Os dez avatares místicos de Vishnu

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 02:05

Se examinarmos os dez avataras místicos de Vishnu, nós os veremos relacionados na seguinte progressão:

1. Matsya-Avatâra: como peixe. Este será igualmente o seu décimo e último avatar, ao final do Kali-yuga.
2. Kûrma-Avatâra: como uma tartaruga.
3. Varâha: como um javali.
4. Nara-Sinha: como um homem-leão; último estágio animal.
5. Vâmana: como um anão; primeiro passo em direção à forma humana.
6. Parasu-Râma: como um herói, mas ainda um homem imperfeito.
7. Râma-Chandra: como o herói do Ramâyana. Um homem perfeito fisicamente; seu parente próximo, amigo e aliado Hanuman, o macaco-deus. O macaco dotado de fala.
8. Kisna-Avâtara: o Filho da Virgem Devakî, formado por Deus, ou antes pelo Deus Visnhu manifesto, que é idêntico a Adão-Cadmo. (A Essência Primacial ou Última não têm nome na Índia. É indicada às vezes por "Isso" ou por "Este". "Este [Universo] em sua origem não era nada. Não havia céu, nem terra, nem atmosfera. Aquele ser inexistente (Asat) disse `Serei'.) Krishna também é chamado Kâneya, o Filho da Virgem.
9. Gautanma-Buddha, Siddhârtha, ou Sâkya-Muni. (Os budistas rejeitam a doutrina de que seu Buddha seria uma encarnação de Vishnu.)
10. Esse Avatar ainda não se cumpriu. É aguardado para o futuro, como o Advento dos cristãos, cuja idéia foi, sem dúvida alguma, copiada dos hindus. Quando Vishnu apareceu pela última vez, ele virá como um "Salvador". De acordo com a opinião de alguns brâmanes, ele se manifestará sob a forma de Kalki (cavalo branco). Outros afirmam que ele o montará. Esse cavalo é o envoltório do espírito do mal, e Vishnu o montará, invisível a todos, até que o tenha conquistado pela última vez. O Kalki-Avatâra, ou a última encarnação, divide o Bramanismo em duas seitas. A dos Vaishnava recusa-se a reconhecer as encarnações do seu deus Vishnu sob formas literalmente animais. Eles afirmam que essas formas devem ser tomadas em sentido alegórico.

Nessa relação dos avatares, encontramos a evolução gradual e a transformação de todas as espécies desde o lado pré-siluriano de Darwin até o ilus de Sanchoniathon e Berosus. Começando com a era azóica, correspondente ao ilus em que Brahmâ implanta o germe criador, passamos pelas eras paleozóica e mesozóica, cobertas pelas primeira e pela segunda encarnações como o peixe e a tartaruga; e pela cenozóica, que abrange as encarnações nas formas animal e semi-humana do javali e do homem-leão; e chegamos ao quinto período, culminante com a "era da mente, ou idade do homem", cujo símbolo na mitologia hindu é o anão - a primeira tentativa da natureza na criação do homem. Nessa relação é preciso considerar a sua idéia principal, e não julgar o grau de conhecimento dos filósofos antigos por meio da aceitação literal da forma popular em que ele nos é apresentado no grande poema épico Mahâbarata e num de seus capítulos, a Bhagavad-Gîtâ.

Até mesmo as quatro eras da cronologia hindu contêm uma idéia mais filosófica do que parece superficialmente. Elas as define de acordo com os estados psicológicos ou mental e físico do homem durante esse período. Krita-yuga, a idade de ouro, a "idade da alegria", ou inocência espiritual do homem; Tretâ-yuga, a idade da prata, ou do fogo - o período da supremacia do homem e dos girantes e dos filhos de Deus; Dvâpara-yuga, a idade do bronze - uma mistura, já de pureza e de impureza (espírito e matéria), a idade da dúvida; e, finalmente, a nossa, a Kali-yuga, ou idade de ferro, ou escuridão, miséria e tristeza. Nessa idade, Vishnu chegou a se encarnar em Krishna, a fim de salvar a humanidade da deusa Kâlî, consorte de Shiva, o aniquilador de tudo - a deusa da morte, da destruição e da miséria humana. Kâlî é o melhor emblema para representar a "queda do homem"; a queda do espírito na degradação da matéria, com todos os seus resultados terríveis. Devemos nos livrar de Kâlî para conseguir o Moksha, ou Nirvana, a morada da Paz abençoada e do Espírito.

Para os budistas, a última encarnação é a quinta. Quando vier o Maitreiya-Buddha, então nosso mundo atual será destruído e um novo mundo, e melhor, o substituirá. Os quatro braços de toda Divindade hindu são os emblemas das quatro manifestações anteriores de nossa terra, após seu estado invisível, enquanto a cabeça tipifica o quinto e último Kalki-Avatâra, quando a terra será destruída e o poder de Budh - a Sabedoria (de Brahmâ, para os hindus)- será novamente chamada a se manifestar - como um Logos - para criar o mundo futuro.

Nesse esquema, os deuses masculinos tipificam o Espírito e seus atributos divinos, ao passo que suas contrapartes femininas - as Sakti - representam as energias ativas desses atributos. A Durgâ (virtude ativa) é uma força sutil, invisível, que corresponde a Shekînah - a vestimenta de Ain-Soph. Ela é a Sakti por cujo intermédio o "Eterno" passivo faz surgir o universo visível a partir da sua primeira concepção ideal. Cada um desses três personagens da Trimûrti exotérica utiliza a sua Sakti como um Vâhana (veículo). Cada um deles é, o momento, a forma que está sentada no carro misterioso de Ezequiel.

Não vemos menos claramente expressa, nessa sucessão de Avatares, a verdadeira idéia filosófica de uma evolução espiritual e física simultânea dos animais e do homem. A partir de um peixe, o progresso dessa transformação dual faz passar a forma física pela tartaruga, pelo javali e pelo homem-leão; e, depois, aparecendo no anão humano, mostra Parasu-Râma, uma entidade fisicamente perfeita e espiritualmente não-desenvolvida, até levar a Humanidade personificada num homem divino ao ápice da perfeição e espiritual - um deus sobre a Terra. Em Krishna e nos outros Salvadores do mundo reconhecemos a idéia filosófica do desenvolvimento dual progressivo compreendida pelo Zohar e tão claramente expressa por ele. O "Homem Celeste", que é o Protogonos, Tikkun, o primogênito de Deus, ou a Forma ou Idéia universal, engendra Adão. Eis por que este é de nascimento divino na Humanidade e dotado dos atributos de todos os dez Sephiroth. São eles: Sabedoria, Inteligência, Justiça, Amor, Beleza, esplendor, Firmeza, etc. Eles fazem dele o Fundamento ou Base, "o poderoso ser vivo", [El-Hay], e a coroa da criação, colocando-o assim como o Alfa e o Ômega para reinar sobre o "reino" - Malkhuth. "O homem é ao mesmo tempo a conseqüência e o mais alto grau da criação", diz o Zohar. "Logo que o homem foi criado, tudo estava completo, inclusive os mundos superiores e os mundos inferiores, pois tudo está compreendido no homem. Ele reúne em si mesmo todas as formas."

Mas isto não diz respeito à nosso Humanidade degenerada; é só ocasionalmente que nascem homens que são os tipos daquilo que o homem deveria ser e não é. As primeiras raças de homens eram espirituais e os seus corpos protoplásticos não eram compostos das substâncias grosseiras e materiais que entram na composição dos homens de hoje. Os primeiros homens foram criados com todas as faculdades da Divindade, com poderes bastante superiores aos das legiões angélicas, pois eles eram emanações diretas de Adão-Cadmo, o homem primitivo, o Macrocosmo; ao passo que a Humanidade atual é em muitos graus inferior mesmo à do Adão terrestre, que era o Microcosmo, ou "o mundo em miniatura". Zeir-Anpîn, a figura mística do Homem, consiste de 243 números, e vemos nos círculos que se sucedem uns aos outros que foram os anjos que emanaram do "Homem Primitivo", não os Sehpiroth dos anjos. Em conseqüência, o homem devia ser, desde o começo, um ser que possuía uma natureza ao mesmo tempo progressiva e regressiva. Tendo no ápice do ciclo divino, ele se afastou gradualmente do centro de Luz, adquirindo em cada esfera inferior a que chegava (mundos habitados por uma raça diferente de seres humanos) uma forma física mais sólida e perdendo uma parte das suas faculdades divinas.

