O perigo da intransigência

Enviado por Mauricio Medeiros em dom, 18/11/2012 - 01:27

Para aqueles que me conhecem, não é nenhum segredo que eu tenho minhas restrições em relação a muito do que leio. Leadbeater, por exemplo, em muitos momentos me deixa em dúvida sobre o que será que ele tomava antes de iniciar suas jornadas de trabalho clarividente. Ele é um pouco "demais", na minha opinião, e meu lado cientista não consegue parar de pensar que ele arriscou muito com algumas afirmações que soltou aqui e ali em seus livros.

Por exemplo, em um dado momento Leadbeater se aventurou a descrever Marte usando a clarividência. E depois disso, tivemos algumas décadas de missões da Nasa trazendo informações sobre o planeta. Não vou elaborar esse ponto, fica de lição de casa pra quem ler. Os pontos de interesse são o capítulo 55 do livro "O Sistema Solar", do Arthur Powell, e sobre o que sabemos de Marte hoje, é só perguntar para o oráculo. Coisas como essa, embora nem sempre tão evidentes, são encontradas aos montes nos muitos livros que ele escreveu.

Blavatsky tem um estilo muito mais sóbrio, nesse aspecto. William Judge e outros escritores da mesma época também. Seus textos contém menos experiências pessoais e mais conhecimento reunido de outras fontes - o que em última instância constitui um dos pilares da teosofia. É necessário reunir esse conhecimento e testá-lo, confrontá-lo, analisá-lo, buscando pontos de conexão e as oposições que evidenciam o que existe de comum à todas as fontes.

Mas hoje estava lendo um artigo que basicamente buscava desacreditar o "falso clarividente" Leadbeater. O que me chamou a atenção foi que era um texto de um site "teosófico". Um texto "teosófico" mais preocupado em atacar uma personalidade do que em um estudo ou análise produtiva. Por exemplo, no texto em questão, várias experiências da vida de Leadbeater eram colocadas lado a lado com experiências de outra vida, buscando desacreditar a "vida atual", como em  "o bispo Leadbeater matou uma pessoa". Ou então um outro artifício infelizmente comum, mas extremamente danoso: utilizar uma afirmação aparentemente errada (não faz diferença se estava errada ou não) para desacreditar toda a obra de uma pessoa.

Acho que esse é o ponto que me levou a escrever esse post. Não estudei quase nada, e posso estar falando besteira, mas penso que existem incongruências nos livros de Leadbeater. Só que isso não significa que toda a obra dele é incongruente. Da mesma forma que eu não ter encontrado incongruências na obra da Blavatsky não prova que ela não as possua. Na realidade, é nossa obrigação assumir que todos esses textos são possivelmente errôneos, e buscar validar através da nossa experiência e estudo o que lemos. Blavatsky nos incita a isso, Djwal Khul faz o mesmo, e de forma geral todo grande instrutor nos pede essa postura.

Temos que ser críticos, sem cair no fanatismo. Se nos vemos defendendo uma causa, devemos questionar nossas motivações. Se acreditamos estar em posição de lançar ataques a uma pessoa, devemos reavaliar onde está o foco de nossos estudos.

Isso dito, acho importante entendermos onde os textos de Leadbeater, ou de qualquer outro escritor, contém falhas de lógica ou incorreções factuais. Quando falamos de textos esotéricos, que via de regra foram escritos em uma época sem muitos dos conhecimentos que a ciência nos trouxe hoje, praticamente toda explicação que buscou se aproximar da ciência vai pelo menos usar uma linguagem que não é a ideal. Temos que tentar transpor essa barreira.

Nesse sentido, pretendo reunir informações para escrever algo sobre essa diferença de linguagem. Acredito que temos muito a ganhar buscando "traduzir" a linguagem daquela época para os termos de hoje, para o conhecimento científico de hoje. Mas para isso, temos que ser teósofos. E ter cuidado, muito cuidado, com os textos como o referido artigo.

Acredito que sobriedade seja uma palavra adequada para descrever a postura ideal frente a argumentos assim. E senso crítico. Desejo os dois, em profusão, para todos vocês.

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