A Vida Depois da Morte: Princípios

Submitted by Estante Virtual on Mon, 12/12/2011 - 19:54

Nunca se insistirá demais no fato de que não ocorre nenhuma mudança no homem, ao morrer; ao contrario, ele permanece depois da morte exatamente o que era antes, a não ser que já não possua corpo físico. Tem o mesmo intelecto, a mesma disposição, as mesmas virtudes e os mesmos vícios; a perda do corpo físico não faz dele um homem diferente do que o faria a remoção de um sobretudo. Ademais, as condições em que ele se encontra são aquelas que seus próprios pensamentos e desejos criaram para ele. Não há recompensa nem castigo vindos do exterior, mas somente o resultado real do que ele próprio fez e disse e pensou enquanto viveu no mundo físico.

À proporção que seguimos com a nossa descrição da vida astral depois da morte, será observado que os fatos verdadeiros correspondem, com exatidão considerável, à concepção católica do purgatório, e do Hades ou inferno dos gregos.

A idéia poética da morte como um nivelador universal é um simples absurdo nascido da ignorância, porque na realidade na vasta maioria dos casos a perda do corpo físico não faz qualquer diferença no caráter ou intelecto da pessoa e há portanto tantas variedades de inteligência entre os chamados mortos como entre os vivos.

Esse é o primeiro e mais notável fato a observar: depois da morte não há uma vida nova, mas uma continuação, sob certas condições modificadas, da vida presente no plano físico.

Tanto é esse o caso que um homem, ao chegar ao plano astral após a morte física, de forma alguma sabe que está morto; e mesmo quando compreende o que lhe aconteceu, nem sempre, de inicio, compreende em que o mundo astral difere do físico.

Há casos em que as pessoas consideram o próprio fato de ainda estarem conscientes, como prova absoluta de que não morreram; isto se dá, a despeito da muita exaltada crença na imortalidade da alma.

Se um homem jamais tinha ouvido algo sobre o plano astral em sua vida, provavelmente irá sentir-se mais ou menos perturbado pelas condições totalmente inesperadas em que se encontra. Finalmente, aceita essas condições, que não compreende, pensando que são necessárias e inevitáveis.

Observando os novos mundos, ao primeiro olhar ele provavelmente vê muito pouca diferença e supões estar contemplando o mesmo mundo de antes. Conforme vimos, cada grau de matéria astral é atraído pelo grau correspondente de matéria física. Se, portanto, imaginássemos que o mundo físico deixou de existir sem que qualquer outra modificação fosse feita, ainda teríamos uma perfeita réplica daquele mundo na matéria astral. Conseqüentemente, um homem no plano astral ainda vê paredes, mobiliário, pessoas etc., com os quais estava habituado, delineados tão claramente como sempre pelos tipos mais densos de matéria astral. Se, contudo, examinar bem de perto esses objetos, perceberá que todas as partículas são visíveis, em rápido movimento e não apenas invisíveis como no plano físico. Mas, como poucos são os homens que observam de perto, um homem que morre muitas vezes não sabe, de inicio, que houve nele alguma modificação. Assim, muitos deles, especialmente os dos paises ocidentais, acham difícil acreditar que estão mortos, simplesmente porque ainda vêem, ouvem, sentem e pensam. A compreensão do que aconteceu provavelmente se irá esclarecendo aos poucos, conforme o homem descobre que, embora possa ver seus amigos, nem sempre pode comunicar-se com eles. Às vezes dirige-lhes a palavra, mas eles não parecem ouvir; tenta toca-los e percebe que não fez impressão neles. Mesmo então, durante algum tempo, pode persuadir-se de que está sonhando, porque em outras ocasiões, quando seus amigos estão adormecidos, mostram-se perfeitamente conscientes dele e com ele falam como outrora.

Aos poucos o homem começa a compreender as diferenças entre sua vida presente e a que viveu no mundo físico. Por exemplo, depressa compreende que para ele já não existem dor nem cansaço. Descobre também que no plano astral os desejos e os pensamentos expressam-se em formas visíveis, embora essas formas sejam compostas, em sua maior parte, da matéria mais fina daquele plano. E, conforme sua vida continua, tais condições se fazem cada vez mais pronunciadas.

Ademais, embora um homem que está no plano astral não possa, habitualmente, ver o corpo físico de seus amigos, ainda assim pode ver e vê seus corpos astrais e, conseqüentemente, sabe quais são seus sentimentos e emoções. Não será capaz, necessariamente, de seguir em pormenores os acontecimentos de sua vida física; mas terá imediata percepção quanto a sentimentos tais como amor ou ódio, ciúme ou inveja, porque eles se expressarão através dos corpos astrais de seus amigos.

Assim, embora os vivos muitas vezes pensem ter “perdido”o morto, os mortos nem por um só momento estão sob a impressão de que perderam os vivos.

Um homem, de fato, vivendo em seu corpo astral após a morte, é mais fácil e profundamente influenciado pelos sentimentos de seus amigos que estão no mundo físico do que quando estava na terra, porque não tem o corpo físico para abafar suas percepções.

Um homem no plano astral não vê habitualmente toda a contraparte astral de um objeto, mas a porção que pertence ao subplano particular no qual ele se acha em tal momento.

Ademais, um homem de forma alguma reconhece sempre a contraparte astral de um corpo físico, mesmo quando o vê. Habitualmente, precisa de considerável experiência antes de poder identificar com clareza objetos, e qualquer tentativa que faça para tratar com eles tende a ser vaga e imprecisa. Exemplos disso são muitas vezes vistos em casas “assombradas”, onde pedras são atiradas, ou movimentos vagos, incômodos, de matéria física têm lugar.

Freqüentemente, sem compreender que não tem necessidade de trabalhar para viver, comer, dormir etc., um homem, após a morte, continua a preparar e consumir refeições, criadas inteiramente pela sua imaginação, ou chega mesmo a construir uma casa na qual possa viver. Registrou-se um caso em que um homem construiu para si próprio uma casa, pedra por pedra, cada pedra sendo criada, separadamente, pelo seu próprio pensamento. Ele poderia naturalmente, com o mesmo esforço, ter criado toda a casa de uma vez. Eventualmente foi levado a ver que, já que as pedras não tinham peso, as condições eram diferentes das que prevaleciam na vida física, e assim foi induzido a investigar um pouco mais.

Da mesma forma, um homem, novo nas condições da vida astral, continua a entrar e sair de um aposento por uma porta ou uma janela, não compreendendo que pode passar com a mesma facilidade através das paredes. Pela mesma razão, ele caminha sobre a terra, quando poderia muito bem flutuar através do ar.

O homem que durante sua vida terrena tomou conhecimento, pela leitura ou outra forma qualquer, das condições gerais da vida astral, encontra-se, depois da morte, naturalmente em terreno mais ou menos familiar e conseqüentemente não se sente perdido sem saber o que fazer de si mesmo.

Mesmo uma apreciação inteligente do ensinamento oculto sobre o assunto, como a experiência tem indicado, é de grande vantagem para um homem após a morte e chega a ser vantagem para o homem que apenas tenha ouvido falar nas condições da vida astral, mesmo quando tenha considerado tais ensinamentos como uma das muitas hipóteses e não tenha avançado no estudo deles. No caso de outros que não tiveram a fortuna do conhecimento do mundo astral, seu plano melhor é avaliar a sua situação, empenhar-se em ver a natureza da vida que tem diante de si e tratar de fazer dela o melhor uso possível. Além disso fariam bem se consultasse um amigo mais experiente.

As condições de vida a que nos referimos acima constituem o “Kamaloka”, literalmente o lugar ou o mundo de Kama, ou desejo: o Limbo da teoria escolástica. Em termos gerais, Kamaloka é uma região povoada por entidades inteligentes e semi-inteligentes. Está repleta de formas de coisas vivas, tão diferente umas das outras como um fio de capim difere de um tigre e um tigre difere de um homem, existindo naturalmente muitas outras entidades que ali vivem, além dos seres humanos mortos ( ver capítulos XIX e XXI). Essa região interpenetra o mundo físico e é interpenetrada por ele, mas os estados da matéria dos dois mundos, sendo diferentes, eles coexistem sem que as entidades de cada qual sejam conscientes umas das outras. Somente sob circunstâncias anormais a consciência da mútua presença pode surgir entre os habitantes daqueles dois mundos.

Kamaloka divide-se, assim, como localidade distinta, mas é separada do resto do plano astral pelas condições de consciência das entidades que lhe pertencem, sendo essas entidades seres humanos que descartaram seus corpos denso e etérico, mas ainda não se desvencilharam de Kama, isto é, da natureza passional e emocional. Esse estado também é chamado Pretaloka, sendo uma preta um ser humano que perdeu seu corpo físico, mas ainda está oprimido pela vestidura de sua natureza animal.

A condição Kamaloka é encontrada em cada subdivisão do plano astral.

Muitos dos que morrem começam por ficar num estado de considerável inquietação e há outros que sentem um verdadeiro terror. Quando encontram as formas-pensamentos que eles e os seus iguais tem estado a criar durante séculos – pensamentos sobre um demônio pessoal, uma entidade colérica e cruel, e castigo eterno – ficam, com freqüência, reduzidos a um lamentável estado de medo e podem passar longos períodos de agudo sofrimento mental antes que se possam libertar da influencia fatal de tão tolas e supremamente falsas concepções.

Deve-se, contudo, com fraqueza, dizer que é apenas entre as chamadas comunidades protestantes que esse terrível mal assume sua mais grave forma. A grande Igreja Católica Romana, com a sua doutrina do purgatório, aproxima-se muito mais da verdadeira concepção do plano astral e os seus membros; em todo o caso, compreendem que o estado em que se encontram logo depois da morte é apenas temporário e que a eles compete sair desse estado o mais depressa possível, através de intensa aspiração espiritual. Ao mesmo tempo, aceitam o sofrimento com que possam deparar como necessário para apagar as imperfeições de seu caráter, antes de poderem passar para mais altas e brilhantes esferas.

