A Comunhão Bramânica dos Egípcios. Descida da Alma para a Geração

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 00:32
Mesmos o episódio da Matrona Baubo - cujo modo excêntrico de consolação foi imortalizado nos mistérios menores - é explicado de uma maneira muito natural pelos mistagogos imparciais. Ceres-Deméter e as sua peregrinações terrestres à procura de sua filha são as representações evemerizadas de um dos assuntos mais metafísicos-psicológicos jamais tratados pela mente humana. É uma máscara para a narrativa transcendente dos videntes iniciados; a visão celestial da alma liberada do novo iniciado descrevendo o processo pelo qual a alma que ainda não encarnou desce pela primeira vez à matéria. "Bem-aventurado aquele que viu essas coisas comuns do mundo inferior; ele conhece tanto o fim da vida quanto a sua origem divina em Júpiter", diz Píndaro. Taylor demonstra, com base em mais de um iniciando, que os "espetáculos dramáticos dos mistérios menores eram destinados pelos antigos teólogos, os seus autores, a representar de uma maneira oculta a condição da alma impura investigada de um corpo terrestre por uma natureza material e física (...) que, na verdade, a alma, até ser purificada pela filosofia, morre após unir-se ao corpo (...)".
 
O corpo é o sepulcro, a prisão da alma, e muitos padres cristãos admitiam com Platão que a alma é punida por sua união com o corpo. Esta é a doutrina fundamental dos budistas e de muitos brâmanes também. Quando Plotino observa que "quando a alma desceu para a geração [da sua condição semidivina], ela participa do mal e é levada para muito longe, num estado oposto à sua pureza e integridade primitiva, para ser completamente imersa em algo que nada mais é do que uma queda num lamaçal", ele está apenas repetindo os ensinamentos de Gautama Buddha. Se devemos acreditar nos iniciados antigos, devemos aceitar a sua interpretação dos símbolos. E se, além disso, vemo-los coincidir perfeitamente com os ensinamentos dos maiores filósofos e se vemos que o que sabemos simboliza o mesmo significado nos mistérios modernos do Oriente, então devemos acreditar que eles têm razão.
 
Se Deméter era tida como a alma intelectual, ou antes a alma astral, metade emanação do espírito e metade corrompida pela matéria por sua sucessão de evoluções espirituais - podemos compreender facilmente a significação da Matrona Baubo, a Encantadora, que antes de conseguir reconciliar a alma, Deméter, com a sua nova posição, viu-se obrigada a assumir as formas sexuais de uma criança. Baubo é a matéria, o corpo físico, e a alma astral intelectual, ainda pura, não pode ser atirada em sua nova prisão terrestre a não ser que se apresente sob a forma de uma criança inocente. Até este momento, Deméter, ou Magna-mater, a Alma, vaga e hesita e sofre; mas, tendo bebido da poção mágica preparada por Baubo, esquece as suas penas; por um certo tempo ela se separa dessa consciência inteligente mais elevada que possuía antes de entrar no corpo de uma criança. A partir desse momento ela tentará reencontrá-la; e quando a idade da razão chaga a uma criança, a luta - esquecida durante os anos de infância - recomeça. A alma está colocada entre a matéria (o corpo) e o intelecto superior (o seu espírito imortal ou Nous). Qual dos dois ela conquistará? O resultado da batalha da vida reside na Tríade. (Tríade Superior, ou Corpo Espiritual, Âtma, Buddhi e Manas). É uma questão de alguns anos de desfrute físico na Terra e - se ela cometeu abusos - de dissolução do corpo terrestre, seguida da morte do corpo astral, que assim é impedido de se unir ao espírito superior da Tríade; só este nos confere a imortalidade individual; ou, por outro lado, a possibilidade de nos tornarmos mystae imortais; iniciados antes da morte do corpo nas verdades divinas da vida futura. Semideuses embaixo e DEUSES em cima.
 
Esse era o objetivo dos mistérios, tachado de diabólicos pela Teologia e ridicularizado pelos simbologistas modernos. Negar que há no homem certos poderes arcanos que ele desenvolve, pelo estudo psicológico, até o grau mais elevado, torna-se um Hierofante e então transmiti-lo a outros sob as mesmas condições de disciplina terrena é acusar de falsidade e de loucura os melhores, os mais puros e os mais sábios homens da Antigüidade e da Idade Média. Eles nunca permitiram que alguém suspeitasse daquilo que era dado ao Hierofante na última hora. E, entretanto, Pitágoras, Platão, Plotino, Jâmblico, Proclo e muitos outros conheciam os mistérios e afirmaram a sua realidade.
 
Seja no "tempo interior", ou através do estudo privado da teurgia, ou pelo esforço de toda uma vida de trabalho espiritual, todos eles obtiveram a prova prática dessas possibilidades divinas para o homem na Terra em sua luta com a vida para merecer a vida na eternidade. Platão faz no Fedro (250 B, C) uma alusão ao que devia ser a última epopteia: "(...) iniciados nesses mistérios, aos quais é justo chamar de os mais sagrados de todos os mistérios (...) estamos livres das molestações dos males que nos esperariam períodos futuros. Da mesma maneira, em conseqüência dessa iniciação divina, tornamo-nos espectadores de visões divinas inteiras, simples, imóveis que têm sede na luz pura". Essa frase nos mostra que eles tinham visões, deuses, espíritos. Como Taylor observa corretamente, podemos concluir, dessa passagens emprestadas às obras dos iniciados, que "a parte mais sublime da opopteia (...) consistia na visão dos próprios deuses resplandecentes de luz", ou espíritos planetários superiores. A afirmação de Proclo a respeito desse assunto é inequívoca: "Em todas as iniciações e em todos os mistérios, os deuses apresentam-se sob muitas formas e surgem numa variedades de estados. E, às vezes, na verdade, eles se apresentam à visão numa luz sem forma; às vezes essa luz está de acordo com uma forma humana, e às vezes assume um estado diferente".
 
"Tudo que existe sobre a Terra é a semelhança e a SOMBRA de algo que existe na esfera enquanto a coisa resplendente [o protótipo da alma-espírito] permanece numa condição imutável; o mesmo acontece com a sua sombra. Mas, quando a coisa resplendente se retira para longe de sua sombra, a vida também se retira para longe. E, entretanto, essa mesma luz é a sombra de algo mais resplendente do que ela mesma". Assim fala o Desâtîr, deixando ver assim a identidade das doutrinas esotéricas com as dos filósofos gregos.
 
A segunda afirmação de Platão confirma nossa crença de que os mistérios dos antigos eram idênticos às iniciações, tal como são hoje em dia praticadas pelos adeptos budistas e hindus. As visões mais elevadas, as mais verdadeiras, são produzidas, não por estáticos naturais ou "médiuns", como às vezes erradamente se diz, mas por uma disciplina regular de iniciações graduais e de desenvolvimento de poderes psíquicos. Os mystai eram colocados em contato íntimo com aquilo que Proclo chama "naturezas místicas", "deuses resplendentes", porque, como diz Platão, "nós éramos puros e imaculados, libertos dessa vestimenta que nos cerca, e que denominamos corpo, ao qual estamos ligados como uma ostra à sua concha".

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