O Poder da Imaginação

Enviado por Estante Virtual em sab, 17/12/2011 - 01:25

O célebre escocês Maxwell oferecia-se para provar às várias faculdades de Medicina que com certos meios magnéticos à sua disposição ele poderia curar qualquer uma das doenças abandonadas por elas como incuráveis, tais como epilepsia, insanidade, coxeadura, hidropisia e as febres obstinadas ou intermitentes.

A história familiar do exorcismo do "espírito mau procedente de Deus" que obsediava Saul, ocorrerá a todos a este propósito. Ela é assim relatada: "E sucedeu que, quando o espírito maligno da parte de Deus vinha sobre Saul, tomava a harpa, e a dedilhava; então Saul sentia alívio, e se achava melhor, e o espírito maligno se retirava dele".

Maxwell, em sua De medicina magnética, expõe as seguintes proposições, que não são outras senão as mesmas doutrinas dos alquimistas e dos cabalistas:

"O que os homens chamam de alma do mundo é uma vida, como o fogo, espiritual, ligeira, luminosa e etérea como a própria luz. É um espírito de vida que existe em toda parte, e que é em toda parte o mesmo. (...) Toda matéria é desprovida de ação, exceto quando é animada pelo espírito. Esse espírito mantém todas as coisas em seu estado peculiar. Encontra-se na natureza livre de todos os grilhões; e aquele que sabe como uni-lo a um corpo harmônico possui um tesouro que ultrapassa todas as riquezas".

"O espírito é o vínculo comum de todos os quadrantes da Terra, e vive em tudo e por tudo."

"Aquele que conhece este espírito da vida universal e as suas aplicações pode prevenir todas as injúrias".

"Se sabes utilizar este espírito e fixá-lo sobre algum corpo particular, realizará o mistério da Magia".

"Aquele que sabe como agir sobre o homem por meio desse espírito universal pode curar, e à distância que lhe aprouver".

"Aquele que pode fortificar o espírito próprio com este espírito universal continuará a viver até a eternidade".

"Existe um vínculo que une os espíritos ou as emanações, mesmo quando eles estão separados uns dos outros. E qual é esse vínculo? É um fluxo eterno e incessante dos raios de um corpo em outro".

"Entrementes", diz Maxwell, "não é sem perigo ocupar-se dele. Muitos abusos abomináveis podem ocorrer".

Vemos agora quais são esses abusos dos poderes mesméricos e magnético sem alguns médiuns curadores.

Curar, para merecer tal nome, requer a fé do paciente ou uma saúde robusta unida a uma vontade poderosa do operador. Com paciência suplementada pela fé, pode o homem curar-se de quase todos os estados morbíficos. O túmulo de um santo; uma relíquia sagrada; um talismã; um pedaço de papel ou de tecido que foi manuseado pelo suposto curador; uma panacéia; uma penitência ou uma cerimônia; a imposição das mãos, ou algumas palavras pronunciadas de modo emocionante - um ou outro o fará. É uma questão de temperamento, imaginação, auto-sugestão. Em milhares de casos, o médico, o sacerdote ou a relíquia obtiveram o crédito por curas que eram devidas única e simplesmente à vontade inconsciente do paciente. À mulher com perda de sangue que se espremia pela turba a fim de tocar a túnica de Jesus, assegurou-se-lhe que foi a "fé" que a curou.

A influência da mente sobre o corpo é tão poderosa que ela realizou milagres em todos os tempos.

"Quantas curas inesperadas, súbitas e prodigiosas foram realizadas pela imaginação", diz Salvete. "Nossos livros de Medicina estão repletos de fatos dessa natureza, que passariam facilmente por milagres."

Mas, se o paciente não tem fé, o que acontece? Se ele é fisicamente negativo e receptivo, e o curador forte, saudável, positivo, determinado, a doença pode ser extirpada pela vontade imperativa do operador que, consciente ou inconscientemente, chama a si e se fortalece com o espírito da natureza universal, e restaura o equilíbrio perturbado da aura do paciente. Ele pode empregar como um auxiliar um crucifixo - como fazia Gassner; ou impor as mãos e a "vontade", como o zuavo francês Jacob, como o nosso célebre americano Newton, que curou muitos milhares de sofredores, como muitos outros; ou como Jesus, e alguns apóstolos, ele pode curar com uma palavra de comando. O processo em cada caso é o mesmo.

Em todos estes casos a cura é radical e real, e sem efeitos danosos secundários. Mas quando alguém que está fisicamente doente tenta curar, ele não apenas falha como também comunica muitas vezes a sua doença ao paciente, e lhe rouba o pouco de força que tenha. O decrépito rei Davi reforçava o seu vigor combinado com o magnetismo sadio da jovem Abisague; e as obras de Medicina falam-nos de uma senhora idosa de Bath, Inglaterra, que arruinou sucessivamente, da mesma maneira, a constituição de duas criadas. Os velhos sábios, e também Paracelso, removiam as doenças aplicando um organismo sadio à parte afligida, e nas obras do filósofo do fogo acima mencionado sua teoria é clara e categoricamente exposta. Se uma pessoa doente - médium ou não - tenta curar, sua força pode ser suficientemente robusta para deslocar o mal, fazê-lo sair do presente lugar, e fazê-lo mudar-se para outro, onde brevemente reaparecerá; o paciente, entrementes, acredita-se curado.

Mas, que acontece se o curador está moralmente doente? As conseqüências podem ser infinitamente mais nocivas; pois é mais fácil curar uma doença física do que purificar uma compleição infeccionada pela torpeza moral. O mistério de Morzine, Cévennes e dos jansenistas ainda o é para os filósofos e os psicólogos. Se o dom da profecia, assim como a histeria e as convulsões, podem ser transmitidos pelo "contagio", por que não todos os outros vícios? O curador, neste caso, comunica ao seu paciente - que é agora sua vítima - o veneno moral que infecta sua própria mente e coração. Seu toque magnético é contaminação; seu olhar, profanação. Contra sua tara não existe proteção para o paciente passivelmente receptivo. O curador o mantém sob seu poder, enfeitiçado e impotente, como, a serpente mantém um pobre e frágil pássaro. O mal que um desses "médiuns curadores" pode causar é incalculavelmente grande; e tais curadores se contam às centenas.

Mas, para fechar uma lista de testemunhas que se poderia prolongar indefinidamente, bastará dizer que, da primeira à última, de Pitágoras a Éliphas Lévi, da mais ilustre mais humilde, todas ensinam que o poder mágico jamais foi possuído por aqueles inclinados a prazeres viciosos. Apenas o puro de coração "vê Deus" ou exerce dons divinos - apenas ele pode curar as doenças do corpo e deixar-se guiar com relativa segurança pelos "poderes invisíveis". Apenas ele pode dar paz aos espíritos perturbados de seus irmãos e irmãs, pois as águas curativas não provêm de uma fonte envenenada; uva não crescem em espinheiros, e cardos não produzem figos. Mas, apesar disso, "a Magia nada tem de supremo"; ela é uma ciência, e mesmo o poder de "expulsar demônios" era um ramo seu, de que os iniciados fizeram um estado especial. "A arte que expulsa demônios dos corpos humanos é uma ciência útil e salutar aos homens", diz Josefo.

Outras páginas interessantes: