A doutrina de arcanjos e anjos, na teologia cristã

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 01:38

A teologia cristã, tomando a doutrina dos arcanjos e dos anjos diretamente da Cabala oriental, da qual a Bíblia mosaica é apenas uma cópia alegórica, deveria pelo menos lembrar-se da hierarquia inventada por ela para essas emanações personificadas. As hostes dos querubins e dos serafins, que geralmente rodeiam as Madonas católicas em suas pinturas, pertencem, com os Elohim e os Beni Elohim dos hebreus, ao terceiro mundo cabalístico, o Yetzîrah. Este mundo é apenas uma grau mais alto do que Asiah, o quarto mundo e o mais inferior, no qual residem os seres mais grosseiros e mais materiais - os klippoth, que se satisfazem no mal e na malignidade, e cujo chefe é Belial!

Explicando, à sua maneira, naturalmente, as várias "heresias" dos dois primeiros séculos, Irineu diz: "Nossos heréticos afirmam (...) que PROPATÔR só é conhecido do filho unigênito, isto é, da mente" (o Nous). Foram os velentianos, seguidores do "mais profundo doutor da gnose", Valentino, que afirmaram que "existia um AIÔN perfeito, que existiu antes de Bythos", ou Bythos (a Profundidade), "chamado Propatôr".

Na metafísica religiosa dos hebreus, o Altíssimo é uma abstração; ele é "sem forma ou ser", "sem semelhança com nenhum outro". E até Fílon define o Criador como o Logos que vem depois de Deus, "o SEGUNDO DEUS". "O segundo DEUS que é sua SABEDORIA". Deus é NADA, ele é sem nome, eis porque o chamam Ain Soph - sendo que a palavra Ain significa nada. Mas se, de acordo com os judeus antigos, Jeová é o Deus, e Ele Se manifestou muitas vezes a Moisés e aos profetas, e se os cristãos anatematizaram os gnósticos que negaram o fato - como é, então, que lemos no quarto Evangelho que `Nenhum homem viu Deus EM TEMPO ALGUM, mas o Filho unigênito (...) é aquele que o fez conhecer"? [I, 18]. As mesmas palavras dos gnósticos, em espírito e em substância. Essa frase de São João - ou antes de quem escreveu o Evangelho que agora leva o seu nome - derrota todos os argumentos petrinos contra Simão, o Mago, inapelavelmente. As palavras são repetidas e enfatizadas no cap. VI, 46: "Não que alguém tenha visto o Pai, senão só aquele que é de Deus, esse [Jesus] é o que tem visto o Pai" - e é justamente essa objeção que Simão adianta nas Homilias. Essas palavras provam que, ou o autor do quarto evangelho ignorava totalmente a existência das Homilias, ou então que ele não era João, amigo e companheiro de Pedro, que ele contradiz com esta afirmação enfática. Seja como for, essa frase, como muitas outras que poderiam ser citadas com proveito, tende a confundir completamente o Cristianismo com a Gnose oriental e, por conseguinte, com a CABALA.

Ao passo que as doutrinas, o código de ética e as práticas da religião cristã foram adaptadas do Bramanismo e do Budismo, suas cerimônias, vestimentas e cortejos foram tomados em bloco do Lamaísmo. Os mosteiros católicos romanos de monges e de monjas são cópias bastante servis de casas religiosas similares do Tibete e da Mongólia, e exploradores interessados na questão nos países budistas, obrigados a reconhecer esse fato desagradável, não tiveram outra alternativa senão, com um anacronismo que ultrapassou todos os limites, atribuir a ofensa de plágio a um sistema religioso que a sua própria mãe Igreja havia espoliado. Esse estratagema serviu a seu objetivo e teve a sua época. Chegou, finalmente, a hora em que esta página da história dever ser escrita.

 

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