As Qualidades do Médium, e as Manifestações Espíritas

Enviado por Estante Virtual em qui, 22/12/2011 - 03:07

É um erro dizer que um médium tem poderes desenvolvidos. Um médium passivo não tem poder. Ele tem uma certa condição moral e física que produz emanações, ou uma aura, na qual as inteligências que o guiam podem viver e pela qual elas se manifestam. Ele é apenas o veículo através do qual elas exercem seu poder. Essa aura varia dia a dia, e, segundo as experiências do Sr. Crookes, mesmo de hora em hora. É um efeito externo que resulta de causas internas. A condição moral do médium determina a espécie dos espíritos que vêm; e os espíritos que vêm influenciam reciprocamente o médium, intelectual, física e moralmente. A perfeição de sua mediunidade está na razão da sua passividade, e o perigo em que ele incorre está no mesmo grau. Quando ele está completamente "desenvolvido" - perfeitamente passivo -, o seu próprio espírito astral pode ser paralisado, mesmo retirado de seu corpo, que é então ocupado por um elemental, ou, o que é pior, por um monstro humano da oitava esfera, que dele se serve como se fosse o seu próprio corpo. Muito freqüentemente a causa dos crimes célebres deve ser procurada em tais possessões.

Como a mediunidade física depende da passividade, o seu antídoto é óbvio; o médium deve cessar de ser passivo. Os espíritos nunca controlam pessoas de caráter positivo que estão determinadas a resistir a todas as influências estranhas. Levam ao vício os fracos e os pobres de espírito que eles conseguem levar ao vício. Se os elementais que produzem milagres e os demônios desencarnados chamados de elementares fossem de fato os anjos guardiões, como se acreditou nos últimos trinta anos, por que não deram eles a seus médiuns fieis pelo menos boa saúde e felicidade doméstica? Por que os abandonam nos momentos críticos do julgamento, quando acusados de fraude? É notório que os melhores médiuns físicos são doentios, ou, às vezes, o que é ainda pior, inclinados a um ou outro vício anormal. Por que esses "guias" curadores, que fazem seus médiuns exercerem o papel de terapeutas e taumaturgos para outros, não lhes dão a dádiva de um robusto vigor físico? Os antigos taumaturgos e os apóstolos gozavam geralmente, se não invariavelmente, de boa saúde; seu magnetismo nunca trazia ao doente qualquer mácula física ou moral; e eles nunca foram acusados de VAMPIRISMO, como o faz muito justamente um jornal espírita contra alguns médiuns curadores.

Se aplicarmos a lei acima da mediunidade e da mediação ao tema da levitação, com que abrimos a presente discussão, que descobriremos? Temos aqui um médium e um indivíduo da classe dos mediadores, ambos levitados - o primeiro numa sessão, o segundo em oração ou em contemplação estática. O médium, por ser passivo, deve ser elevado; o estático, por ser ativo, deve levitar a si próprio. O primeiro é elevado por seus espíritos familiares - quaisquer que sejam eles e onde quer que se encontrem -, o segundo, pelo poder de sua própria alma anelante. Podemos qualificá-los indiscriminadamente de médiuns?

Poder-se-ia objetar, no entanto, que os mesmos fenômenos são produzidos tanto na presença de um médium moderno como na de um santo antigo. Sem dúvida; e assim era também nos dias de Moisés; pois acreditamos que o triunfo sobre os mágicos do Faraó por ele proclamado no Êxodo é simplesmente uma fanfarronice nacional da parte do "povo eleito". Que o poder que produziu os seus fenômenos produziu também o dos mágicos, os quais foram, aliás, os primeiros tutores de Moisés e o instruíram em sua "sabedoria", é muito provável. Mas mesmo naqueles dias eles parecem ter bem apreciado a diferença entre fenômenos aparentemente idênticos. A divindade tutelar nacional dos hebreus (que não é o Pai Supremo), (O Velho Testamento menciona um culto prestado pelos israelitas a mais de um deus. O El Sahddai de Abraão e Jacó não era o Jeová de Moisés, ou o Senhor Deus reverenciado por eles durante os quarenta anos no deserto. E o Deus do Exército de Amós não é, se devemos acreditar em suas próprias palavras, o Deus Mosaico, a divindade sinaíta, pois eis o que está escrito: "Eu odeio, eu desprezo as vossas festas (...) não me agradam as vossas oferendas (...) Por acaso ofereceste-me sacrifícios e oferendas no deserto, durante quarenta anos, ó casa de Israel? (...) Não, mas fabricastes o tabernáculo de vosso Maloch e de vosso Chiun [Saturno], vossas imagens, estrela de vossos deuses, que fabricastes para vós (...) Por isso, vos deportarei (...) disse o Senhor, cujo nome é O Deus dos Exércitos" (Amós, V, 21-7.) proíbe expressamente, no Deuteronio, o seu povo de "imitar as abominações de outras nações. (...) passar pelo fogo, ou utilizar a adivinhação, ou ser um observador do tempo ou um encantador, ou um mago, ou um consultor de espíritos familiares, ou um necromancista".

Que diferença havia então entre os fenômenos que acima enumeramos quando produzidos pelas "outras nações" e quando realizados pelos profetas? Evidentemente, havia alguma boa razão para isso; e encontramo-lo na Primeira Epístola, IV, de João, que diz: "Não acrediteis em qualquer espírito, mas provai os espíritos para saber se vêm de Deus, porque muitos falsos profetas se introduziram no mundo".

O único padrão ao alcance dos espiritistas e dos médiuns de hoje pelo qual eles podem provar os espíritos é julgar: 1º) por suas ações e palavras; 2º) por sua prontidão em manifestar-se; e 3º) se o objeto em vista é digno da aparição de um "espírito desencarnado, ou se pode desculpar alguém por perturbar os mortos". Saul estava a ponto de destruir a si e a seus filhos, mas Samuel lhe perguntou: "Por que me incomodaste fazendo-me subir?". Mas as "inteligências" que visitam as salas de sessão espírita acorrem ao primeiro sinal de qualquer farsante que procura um passatempo para a sua ociosidade.

Exceto, a história de Saul e Samuel, não se encontra um único exemplo na Bíblia da "evocação dos mortos". No que concerne à sua legalidade, a asserção é contraditada por todos os profetas. Moisés decretou a pena de morte para aqueles que evocam os espíritos dos mortos, os "necromancistas". Em nenhum lugar do Velho Testamento, nem em Homero, nem em Virgílio a comunhão com os mortos é qualificada a não ser como necromancia. Fílon, o Judeu, faz Saul dizer que se ele banisse da face da Terra todos os adivinhos e necromancistas o seu nome lhe sobreviveria.

Uma das maiores razões para isso era a doutrina dos antigos, segundo a qual nenhuma alma provinha da "morada dos eleitos" retornará à Terra, salvo nas raras ocasiões em que a sua aparição poderia ser solicitada para realizar algum grande objetivo em vista, e assim trazer algum benefício para a Humanidade. Neste último caso a "alma" não precisa ser evocada. Ela envia a sua poderosa mensagem ou por um simulacro evanescente de si mesma, ou por intermédio de mensageiro, que podem aparecer sob forma material, e personificar fielmente o falecido. As almas que podiam ser evocadas tão facilmente eram consideradas como um comércio pouco útil e não isento de perigo. Eram as almas, ou as larvae provindas da região infernal do limbo - o Sheol, as região conhecida pelos cabalistas como a oitava esfera, mas muito diferente do Inferno ou Hades ortodoxo dos antigos mitologistas. Horácio descreve essa evocação e a cerimônia que a acompanha, a Maimônides dá-nos detalhes do rito judeu, Toda cerimônia necromânticas era realizada em lugares elevados e em montanhas, e o sangue era utilizado para aplacar esses vampiros humanos.

"As almas", diz Porfírio, "preferem, a tudo mais, sangue fresco derramado, que parece restaurar-lhes por algum tempo certas faculdades da vida."

Quando às materializações, elas são profundamente relatadas nos textos sagrados. Mas, eram operadas sob as mesmas condições que nas sessões modernas? A escuridão, ao que parece, não era requerida naqueles dias de patriarcas e de poderes mágicos. Os três anjos que apareceram a Abrão beberam à plena luz do dia, pois "ele estava sentado na entrada da tenda, no calor do dia", diz o livro de Gênese. Os espíritos de Elias e de Moisés apareceram igualmente à luz do dia, e não é provável que Cristo e os Apóstolos estivessem escalando uma montanha durante a noite. Jesus é apresentado aparecendo a Maria Madalena no jardim. às primeiras horas do dia; aos Apóstolos, em três momentos distintos, e geralmente de dia; uma vez "quando já amanhecera". Mesmo quando o asno de Balaam viu o anjo "materializado", estava-se à plena luz da Lua.

Estamos dispostos a concordar com o autor em questão em que encontramos na vida de Cristo - e, podemos acrescentar, no Velho Testamento também - "um relato ininterrupto das manifestações psíquicas", mas nada sobre as mediúnicas, de caráter físico, se excetuarmos a visita de Saul a Sedecla, a mulher Obeah de En-Dor. Essa distinção é de vital importância.

De fato, a promessa do Mestre foi claramente expressa: "Em verdade, realizareis obras maiores do que estas", obras de mediação. De acordo com Joel, o tempo virá em que haverá uma expansão do espírito divino: "Vossos filhos e vossas filhas", diz ele, "profetizarão, vossos velhos verão sonhos, vossos jovens terão visões". O tempo chegou e eles fazem todas essas coisas agora; o Espiritismo tem seus videntes e mártires, seus profetas e curadores. Como Moisés, e Davi, e Joram, existem médiuns que recebem comunicações escritas de autênticos espíritos planetários e humanos.

Há poucos, pouquíssimos, oradores na tribuna espírita que falam por inspiração, e, se sabem o que diz, eles estão no estado descrito por Daniel: "Não me restou força alguma. Ouvi então o som de suas palavras: e ao ouvir o som de suas palavras, adormeci profundamente". E há médiuns, esses de que falamos, para os quais a profecia de Samuel poderia ter sido escrita: "O espírito do Senhor virá sobre ti, e entrarás em delírio com ele e te transformarás em outro homem". Mas onde, na longa lista de prodígios da Bíblia, podemos ler sobre guitarras voadoras, tambores ressonantes, e sinos batendo, oferecidos em quartos imersos em profunda escuridão como prova da imortalidade?

Quando Cristo foi acusado de expulsar os demônios pelo poder de Belzebu, ele o negou, e replicou amargamente perguntando: "Por qual poder vossos filhos e discípulos os expulsaram?" Os espiritistas afirma que Jesus era um médium, que ele era controlado por um ou muitos espíritos; mas quando a imputação lhe foi feita diretamente, ele disse que nada tinha a ver com isso. "Não temos razão em dizer que és um samaritano, e que tens um demônio?" [daimonion, um Obeah, ou espírito familiar no texto hebraico]. Jesus respondeu, "Eu não tenho demônio".

 

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