O primeiro era o princípio intelectual vivificador de todas as coisas; o caos, um princípio líquido informe, sem "forma ou sentido"; da união desses dois princípios veio a existir o universo, ou antes o mundo universal, a primeira divindade andrógina - cujo corpo é formado de matéria caótica - e a alma, feita de éter. De acordo com a fraseologia de um Fragmento de Herméias, "o caos, com esta união com o espírito, dotando-se de sentido, resplandeceu com prazer, e assim produziu a luz Protogonos (que-nasceu-primeiro)". Esta é a trindade universal, baseada nas concepções metafísicas dos antigos, que, raciocinando por analogia, fizeram do homem, que é um composto de intelecto e de matéria, o microcosmo do macrocosmo, ou o grande universo.
Este universo visível de espírito e de matéria, é apenas imagem concreta da abstração ideal; foi construído com base no modelo da primeira IDÉIA divina. Assim, o nosso universo existiu desde a eternidade em estado latente. A alma que anima esse universo puramente espiritual é o Sol Central, a mais elevada Divindade em si mesma. Não foi esta Divindade que construiu a forma concreta da idéia, mas o Seu primogênito; e, assim como ela foi construída com base na figura geométrica do dodecaedro, o primogênito "agradou-se em empregar doze mil anos na sua criação". Este número está indicado na cosmogonia tirrena, que mostra que o homem foi criado no sexto milênio. Isto está de acordo com a teoria egípcia de 6.000 "anos" (O leitor compreenderá que com "anos" se pretende dizer "eras", não meros períodos de 30 meses lunares cada um), e com o cômputo hebraico. Sanchoniathon, na sua Cosmogonia, afirma que quando o vento (espírito) se torna enamorado dos seus próprios princípios (o caos), uma união íntima se estabelece, cuja conexão foi chamada Pothos, e da qual surgiu a semente de todas as coisas. E o caos não conheceu a sua própria produção, pois era desprovido de sentido; mas de seu abraço com o vento foi engendrado Môt, ou o Ilus (o lodo). É dele que procedem os esporos da criação e da geração do universo.
Os antigos, que contavam apenas quatro elementos, fizeram do éter o quinto. Em virtude de a sua essência ter-se tornado divina pela presença inobservada, foi ele considerado um intermediário entre este mundo e o próximo.