A cabala oriental e a "doutrina secreta"

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 19:41

Os Evangelhos apócrifos e Jasher são uma série de contos religiosos, em que um milagre sucede a outro milagre, e se narram as lendas populares como foram criadas pela primeira vez, sem considerar qualquer cronologia ou dogma. Ambos são pedras angulares das religiões mosaica e cristã. É evidente que existia um Livro de Jasher anterior ao Pentateuco mosaico, pois ele é mencionado em Josué, Isaías e 2 Samuel.

Em nenhum outro lugar se mostra tão claramente a diferença entre os eloístas e os jeovistas. Jehovah é aqui aquilo mesmo que dele falam os ofitas, um Filho de Ialdabaôth, ou Saturno. Neste Livro, os magos egípcios, quando o Faraó lhes perguntou "Quem é esse de que Moisés fala como o Eu sou?", respondem que "temos ouvido que o Deus dos hebreus é um filho do sábio, o filho de reis antigos" (cap. LXXXIX, 45). Pois bem, aqueles que afirmam que Jasher é uma fantasia do século XII - e nós acreditamos firmemente nisso - deveriam explicar o curioso fato de que, ao passo que o texto acima não se encontra na Bíblia a resposta a ele está, e está, além disso, vazada em termos inequívocos. Em Isaías, XIX, 11, o "Senhor Deus" lamenta-se furiosamente ao profeta e diz: "Certamente os príncipes de Zoan são tolos, o conselho dos sábios conselheiros do Faraó está-se tornando estúpido; como direis ao Faraó que eu sou o filho do sábio, o filho de antigos reis?"

- o que é evidentemente uma réplica. Em Josué, X, 13, faz-se uma referência a Jasher, em corroboração da asserção ultrajante de que o Sol e a Lua estavam parados até que o povo se vingasse. "Não está escrito no Livro de Jasher?" diz o texto. E em 2 Samuel, I, 18, o mesmo livro é novamente citado. "Vede", diz ele, "está escrito no Livro de Jasher". Evidentemente, Jasher deve ter existido; devia ser considerado uma autoridade; deve ter sido mais velho que Josué; e, dado que o versículo de Isaías aponta infalivelmente para a passagem citada acima, temos pelo menos, com muita razão, de aceitar a edição corrente de Jasher como uma transcrição, um excerto ou um compilação da obra original, como temos de reverenciar o Pentateuco septuagista como os anais sagrados hebraicos primitivos.

De qualquer modo, Jeová não é o Ancião dos Anciães a que alude o Zohar, pois o vemos, nesse livro, aconselhando-se com Deus Pai em relação à criação do Mundo. "O senhor da obra falou ao Senhor. Façamos o homem à nossa imagem" (Zohar, I, fol. 25). Jeová é apenas o Metatron e talvez nem seja o mais superior dos Aeons, mas apenas deles, pois aquele a quem Onkelos chama Memra, a "Palavra", não é o Jeová exotérico da Bíblia, nem Yahve, o Ser Supremo.

Foi o sigilo dos cabalistas primitivos, ansiosos por esconder à profanação o Nome verdadeiro, e, mais tarde, a prudência que os alquimistas e os ocultistas medievais foram compelidos a adotar para salvar suas vidas - foi isso que causou a confusão inextricável dos Nomes divinos. Foi isso o que levou o povo a aceitar o Jeová da Bíblia como o nome do "Deus vivente Único". Todo ancião ou profeta judeu, e até mesmo outros homens de qualquer importância, conhecem a diferença; mas, como a diferença reside na vocalização do "nome", e a sua pronúncia correta leva à morte, nenhum iniciado o revelou ao povo comum, pois não queria arriscar a sua vida ao ensiná-lo. Assim, a divindade sinaítica foi aos poucos sendo considerada idêntica a "Aquele cujo nome só é conhecido do sábio". Quando Capellus traduz "quem quer que pronuncie o nome de Johovah sofrerá pena de morte", ele comete dois erros. O primeiro ao acrescentar a letra final h ao nome, se ele quer que essa divindade seja considerada masculina ou andrógina, pois a letra torna o nome feminino, como realmente devia ser, considerado que é um dos nomes de Binah, a terceira emanação; seu segundo erro está em afirmar que a palavra nokeb significa apenas pronunciar distintamente. Em conseqüência, o nome bíblico Jehovah deve ser considerado apenas um sucedâneo que, pertencendo a um dos "poderes", veio a ser visto como do "Eterno". Há um erro evidente (um dos muitos) em um dos textos do Levítico, que foi corrigido por Cahen e que prova que a interdição não concernia de maneira alguma ao nome exotérico de Jehovah, cujos numerosos nomes também podiam ser pronunciados sem se incorrer em qualquer pena de morte. Na viciosa versão inglesa, a tradução diz: "E aquele que blasfemar o nome do Senhor, será certamente condenado à morte", Levítico, XXIV, 6. Cahen traduz mais corretamente por: "E aquele que blasfemar o nome do Eterno, será condenado", etc. O "Eterno" é algo mais elevado do que o "Senhor" exotérico e pessoal.