Na "queda de Adão" devemos ver, não a transgressão pessoal do homem, mas apenas a lei da evolução dual. Adão, ou o "Homem", dá início à sua carreira de existência com a sua permanência no jardim do Éden, "vestido de vestes celestiais, uma veste de luz celeste" (Zohar, II,229b); mas, quando foi expulso, é "vestido" por Deus, ou a Lei Eterna de Evolução ou necessitarismo, com túnicas de pele. Mas, mesmo sobre essa terra de degradação material - em que a centelha divina (Alma, uma corrupção do Espírito) devia começar a sua progressão física numa série de aprisionamentos a partir da pedra até o corpo de um homem -, se ele exercitar a sua VONTADE e chamar a sua divindade em seu socorro, o homem pode transcender os poderes do anjo. "Não sabeis que havemos de julgar os anjos?" pergunta Paulo (1 Corintos, VI,3). O homem real é a Alma (Espírito), ensina o Zohar. "O mistério do homem terrestre vem após o mistério do homem celeste (...) o sábio pode ler os mistérios na face humana" (II,76a).

Esta é outra das muitas frases pelas quais Paulo pode ser reconhecido como um iniciado. Por razões que já enunciadas, consideramos mais dignas de genuinidade certas Epístolas dos Apóstolos, agora consideradas como apócrifas, do que muitas passagens suspeitas dos Atos. E encontramos corroboração deste ponto de vista nas Epístolas de Paulo a Sêneca e de Sênaca a Paulo. Em uma mensagem, Paulo chama Sêneca de "meu respeitável mestre", ao passo que Sêneca se dirige ao apóstolo simplesmente como "Irmão".

Não temos mais direito de julgar o Bramanismo e o Budismo pelas formas absurdas e às vezes repugnante do culto popular, do que julgar a verdadeira religião da filosofia judaica pelos absurdos da Bíblia exotérica. Se quisermos procurar a essência verdadeira da filosofia de Manu e da Cabala, reconheceremos que Vishnu é, da mesma maneira que Adão-Cadmo, a expressão do próprio universo e que suas encarnações são personificações concretas e variadas das manifestações desse "Todo Assombroso". "Eu sou a Alma, ó Arjuna. Eu sou a Alma que existe no coração de todos os Seres; e Eu sou o começo o meio, e também o fim das coisas existentes" - diz Krishna aos seu discípulo, na Bhagavad-Gîtâ (cap. X).

"Eu sou o Alfa e o Ômega, o começo e o fim (...) Eu sou o primeiro e o último", diz Jesus a João (Apocalipse, I,8,17).

Brahmâ, Vishnu e Shiva são uma trindade numa unidade, e, como a trindade cristã, são mutuamente conversíveis. Na doutrina esotérica, eles são uma única e mesma manifestação daquele "cujo nome é sagrado demais para ser pronunciado e cujo poder é majestoso e infinito demais para ser imaginado". Assim, descrevendo-se os Avatares de um deles, todos os outros estão incluídos na alegoria, com uma modificação de forma, mas não de substância. É dessas manifestações que emanaram os muitos mundos anteriores e que emanará aquele que deve vir.

