No artigo sobre o campo de evolução, citei um trecho encontrado na Doutrina Secreta, mais especificamente no livro 1, na parte dos comentários sobre as estâncias. Vou colocá-lo aqui, agora na íntegra, pois ele toca em um assunto que está no âmago de todo o nosso estudo:
"Levanta a cabeça, Ó Lanu! Vês uma luz ou luzes inumeráveis por cima de ti, brilhando no céu negro da meia-noite?"Eu percebo uma chama, ó Gurudeva! Vejo milhares de centelhas não destacadas, que nela brilham."Dizes bem. E agora observa em torno de ti, e dentro de ti mesmo. Essa luz que arde no teu interior, porventura a sentes de alguma maneira diferente da luz que brilha em teus irmãos humanos?"Não é de modo algum diferente, embora o prisioneiro continue seguro pelo Carma e as suas vestes externas enganem os ignorantes, induzindo-os a dizer: Tua Alma e Minha Alma."
Lembro-me de que, ainda bastante jovem, uma frase chamou minha atenção. "Nenhum homem pode olhar para a face de Deus e sobreviver". É uma passagem da bíblia (Ex 33:20), embora eu só tenha confirmado isso pouco tempo atrás. Independente do significado pretendido para essa passagem, ela disparou uma série de "momentos filosóficos" em minha mente adolescente.
Por exemplo, eu costumava divagar a respeito do que significava a "expansão de consciência" normalmente associada ao processo evolutivo espiritual, e em última instância chegando à onisciência divina. E cheguei a conclusão de que, para viver no mundo físico, nossa consciência se focou em um ponto muito pequeno, de forma a dar atenção a todos os mínimos detalhes associados a nossa subsistência. Nossa atenção é normalmente dedicada integralmente a esse único ponto de vista. Olhamos, a partir dele, para o mundo ao nosso redor, e assim nos dirigimos para a escola, para o trabalho, estudamos para a prova, escovamos os dentes, e de forma geral "tocamos a vida". Reparem nesse último parágrafo como todas as frases tem um sujeito bem definido, um ator para cada ação. A existência desse "ator" tão claramente definido é reflexo de nossa consciência estar centrada nessa pequena quantidade de matéria a que chamamos "corpo físico". O corpo físico é o foco da consciência, que se desloca de forma imperfeita nos veículos igualmente limitados do corpo emocional e mental.
Ao longo do nosso crescimento espiritual, começamos a notar a sutil transferência do foco dessa consciência, das necessidades de nosso corpo físico para as necessidades de outros corpos físicos. Não é mais apenas o nosso corpo que serve de referência para experimentar o mundo; as dores e alegrias vivenciadas por nossos familiares, e mesmo de alguns amigos mais próximos, nos afetam diretamente, e buscamos suprir suas necessidades e alimentar seu bem estar. Mais a frente, mesmo as dificuldades encontradas por pessoas menos próximas começam a ser "sentidas" como dificuldades nossas. Elas nos incomodam, como se estivessem afetando negativamente nossa própria "estadia" neste plano. E com isso, nos movimentamos para tentar minimizar essas dificuldades tidas como alheias.
Chega um momento em que percebemos que as dores, injustiças e realizações até de nossos animais de estimação são importantes para nós. E depois, as de outros animais. E de seres vivos em geral. No fundo, a vida passa a ser uma coisa única, e literalmente a dor de qualquer ser vivo se torna nossa dor. Nosso ponto de referência para as experiências vividas se transfere, lentamente, de nosso próprio corpo para os corpos de cada vez mais seres vivos.
Quando provocada pelo nosso crescimento espiritual, essa empatia é um sintoma de um fato extremamente interessante. Ela é provocada pela sutil transferência do foco de nossa consciência do corpo físico para o corpo astral e mental, e em alguns casos mesmo para planos acima destes. Quanto mais nos "afastamos" de nosso corpo físico (por favor, espero que ninguém deixe de tomar banho por causa disso - esse afastamento não significa negligência com o corpo físico!), menos focados em nossa personalidade "individual" ficamos.