Como nas nações gentias, os símbolos dos israelitas estavam relacionados, direta e indiretamente, ao culto do Sol. O Jehovah exotérico da Bíblia é um deus dual, como os outros deuses; e o fato de Davi - que ignora completamente Moisés - glorificar seu "Senhor" e lhe assegurar que o "Senhor é um grande Deus, e um grande Rei acima de todos os deuses", deve ter grande importância para os descendentes de Jacó e de Davi, mas seu Deus nacional não nos interessa de maneira alguma. Para nós, o "Senhor Deus" de Israel merece o mesmo respeito que Brahmâ, Zeus ou qualquer outra divindade secundária. Mas recusamos, muito enfaticamente, reconhecer nele a Divindade adorada por Moisés ou o "Pai" de Jesus, ou mesmo o "Inefável Nome" dos cabalistas. Jehovah talvez seja um dos Elohim, que estavam implicados na formação (que não é criação) do universo, um dos arquitetos que construíram a partir da matéria preexistente, mas ele nunca foi a Causa "Incognoscível" que criou (bara) na noite da Eternidade. Esses Elohim primeiro formam e bendizem, para depois amaldiçoar e destruir; como um desses Poderes, Jehovah é alternadamente benéfico; num momento ele pune e depois se arrepende. É o contratripo de muitos dos patriarcas - de Esaú e de Jacó, os gêmeos alegóricos, emblemas do duplo princípio manifestado da Natureza. É assim que Jacó, que é Israel, é a coluna esquerda - o princípio feminino de Esaú, que é a coluna direita e o princípio masculino. Quando luta com Malach-Iho, o Senhor, é este que se transforma na coluna direita, a quem Jacó-Israel chama Deus, embora os intérpretes da Bíblia tenham tentado transforma-lo num mero "anjo do Senhor" (Gênese, XXXII). Jacó vence-o - como a matéria costuma vencer o espírito - mas seu músculo é deslocado na luta.

O nome de Israel deriva de Isaral ou Asar, o Deus-Sol, conhecido como Suryal, Sûrya e Sur. Isra-el significa "o que luta com Deus". "O Sol que acende sobre Jacó-Israel" é o Deus-Sol Isaral, que fecunda a matéria ou Terra, representada pelo Jacó-feminino. Como de costume, a alegoria tem mais de um significado oculto na Cabala. Esaú, Aesaou, Asu também é o Sol. Como o "Senhor", Esaú luta com Jacó e não vence. O Deus-Sol primeiro luta contra ele e depois se eleva sobre ele em sinal de aliança.

"E quando passou por Penuel, o Sol se ergueu sobre ele e ele [Jacó] coxeava de uma perna" (Gênese, XXXII, 31). Israel-Jacó, oposto ao seu irmão Esaú, é Samael e "os nomes Samael e Azâzêl e Satã" (o opositor).

Se nos afirmassem que Moisés não estava familiarizado com a filosofia hindu e, portanto, não pôde tomar Siva, regenerador e destruidor, como modelo para o seu Jehovah, então teríamos de admitir que havia alguma intuição universal miraculosa que propiciou que toda a nação escolhesse para sua divindade nacional exotérica o tipo dual que encontramos no "Senhor Deus" de Israel. Todas estas fábulas falam por si mesmas. Shiva, Jehovah, Osíris - todos são símbolos do princípio ativo da Natureza par excellence. São as forças que presidem a formação ou regeneração da matéria e a sua destruição. São os tipos da Vida e da Morte, sempre fecundados e decompondo sob a influência da anima mundi, Alma intelectual Universal, espírito invisível mas onipresente que está por trás da correlação de forças cegas. Só esse espírito é imutável; portanto as forças do universo, causa e efeito, estão sempre em harmonia perfeita com essa grande Lei Imutável. A Vida Espiritual é o princípio primordial superior; a Vida Física é o princípio Primordial inferior, mas eles são apenas uma única vida em seu aspecto dual. Quando o Espírito se desliga completamente dos grilhões da correlação e sua essência se torna pura para se reunir à CAUSA, ele pode - quem pode dizer se ele realmente o deseja - vislumbrar a Verdade Eterna. Até então, não construamos ídolos à nossa imagem e não confundamos a sombra com a Luz Eterna.

 

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