Além do fato de o Râmâyana ser o maior poema épico do mundo - a fonte e a origem da inspiração de Homero -, esse Avatar oculta um dos problemas científicos dos tempos modernos. Os brâmanes cultos da Índia nunca compreenderam a alegoria da famosa guerra entre homens, gigantes e macacos, senão como uma alegoria da transformação das espécies. Estamos persuadidos de que se os acadêmicos europeus se dirigissem a alguns brâmanes culto nativos em busca de informações, em vez de rejeitar unânime e incondicionalmente a sua autoridade, e se eles, com Jacolliot - contra quem se ergueram - procurassem luz nos documentos mais antigos espalhados em profusão por todos os pagodes do país, eles aprenderiam lições curiosas, mas muito úteis. Se alguém perguntar a um brâmanes erudito sobre a razão do respeito devido aos macacos - respeito que se origina na história dos feitos valorosos de Hanunman, o generalíssimo e fiel aliado do herói do Râmâyana -, essa pessoa abandona imediatamente a idéia errônea de que os hindus atribuem honras divinas a um deus-macaco. Talvez aprendesse - se o brâmanes o julgasse digno de uma explicação - que os hindus vêem no macaco apenas aquilo que Manu queria que ele fosse: a transformação da espécie mais diretamente relacionada com a da família humana - uma ramo bastardo enxertado em seu próprio tronco antes da perfeição final desta última. (Um cientista de Hanover publicou recentemente uma obra intitulada Über die Auflösung der Arten durch natürliche Zuchtwahl, em que mostra, com grande ingenuidade, que Darwin estava completamente enganado ao remontar a origem do homem ao macaco. Ao contrário, ele afirma que é o macaco que se desenvolveu do homem. Que, no começo, a Humanidade foi, moral e fisicamente, os tipos e os protótipos da nossa atual raça e da dignidade humana, por sua beleza de forma, regularidade de traços, desenvolvimento craniano, nobreza de sentimentos, impulsos heróicos e grandeza de concepções ideais. Isso é pura filosofia bramânica, budista e cabalística. Seu livro é copiosamente ilustrado com diagramas, tabelas, etc. Ele afirma que o envelhecimento e a degradação do homem, moral e fisicamente, podem ser facilmente verificados através das transformações etnológicas até os nosso dias. E, como uma porção já degenerou em macacos, também o homem civilizado dos dias de hoje será sucedido, pelo menos, sob a ação da inevitável lei da necessidade, por descendentes semelhantes. Se pudermos julgar o futuro pelo presente, parece bastante possível que um corpo tão não-espiritual e materialista como o dos nossos cientistas termine como simiae e não como serafins.). Ele aprenderia, além disso, que aos olhos dos "gênios" cultos, o homem espiritual ou interior é uma coisa e que o seu envoltório físico, terrestre, é outra. Que a natureza física, a grande combinação de correlações físicas de forças que avançam em direção à perfeição, foi obrigada a se servir do material que tinha em mãos; ela modela e remodela enquanto prossegue e, terminado a sua obra no homem, apresenta-o apenas como um tabernáculo apropriado ao obscurecimento do espírito Divino. Mas este dá ao homem o direito de vida e de morte sobre os animais inferiores a ele, na escala da natureza, ou o direto de os torturar. Exatamente o contrário. Além de ser dotado de uma alma - que qualquer animal, e mesmo qualquer planta, também possui mais ou menos -, o homem tem uma alma imortal racional, ou Nous, que deveria torná-lo pelo menos igual em magnanimidade ao elefante, que caminha cuidadosamente para não esmagar os animais mais frágeis do que ele. É esse sentimento que faz com que os brâmanese e os budistas construam hospitais para animais doentes, e até mesmo para insetos, e a preparar refúgios onde eles possam terminar os seus dias. É esse mesmo sentimento, ainda, que faz com que o sectário jainista sacrifique metade da sua vida a varrer do seu caminho os insetos inúteis e impotentes e a não privar da vida mesmo os menores dos seres; e é ainda esse sentido da mais elevada benevolência e de caridade para com os fracos, por abjetos que possam parecer, que os faz honrar uma das modificações da sua própria natureza dual que posteriormente deu lugar, na crença popular, à metempsicose. Nenhum sinal dela existe nos Vedas; e, sendo a verdadeira interpretação dessa doutrina discutida extensamente em Manu e nos livros sagrados budistas e limitada desde o início às castas sacerdotais cultas, não devemos espantar com idéias absurdas do povo a seu respeito.

Houve evolucionistas antes do dia em que Noé mítico teve de, na Bíblia, flutuar em sua arca; e os cientistas antigos estavam mais bem informados, e tinham as suas teorias mais bem definidas, do que os evolucionistas modernos.

Platão, Anaxágoras, Pitágoras, as escolas eleatas da Grécia, bem como os antigos colégios sacerdotais caldaicos - todos eles ensinaram a doutrina da evolução dual; a doutrina da transmigração das almas referia-se apenas ao progresso do homem de um mundo a outro, após a morte nessa Terra. Toda filosofia digna desse nome ensinava que o espírito do homem, se não a alma, era preexistente. "Os Essênios", diz Josefo, "acreditavam que as almas eram imortais e que elas desciam dos espaços etéreos para se acorrentarem aos corpos". Filon, o Judeu, por sua vez, diz que "o ar está cheio delas [das almas]; aquelas que estão próximas da Terra, descendo para se ligarem aos corpos mortais, retornam a outros corpos, desejosas que são de viver neles". No Zohar, a alma implora a sua liberdade diante de Deus: "Senhor do Universo! Estou feliz neste mundo, e não quero ir para outro mundo, onde eu serei uma criada e estarei exposta a todas as espécies de poluições" A doutrina da necessidade fatal, a Lei eternamente imutável, é afirmada na resposta da Divindade: "Contra a tua vontade tornar-te-ás um embrião e contra a tua vontade tu nascerá". A luz seria incompreensível sem a escuridão, para torná-la manifesta por contraste; o bem não seria o bem se não existisse o mal, para mostrar a natureza sem preço de benefício; é assim que a virtude pessoal não teria nenhum direto ao mérito, se ela não atravessasse a fornalha da tentação. Nada é eterno e imutável, exceto a Divindade Oculta. Nada do que é finito - seja porque teve um começo ou porque terá um fim - pode permanecer estacionário. É preciso avançar ou recuar; e uma alma que tem sede de reunir-se ao seu espírito, o único a lhe conferir imortalidade, deve purificar-se através de transmigrações cíclicas, avançando para a única Terra da Bem-aventurança e do Repouso Eterno, chamada de "O Palácio do Amor", [hekal ahabah], no Zohar; de "Moksha", na religião hindu; de "Pleroma da Luz eterna, entre os gnósticos e de Nirvana, pelos budistas. Os cristãos chamam-na de "Reino dos Céus" e pretendem terem sido os únicos a encontrar a verdade, ao passo que não fizeram mais do que inventar um novo nome para uma doutrina que é tão velha como o homem.

Está no Zohar a prova de que a transmigração da alma não tem relação alguma com a condição do homem sobre essa Terra após a morte, não obstante os numerosos erros de seus tradutores. "Todas as almas que se alienaram do Santo Ser - louvado seja Seu nome - no céu, lançaram-se a um abismo no momento mesmo da sua existência e anteciparam o momento de seu retorno a esta Terra. (...) Vinde e vede quando a alma chega à morada do Amor. (...) A alma não pode enfrentar essa luz sem vestir o manto luminoso. Pois, exatamente como a alma enviada para a Terra veste uma veste terrestre para aqui se preservar, também ela recebe uma veste brilhante para ser capaz de olhar sem perigo no espelho cuja luz procede do Senhor da Luz." Além disso, o Zohar ensina que a lama não pode chegar à Terra da Bem-aventurança se não tiver recebido o "beijo sagrado", ou a reunião da alma com a substância de que ela emanou - o espírito. Todas as almas são duais, e, ao passo que são o princípio feminino, o espírito é masculino. Enquanto aprisionado no corpo, o homem é uma trindade, a menos que a sua poluição seja tal, que tenha provocado seu divórcio do espírito. "Infeliz da alma que prefere para seu divino marido [espírito] o casamento terrestre com seu corpo terrestre", recorda um texto do Livro das Chaves.

Essas idéias sobre as transmigrações e a trindade do homem eram sustentadas por muitos dos padres cristãos primitivos. Foi a confusão entre alma e espírito, feita pelos tradutores do Novo Testamento e pelos antigos tratados filosóficos, que ocasionou tantos mal-entendidos. Foi também uma das muitas razões por que Buddha, Plotino e muitos outros iniciados são agora acusados de desejar a extinção total de suas almas - "absorção na Divindade" ou "reunião com a alma universal" - que, segundo as idéias modernas, significa aniquilação. A alma animal deve, naturalmente, ser desintegrada em suas partículas, antes de ligar a sua essência pura ao espírito imortal. Mas os tradutores, tantos dos Atos quanto das Epístolas, que fixaram as bases do Reino dos Céus, e os comentadores modernos do Sûtra da Fundação do Reino da Retidão budista, malbarataram o sentido do grande apóstolo do Cristianismo e do grande reformador da Índia. Os primeiros suprimiram a palavra, de maneira que nenhum leitor imagina que ela tenha alguma relação com a alma; e, com esta confusão entre alma e espírito, os leitores da Bíblia só podem formar uma idéia errada desse assunto; e os intérpretes do sûtra não conseguiram compreender o significado e o objeto dos quatro graus do Dhyâna budista.

 

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