As Experiências de Crookes

Enviado por Estante Virtual em sab, 17/12/2011 - 01:18

No Researches in the Phenomena of Spiritualism do Sr. Crookes, à p. 101, este cavalheiro cita Sergeant Cox que, após ter dado a esta força o qualificativo de psíquica, explica-a nos seguintes termos: "Como o organismo é movido e dirigido em sua estrutura por uma força que é ou não é dirigida pela alma, pelo espírito ou pela mente (...) que constitui o ser individual que chamamos de `Homem`, é igualmente razoável a conclusão de que a força que causa os movimentos que estão fora dos limites dos corpos é a mesma força que produz o movimento dentro dos limi-tes do corpo. E da mesma maneira que a força externa é freqüentemente dirigida pela inteligência, é igualmente razoável a conclusão de que a inteligência diretora da força externa seja a mesma inteligência que dirige internamente a força".

A fim de compreender melhor essa teoria, poderíamos dividi-la em quatro proposições e mostrar que Sergeant Cox acredita:

1. Que a força que produz os fenômenos físicos precede do médium (conseqüentemente, é gerada nele).

2. Que a inteligência que dirige a força para a produção dos fenômenos (a) pode às vezes ser outra que não a inteligência do médium; mas a "prova" desse fato é "insuficiente"; portanto, (b) a inteligência di-retora é provavelmente a do próprio médium. A isto o Sr. Cox chama de "conclusão razoável".

3. Que a força que move a mesa é idêntica à força que move o próprio corpo do médium.

4. Ele combate energicamente a teoria, ou antes a asserção, espiritista de que "os espíritos dos mortos são os únicos agentes na produção de todos os fenômenos".

Antes de continuarmos nossa análise dessas opiniões, devemos lembrar ao leitor que nos achamos entre dois opostos extremos representados por duas facções - os crentes e os descrentes nessa ação dos espíritos humanos. Nenhuma delas parece ser capaz de decidir a questão levantada pelo Sr. Cox; pois enquanto os espiritistas são tão onívoros em sua credulidade, chegando a acreditar que todo som e todo movimento num círculo deve ser produzido por seres humanos desencarnados, os seus antagonistas negam dogmaticamente que algo possa ser produzido por "espíritos", pois eles não existem. Em conseqüência, nenhuma facção está em posição de examinar este assunto com a serenidade que sua importância requer.

Se eles consideram que a força que "produz movimento dentro do corpo" e aquela que "causa o movimento fora dos limites do corpo" têm a mesma essência, eles podem estar certos. Mas a identidade dessas duas forças acaba aí. O princípio vital que anima o corpo do Sr. Cox é da mesma natureza que o do seu médium; não obstante, ele não é o médium, nem este é o Sr. Cox.

Essa força, que, para agradarmos tanto ao Sr. Cox quanto ao Sr. Crookes, podemos chamar de psíquica ou de qualquer outra coisa, procede por meio do médium individual, e não a partir dele. Se procedesse dele, esta força seria gerada no médium e podemos mostrar que não é isso o que acontece; nem nos exemplos de levitação de corpos humanos, de movimentação de moveis e de outros objetos sem contato, nem naqueles casos em que a força apresenta razão e inteligência. É bastante conhecido dos médiuns e dos espíritas o fato de que quando mais passivo forem os primeiros, melhores serão as manifestações; e de que cada um dos fenômenos mencionados acima requer uma vontade consciente predeterminada. Em casos de levitação, deveríamos acreditar que essa força autogerada elevaria do solo a massa inerte, dirigi-la-ia pelo ar e a recolocaria no solo, evitando obstáculos e, em conseqüência, apresentando inteligência, agindo automaticamente, permanecendo o médium passivo durante todo o tempo. Se as coisas se passassem dessa maneira, o médium seria um mago consciente e toda pretensão de ser um instrumento passivo nas mãos de inteligências invisíveis seria inútil. Da mesma maneira, seria um absurdo mecânico considerar que uma quantidade de vapor suficiente para encher, sem estourar, uma chaleira, ergueria a chaleira - ou um jarro de Leyden, cheio de eletricidade, seria movido de lugar. Todas as analogias parecem indicar que a força que opera na presença de um médium sobre objetos externos procede de uma fonte estranha ao próprio médium. Poderíamos compará-la ao hidrogênio que triunfa da inércia do balão. O gás, sob o controle de uma inteligência, é acumulável no recipiente em volume suficiente para ultrapassar a atração de sua massa combinada. Analogamente produz a força psíquica os fenômenos de levitação, e embora seja de natureza idêntica à matéria astral do médium, não é a sua mesma matéria astral, pois este permanece durante todo o tempo numa espécie de torpor cataléptico, se é um autêntico médium. Portanto, o primeiro extremo da hipótese de Cox é errôneo, porque se baseia numa hipótese mecanicamente indefensável. Naturalmente o nosso argumento procede da suposição de que a levitação é um caso observado. A teoria da força psíquica, para ser perfeita, deve explicar todos os "movimentos visíveis (...) em substância sólidas" e entre estes está a levitação.

Quanto ao seu segundo extremo, negamos que não haja prova suficiente de que a força que produz os fenômenos seja às vezes dirigidas por inteligências outras que não a do médium. Ao contrário, há uma tal abundância de testemunhos para mostrar que, na maioria dos casos, nenhuma influência exerce a mente do médium nos fenômenos, pelo qual não pode passar sem reparos a temerária afirmação de Cox neste ponto.

Consideramos igualmente ilógica a sua terceira proposição; pois se o corpo do médium não for o gerador mas apenas o canal da força que produz o fenômeno - uma questão sobre a qual as pesquisas do Sr. Cox não lançam nenhuma luz -, então não decorre que, porque "a alma, o espírito ou a mente" do médium dirige o organismo do médium, é "alma, o espírito ou a mente" que levanta uma cadeira ou dá golpes correspondentes às letras do alfabeto.

Quando à quarta proporção, isto é, a de que "os espíritos dos mortos são os únicos agentes na produção de todos os fenômenos", não sentimos necessidade de nos ocuparmos dela neste momento, pois a natureza dos espíritos que produzem manifestações mediúnicas é tratada externamente em outros capítulos.

Outras páginas interessantes: