vontade, desde que não haja nenhuma destruição definitiva de algum órgão necessário. As afirmações de Gaffarilus - que, a nosso ver, pareceram tão despropositadas em 1650 - foram posteriormente corroboradas pela ciência. Ele sustentava que todo objeto existente na Natureza, desde que seja artificial, quando queimado, retém a sua forma nas cinzas, em que permanece até a sua ressurreição. Du Chesne, um químico eminente, certificou-se do fato. Kircher, Digby e Vallemont demonstraram que as formas das plantas podiam ser ressuscitadas a partir das cinzas. Num encontro de naturalistas em 1834, em Stuttgart, uma receita para produzir tais experiências foi descoberta na obra de Oetinger. As cinzas de plantas queimadas contidas em pequenos frascos, quando aquecidas, exibiam novamente as suas formas, "Uma pequena nuvem obscura elevou-se do frasco, assumiu uma forma definida e apresentou a flor ou a planta de que consistiam as cinzas." (C. Crowe, The Nigth-Side of Nature, p.110) "O folheto terrestre", escreveu Oetinger, "permanece na retorta, ao passo que a essência volátil sobe, como um espírito, mas vazio de substância."

E, se a forma astral mesmo de uma planta ainda sobrevive nas cinzas, quando o corpo está morto, persistirão os cépticos em dizer que a alma do homem, o eu interior, se dissolve após a morte da forma mais grosseira, e que não existe mais? "Por ocasião da morte", diz o filósofo, "um corpo exsuda de outro, por osmose e através do cérebro; ele se mantém perto de seu antigo invólucro por um dupla atração, física e espiritual, até que este se decompunha; e se boas condições são dadas, a alma pode reabitá-lo e retomar a vida suspensa. Ela o faz durante o sono; ela o faz mais completamente em transe; e mais surpreendente obedecendo ao comando e com a assistência do adepto hermético. Jâmblico declarou que uma pessoa dotada desses poderes ressuscitadores é `pleno de Deus'. Todos os espíritos subordinados das esferas superiores estão sob o seu comando, pois ele não é mais um mortal e sim um deus. Na Epístola aos Corintos, Paulo assinala que `os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas!'"

Algumas pessoas têm o poder natural e algumas outras o poder adquirido de extrair o corpo interior do exterior, a vontade, obrigando-o a fazer longas jornadas e a se tornar visível àquele a quem visita. Numerosos são os exemplos atestados por testemunhas irrecusáveis do "desdobramento" de pessoas que foram vistas e com quem se conversou a centenas de milhas dos lugares em que se sabia que as mesmas pessoas estavam. Hermotimo, se podemos dar crédito a Plínio e a Plutarco, podia entrar em transe à vontade e então a segunda alma seguia para o lugar que lhe aprouvesse.

De acordo com Napier, Osborne, o major Lawes, Quenouillet, Nikiforovitch e muitas outras testemunhas modernas, os faquires, no decorrer de longo regime, preparo e repouso, mostraram que eram capazes de levar os corpos a um estado que lhes permitia serem enterrados a seis pés da terra por um período indefinido. Sir Claude Wade estava presente à corte de Rundjit Singh quando o faquir, mencionado pelo Honorável Cap. Osborne, foi enterrado vivo por seis semanas, numa caixa colocada numa cela três pés abaixo do nível do solo. Para prevenir a possibilidade de uma fraude, uma guarda composta de duas companhias de soldados foi destacada, e quatro sentinelas "foram incumbidas, revezando-se a cada duas horas, noite e dia, de guardar o edifício contra intrusos. (...) Abrindo-a", diz Sir Claude, "vimos uma figura encerrada num sudário de linho branco amarrado por uma corda acima da cabeça (...) o servente começou então a derramar água quente sobre a figura (...) as pernas e os braços estavam encolhidos e rijos, o rosto natural, a cabeça inclinada sobre o ombro, como a de um cadáver. Chamei então o médico que me assistia e pedi-lhe que viesse inspecionar o corpo, o que ele fez, mas não pôde descobrir nenhuma pulsação no corpo, nas têmporas ou nos braços. Havia, no entanto, um calor sobre a região do cérebro, que nenhuma outra parte do corpo exibia".

Lamentando que os limites de nosso espaço proíbam citar os detalhes dessa interessante história, acrescentamos apenas que o processo de ressurreição incluía o banho com água quente, fricção, a retirada dos chumaços de cera e algodão das narinas e das orelhas, a fricção das pálpebras com ghee, ou manteiga clarificada, e, o que parecerá mais curioso a muitos, a aplicação de um bolo de trigo quente, de cerca de um polegar de espessura, "ao topo da cabeça". Depois de o bolo ter sido aplicado pela terceira vez, o corpo teve convulsões violentas, as narinas se inflaram, a respiração se iniciou, e os membros adquiriram a sua plenitude natural; mas a pulsação ainda era fracamente perceptível. "A língua foi então untada com ghee, as pálpebras dilataram-se e recuperaram a cor natural, e o faquir reconheceu os presentes e falou." Cumpriria assinalar que não apenas as narinas e as orelhas haviam sido tapadas, mas a língua tinha sido dobrada para trás, de modo a fechar a garganta, fechado assim efetivamente os orifícios à admissão de ar atmosférico. Quando estávamos na Índia, um faquir nos disse que isso era feito não apenas para prevenir a ação do ar sobre os tecidos orgânicos, mas também para resguardar contra o depósito de germes da decomposição, que no caso da animação suspensa causariam a decomposição exatamente como o fazem com qualquer outra carne exposta ao ar. Há também localidades em que um faquir se recusará a ser enterrado, tais como muitas regiões da Índia meridional, infestadas de formigas brancas, essas térmitas terríveis que se contam entre os inimigos mais perigosos do homem e de suas propriedades. Elas são tão vorazes que devoram tudo que encontram, com exceção, talvez, dos metais. Quando à madeira, não há nenhuma espécie pela qual elas não passem; e mesmo o tijolo e a argamassa oferecem pouca resistência aos seus formidáveis exércitos. Elas trabalharam pacientemente através da argamassa, destruindo-a partícula por partícula; e um faquir, por mais santo que seja, e por mais resistente que seja o seu ataúde, não se arriscará a ver o seu corpo devorado quando for o momento de sua ressurreição.

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