A Doutrina da Transmigração pregada por Jesus

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 00:49
Após dezenove séculos de forçadas eliminações dos livros canônicos de toda sentença que poderia instalar o investigador no caminho correto, tornou-se muito difícil mostrar, para satisfação da ciência exata, que os adoradores "pagãos" de Adónis, seus vizinhos, os nazarenos, e os essênios pitagóricos, os terapeutas curadores, os ebionitas e outras seitas foram todos, com pouquíssimas diferenças, seguidores dos antigos mistérios teúrgicos. No entanto, graças à analogia e a um firme estudo do sentido oculto de seus ritos e costumes, podemos traçar-lhes as afinidades.
Foi dada a um contemporâneo de Jesus a possibilidade de mostrar à posteridade, interpretando a literatura mais antiga de Israel, a que ponto a Filosofia Cabalística concordava em seu esoterismo com a dos mais profundos pensadores gregos. Esse contemporâneo, ardente discípulo de Platão e Aristóteles, foi Fílon, o
Judeu. Porque explica os livros mosaicos de acordo com um método puramente cabalístico, ele é o famoso escritor hebreu a quem Kingsley chama de Pai do Novo Platonismo.
 
É evidente que os terapeutas de Fílon são um ramo dos essênios. Seu nome o indica - médicos. Daí, as contradições, as falsificações e outros desesperados expedientes para reconciliar as profecias do cânone judaico com a natividade e a divindade do Galileu.
 
Lucas, que era médico, é designado nos textos siríacos como Asaya, o essaiano ou essênio. Josefo e Fílon descreveram bastante essa seita para não deixar nenhuma dúvida em nossa mente de que o Reformador nazareno, após ter recebido sua educação nas moradas essênias do deserto, e ter sido profundamente iniciado nos mistérios, preferiu a vida livre e independente de um nazaria errante, e assim se separou ou se desnazarianou deles, tornando-se um terapeuta viajante, um nazaria, um curador. Todo terapeuta, antes de deixar sua comunidade, tinha de fazer o mesmo. Tanto Jesus como João Batista pregaram o fim da Idade (O significado real da divisão em eras é esotérico e budista. Os cristãos não iniciados tão pouco o compreenderam que aceitaram as palavras de Jesus literalmente e acreditaram firmemente que ele falava fim do mundo. Já antes houvera muitas profecias sobre a era vindoura. Virgílio, na quarta Écloga, faz menção a Metatron - uma nova prole que terminará com a idade de ferro para renascer com a idade de ouro.), o que prova seu conhecimento da computação secreta dos sacerdotes e dos cabalistas, que partilhavam com os chefes das comunidades essênias o segredo exclusivo da duração dos ciclos. Esses últimos eram cabalistas e teurgistas; "tinham seus livros místicos, e prediziam os eventos futuros", diz Munk.
 
Dunlap, cujas pesquisas pessoais parecem ter sido coroadas de sucesso nessa direção, constata que os essênios, os nazarenos, os dositeus e algumas outras seitas já existiam antes de Cristo: "Elas rejeitavam os prazeres, desprezavam as riquezas, amavam uns aos outros em mais do que outras seitas, desprezavam o matrimônio, considerando o domínio sobre as paixões como uma virtude", diz ele.
 
Todas essas virtudes era pregadas por Jesus; e se devemos aceitar os Evangelhos como um padrão de verdade, Cristo era um partidário da metempsicose, um reencanacionista - tal como esses mesmos essênios, que eram pitagóricos em todos os seus hábitos e doutrinas. Jâmblico afirma que o filósofo sammiano passou algum tempo com eles no monte Carmelo. Em seus discursos e sermões, Jesus sempre falou por parábolas e empregou metáforas com seus ouvintes. Esse hábito é também característico dos essênios e dos nazarenos; os galileus que habitavam em cidades e aldeias jamais foram conhecidos por empregarem tal linguagem alegórica. Na verdade, sendo alguns de seus discípulos galileu, como ele próprio, ficaram estes surpresos ao vê-lo empregar tal modo de expressão com o público. "Por que lhes falas por parábolas?", perguntavam com freqüência. "Porque a vós foi dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não", foi a resposta, que era a de um iniciado. "É por isso que lhes falo por parábolas: porque vêem sem ver, e ouvem sem ouvir, nem entender." (Mateus, XII, 10-3) Além disso, vemos Jesus expressando ainda mais claramente seus pensamentos - e em sentenças que são puramente pitagóricas - quando, durante o Sermão da Montanha, diz:
 
"Não deis o que é sagrado aos cães,
Nem atireis as pérolas aos porcos;
Pois os porcos as pisarão
E os cães se voltarão e vos morderão."
 
O Prof. A. Wilder, o editor de Eleusinian and Bacchic Mysteries, de Taylor, observa "uma idêntica disposição da parte de Jesus e Paulo para classificar suas doutrinas como esotéricas e exotéricas, `os mistérios do Reino de Deus para os apóstolos e `parábolas' para a multidão. `Pregamos a sabedoria', diz Paulo, `àqueles dentre eles que são perfeitos' (ou iniciados)".
 
Nos mistérios de Elêusis e em outros, os participantes eram sempre divididos em duas classes: os neófitos e os perfeitos. Os primeiros eram às vezes admitidos na iniciação preliminar: a representação dramática de Ceres, ou a alma, que desce ao Hades (Essa descida ao Hades significa a sina inevitável de toda alma que se une por algum tempo a um corpo terrestre. Essa união, ou essa sombria perspetiva para a alma de se ver aprisionada na sombria morada de um corpo, era vista por todos os filósofos antigos, e ainda hoje pelos budistas modernos, como uma punição.). Mas só aos "perfeitos" era concedido desfrutar dos mistérios do divino Elysium, a morada celestial do abençoado, sendo o Elísio inquestionavelmente um correlato do "Reino dos Céus". Contraditar ou rejeitar o que está acima seria apenas fechar os olhos à verdade.
 
A narrativa do Apóstolo Paulo, em sua segunda Epístola aos Coríntios (XII,2-4), impressionou a vários eruditos, bem versados nas descrições dos ritos místicos da iniciação dados por alguns clássicos, e que fazem alusão, sem nenhuma dúvida, à Epopteia final. "Conheci um certo homem que foi arrebatado ao Paraíso - se em seu corpo, se fora do corpo, não sei: Deus o sabe - e que ouviu palavras inefáveis, que não é lícito ao homem repetir." Essas palavras raramente foram consideradas pelos comentaristas, ao que saibamos, como uma alusão às visões beatíficas de um vidente "iniciado". Mas a fraseologia é inequívoca. Essas coisas "que não é lícito ao homem repetir" são sugeridas pelas próprias palavras, e a razão que se dá para isso é a mesma que vemos repetida muitas vezes por Platão, Proclo, Jâmblico, Heródoto e outros clássicos. "Pregamos a SABEDORIA [apenas] àqueles que são PERFEITOS", diz Paulo [I Coríntios, II, 6.), sendo a seguinte a tradução clara e inegável dessa frase: "pregamos as doutrinas esotéricas mais profundas (ou finais) dos mistérios (que foram denominados sabedoria) apenas àqueles que são iniciados." Por conseguinte, no que diz respeito ao "homem que foi arrebatado ao Paraíso" - e que era evidentemente o próprio Paulo -, a palavra cristã Paraíso substituiu o nome Elísio. Para completar a prova, podemos relembrar as palavras de Platão, dadas noutro lugar, que mostram que, antes de um iniciado poder ver os deuses em sua luz mais pura, ele deve libertar-se de seu corpo; i.e., separar sua alma astral. Apuleio também descreve sua iniciação nos mistério da mesma maneira: "Aproximei-me dos confins da morte; e, tendo trilhado o limiar de Proserpina, retornei, após ter sido transportado por todos os elementos. Nas profundezas da meia-noite, vi o Sol faiscando com uma esplêndida luz, juntamente com os deuses infernais e supernos, e, ao me aproximar dessas divindades, paguei o tributo de uma devota adoração".
 
Portanto, em comum com Pitágoras e outros reformadores hierofantes, Jesus dividiu seus ensinamentos em exotéricos e esotéricos. Seguindo fielmente os procedimentos pitagóricos-essênios, ele jamais se sentou à mesa antes dizer "graças". "O sacerdote reza antes de se pôr à mesa", diz Josefo, descrevendo os essênios. Jesus também dividia seus seguidores em "neófitos", "irmãos" e "perfeitos", se podemos julgar pela diferença que fazia entre eles. Mas sua carreira, pelo menos como um rabino público, foi de duração curta demais para lhe permitir estabelecer uma escola regular própria; e com exceção, talvez, de João, não consta que ele tenha iniciado qualquer outro apóstolo. Os amuletos e talismã gnósticos são, antes de mais nada, emblemas das alegorias apocalípticas. As "sete vogais" estão estritamente relacionadas com os "sete selos"; e o título místico Abraxas partilha tanto da composição de Shem ha-Mephosah, "a palavra sagrada" ou nome inefável, como era o nome chamado: A palavra de Deus, que "ninguém conhecia, exceto ele próprio", como o expressa João.

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