O diabo segundo o velho testamento, e seu conceito moderno

Enviado por Estante Virtual em sab, 24/11/2012 - 00:42

Essa extensa ilustração pode mostrar que o Satã do Velho Testamento, o Diabolos ou Diabo dos Evangelhos e das Epístolas são personificações do princípio antagônico da matéria, necessariamente inerente a ele, e não mau no sentido moral do termo. Os judeus, vindo do país persa, trouxeram consigo a doutrina de dois princípio. Não puderam trazer o Avesta, pois ele não estava escrito. Mas eles - queremos dizer os assideus [chasîdîm] e parsis - investiram Ormuzd com o nome secreto de Ahriman, com o nome dos deuses do lugar, Satã dos hititas e Diabolos, ou antes Diobolos, dos gregos. A Igreja primitiva, pelo menos sua parte paulina, a dos gnósticos e seus sucessores refinaram posteriormente as suas idéias e a Igreja católica as adotou, enquanto passava pelo fio da espada os seus promulgadores.

A Igreja protestante é uma reação contra a Igreja Católica Romana. Não é necessariamente coerente em suas partes, mas uma multidão de fragmentos que se chocam ao redor de um centro comum, atraindo-se e repelindo-se. Algumas partes se dirigem centripetamente para Roma, ou para o sistema que fez a velha Roma existir; outras ainda são empurradas pelo impulso centrífugo para longe da ampla região etérea de Roma, ou mesmo da influência cristã.

O Diabo moderno é o legado principal da Cibele romana, "Babilônia, a Grande Mãe das religiões idólatras e abomináveis da terra".

Mas talvez se pudesse argumentar que a teologia hindu, tanto bramânica quanto budista, está tão impregnada da crença em diabos objetivos quanto a própria cristandade. Há uma pequena diferença. A sutiliza mesma da mente hindu é uma garantia suficiente de que as pessoas educadas, a porção mais culta pelo menos dos teólogos bramânicos e budistas, consideram o diabo segundo uma outra luz. Para elas o Diabo é uma abstração metafísica, uma alegoria do mal necessário; ao passo que para os cristãos o mito se tornou uma entidade histórica, a pedra fundamental sobre a qual se erigiu a Cristandade, com seu dogma de redenção. Ele é tão necessário - como o mostrou des Mousseaux - para a Igreja, quanto a vesta do capítulo dezessete do Apocalipse para seu leitor. Os protestantes de fala inglesa, não considerando a Bíblia suficientemente explicativa, adotaram a Diabologia do celebrado poema de Milton, Paradise Lost, embelezando-a aqui e ali com trechos extraídos do celebrado poema de Fausto, de Goethe. John Milton, primeiramente um puritano e depois quietista e unitário, sempre considerou sua grande produção como uma obra de ficção, ainda que ajustada às linhas gerais de diferentes partes da Escritura. O Ialdavaôth dos ofitas foi transformado num anjo de luz e na estrela da manhã e feito o Diabo, no primeiro ato do Diabolic Drama. Assim, o capítulo doze do Apocalipse foi traduzido para o segundo ato. O grande Dragão vermelho foi identificado com a mesma ilustre personagem de Lúcifer, e a última cena é a sua queda, como a de Vulcano-Hefaistos, do Céu, para a ilha de Lemnos; as hostes fugitivas e seu líder "caem no abismo tenebroso" do Pandemonium. O terceiro ato é o Jardim do Éden. Satã preside um concílio num salão erigido por ele para seu novo império e determina empreender uma expedição exploradora à procura do novo mundo. O ato seguinte refere-se à queda do homem, sua passagem pela Terra, o advento do Logos, ou Filho de Deus, e sua redenção da Humanidade, ou sua porção eleita, como se deu.

 

Outras páginas interessantes: