Agora temos que aplicar estes princípios gerais a exemplos concretos, para vermos como eles explicam e justificam os ritos sacramentais encontrados em todas as religiões.
Será suficiente se tomarmos três exemplos dentre os Sete Sacramentos usados na Igreja Católica. Dois são reconhecidos como obrigatórios por todos os Cristãos, embora certos Protestantes extremistas neguem seu caráter sacramental, dando-lhes um valor declaratório e mnemônico apenas, em vez de sacramental; mas mesmo entre eles o coração da verdadeira devoção ganha algo da bênção sacramental que a cabeça nega. O terceiro não é reconhecido nem nominalmente como um Sacramento pelas Igrejas Protestantes, embora ele apresente os sinais essenciais de um Sacramento, como apresentado na definição do já citado Catecismo da Igreja da Inglaterra.
O primeiro é o do Batismo; o segundo o da Eucaristia; o terceiro é o do Matrimônio. A colocação do Matrimônio fora da dignidade de Sacramento tem degradado muito seu elevado ideal, e tem levado a muito do afrouxamento de seu laço, o que os homens esclarecidos deploram.
O Sacramento do Batismo é encontrado em todas as religiões, não só na entrada na vida terrena, mas mais geralmente como uma cerimônia de purificação. A cerimônia que admite o recém-nascido - ou o adulto – numa religião tem um borrifar de água como parte essencial do rito, e isto era tão universal nos dias de antanho como o é hoje. O Rev. Dr. Giles assinala: "A idéia de se usar água como emblema da purificação espiritual é tão óbvia que não nos surpreendemos da antigüidade deste rito. O Dr. Hyde, em seu tratado sobre a Religion of the Ancient Persians, cap. XXXIV, p. 406, conta-nos que ele prevaleceu entre aquele povo. Eles não usam a circuncisão para as suas crianças, mas apenas o batismo, ou lavagem para a purificação da alma. Eles levam a criança ao sacerdote no templo, e colocam-na defronte ao sol e ao fogo, e quando a cerimônia se encerra eles olham para a criança como estando mais sagrada do que antes. Lord diz que eles trazem a água para este propósito na casca do Azevinho; esta árvore é de fato o Haum dos Magos, do qual falamos antes em outra ocasião. Algumas vezes também isto é feito de outra forma, imergindo a criança em uma grande recipiente com água, como nos conta Tavernier. Depois desta lavagem, ou batismo, o sacerdote impõe á criança o nome dado pelos pais" (Christian Records, p. 129). Poucas semanas depois do nascimento de uma criança Hindu se celebra uma cerimônia, parte da qual consiste em borrifar a criança com água - tal borrifamento entra em todo o culto Hindu. Willimason cita autoridades confirmando a prática do Batismo no Egito, Pérsia, Tibete, Mongólia, México, peru, Grécia, Roma, Escandinávia e entre os Druidas (The Great Law, pp. 161-166). Algumas das preces citadas são muito belas: "Eu rezo para que esta água celestial, azul e azul clara, possa entra em teu corpo e ali viver. Eu rezo para que ela possa destruir em ti todas as coisas malignas e adversas que te foram dadas antes do início do mundo". "Oh criança, recebe a água do Senhor do mundo, o qual é a nossa vida: ela é para limpar e para purificar; possam estas gotas remover o pecado que te foi imposto antes da criação do mundo, uma vez que todos nós estamos sob o seu jugo".
Tertuliano menciona o mesmo uso geral do Batismo entre as nações não-Cristãs em uma passagem já citada, e outros Padres da Igreja também se referem a isto.
Na maioria das comunidades religiosas uma forma menor do Batismo acompanha todas as cerimônias, sendo usada água como símbolo de purificação, sendo a idéia de que nenhum homem deveria entrar no culto antes que purificasse seu coração e consciência, sendo que a lavagem externa simbolizava a lustração interior. Nas Igrejas Grega e Romana é colocado um pequeno receptáculo para água benta perto de cada porta, e todo fiel que entra toca nela, fazendo com ela em si mesmo o sinal da cruz antes de seguir em direção ao altar. Sobre isto Robert Taylor assinala: "As fontes batismais em nossas igrejas Protestantes, e não precisamos dizer mais especificamente as pequenas cisternas na entrada de nossas capelas Católicas, não são imitações, mas uma continuação jamais interrompida da mesma acqua minaria, ou amula, que o erudito Montfaucon, em sua Antiquities, demonstra terem sido vasos de água santificada, que eram colocados pelos pagãos na entrada de seus templos para borrifarem a si mesmos ao entrarem naqueles edifícios sagrados" (Diegesis, p. 219).
Seja no Batismo da recepção inicial na Igreja, ou nestas lustrações menores, o agente material empregado é a água, o grande fluido limpador na Natureza, e portanto o melhor símbolo para a purificação. Sobre esta água é pronunciado um mantra, no ritual inglês representado pela oração "Santifica esta água para a mística limpeza do pecado", concluindo com a fórmula "Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amen". Esta é a Palavra de Poder, e ela é acompanhada pelo Sinal de Poder, o Sinal da Cruz executado sobre a superfície da água.
A Palavra e o Sinal dão à água, como se explicou antes, uma propriedade que antes ela não possuía, e corretamente é chamada de "água benta". Os poderes das trevas não se aproximam dela; borrifada sobre o corpo dá uma sensação de paz, e transmite nova vida espiritual. Quando uma criança é batizada, a energia espiritual dada pela água pela Palavra e pelo Sinal fortalecem a vida espiritual na criança, e então a Palavra de Poder é dita novamente, desta vez sobre a criança, e o Sinal é traçado sobre sua testa, e nos seus corpos sutis são sentidas as vibrações, e os apelos para que seja guardada a vida assim santificada ecoam nos mundos invisíveis; pois este Sinal é ao mesmo tempo purificador e protetor - purificador pela vida que é derramada através dele, protetor pelas vibrações que suscita nos corpos sutis. Estas vibrações formam um muro protetor contra os ataques de influências hostis nos mundos invisíveis, e toda a vez que a Palavra é pronunciada e feito o Sinal, a energia é renovada, as vibrações são reforçadas, ambas sendo reconhecidas como potentes nos mundos invisíveis, e trazendo auxílio para o operador.
Na Igreja primitiva, o Batismo era precedido de uma preparação muito cuidadosa, sendo aqueles admitidos á Igreja principalmente conversos de outros credos. Um converso passava por três estágios definidos de instrução, ficando em cada estágio até que tivesse dominado seus ensinamentos, e então era admitido na Igreja pelo Batismo. Sé depois que lhe era ensinado o Credo, que não se encontrava por escrito, nem mesmo era repetido na presença dos não-crentes; Isto seria então como um sinal de reconhecimento, e como uma prova da posição do homem que era capaz de recitá-lo, mostrando que ele era um membro batizado da Igreja. O quão verdadeiramente naqueles dias se acreditava na graça veiculada pelo Batismo é demonstrado pelo costume que se propagou do Batismo no leito de morte. Acreditando na realidade do Batismo, homens e mulheres, que não queriam abandonar seus prazeres ou manter suas vidas livres de mancha, protelavam o rito do Batismo até que a mão da Morte estava sobre eles, de modo que poderiam se beneficiar da graça sacramental e passar pelo portão da Morte puros e limpos, cheios de energia espiritual. Contra este abuso lutaram alguns Padres da Igreja, e com eficácia.
Existe uma original história contada por um deles, acho que por Santo Atanásio, que era um homem de uma verve cáustica, não avesso ao uso do humor para fazer seus ouvintes entenderem a ocasional tolice ou perversidade de seu comportamento. Ele contou à sua congregação que ele havia tido uma visão, e que havia ido até a porta do céu, onde estava São Pedro como Porteiro. Ele não deu nem um sorriso de boas-vindas ao visitante, mas demonstrou declarado aborrecimento. "Atanásio", disse ele, "por que está sempre me enviando estas sacolas vazias, cuidadosamente seladas, com nada por dentro?" Este é um dos penetrantes ditados que encontramos na antigüidade Cristã, quando estas coisas eram reais para os homens Cristãos, e não meras formalidades, como hoje em dia tão amiúde se tornaram.
O costume do Batismo infantil gradualmente cresceu na Igreja, e daí a instrução que antigamente precedia o Batismo passou a ser a preparação da Confirmação, quando a mente e a inteligência despertas se erguem e confirmam as promessas batismais. A recepção do infante na Igreja é vista como sendo efetuada corretamente quando a vida do homem é reconhecida como ocorrendo nos três mundos, e quando o Espírito e a Alma que vieram habitar o corpo recém-nascido são sabidos não estarem mais em um estado de inconsciência e desinteligência, mas sim conscientes, inteligentes e potentes nos mundos invisíveis. É correto e justo que o "Homem Oculto no coração (I Pedro, III, 4) deva ser bem acolhido ao novo estágio de sua peregrinação, e que as mais auxiliadoras influências devam ser levadas a atuar no veículo que ele há de habitar, e que ele tem de moldar para seu serviço. Se os olhos dos homens estivessem abertos, como estavam os do antigo servo de Eliseu, eles ainda veriam os cavalos e as carruagens de fogo reunidas na montanha onde estava o profeta do Senhor (II Reis, VI, 17).
Passamos ao segundo dos Sacramentos selecionados para estudo, o do Sacrifício da Eucaristia, um símbolo do Sacrifício eterno já explanado, o sacrifício diário da Igreja Católica por todo o mundo espelhando o Sacrifício eterno pelo qual os mundos são feitos, e pelo qual são eternamente mantidos. deve ser oferecido diariamente, assim como o seu arquétipo existe perpetuamente, e naquele ato os homens tomam parte na operação da Lei do Sacrifício, identificam-se com ele, reconhecem sua natureza obrigatória e unificante, e se associam voluntariamente nele em sua atuação nos mundos; nesta identificação, é necessário compartilhar da parte material do Sacramento, a fim de a identificação ser completa, mas muitos dos benefícios também podem ser compartilhados, e a influência que se espalha para os mundos pode ser aumentada, se os adorantes devotos se associarem ao ato mentalmente, embora não fisicamente.
Esta grande função do culto Cristão perde sua força e significado quando é considerada nada mais que uma mera comemoração de um sacrifício passado, como uma alegoria figurada sem uma verdade profunda que o anime, como uma partilha do pão e do vinho sem uma participação no Sacrifício eterno. Vêla assim é torná-la uma mera concha, uma imagem morte em vez de uma realidade viva. "A taça de bênção que bendizemos, não é a comunhão do sangue de Cristo?", pergunta o Apóstolo. "O pão que dividimos, não é a comunhão do corpo de Cristo?" (I Coríntios, X, 16). E ele prossegue para assinalar que todos os que comem de um sacrifício se tornam partícipes de uma natureza comum, e são reunidos num só corpo, que está unido a e participa da natureza do Ser que está presente no sacrifício. Aqui está envolvido um fato do mundo invisível, e ele fala com a autoridade do conhecimento. Seres invisíveis derramam sua essência nos materiais usados em qualquer rito sacramental, e aqueles que compartilham destes materiais - que são assimilados pelo corpo e passam a fazer parte de seus constituintes - são por isso unidos àqueles cuja essência está neles, e todos compartilham de uma mesma natureza. Isto é verdade até mesmo quando tomamos comida normal da mão de outrem - parte de sua natureza, de seu magnetismo vital, se mistura aos nossos; quão mais verdadeiro então quando a comida foi solene e intencionalmente impregnada com magnetismo superior, que afetará os corpos sutis assim como o físico. Se entendermos o significado e uso da Eucaristia devemos compreender estes fatos dos mundos invisíveis, e deveremos ver nela um elo entre o terreno e o celeste, bem como um ato de adoração universal, uma co-operação, uma associação, com a Lei do Sacrifício, senão ela perde grande parte de sus significância.
