Trataremos nos dois capítulos seguintes das mais importantes seitas secretas cristãs - as chamadas “Heresias”, que se difundiram entre o primeiro e o quarto séculos de nossa era.
Lançando rapidamente a vista nos ofitas e nos nazarenos, passaremos às suas cisões que ainda existem na Síria e na Palestina, sob o nome de drusos do Monte Líbano, e próximo a Basra ou Bassorah, sob o nome de mandeus, ou Discípulos de São João. Todas essas seitas têm uma conexão imediata com o nosso assunto, pois pertencem à família cabalística, tendo outrora abraçado a secreta “Religião da Sabedoria” e reconhecido como Supremo o Deus dos Mistérios do Inefável Nome. Dando notícia dessas numerosas sociedades secretas do passado, iremos compará-las com outras tantas sociedades modernas. Concluiremos com uma rápida análise dos jesuítas, e desse venerável pesadelo da Igreja católica romana - a Franco-maçonaria moderna. Todas essas fraternidades antigas e modernas - excetuada a moderna Franco-maçonaria - estiveram e estão mais ou menos relacionadas com a Magia - tanto prática como teoricamente, e todas elas - sem exceção da Franco-maçonaria - foram e ainda são acusadas de demonolatira, blasfêmia e imortalidade.
Uma após outra, a maré do tempo engolfou as seitas dos primeiros séculos, não deixando subsistir senão uma única em sua integridade primitiva. Esta única existe, ainda ensina a doutrina de seu fundador, ainda exemplifica sua fé em obras de força. As areias movediças que engoliram todas as outras conseqüências da agitação religiosa dos tempos de Jesus, com seus relatos, relíquias e tradições, lhe forneceram terra firme. Expulsos de sua terra natal, seus membros encontraram refúgio na Pérsia, e hoje ainda o viajante ansioso pode conversar com os descendentes diretos dos “Discípulos de João”, que ouviram, nas margens do Jordão, o “homem enviado por Deus” por quem foram batizados e em quem acreditaram. Esse povo curioso, que conta com cerca de 30.000 almas, é erroneamente chamado de “CrisTãos de São João”, mas, na verdade, deveria ser conhecido por seu antigo nome, nazareus, ou pelo novo mandeus.
A designação que se lhes dá de Cristãos é totalmente errônea. Eles não acreditam em Jesus como Cristo, nem aceitam sua expiação, não aderem à sua Igreja e não o reverenciam suas “Escrituras Sagradas”. Nem cultuam ao Deus-Jeová dos judeus e dos cristãos, circunstância que prova naturalmente que seu fundador, João Batista, também não lhe prestava culto. E se assim for, que direito tem ele a um lugar na Bíblia, ou na galeria de retratos dos santos cristãos? Além disso, se Ferho era seu Deus, e se ele foi “um homem enviado por Deus”, deve ter sido enviado pelo Senhor Ferho, e foi em seu nome que ele batizou e pregou. Ora, se Jesus foi batizado por João, a conclusão a que se chega é que ele foi batizado de acordo com a fé do Batista; portanto, também Jesus acreditava em Ferho, ou Faho, como o chamam; tal inferência parece ser corroborada pelo seu silêncio em relação ao nome de seu “Pai”. E por que pareceria ridícula a hipótese de que Faho não é senão uma das muitas corruptelas de Fho, ou Fo, que é o nome pelo qual os tibetanos e os chineses chamam o Buddha? No Norte do Nepal, Buddha é invocado com muito mais freqüência pelo nome Buddha. O livro de Mahâvansa mostra como o trabalho de proselitismo do Budismo se iniciou bastante cedo no Nepal; e a história ensina que os monges budistas invadiram a Síria e a Babilônia no século anterior à nossa era, e que Buddhasp (Nosdhisattva), o pretenso caldeu, foi o fundador do Sabianismo ou batismo.
Qual era o credo dos verdadeiros batistas, al-Mughtasilah, ou nazarenos, explicamo-lo noutras partes, pois eles são os mesmos nazarenos de quem já tanto falamos, e cujo Codex citamos. Perseguidos e ameaçados de aniquilação, eles encontraram refúgio na comunidade nestoriana, permitindo-se assim o serem arbitrariamente classificados como cristãos, mas, assim que a oportunidade se ofereceu, separaram-se e hoje, passados vários séculos, não merecem sequer nominalmente a denominação. Que sejam assim chamados, não obstante, pelos autores eclesiásticos, não é difícil de compreender. Eles conhecem muito bem o Cristianismo primitivo para se ignorá-los por completo, pois testemunhar contra eles com suas tradições, sem o estigma da heresia, viria destruir a confiança no que eles podem dizer.
Não se pode negar-lhe o legado da doutrina batista; suas tradições não apresentam um única falha. O que eles ensinam hoje, seus antecessores ensinaram na própria época em que fizeram sua aparição na história. Eles são os discípulos daquele João que anunciou o advento de Jesus, que o batizou e que declarou que ele (João) não era digno de desamarrar as sandálias . Quando ambos - o Mensageiro e o Messias - estavam no Jordão, e quando o mais velho consagrava o mais jovem - seu próprio primo, também, humanamente falando - os céus se abriram e o Próprio Deus, na forma de uma pomba, desceu num raio de luz sobre o seu “Amado
Filho”! Se esse relato é correto, como podemos explicar a infidelidade dos nazarenos sobreviventes? Longe de acreditar que Jesus era o Filho Único de Deus, eles na verdade afirmaram aos missionários persas, que, no século XVII, foram os primeiros a revelá-los aos europeus, que o Cristo no Novo Testamento era “um falso mestre”, e que o sistema judeu, assim como o de Jesus (?), vieram do reino das trevas ! Quem o saberia melhor do que eles? Onde se podem encontrar testemunhas vivas mais fiéis? Os clérigos cristãos nos querem impingir um Salvador ungindo e anunciado por João, e os discípulos desse mesmo Batista, desde os primeiros séculos, estigmatizaram esse personagem ideal como um impostor, e a seu putativo Pai, Jeová, como “um Deus espúrio”, o Ialdabaôth dos ofitas! Infelizmente para o Cristianismo, o dia virá em que algum destemido e honesto erudito persuadirá seus pares mais velhos a lhe permitirem traduzir o conteúdo dos livros secretos e compilar suas antigas tradições! Uma estranha ilusão faz com que alguns autores pensem que os nazarenos não têm nenhuma outra literatura sagrada, nenhuma outra relíquia literária do que as quatro obras doutrinárias, esse curioso volume repleto de Astrologia e Magia que eles são instados a ler atentamente no pôr-do-Sol (domingo).
Essa busca da verdade conduz-nos, de fato, a caminho tortuosos. Muitos são os obstáculos que a astúcia eclesiástica colocou no caminho de nossa descoberta da fonte primeira das idéias religiosas. O Cristianismo está em julgamento, e assim tem sido desde que a ciência se sentiu bastante, forte para agir como um Promotor Público. A presente obra expõe uma parte do processo. Quantas verdades há nessa Teologia? Através de que seitas elas tem sido transmitida? Donde provém ela primariamente? Para respondê-lo, devemos traçar a história da Religião Mundial, tanto através das seitas cristãs como através das de outras grandes subdivisões religiosas da raça, pois a Doutrina secreta é a Verdade, e a religião que a conservou de forma menos adulterada é a que mais se aproxima do divino.