Vemos assim que, embora o homem possa ter sido ensinado, pela sua religião, sobre o que deve esperar e como viver no plano astral, na maioria dos casos tal coisa não foi feita. Conseqüentemente, uma grande quantidade de explicações se faz necessária em relação ao novo mundo em que se encontram. Mas, depois da morte, exatamente como antes dela, há alguns que atingem uma apreciação inteligente do fato da evolução e que, compreendendo algo sobre a sua posição, sabem como tirar proveito dela. Hoje, muitas são as pessoas, “vivas”e “mortas”, que estão empenhadas em cuidar e ajudar os que morreram ignorantes da verdadeira natureza da vida após a morte ( ver capítulo XXVIII, sobre Auxiliares Invisíveis). Infelizmente, contudo, no plano astral como no plano físico, os ignorantes raramente estão dispostos a aproveitar o conselho e o exemplo dos que sabem.

Para o homem que antes de morrer fisicamente já se relacionou com as verdadeiras condições da vida no plano astral, uma das mais agradáveis características daquela vida é a sua tranqüilidade e completa libertação das necessidades imperiosas, tais como comer e beber, que tornam pesada a vida física. No plano astral o homem é realmente livre, livre para fazer o que quiser e passar seu tempo como escolher.

Como já dissemos, um homem que morreu fisicamente está continuadamente recolhendo-se em si próprio. Todo o ciclo de vida e morte pode ser comparado a uma elipse, da qual apenas a porção mais baixa passa para o mundo físico. Durante a primeira parte desse ciclo, o ego se está adiantando para a matéria; o ponto central da curva deve ser o ponto médio na vida física, quando a força do ego alcançou o máximo de sua expansão e se volta para começar o longo processo de recolhimento.

Assim, cada encarnação física pode ser vista como uma projeção do ego, cujo habitat é a parte mais alta do plano mental, dirigida para planos inferiores. O ego põe fora a alma, como se ela fosse um investimento, e espera que esse investimento traga de volta um acréscimo de experiência, que deverá desenvolver nele novas qualidades.

O trecho da vida após a morte, passada no plano astral, é portanto o do período de recolhimento para a volta ao ego. Durante a última parte da vida física do homem, seus pensamentos e interesses são cada vez menos dirigidos para os assuntos meramente físicos: da mesma for, durante a vida astral, ele dá menos atenção à matéria astral inferior, da qual são compostas as contrapartes dos objetos físicos, e ocupa-se com matéria superior, da qual são feitas as formas-pensamentos e as formas-desejos. Não se trata de ter ele mudado sua localização no espaço (embora isso seja, parcialmente, uma verdade, conforme se vê no capítulo XVI), mas de ter mudado o centro de seus interesses. Por isso, a contraparte do mundo físico que ele deixou vai aos poucos se apagando de sua visão, e sua vida se torna, cada vez mais, uma vida no mundo do pensamento. Seus desejos e emoções ainda persistem e, conseqüentemente, devido à facilidade com que a matéria astral obedece aos seus desejos e pensamentos, as formas que o rodeiam serão, e muito amplamente, a expressão de seus próprios sentimentos, cuja natureza determina principalmente a felicidade ou o desconforto de sua vida.

Embora não estejamos tratando, neste livro, do trecho da vida após a morte, que é passado no “mundo celestial”, isto é, no plano mental, ainda assim, a fim de que se compreenda inteiramente o que está acontecendo ao corpo astral no plano astral, é aconselhável lembrar que a vida astral é, em grande extensão, um estagio intermediário no ciclo completo da vida e da morte, uma preparação para a vida no plano mental.

Conforme vimos, logo depois da morte física o corpo astral se liberta: se o dissermos do ponto de vista da consciência, diremos que Kama-Manas foi libertada. Dela, aquela porção de manas-inferior, que não está intimamente entretecida com Kama, aos poucos se liberta, levando consigo as experiências apropriadas a serem assimiladas pelo corpo mental superior.

Entrementes, aquela porção de manas inferior que ainda permanece entretecida com Kama dá ao corpo astral uma consciência mais ou menos confusa, memória fragmentada dos acontecimentos da vida que acaba de se encerrar. Se as emoções e paixões foram fortes e o elemento mental fraco, então o corpo astral será fortemente energizado e persistirá por muito tempo no plano astral. Mostrará, também, bastante consciência, por causa da matéria mental que está entretecida nele. Se, por outro lado, a vida terrena que acaba de findar foi antes caracterizada pela mentalidade e pureza do que pela paixão, o corpo astral ficara pouco energizado, não passará de um pálido simulacro do homem e se desintegrará, perecendo com relativa rapidez.

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