O emprego do pão e do vinho como materiais para este Sacramento – como ouso da água no sacramento do Batismo - é de uso muito antigo e geral. Os persas ofereciam pão e vinho para Mitra, e oferendas similares eram feitas no Tibete e na Tartária. Jeremias fala dos bolos e bebidas oferecidos à Rainha dos Céus pelos judeus no Egito, quando tomavam parte no culto Egípcio (Jeremias, XLIV). No Gênesis lemos que Melquisedec, o Rei-Iniciado, usou pão e vinho na bênção de Abraão (Gênesis, XIV, 18-19). Nos vários Mistérios gregos eram usados o pão e o vinho, e Williamson menciona seu uso também entre os mexicanos, os peruanos e os Druidas (The Great Law, pp. 177, 181, 185).
O pão permanece como o símbolo geral para a comida que constrói o corpo, e o vinho como símbolo do sangue, considerado como o fluido vital, "pois a vida da carne está no sangue" (Levítico, XVII, 11). Daí que membros de uma mesma família são ditos ser do mesmo sangue, e ser do sangue de alguém é ser seu parente. Daí também as antigas cerimônias do "pacto de sangue"; quando um estrangeiro era feito parte de uma família ou de uma tribo, algumas gotas de sangue de um membro eram infundidas em suas veias, ou ele as bebia - usualmente misturadas na água - e daí em diante ele era considerado como um membro nato da família ou tribo, como sendo do seu sangue. De modo similar, na Eucaristia os adoradores participam do pão, simbolizando o corpo, a natureza, de Cristo, e do vinho, simbolizando o sangue, a vida do Cristo, e se tornando parte da Sua família, unos com Ele.
A Palavra de Poder é a fórmula "Este é o Meu Corpo", "Este é o Meu Sangue". Isto é o que produz a mudança que logo analisaremos, e transforma os materiais em veículos para energias espirituais. O Sinal de Poder é a mão estendida sobre o pão e o vinho, e o Sinal da Cruz deveria ser feito sobre eles, embora isto não o seja sempre entre os Protestantes. Esta é são as partes externas essenciais do Sacramento da Eucaristia.
É importante entendermos a mudança que tem lugar neste Sacramento, pois ela á mais do que a magnetização previamente explicada, embora ela também ocorra. Temos aqui um exemplo particular de uma lei geral.
Pelo ocultista, uma coisa física é considerada como a expressão última, física, de uma verdade invisível. Tudo é uma expressão física de um pensamento. Um objeto não passa de uma idéia externalizada e densificada. Todos os objetos no mundo são idéias Divinas expressas na matéria física. Sendo assim, a realidade do objeto não está em sua forma exterior, mas em sua vida interna, na idéia que o modelou numa expressão de si mesma. Nos mundos superiores, sendo a matéria ali muito sutil e plástica, ela conforma-se rapidamente à idéia, e muda de forma quando o pensamento muda. À medida que a matéria se torna mais densa, mais pesada, ela muda mais lentamente, até que no mundo físico as mudanças estão em seu ponto mais lento, em conseqüência da resistência da matéria de que o mundo físico é composto. Mas demos tempo suficiente e mesmo esta matéria pesada muda sob a pressão da idéia animante, como pode ser visto pela gravação no rosto das expressões dos pensamentos e emoções habituais.
Esta é a verdade que subjaz àquilo que é chamado de doutrina da Transubstanciação, tão extraordinariamente mal-entendida pelos Protestantes comuns. Mas este é o destino das verdades ocultas quando são apresentadas ao ignorante. A "substância" que é alterada é a idéia que faz uma coisa ser o que é; "pão" não é meramente farinha e água; a idéia que governa a mistura, a manipulação da farinha e da água, esta é a "substância" que o faz ser "pão", e a farinha e água são o que se chama tecnicamente de "acidentes", os arranjos de matéria que são forma à idéia. Com uma idéia, ou substância, diferente, a farinha e a água tomariam uma forma diferente, como o fazem quando são assimiladas pelo corpo. Assim também os químicos descobriram que o mesmo tipo e o mesmo número de átomos químicos pode ser arranjado em diferentes maneiras e se tornar assim coisas inteiramente distintas em suas propriedades, embora os materiais não tenham sido mudados; estes "compostos isométricos" estão entre as descobertas mais interessantes da química moderna; o arranjo de átomos similares sob idéias diferentes produz corpos diferentes.
O que, então, é esta mudança de substância nos materiais usados na Eucaristia? A idéia que faz o objeto foi mudada; em seu estado normal o pão e o vinho são alimentos, expressivos das idéias divinas de objetos nutritivos, objetos adequados á construção dos corpos. A Idéia nova é a da natureza e vida de Cristo, adequada para a construção da natureza e vida espirituais do homem. esta é a mudança de substância; o objeto permanece inalterado em seus "acidentes", seu material físico, mas a matéria sutil associada a ele mudou sob a pressão da idéia alterada, e por esta mudança novas propriedades são lhe comunicadas. Elas afetam os corpos sutis dos participantes, e os sintonizam na natureza e vida do Cristo. Da "dignidade" do participante depende a extensão em que ele poderá ser sintonizado.
O participante indigno, sujeito ao mesmo processo, afetado adversamente por ele, pois sua natureza, resistindo à pressão, é forçada e rendida por forças a que não é capaz de responder, assim como um objeto pode ser despedaçado por vibrações que é incapaz de reproduzir.
O participante digno, então, se torna uno com o Sacrifício, com o Cristo, e assim se torna sintonizado e uno com a Vida divina, a qual é o Pai de Cristo.
Pois que o ato do Sacrifício no lado da forma é a entrega da vida que separa dos outros para se tornar parte de uma Vida comum, é o oferecimento de um canal separado como um canal da Vida única, de modo que naquela entrega o sacrificador se torna uno com deus. É a entrega do próprio inferior para se tornar parte do superior, é a entrega do corpo como um instrumento da vontade separada para se tornar um instrumento da Vontade divina, é a apresentação dos "corpos (dos homens) como um sacrifício vivo, santo, aceitável por Deus" (I Romanos, XII, 1). Deste modo tem sido ensinado verdadeiramente na Igreja que aqueles que corretamente tomam parte na Eucaristia desfrutam de uma participação na vida Crística derramada para os homens. A transmutação do inferior no superior é o objetivo deste Sacramento, assim como de todos. A mudança da força inferior por sua união com a superior é o que é buscado por aqueles que nela participam; e aqueles que conhecem a verdade interna, e compreendem o fato da vida superior, podem, em qualquer religião, através de seus sacramentos, entrar em contato mais pleno e completo com a Vida divina que sustém os mundos, se eles levam ao rito a atitude receptiva, o ato de fé, o coração aberto, que são necessários para a possibilidade do Sacramento ser realizado.
O sacramento do Matrimônio apresenta as marcas de um Sacramento tão clara e definidamente como o Batismo e a Eucaristia. Tanto os sinais externos como a graça interna estão presentes aqui. O material é o Anel - o círculo que é símbolo do eterno. A Palavra de Poder é a antiga fórmula "Em nome do Pia, do Filho e do Espírito Santo". O Sinal de Poder é a união das mãos, simbolizando a união das vidas. Isto constitui os elementos exteriores do Sacramento.
A graça interior é a união de mente com mente, de coração com coração, que torna possível a união do espírito, sem a qual o Matrimônio não é Matrimônio, mas uma temporária conjunção de corpos. O dar e o receber do anel, a pronunciação da fórmula, a união das mãos, formam uma alegoria figurada; se a graça interna não for recebida, se os participantes não se abrirem a ela com o desejo de união de todas suas naturezas, para eles o Sacramento perde suas propriedades beneficentes, e se torna uma mera formalidade.
Mas o Matrimônio tem um significado ainda mais profundo; as religiões a uma só voz o têm proclamado ser a imagem na Terra da união entre o terreno e o celeste, a união entre Deus e o homem. E mesmo aqui seu significado não se esgotou, pois ele é a imagem da relação entre o Espírito e a Matéria, entre a Trindade e o Universo. Tão profundo e abrangente é o significado da união de um homem e uma mulher no Matrimônio.
Daí que o homem representa o Espírito, a Trindade da Vida, e a mulher representa a Matéria, a Trindade do material formativo. Um dá vida, a outra a recebe e nutre. Eles são complementares entre si, duas metades inseparáveis de um todo, não existindo separados. Como Espírito implica em Matéria e Matéria em espírito, assim o esposo implica a esposa e a esposa o esposo.
Como a Existência abstrata se manifesta em dois aspectos, como a dualidade de Espírito e Matéria, nenhum independente do outro, mas cada um vindo à manifestação com o outro, também a humanidade se manifesta em dois aspectos - esposo e esposa, nenhum deles capaz de existir separado, e aparecem juntos. Eles não são dois, mas um, uma unidade dual. Deus e o Universo são espelhados no Matrimônio; igualmente unidos são esposo e esposa.
Foi dito acima que o Matrimônio é também uma imagem da união entre Deus e o homem, entre o Espírito universal e os Espíritos individualizados. Este simbolismo é usado em todas as grandes Escrituras do mundo - Hindu, Hebraica, Cristã. E tem sido estendido ao tomarmos o espírito individualizado como uma Nação ou uma Igreja, uma coleção de Espíritos reunidos em uma unidade. Assim Isaías declarou a Israel: "Teu Mestre é teu esposo; O Senhor dos Exércitos é Seu nome... Assim como o noivo se regozija com a noiva, assim teu Deus se regozija contigo" (Isaías, LXII, 5). Também São Paulo escreveu que o mistério do Matrimônio representava Cristo e a Igreja. (Efésios, V, 23-28).
Se pensarmos Espírito e Matéria como latentes, não-manifestos, então não vemos nenhuma produção; manifestos juntos, há evolução. Do mesmo modo, quando as metades da humanidade não se manifestam como marido e mulher, não ocorre a produção de nova vida. Mais ainda, eles deveriam estar unidos para que possa haver um crescimento na vida de cada um, uma evolução mais ágil, um progresso mais rápido, pela metade que cada um pode dar ao outro, cada um suprindo o que falta no outro. Os dois devem ser fundidos num só, desenvolvendo as possibilidades espirituais do homem. E eles também figuram o Homem perfeito, em cuja natureza Espírito e Matéria estão completamente desenvolvidas e equilibradas, o Homem divino que une em Sua própria pessoa marido e mulher, os elementos masculino e feminino na natureza, como "Deus e Homem são um só Cristo" (Credo de Atanásio).
Aqueles que estudarem assim o Sacramento do Matrimônio entenderão o porquê de as religiões terem sempre considerado o Matrimônio como indissolúvel, e têm pensado que é melhor que alguns poucos pares malcombinados devam sofrer por alguns anos do que o ideal do verdadeiro Matrimônio ser rebaixado permanentemente para todos. Uma nação deve escolher se irá adotar como seu um ideal espiritual ou um laço terreno no Matrimônio, a busca de uma unidade espiritual, ou considerá-lo uma mera união física. Um é a idéia religiosa do Matrimônio como um Sacramento; o outro é um contrato comum e rescindível. O estudante dos Mistérios Menores deve sempre ver nele um rito Sacramental.