Pensem a respeito dessa última afirmação, tendo em mente exemplos como o de Madre Teresa de Calcutá. Ela dedicou sua vida inteira a cuidar de quem quer que aparecesse, dizendo que via em qualquer ser humano o próprio Cristo, e tratar deles era como tratar o próprio Cristo. Em grande parte, ela anulou a própria personalidade para conseguir fazer isso. Sua vida não foi centrada em si mesma: foi centrada nas vidas de todos que ela pode alcançar. Note a relação que forçosamente existe entre essas duas coisas: quanto mais nos focamos em outras vidas, menos conseguimos nos focar em "nossa" própria vida (de novo, isso não deve ser confundido com negligência em relação à nosso corpo). É bastante óbvio, mas é um ponto que é importante percebermos claramente.
Vamos dar mais um passo nesse raciocínio. Até agora, falamos de um punhado de pessoas, em situações onde nossa personalidade ainda se mantém como o fio condutor entre todas as ações. As ações ainda partem da personalidade, por assim dizer. Mas suponha, por um instante, que a consciência se eleve acima dos três veículos da personalidade, e portanto não tenha mais nenhuma preocupação diretamente vinculada a manutenção desses corpos. Simultaneamente, suponha que esse processo de abarcar cada vez mais vidas dentro do foco dessa consciência continuou a ocorrer, e atingiu proporções ainda maiores devido ao fato do foco não estar mais na personalidade. Como notamos anteriormente, forçosamente a "consciência do eu", a atenção na individualidade tem que diminuir ainda mais. Nesse ponto, eu me perguntei: "até onde essa individualidade pode sobreviver ao processo de abarcar mais e mais vidas dentro de nossa consciência - um processo que, por definição, pode ser chamado de expansão da consciência?". Volto a essa pergunta em instantes.
Então percebi que muitas pessoas podiam viver o mesmo processo. "E se, ", me perguntei, "mais um indivíduo estivesse expandindo sua consciência dessa forma, e uma das vidas que ele tocasse fosse a minha? E eu tocasse a dele?". Nossas consciências estariam de certa forma se fundindo. "Eu percebo uma chama, ó Gurudeva! Vejo milhares de centelhas não destacadas, que nela brilham." Lanu explica com perfeição esse conceito usando a imagem dada no texto citado. Nossas consciências começam a se interpenetrar, mais e mais, na medida em que nos direcionamos para a evolução do espírito, que transcende até mesmo nossa existência humana, considerando todas as encarnações que tivemos e teremos (afinal, chega um ponto em que abandonamos até mesmo nosso corpo causal). E mais que isso, nossas consciências começam a se tornar mais uma consciência de grupo do que uma consciência individual. Imagino que, no "final" desse processo, a individualidade simplesmente deixe de existir.
E o que entendemos como "vida", afinal, senão a consciência restrita aos veículos de nossa personalidade? Partindo desse entendimento limitado, realmente é impossível "olhar para a face de Deus" e manter nosso eu individualizado. No momento em que é possível "olhar para a face de Deus", já não mais existimos dessa forma!
Os anos se passaram, e eu vi um desenho em um livro do Arthur Powell. Vou reproduzir ele aqui:
Esse desenho representa o Logos, em Adi, e os raios que partem dali são as mônadas, e consequentemente nossa consciência. Notem que no plano físico elas estão bastante separadas, mas no astral e no mental elas começam a ficar mais largas e se aproximar. Já no plano búdico, elas se tocam, e começam cada vez mais a se interpenetrar, até que em anupadaka/adi são uma coisa só. Certamente é uma imagem didática, e que reforça a importância do grupo, sobre a qual escrevi algum tempo atrás.
O objetivo último de nosso desenvolvimento não é a personalidade. Quanta entrega isso representa! Todo o trabalho executado nesta vida é praticado pela personalidade. Por isso é essencial buscarmos sempre o vínculo com nossa Alma, com a nossa Tríade Superior. Sem esse alinhamento, terminamos por direcionar nossos esforços para o benefício exclusivo da personalidade - e quem poderia dizer que isso é errado? Como entidades reencarnantes, pode não ser o mais adequado ou o mais proveitoso, porém certamente é compreensível. Devemos, pois, buscar esse alinhamento, e a partir do bem estar e da clareza encontrados neste contato, nos suprir de força e determinação para o trabalho.
