A trindade do homem ensinada pelo apóstolo Paulo

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 02:06

Nos escritos de Paulo, a entidade do homem está dividida em uma Trindade - carne, existência psíquica ou alma e a entidade obscurecedora e ao mesmo tempo interior ou ESPÍRITO. A sua fraseologia é muito clara quando ele ensina a anastasis, ou a continuação da vida daqueles que morrem. Ele afirma que há um corpo psíquico semeado no corpo corruptível e um corpo espiritual que se eleva em substância incorruptível. “O primeiro homem é da Terra e o segundo é celeste.” Mesmo Tiago (III, 15) identifica a alma ao dizer que “sua sabedoria não vem lá do alto, mas é terrena, psíquica, demoníaca (ver texto grego). Platão, falando da Alma (psichê), observa que, “quando ela se alia ao Nous [substância divina, um deus, assim como psychê é uma deusa], ela faz tudo bem e felizmente; mas é diferente quando ela se liga a anoia” (Quando está ligada a Mente Inferior. N.C.). Àquilo que Platão chama Nous, Paulo chama de Espírito; e Jesus faz do coração aquilo que Paulo diz da Carne. A condição natural da Humanidade é o que: Por intermédio de Adão veio a primeira (a morte) e por Cristo, a última (ressurreição), pois foi ele o primeiro a ensinar publicamente à Humanidade o “Caminho Nobre” para a vida Eterna, como Gautama ensinou o mesmo Caminho para o Nirvana. Para cumprir os dois objetivos há apenas um caminho, segundo os ensinamentos de ambos. “Pobreza, castidade, contemplação ou prece íntima; desdém para com a riqueza e as alegorias ilusórias desse mundo.”

“Entrai nesse Caminho e ponde um fim à tristeza; em verdade o Caminho foi proclamado por mim, que descobri como amortecer os golpes da aflição. Vós deveis, por vós mesmos, fazer esse esforço; os Buddhas são apenas pregadores. Os avisados que adentrem o Caminho estão livres da servidão do Impostor (Mâra). (Mâra - O Deus da Tentação, o Sedutor, que tratava de afastar Buddha de seu Sendeiro. É denominado “Destruidor” e “Morte” (da Alma).

Entrai pela porta estreita: porque larga é a porta e espaçoso o caminho que leva para a destruição. (...) Segui-me. (...) Todo aquele que ouve estas palavras e não as observa será comparado ao homem insano” (Mateus, VII, 13-26). “Eu não posso fazer de mim mesmo coisa alguma” (João, V, 30). “Os cuidados deste mundo e o engano das riquezas sufocam as palavras” (Mateus XII, 22)., dizem os cristãos; e é só se desembaraçar de todas as ilusões que o budista entra no “Caminho” que o levará “para longe das vagas agitadas do oceano da vida” e o conduzirá “Para a calma Cidade da Paz, à alegria verdadeira e ao repouso do Nirvana”.

Também os filósofos gregos foram tornados mais obscuros do que místicos pelos seus tradutores muito sábios. Os egípcios adoravam o Espírito Divino, o Um Único, sob a forma de NOUT. É incontestável que foi dessa palavra que Anaxágoras tirou seu denominativo Nous, ou, como ele o chama, - a Mente ou Espírito autopotente. “Todas as coisas”, diz ele, “existiam no caos; então veio Nous e introduziu a ordem”. Ele também denomina de Nous o Um que governava os muitos. Segundo ele Nous era Deus; e o Logos era o homem, a emanação daquele. Os poderes externos perceberam os fenômenos; só o Nous reconheceu os noumena, ou coisas subjetivas. esta é uma noção puramente budista e esotérica.

Foi aí que Sócrates encontrou seu fio condutor e o seguiu, e Platão depois dele, assim como todo o mundo do conhecimento interior. Onde o antigo mundo jônico-italiano culminou em Anaxágoras, o novo mundo começou com Sócrates e Platão. Pitágoras fez da Alma uma unidade automotora, com três elementos - o Nous , o phrên e o thumos; ela partilha esses dois últimos com os animais; só o primeiro é seu eu essencial. Assim se refuta a acusação de que ele ensinava a transmigração; ele não a ensinava mais do que Gautama-Buddha, apesar de a populaça hindu o ter transformado [o ensinamento de Buddha] numa superstição popular, após a sua morte. se Pitágoras a emprestou de Buddha, ou se Buddha a emprestou de qualquer outro - isto não tem a mínima importância; a doutrina esotérica é a mesma.

