A Manifestação da Vontade e as Forças Psíquicas

Enviado por Estante Virtual em sab, 17/12/2011 - 01:20

E agora podemos perguntar: como se manifesta a vontade a um tempo consciente ou inconscientemente, isto é, com inteligência ou sem ela? A mente não pode estar separada da consciência, entendendo-se por tal a consciência física, senão uma quantidade do princípio senciente da alma, que pode atuar mesmo quando o corpo físico esteja adormecido ou paralisado. Se, por exemplo, levantamos maquinalmente o braço, cremos que o movimento é inconsciente porque os sentidos corporais não apreciam o intervalo entre o propósito e a execução. No entanto, a vigilante vontade gerou força e pôs o braço em movimento. Nada há, nem ao menos nos mais vulgares fenômenos Mediúnicos, nada que confirme a hipótese de Cox, pois se a inteligência denotada pela força não prova que o seja de um espírito desencarnado, menos ainda poderia sê-lo do médium inconsciente. O próprio Sr. Crookes nos fala de casos em que a inteligência não poderia ter emanado de nenhuma pessoa da sala; como no exemplo em que a palavra "however" ["todavia"], coberta por seu dedo e desconhecida dele próprio, foi escrita corretamente na prancheta. Nenhuma explicação justificaria este caso; a única hipótese admissível - se excluirmos a intervenção de um poder-espírito - é a de que as faculdades clarividentes foram postas em jogo. Mas os cientistas negam a clarividência; e se, para escapar da alternativa importuna de atribuir os fenômenos a uma fonte espiritual, eles admitirem o fato da clarividência, então ela os obriga a aceitar a explicação cabalística do que seja esta faculdade, ou então a cumprir a tarefa até agora impraticável de elaborar uma nova teoria que se adapte aos fatos.

Como dissemos anteriormente, a força psíquica moderna e os fluidos oraculares antigos, terrestres ou siderais, são idênticos em essência - simplesmente uma força cega. Assim é o ar. E, ao passo que num diálogo as ondas sonoras produzidas por uma conversação de interlocutores afetam o mesmo corpo de ar, isto não implica dúvida alguma sobre o fato de que há duas pessoas conversando uma com a outra. É mais razoável dizer que, quando um agente comum é empregado pelo médium e pelo "espírito" para se intercomunicarem, não deve necessariamente se manifestar senão uma inteligência? Como o ar é necessário para a troca mútua de sons audíveis, assim também certas correntes de luz astral, ou de éter dirigido por uma inteligência, são necessária para a produção dos fenômenos psíquicos. Colocai dois interlocutores no recipiente desprovido de ar de um compressor e, se eles viverem, as suas palavras serão pensamentos inarticulados , pois não haveria ar para vibração e, em conseqüência, para produção de som que chegasse aos seus ouvidos. Colocai o médium mais forte numa atmosfera isolada como a que um mesmerizador poderoso, familiarizado com as propriedades do agente mágico, pode criar ao seu redor, e nenhuma manifestação ocorrerá até que uma inteligência oposta, mais patente do que o poder de vontade do mesmerizador, vença esta última e faça cessar a inércia astral.

Os antigos distinguiram perfeitamente entre uma força cega que age espontaneamente e a mesma força dirigida por uma inteligência.

Plutarco, sacerdote de Apolo, ao falar dos vapores oraculares, que não eram senão gases subterrâneos impregnados de propriedades magnéticas intoxicantes, mostra que a sua natureza é dual quando se dirige a ele com, estas palavras: "E quem és tu? sem um Deus que te crie e te aprimore; sem um demônio [espírito] que, agindo sob as ordens de Deus, te dirige e te governe - tu não podes nada, tu és nada mais do que um sopro inútil". Assim, sem alma ou inteligência que a habite, a força psíquica seria apenas um "sopro inútil".

Aristóteles afirma que esse gás, ou emanação astral, que escapa de dentro da Terra, é a única causa suficiente, que age de dentro para fora a vivificação de todo ser e planta que vivem na crosta exterior. Em resposta aos negadores cépticos do seu século, Cícero, movido por uma ira justificada, exclama: "E o que pode ser mais divino do que as exalações da Terra, que afetam a alma humana de maneira a torná-la capaz de predizer o futuro? E poderia a mão do tempo evaporar essa virtude? Supões que falas de uma espécie de vinho ou de carne salgada?". Podem os experimentalistas modernos pretender ser mais sábios do que Cícero e dizer que essa força evaporou-se e que as fontes de profecia estão secas?

Diz-se que todos os profetas da Antigüidade - sensitivos inspirados - emitiam as suas profecias nas mesmas condições, por eflúvio externo direto da emanação astral ou por uma espécie de fluxo úmido proveniente da Terra. É esta matéria astral que serve como revestimento temporário das almas que se formam nessa luz. Cornélio Agripa expressa as mesmas opiniões quanto à natureza desses fantasmas quando os descreve como úmidos ou aquosos: "in spiritu túrbido humidoque".

As profecias são pronunciadas de duas maneiras - conscientemente, por magos capazes de ler na luz astral; e inconscientemente, por aqueles que agem sob a influencia daquilo que se chama inspiração. A esta última classe pertencem os profetas bíblicos e os videntes estáticos modernos. Tão familiarizado estava Platão com este fato, que ele assim se expressa a respeito desses profetas: "Nenhum homem obtêm a verdade profética e a inspiração quando está em posse dos seus sentidos, (...) mas é necessário para isso que sua mente se ache possuída por algum espírito (...) Há quem o chame de profeta, mas ele não é mais que um repetidor, porque de nenhum modo se deve chamá-lo profeta, senão transmissor de visões e profecias".

Eis alguns desses fatos de "evidência esmagadora": 1º) O movimento de corpos pesados com contato, mas sem esforço mecânico. 2º) Os fenômenos de sons de percussão e outros. 3º) A alteração do peso de corpos. 4º) Movimentos de substâncias pesadas a uma certa distância do médium. 6º) A LEVITAÇÃO DE SERES VIVOS. 7º) "Aparições luminosas". Diz o Sr. Crookes: "Sob as condições mais estritas de teste, vi um corpo sólido autoluminoso, do tamanho e quase da mesma forma de um ovo de peru, flutuar silenciosamente pela sala, às vezes a uma altura a que nenhum dos presentes poderia chegar mesmo na ponta dos pés, e depois descer suavemente para o chão. Foi visível por mais de dez minutos e, antes que desaparecesse, golpeou a mesa por três vezes com um som que faz um corpo sólido e duro". (Devemos inferir que o ovo tivesse a mesma natureza do gato-meteoro de Babinet, que está classificado com outros fenômenos naturais nas obras de Arago.) 8º) O aparecimento de mãos, autoluminosos ou visíveis em luz comum. 9º) "Escrita direta" por essas mesmas mãos luminosas, separadas de um corpo, e evidentemente dotadas de inteligência (força psíquica?). 10º) "Formas e faces de fantasmas". Neste exemplo, a força psíquica provém "do canto da sala" como uma "forma de fantasma", pega um acordeão com as mãos e desliza pela sala tocando o instrumento; Home, o médium, estava à vista de todos durante todo o tempo. O Sr. Crookes testemunhou e testou tudo isso em sua própria casa e, assegurando-se cientificamente da autenticidade do fenômeno, relatou-o à Royal Sodiety. Foi ele bem recebido como o descobridor de fenômenos naturais de um caráter novo e importante? Que o leitor consulte a sua obra para a resposta.

Além dos fenômenos enumerados, o Sr. Crookes apresenta uma outra classe de fenômenos, que ele denomina "exemplos especiais, que lhe parecem advertir a ação de uma inteligência exterior".

"Eu estava", diz o Sr. Crookes, "com a Srta. Fox quando ela escrevia uma mensagem automaticamente para uma pessoa presente, enquanto uma mensagem para outra pessoa, sobre outro assunto, estava sendo dada alfabeticamente por meio de `batidas' e, durante todo o tempo, ela conversava tranqüilamente com uma terceira pessoa sobre um assunto totalmente diferente dos dois outros. (...) Durante uma sessão em que o médium era Home, uma pequena régua (...) se moveu em minha direção, em plena luz, e me transmitiu uma mensagem por meio de batidas na minha mão; eu repetindo o alfabeto, e a régua tocando a minha mão quando eu enunciava a letra correta (...) a uma certa distância das mãos do Sr. Home." A mesma régua, a pedido do Sr. Crookes, transmitiu-lhe "uma mensagem telegráfica através do código Morse, por meio de batidas na minha mão" (o código Morse era totalmente desconhecido dos presentes e apenas parcialmente conhecido pelo Sr. Crookes), "e ela, acrescenta o Sr. Crookes, "me convenceu de que havia um bom operador Morse do outro lado da linha, SEJA LÁ ONDE FOR ISSO". Seria impertinente neste caso sugerir que o Sr. procurasse o seu operador no seu domínio privado - a Terra Psíquica? Mas a mesma ripa fez mais e melhor. Em plena luz, na sala do Sr. Crookes, foi solicitada a ela uma mensagem, "(...) um lápis e algumas folhas de papel foram colocados no centro da mesa: um instante depois, o lápis ficou em pé e, depois de ter avançado com movimentos hesitantes para o papel, caiu. Ergue-se e tombou novamente (...) após três tentativas infrutíferas, uma pequena régua" (o operador Morse) "que estava repousando sobre a mesa deslizou para perto do lápis e ergueu-se a alguns centímetros da mesa; o lápis ergueu-se novamente e, apoiando-se à régua, tentaram os dois juntos escrever sobre o papel. Ele caiu e uma nova tentativa foi feita. Na terceira vez, a

régua levantou-se e voltou para o seu lugar, o lápis permaneceu como havia caído sobre o papel e uma mensagem alfabética nos disse: `Tentamos fazer o que foi solicitado, mas o nosso poder se esgotou!". A palavra nosso, que indica os esforços inteligentes da amistosa régua e lápis, fez-nos pensar que havia duas forças psíquicas presentes.

Em tudo isso, há alguma prova de que o agente diretor fosse "a inteligência do médium"? Não há, ao contrário, uma indicação de que os movimentos da régua e do lápis eram dirigidos por espíritos "dos mortos", ou pelo menos pelos espíritos de alguma outra entidades inteligentes inobservadas? Com certeza, a palavra Magnetismo explica neste caso tão pouco quanto a expressão força psíquica; entretanto, é mais razoável utilizar a primeira e não a segunda, quando mais não fosse pelo simples fato de que o magnetismo ou mesmerismo transcendente produz, fenômenos idênticos, quanto aos efeitos, àqueles produzidos pelo Espiritismo. O fenômeno do círculo encantado do Barão Du Potet e Regazzoni é tão contrário às leis aceitas da Fisiologia quanto a elevação de uma mesa sem contato o é às leis da Fisiologia Natural. Assim como homens fortes freqüentemente consideram impossível levantar uma pequena mesa que pesava alguns quilos e a reduziram a pedaços nas suas tentativas de erguê-la, assim também uma dúzia de experimentadores, entre os quais às vezes figuravam acadêmicos, foram absolutamente incapazes de atravessar uma linha traçada com giz no chão por Du Potet. Numa ocasião, um general russo, bastante conhecido pelo seu ceticismo, insistiu, até cair no chão com convulsões violentas. Neste caso, o fluído magnético que se opôs a tal resistência foi a força psíquica do Sr. Cox, que dotou as mesas de um peso extraordinário e sobrenatural. Se produzem os mesmo efeitos psicológicos e fisiológicos, existem boas razões para se acreditar que eles sejam mais ou menos idênticos. Não achamos que nossa dedução possa dar margem a alguma objeção. Além disso, mesmo que os fatos fossem negados, não há razão para que não existissem. Numa certa época, todas as Academias da Cristandade concordaram em negar que havia montanhas na Lua; e houve uma certa época em que, se alguém tivesse a temeridade de afirmar que havia vida tanto nas regiões superiores da atmosfera quanto nas profundezas insondáveis do oceano, ele seria tratado como louco ou ignorante.

"O diabo afirma, então, deve ser mentira!" - costuma dizer o piedoso abade Almignana, numa discussão com uma "mesa espiritualizada". Logo poderemos para-fraseá-lo e dizer: "Os cientistas negam, então deve ser verdade".

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