E se possível, aqui e ali, estender a mão uns aos outros. Quão mais simples será nossa caminhada quando nos lembrarmos disso com mais frequência...
Ilusões e Individualidade
Um holograma é, na prática, um imenso enredamento de formas. O universo holográfico, paralelamente a todas essas considerações filosóficas, acha-se nas cogitações da ciência mais ortodoxa. Quando um pesquisador abre o crânio de um cadáver a fim de estudar o cérebro em sua intimidade anatômica, apenas consegue ver a holografia que o seu próprio cérebro gera sobre o que seja um... cérebro... Enfim, uma estrutura de hardware que interpreta tudo e tudo a partir de impulsos elétricos é utilizada para entender, a partir dos impulsos interpretados, como essa estrutura funciona... Nem a mais brilhante engenharia reversa permite imaginar que isso pode dar certo...
O mais árduo e doloroso para cada um de nós, talvez, seja concordar que somos construtos fictícios de um imenso enredamento de formas, com uma pequena parcela deprocessamento de dados. Algo assim como terminais muito restritos, com um chip de potencial mínimo apenas capacitado a perceber e saber-se existente no seio de uma inimaginável rede que, na grande maioria das vezes, não pode ser inteligida pelo terminal...
Sobre a Ilusão da Individualidade
Muita Paz para todos.
Estive estudando e refleti sobre a Quinta força que nos vem de ATMA (ou) EN SOF AOUR como é dirigida o que antecede a Creação do TODO, Abençoado Seja! Essa Quinta Força que está e se localiza no Coração e que nos vem pelo Centro Psíquico (Cardíaco)Tiátira, me confirma que o propósito de estar aqui no físico com uma parcela de vida Individualidade seja em parte necessária para que tomemos consciência do que fizemos em nosso Karma/Darma anteriores. Mas é só para concerto e localização em que espécie estamos. Mas quando usamos essa energia "V" a Quinta Força então nos preenchemos de tamanha Luz que enchergamos como um ponto LUZ para além da Individualizade e fazendo parte de algo maior.
Amei este assunto. Ritabelhabahia
Saudações a todos!
Saudações a todos!
Esta reflexão fez-me lembrar de um certo livro,exatamente um trecho específico,deixo aqui como complemento da discursão
Excerto de O Lobo da Estepe-Hermann Hesse
[...]
E se em algumas almas humanas, singularmente dotadas e de percepção sensível, se levanta a suspeita de sua composição múltipla, e, como ocorre aos gênios, rompem a ilusão da unidade personalística e percebem que o ser se compõe de uma pluralidade de seres como um feixe de eus, e chegam a exprimir essa idéia, então imediatamente a maioria as prende, chama a ciência em seu auxílio, diagnostica esquizofrenia e protege a Humanidade para que não ouça um grito de verdade dos lábios desses infelizes. Então, para que perder aqui palavras, por que expressar coisas que todos aqueles que pensam conhecem por si mesmos, quando sua simples enunciação é uma nota de mau gosto? Assim, pois, se um homem se aventura a converter numa dualidade a pretendida unidade do eu, se não é um gênio, é em todo caso uma rara e interessante exceção. Mas na realidade não há nenhum eu, nem mesmo no mais simples, não há uma unidade, mas um mundo plural, um pequeno firmamento, um caos de formas, de matizes, de situações, de heranças e possibilidades. Cada indivíduo isolado vive sujeito a considerar esse caos como uma unidade e fala de seu eu como se fora um ente simples, bem formado, claramente definido; e a todos os homens, mesmo aos mais eminentes, esse rude engano parece como uma necessidade, uma exigência da vida, como o respirar e o comer.
O equívoco reside numa falsa analogia. Todo homem é uno quanto ao corpo, mas não quanto à alma.