As Virtudes do Divino Manu. A Graduação dos Mistérios

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 00:30
"Ninguém que não tenha praticado, durante toda a sua vida, 10 virtudes que o divino Manu exige como um dever, pode ser iniciado nos mistérios do concílio", dizem os livros hindus de iniciação.
 
Essas virtudes são: "a resignação; o hábito de fazer o bem em vez do mal: a temperança; a probidade pureza; a castidade; o domínio dos sentidos físicos; o conhecimento das Escrituras Sagradas; o da alma [espírito] Superior; a veracidade; a paciência". Só essas virtudes devem dirigir a vida de um verdadeiro iogue. "Nenhum adepto indigno deverá sujar com a sua presença as fileiras de iniciados santos durante 24 horas". O adepto é tido como acusado, se violar qualquer um desses votos. Certamente a prática dessas virtudes é incompatível com a noção de uma adoração do diabo ou de uma vida de lascívia!
Quando homens como Pitágoras, Platão e Jâmblico, famosos por sua moralidade serena, tomavam parte nos mistérios e falavam dele como veneração, não convém aos nossos críticos modernos julgá-los tão precipitadamente tendo como base apenas o seu aspeto externo. Jâmblico fornece as descrições dos mais audaciosos; e a sua explicação, vinda de uma mente sem preconceito, deveria parecer perfeitamente plausível. "Exibições desse tipo", diz ele, "nos mistérios, pretendiam livrar-nos das paixões licenciosas, satisfazendo-nos a visão e ao mesmo tempo eliminando todo pensamento mau, por meio da santidade terrível que acompanhava esses ritos". "Os homens mais sábios e melhores do mundo pagão", acrescenta o Dr. Warburton, "são unânimes em dizer que os mistérios foram instituídos puros e se propunham aos fins mais nobres pelos meios mais louváveis".
 
Embora pessoas de ambos os sexos e de todas as classes pudessem participar desses ritos célebres, e mesmo que uma certa participação fosse obrigatória, pouco numerosos eram aqueles que atingiam a iniciação final e mais elevada. A gradação dos mistérios foi-nos dada por Proclo, no quarto livro da sua Teologia de Platão. "O rito perfectivo [teletê] precede a iniciação, o apocalipse final, epopteia." Teon de Esmirna, na sua Matemática, também divide os ritos dos mistérios em cinco partes: "a primeira consiste na purificação prévia, pois os mistérios não são transmitidos a todos que os querem receber; mas há algumas pessoas que são impedidas pela voz do arauto (...) pois é necessário que aqueles que não desejam ser excluídos dos mistérios, sejam primeiramente, aprimorados por certas purificações às quais se seguem os ritos sagrados: mas a recepção dos ritos sagrados sucede à purificação. A terceira parte é denominada epopteia, ou recepção. E a quarta, que é o fim e o objetivo da revelação, consiste em enfaixar a cabeça e cingi-la com as coroas (...) após o que ele [o iniciado] se torna um portador do archote, ou um Hierofante dos mistérios, ou exerça outra função qualquer no ofício sacerdotal. Mas a quinta, que é o resultado de todas as anteriores, é a amizade e a comunhão interior com Deus (...). E este era o último e o mais solene dos mistérios.
 
Houve escritores que perguntaram freqüentemente qual seria o significado desta pretensão de "amizade e comunhão interior com Deus". Autores cristãos negaram as pretensões dos "pagãos" em relação a essa "comunhão", afirmando que só os santos cristãos foram e eram capazes de desfrutá-la; cépticos materialistas escarneceram das idéias de ambos. Após longos séculos de materialismo religioso e de estagnação espiritual, ficou bastante difícil, se não impossível, estabelecer com clareza as pretensões de cada parte. Os gregos antigos, que uma vez acorreram em multidões ao Agora de Atenas, com o seu altar ao "Deus Desconhecido", não mais existem; e os seus descendentes acreditam firmemente que encontraram o "Desconhecido" no Jeová dos judeus. Os êxtases divinos dos cristãos primitivos deram lugar a visões de caráter mais moderno, em relação perfeita com o progresso e a civilização. O "Filho do Homem" que aparecia nos êxtases embevecidos dos primeiros cristãos, vindo do sétimo céu, numa nuvem de glória e cercado de anjos e serafins alados, cedeu lugar a um Jesus mais prosaico e ao mesmo tempo mais comercial. Este nos é mostrado agora fazendo uma visita matinal a Maria e Marta na Betânia; sentando-se na "otomana" com sua irmã caçula, admiradora da "ética", enquanto Marta passa o tempo na cozinha preparando a refeição. E logo a imaginação febril de um pregador blasfemo e arlequim do Brooklin, o Rev. Dr. Talmage, no-la representa atarefada, "suor na fronte, o jarro numa mão e pinças na outra (...) na presença de Cristo", repreendendo-o vivamente por permitir que sua irmã `fizesse sozinha' todo o serviço".
 
Desde o nascimento da concepção solene e majestosa da Divindade não-revelada dos antigos adeptos até essas descrições caricaturais daquele que morreu na Cruz por sua devoção filantrópica para com a Humanidade, muitos séculos se passaram e parece que o seu peso apagou, quase completamente, todo sentido de uma religião espiritual dos corações de seus seguidores confessos. Não espantam então, que a frase de Proclo não seja mais compreendida pelos cristãos e seja rejeitada como um "capricho" pelos materialistas, que, em sua negação, são menos blasfemos e ateus do que muitos dos reverendos e membros das igrejas.

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