Depois que as causas que levaram o ego ao devacan se esgotaram e as experiências reunidas foram totalmente assimiladas, ele começa a sentir novamente sede da vida sensível, material, que só pode ser usufruída no plano físico. A essa sede os hindus chamam trishna.
Isso deve ser considerado em primeiro lugar como um desejo de expressão e em segundo lugar como um desejo de receber aquelas impressões externas que são as únicas a levá-lo a capacitar-se de que está vivo. Essa é a lei da evolução.
Thishna aparece para operar através de kama, que, para o individuo como para o Cosmos, é a causa primária da reencarnação.
Durante o repouso devacânico, o ego esteve livre de qualquer dor ou desgosto, mas o mal que tinha feito na vida anterior se conservou num estado, não de morte, mas de animação suspensa. As sementes das más tendências passadas começam a germinar assim que a nova personalidade se vai formando para a nova encarnação. O ego tem de carregar a carga do passado, chegando os germens ou sementes como colheita da vida passada, que os budistas chamam skndhás
Kama, com seu exército de Skandhas, espera assim no limiar do devacan quando o ego torna a emergir a fim de assumir uma nova encarnação. Os skandhas consistem em qualidades materiais, sensações, idéias abstratas, tendências mentais, poderes mentais.
O processo é realizado através do ego, que volta a sua atenção primeiro para a unidade mental, que imediatamente assume a sua atividade, e depois para o átomo permanente astral, no qual coloca a sua vontade.
As tendências que, conforme vimos, estão em estado de animação suspensa, são exteriorizadas pelo ego quando retorna ao nascimento e reúnem em torno de si primeiro a matéria do plano mental e também essência elemental do segundo grande reino, que expressam exatamente o desenvolvimento mental que o homem ganhou ao fim da sua última vida celestial. Ele começa, assim, a esse respeito, exatamente onde parou.
A seguir, ele atrai para si matéria do mundo astral e essência elemental do terceiro reino, obtendo assim as matérias com as quais o novo corpo astral será construído, e causando o reaparecimento dos apetites, emoções e paixões que trouxe de suas vidas passadas.
A matéria astral é reunida pelo ego que desce para o renascimento, não conscientemente, como é natural, mas automaticamente.
Esse material é, ademais, uma reprodução exata da matéria no corpo astral do homem ao fim de sua vida astral. O homem, assim, reassume sua vida em cada mundo, tal como onde a deixou da última vez.
O estudante reconhecerá, no que ficou dito acima, uma parte dos trabalhos da lei kármica, na qual não precisamos entrar no presente volume. Cada encarnação é inevitável, automática e justamente vinculada às vidas precedentes, de forma que a série toda forma uma corrente contínua, ininterrupta.
A matéria astral assim reunida em torno do homem não é ainda formada como um corpo astral definido. Toma em primeiro lugar o feitio daquele ovóide que é a expressão mais aproximada que podemos compreender da verdadeira forma do corpo causal. Assim que o corpo físico do bebê está formado, a matéria física exerce violenta atração sobre a meteria astral que estava antes bastante igualmente distribuída sobre o ovóide e concentra assim o maior volume dela dentro da periferia do corpo físico.
À proporção que o corpo físico cresce, a matéria astral acompanha cada modificação e 99 por cento dela se concentra dentro da periferia do corpo físico, apenas um por cento enchendo o resto do ovóide e constituindo a aura, tal como vimos num capítulo anterior.
O processo da reunião de matéria em torno do núcleo astral às vezes tem lugar rapidamente e às vezes causa longos atrasos. Quando se completa, o ego fica envolvido na vestidura kármica que preparou para si próprio, pronto para receber dos Senhores do karma o duplo etérico, no qual, como em um molde, o novo corpo físico será construído.
As qualidades do homem não entram em ação, de início. São simples germes de qualidades, que garantiram para si um possível campo de manifestação na matéria dos novos corpos. Se nesta vida se desenvolveram com as mesmas tendências da última, isso dependerá amplamente do encorajamento, ou ao contrário, do que lhes for dado pelo ambiente da criança durante seus primeiros anos. Quaisquer delas, boas ou más, podem ser facilmente estimuladas à atividade pelo encorajamento, ou, por outro lado, podem deperecer pela carência desse mesmo encorajamento. Se estimuladas, tornam-se desta vez um fator mais poderoso na vida do homem do que foram na existência anterior. Se sofrerem deperecimento, permanecem apenas como gérmem estéril, que acaba por atrofiar-se e morrer, e não faz seu aparecimento, absolutamente, nas encarnações que se sucederem.
Não se pode dizer que a criança já tenha um corpo mental definido ou um definido corpo astral, mas tem, em torno e dentro de si, o material de que ambos são feitos.
Assim, por exemplo, suponhamos que um homem tenha sido um ébrio em sua vida passada: em kamaloka ele queimaria o desejo da bebida e se libertaria definitivamente dela. Mas, embora o desejo em si mesmo esteja morto, ainda permanece a mesma fraqueza de caráter que tornou o fato desse homem ser subjugado por ele. Na próxima vida seu corpo astral conterá matéria capaz de dar expressão a esse mesmo desejo, mas ele não é de forma alguma forçado a usar tal matéria da mesma maneira como a usou antes. Nas mãos de pais cuidadosos e capazes, na verdade, sendo educado para ver tais desejos como maus, ele ganhará controle sobre eles, irá reprimi-los ao aparecerem, e assim a matéria astral permanecerá sem vivificação e se tornará atrofiada por falta de uso. Devemos recordar que a matéria do corpo astral está lenta mas constantemente se desgastando e sendo substituída, precisamente como a do corpo físico e, conforme a matéria atrofiada desaparece, será substituída por matéria de ordem mais refinada. Assim os vícios são finalmente dominados e tornados virtualmente impossíveis para o futuro, com o estabelecimento da virtude oposta, a do autocontrole.
Durante os primeiros anos da vida de um homem, o ego pouco domínio tem sobre seus veículos, e ele portanto espera que seus pais o ajudem a obter um domínio maior, fornecendo-lhe as condições apropriadas para isso.
É impossível exagerar a plasticidade desses veículos ainda não formados. Muito do que se pode fazer como o corpo físico nos primeiros anos, como no caso de crianças treinadas para acrobatas, por exemplo, não é tanto como o que se pode fazer com os veículos mental e astral. Eles se excitam em resposta a todas as vibrações que os tocam e são ansiosamente receptivos a todas as influências, boas ou más, que emanam daqueles que os rodeiam. Ademais, embora na primeira juventude sejam tão suscetíveis e tão facilmente moldados, depressa se afirmam e endurecem, adquirindo hábitos que, uma vez firmemente estabelecidos, só com grande dificuldade podem ser alterados. Assim, numa extensão bem maior do que é comprendido mesmo pelos mais afetuosos pais, o futuro da criança está sob seu controle.
Só o clarividente sabe como o caráter de uma criança progrediria, enorme e rapidamente, se ao menos o caráter dos adultos fosse melhor.
Um exemplo muito impressionante é registrado no caso em que a brutalidade de um professor lesou irreparavelmente os corpos de uma criança, tornando impossível para ela, nesta vida, fazer todo o progresso que para ela se esperava.
Tão vitalmente importante é o primeiro ambiente de uma criança, que a vida em que o adeptado é conseguido deve ter ambiente absolutamente perfeito na infância.
No caso de mônadas de classe inferior com corpos astrais excepcionalmente fortes e que reencarnam após curto intervalo, acontece às vezes que a sombra ou cascão que deixaram da última vida astral ainda persistem e, neste caso, inclinam-se a ser atraídos para a nova personalidade. Quando tal coisa se dá, traz consigo fortemente os velhos hábitos e as velhas maneiras de pensar e às vezes mesmo a lembrança da vida passada.
No caso do homem que levou vida tão má a ponto de seus corpos mental e astral se destacarem do ego depois da morte, o ego, não tendo corpos nos quais viver nos mundos astral e mental, deve formar novos corpos rapidamente. Quando os novos corpos astral e mental são formados, a afinidade entre eles e os antigos, que ainda não se desintegraram, afirma-se, e os velhos corpos astral e mental tornam-se a forma mais terrível do que é conhecido como “morador do umbral”.
No caso extremo de um homem que volta para o renascimento, e que, pelos apetites viciosos, ou ao contrário, formou vínculo forte com qualquer tipo de animal, ele pode ser vinculado, por afinidade magnética, ao corpo astral do animal cujas qualidades ele encorajou, e tornar-se um prisioneiro do corpo físico desse animal. Assim encadeado, não pode seguir em direção ao renascimento: está consciente no plano astral, tem suas faculdades humanas, mas não pode controlar o corpo do bruto com o qual se relacionou, nem se expressar através daquele corpo no plano físico. O organismo animal não é, assim, um carcereiro, mais do que um veículo. A alma animal não é ejetada, mas permanece como proprietária adequada e controladora de seu próprio corpo.
Tal aprisionamento não é reencarnação, embora seja fácil ver que casos dessa natureza explicam, pelo menos parcialmente, a crença frequentemente encontrada nos países orientais de que o homem pode, sob certas circunstancias, reencarnar num corpo de animal.
Nos casos em que o ego não se degradou o bastante para o aprisionamento absoluto, mas nos quais o corpo astral está fortemente animalizado, é possível passar, normalmente, para a reencarnação humana, mas as características animais serão amplamente reproduzidas no corpo físico – como testemunham as pessoas que têm às vezes o rosto de um porco, de um cão etc. O sofrimento que isso traz para a entidade humana consciente, assim temporariamente afastada do progresso e da auto-expressão, é muito grande, embora naturalmente reformatório em sua ação. É sofrimento de certa forma similar ao suportado por outros egos, que estão ligados a corpos humanos com cérebros doentes, isto é, idiotas, lunáticos etc., embora a idiotia e a loucura sejam os resultados de outros vícios.