A escola platônica é ainda mais explicada em relação a esse tema.

O verdadeiro eu está na base de tudo. Sócrates ensinava, portanto, que ele possuía um (daimonion), um algo espiritual que o punha na trilha para a sabedoria. Ele próprio não sabia nada, mas esse algo o colocou no caminho do tudo aprender.

Platão veio depois dele com uma investigação completa do princípios do ser. Havia um Agathon, Deus Supremo, que produziu em sua própria mente um Paradeigma (latim), “ou seja um modelo ou padrão” de todas as coisas.

Ele ensinou que no homem estava “o princípio imortal da alma”, um corpo mortal e uma espécie de alma mortal distinta”, que estava colocada num receptáculo do corpo, separada da outra; a parte imortal estava na cabeça, a outra estava no tronco.

É evidente que Platão considerava o homem interior como constituído de duas parte - uma era sempre a mesma, formada da mesma entidade da Divindade, e a outra era mortal e corruptível.

“Platão e Pitágoras” - diz Plutarco - “dividem a alma em duas partes, a racional (noética) e a irracional (agnoia)”; “a parte da alma do homem que é racional é eterna, pois embora ela não seja Deus, é o produto de uma divindade eterna; mas a parte da alma que é desprovida de razão (agnoia) morre”.

“O homem, diz ainda Plutarco, “é composto, e estão errados aqueles que pensam que ele é composto de apenas duas partes. Pois eles imaginam que a compreensão faça parte da alma, mas eles se enganam nisso não menos do que aqueles que fazem da alma uma parte do corpo; pois a compreensão (Nous) é muito superior à alma, assim como a alma é melhor e mais divina do que o corpo. Ora, essa composição da alma com a compreensão produz a razão; e, com o corpo, a paixão; desta, uma é o começo ou princípio do prazer e da dor e a outra, da virtude e do vício. Dessas três partes reunidas e compactadas, a Terra forneceu o corpo, a Lua, a alma, e o Sol, a compreensão para a geração do homem.

“Ora, das mortes que morremos, uma faz do homem dois de três, e a outra um de [sobre] dois. A primeira ocorre na região e na jurisdição de Ceres (Ceres - Lat. - Em grego, Demeter. Como aspecto feminino do Pai-Éter, Júpiter, é esotericamente o princípio produtor do Espírito onipenetrante, que anima todo germe no Universo material.). Os atenienses dizem ainda que os mortos são consagrados a Ceres. Quanto à outra morte, ela ocorre na Lua ou na região de Prosérpina. É assim que o que é terrestre permanece com uma e é o celeste Hermes (Divino) que habita a outra. Este arranca violentamente a alma do corpo; mas Prosérpina, suavemente e durante muito tempo, separa a compreensão da alma. Por essa razão ela é chamada de Monogenês, unigênita, ou antes que-engendra-apenas-um, pois a melhor parte do homem torna-se isolada quando é separada por ela. Ora, uma e outra acontecem de acordo com a natureza. Ordena a Sorte quer toda alma, com ou sem compreensão (Nous), uma vez retirada do corpo, vague durante algum tempo, mas não o mesmo tempo para todas, na região situada entre a Terra e a Lua. Pois aqueles que foram injustos e dissolutos sofrem aí a punição devida às suas ofensas; mas os bons e virtuosos são aí retidos até que sejam purificados e tenham, por expiação purgado todas as infeções que possam ter contraído com o corpo, como por exemplo pela doença, vivendo na parte mais doce do ar chamada Campinas de Pluto, onde permanecem durante algum tempo determinado e fixado anteriormente. E então, como se retornassem de uma peregrinação ou de um longo exílio de sua pátria, têm um gosto de alegria, como o que era experimentado principalmente por aqueles que se iniciavam nos Mistérios sagrados, misturando com temor, admiração e esperança a cada um”.

O daimonion de Sócrates era esse Nous, mente ou compreensão do divino. “O Nous de Sócrates”, diz Plutarco, “era puro e não estava misturado com o corpo mais do que a necessidade exigisse. (...) Toda alma possui alguma parcela de Nous, razão, um homem não pode ser um homem sem ela; mas, de conformidade com a proporção em que cada alma está misturada com a carne e o desejo, ela se transforma e se torna irracional em conseqüência da dor e do prazer. Cada alma não se mistura de uma única maneira; algumas mergulham no corpo e, assim durante essa vida, seus corpos são corrompidos pelo desejo e pala paixão; outras estão parcialmente misturadas, mas a parte mais pura [Nous] permanece sempre fora do corpo. Ela não mergulhou no corpo, mas paira acima dele e troca [obscurece] a parte mais externa da cabeça do homem; ela cumpre o efeito de uma corda que sustentaria e dirigiria a parte rebaixada da alma, enquanto esta for obediente e não se deixar dominar pelos desejos da carne. A parte que mergulhou no corpo é chamada de alma. Mas a parte incorruptível é chamada Nous e o vulgo pensa que ela está neles, como também imagina que a imagem refletida por um espelho está naquele espelho. Mas os mais inteligentes, que sabem que ela está fora, chamam-na Daemon”(um deus, um espírito).

“A alma, como um sonho, escapa-se rápida, mas não imediatamente após ter-se separado do corpo, porém mais tarde, quando está só e separada da compreensão (Nous). (...) A alma - moldada e formada pela compreensão (Nous), e moldado e formando o corpo, abraçando-o por todos os lados - recebe dele uma impressão e uma forma; de maneira que, embora separada da compreensão e do corpo, ela conserva ainda a sua figura e a sua semelhança por longo tempo, a ponto de poder, com razão, receber o nome de imagem.

“E a Lua é o elemento dessas almas, porque as almas se dissolvem nela, como os corpos dos mortos o fazem na Terra. Na verdade, dentre estes, aqueles que foram virtuosos e honestos, que viveram uma vida quieta e filosófica, sem se meterem em questões inoportunas, dissolvem-se rapidamente; porque, abandonados pelo Nous compreensão, e não fazendo uso das paixões corporais, desaparecem rapidamente.”

Até mesmo Irineu, inimigo mortal e infatigável de toda heresia grega e “pagã”, explica a sua crença na trindade do homem. O homem perfeito, segundo ele, consiste de carne, alma e espírito. “)...) carne, anima et spiritu: el altero quidem salvante et figurante, qui est spiritus; altero quod unitur et formatur, quod est caro; id vero quod inter haec est duo, quod est anima; quae aliquando quidem subsequens spiritum, elevatur ab eo; aliquando autem consentiens carni, decidit in terrenas concupiscentias”.

E Orígenes, no seu Comentário Epistolar aos Romanos, diz: “Há uma divisão tríplice no homem - o corpo ou carne, a parte mais baixa de nossa natureza, sob a qual a antiga serpente inscreveu por meio do pecado original a lei do pecado e pela qual somos tentados para as coisas vis e todas as vezes em que somos vencidos pela tentação, associados ao Diabo; o espírito, no qual ou pelo qual exprimimos a semelhança da natureza divina em que o Melhor Criador, a partir do arquétipo da sua própria mente, gravou com seu dedo (isto é, seu espírito) a Lei eterna da honestidade; por ele estamos reunidos (aglutinados) a Deus e feitos um com Deus. Na terceira, a alma é o mediador entre esses dois, mas, do mesmo modo que, numa república facciosa, só se pode ser aliado de um ou de outro partido, ela é chamada de um lado e de outro e é livre para escolher o partido ao qual deve aderir. Se, renunciando à carne, ela tende para o partido do espírito, torna-se espiritual; mas, se inclina para os desejos da carne, ela se degenera em corpo”.

Platão define a alma como “o movimento que é capaz de se mover”. “A alma é a mais antiga de todas as coisas e o começo do movimento.” “A alma foi gerada antes do corpo, e o corpo é posterior e secundário, pois ele é, de acordo com a natureza, governado pela alma governante.” “A alma que administra todas as coisas que são movidas em todos os sentidos, administra também os céus.”

“A alma, então, dirige todas as coisas no céu, e na Terra, e no mar, por seus movimentos - cujos nomes são desejar, considerar, cuidar de, consultar, formar opiniões verdadeiras e falsas, estar em estado de alegria, tristeza, confiança, temor, ódio, amor, bem como todos os outros movimentos primários acrescentados a estes (...) sendo ela uma deusa , sempre escolhe como um aliado o NOUS, um deus, e disciplina todas as coisas correta e felizmente; mas quando se associa a anoia - e não a Nous - faz tudo exatamente ao contrário.”(Platão, As leis, X, 896-897B.)

 

Outras páginas interessantes: