Doutrina cabalista de cosmogonia

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 02:04

Temo a seguinte afirmação no primeiro livro de Manu: "Sabei que a soma de 1.000 eras divinas compõe a totalidade de um dia de Brahmâ; e que uma noite é igual a um dia". Mil eras divinas são iguais a 4.320.000.000 anos humanos nos cálculos bramânicos.

"Na expiração de cada noite, Brahmâ, que estava adormecido, desperta e [pela energia do movimento] emana de si mesmo o espírito, que em sua essência É, e entretanto não É."

"Movido pelo desejo de criar, o Espírito [a primeira das emanações] opera a criação e dá nascimento ao éter, no qual os sábios reconhecem a faculdade de transmitir o som.

"O éter engendra o ar, cuja natureza é tangível [e que é necessário vida].

"Por uma transformação do ar, a luz é produzida.

"[Do ar e] da luz [que engendra o calor], forma-se água [e a água é o útero de todos os germes vivos].

Durante todo o imenso período de criação progressiva, que se estende por 4.320.000.000 anos, o éter, o ar, a água e o fogo (calor) estão constantemente produzindo matéria sob o impulso do Espírito, ou do Deus não-revelado que preenche toda a criação, pois ele está em tudo, e tudo está Nele.

No Sepher Yetzîrah, o livro cabalístico da Criação, seu autor repetiu evidentemente as palavras de Manu. Nele, a Substância Divina está representada como se tivesse existido sozinha desde a eternidade, desmedida e absoluta; e fez emanar de si mesma o Espírito. "O Espírito de Deus vivo é Um, abençoado seja Seu nome, que vive para sempre! Voz, Espírito e Palavra - eis o Espírito Santo"; e esta é a Trindade cabalística abstrata, tão sem-cerimônia antropomorfizada pelos padres. Desse UM triplo emanou todo o Cosmo. Primeiramente, o elemento criador; e depois o número TRÊS, Água, que procede do ar; Éter ou Fogo completam o quaternário místico, o Arba-il. "Quando o Oculto quis revelar-Se, produziu primeiramente um ponto [ponto primordial, ou o primeiro Sephirah, ar ou Espírito Santo], deu-lhe uma forma sagrada [os dez Sephiroth, ou o homem celeste] e a recobriu com uma rica e esplêndida veste, que é o mundo. "Ele fez do vento os seus mensageiros, e, do Fogo flamejante, os seus servidores", diz o Yetzîrah, mostrando o caráter cósmico dos anjos evemerizados posteriores, e que o Espírito permeia os mínimos átomos do Cosmo. (É interessante lembra Hebreus, I,7 em relação a essa passagem. "Aquele que faz dos seus anjos [mensageiros], espíritos, e dos ministros [servos, aqueles que prestam auxílio], chama de fogo". A semelhança é demasiado viva para que deixemos de inferir que o autor de Hebreus estava tão familiarizado com a "Cabala" quando costumam os seus adeptos.)

Quando o ciclo da criação chega ao seu final, a energia da palavra manifesta está enfraquecida. Só ele, o Inconcebível, é imutável (sempre latente), mas a Força Criadora, embora também seja eterna, ela também, porque estive ali desde o "não-começo", deve sujeitar-se aos ciclos periódicos de atividade e de repouso; como ela teve começo em um dos seus aspetos, quando de sua primeira emanação, ela também deve, por conseguinte, ter um fim. Assim, a tarde sucede o dia, e a noite da divindade se aproxima. Brahmâ está adormecido pouco a pouco. Em um dos livros do Zohar lemos a seguinte afirmação:

"Enquanto Moisés velava sobre o monte Sinai em companhia da Divindade, que uma nuvem ocultava à sua visão, sentiu uma grande temor se apoderar dele e perguntou repentinamente: `Senhor, onde estás (...) dormes, Senhor?' E o Espírito lhe respondeu: `Eu nunca durmo; se eu dormir por um momento sequer antes da minha hora, toda a Criação entrará em dissolução em um instante'." E Vâmadeva Modaliyar descreve a "noite de Brahmâ", ou o segundo período da existência Divina Desconhecida, com as seguinte palavras:

"Estranhos rumores se fazem ouvir, os quais procedem de todos os lugares. (...) São os precursores da Noite de Brahmâ; o crepúsculo ergue-se no horizonte e o Sol desaparece atrás do trigésimo grau de Makara (signo do zodíaco) e não chega ao signo de Mina (o pisce zodiacal, o signo de peixes). Os gurus dos pagodes, designados para velar pelo râsi-chakra [Zodíaco], já podem quebrar seus círculos e instrumentos, pois são doravante inúteis.

"A luz enfraquece gradualmente, o calor diminui, os lugares inabitáveis multiplicam-se sobre a Terra, o ar torna-se mais e mais rarefeito; as fontes de água secam, os grandes rios vêem exaustas as suas ondas, o oceano mostra o seu leito de areia e as plantas morrem. Os homens e os animais diminuem de estatura dia-a-dia. A vida e o movimento perdem sua força, os planetas mal podem gravitar no espaço; extinguem-se um a um, como uma lâmpada que a mão do chokra [servo] não enche mais. Sûrya (o Sol) vacila e se apaga, a matéria entra em dissolução (pralaya) e Brahmâ retorna a Dyaus, o Deus Não-revelado, e, cumprida a sua tarefa, adormece. Outro dia passou, a noite se estende e continua até a futura aurora.

"Agora, os germes de tudo o que existe entram novamente no Ovo Dourado do Seu Pensamento, como nos diz o divino Manu. Durante Seu repouso pacífico, os seres animados, dotados dos princípios de ação, interrompem as suas funções e toda sensação (manas) adormece. Quando todos são absolvidos na ALMA SUPREMA, essa alma de todos os seres dorme em completo repouso, até o dia em que ela resume sua forma e desperta novamente de sua escuridão primitiva."

 

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