As Artes Perdidas

Enviado por Estante Virtual em sab, 17/12/2011 - 00:22

As leis reconhecidas da ciência física explicam apenas alguns dos mais objetivos dos chamados fenômenos espiritistas. Embora provem a realidade de alguns efeitos visíveis de uma força desconhecida, elas não permitem aos cientistas controlarem livremente sequer esta parte dos fenômenos. A verdade é que os professores ainda não descobriram as condições necessárias para a sua ocorrência. Cumpre-lhes estudar profundamente a natureza tripla do homem - fisiólogos, psicólogos e divina - como o fizeram os seus predecessores, os magos, os teurgistas e os taumaturgos da Antigüidade. Até o presente, mesmo aqueles que investigaram os fenômenos completa e imparcialmente, como o Sr. Crookes, deixaram de lado a causa, como se nada houvesse para ser descoberto agora, ou sempre. Eles se incomodam tanto com isso quanto com a causa primeira dos fenômenos cósmicos da correlação de forças, a observação e classificação de cujos efeitos lhes custam tanto esforço.

Se os cientistas estudassem os chamados "milagres" em lugar de negá-los, muitas leis secretas da Natureza - que os antigos compreendiam - seriam novamente descobertos. "A certeza", diz Bacon, "não provêm dos argumentos, mas das experiências".

A fabricação de uma taça de vidro que foi trazida a Roma por um exilado no reino de Tibério - uma taça "que ele atirou no passeio de mármore e não trincou nem quebrou com a queda", e que, por ter ficado "um pouco amolgada", foi facilmente restaurada com um martelo - é um fato histórico. Paracelso e Van Helmont sustentam ser este agente algum fluído da Natureza, "capaz de reduzir todos os corpos sublunares, homogêneos ou mistos, ao se ens primun, ou à matéria original de que são compostos; ou ao seu licor uniforme, estável e potável, que unirá com a água, e os sucos de todos os corpos, sem perder as suas virtudes radicais; e, se misturando novamente com ele mesmo, será assim convertido em água elementar". Mas pode-se facilmente conceber, sem qualquer grande esforço de imaginação, que todos os corpos devem ter sido originalmente formados de alguma matéria primeira, e que esta matéria, segundo as lições da Astronomia, da Geologia e da Física, deve ter sido um fluído. Por que o ouro - cujo gênese os nossos cientistas conhecem tão pouco - não teria sido originalmente uma matéria de ouro primitiva ou básica, um fluído ponderoso que, como diz Van Helmont, "devido à sua própria natureza, ou a uma forte coesão entre as suas partículas, adquiriu mais tarde uma forma sólida?" Van Helmont chama-o "o maior e o mais eficaz de todos os sais, o qual, tendo obtido o grau supremo de simplicidade, pureza e sutileza, goza sozinho da faculdade de permanecer inalterado e ileso no contato com as substâncias sobre as quais age, e de dissolver os corpos mais duros e mais refratários, como pedras, gemas, vidros, terra, enxofre, metais, etc., num sal vermelho, de peso igual ao da matéria dissolvida; e isso tão facilmente como a água quente derrete a neve".

É nesse fluído que os fabricantes do vidro maleável pretenderam, e ainda hoje pretendem, ter emergido o vidro comum durante horas, para adquirir a propriedade da maleabilidade.

Esta "terra adâmica" é vizinha próxima do alkahest, e um dos segredos mais importantes dos alquimistas. Nenhum cabalista revela-lo-á ao mundo, pois, como ele o diz no bem-conhecido adágio: "seria explicar as águias dos alquimistas, e como as asas das águias são aparadas", um segredo que Thomas Vaughan (Eugênio Filaletes) levou vinte anos para aprender.

O mundo caminha em círculos. As raças vindouras serão apenas a reprodução de raças há muito tempo desaparecidas; como nós, talvez, somos as imagens que viveram há séculos. Tempo virá em que aqueles que agora caluniam publicamente os hermetistas, mas estudam em segredo os seus volumes cobertos d pó; que plagiam suas idéias, assimilando-as e dando-as como suas próprias - receberão a sua paga. Paracelso foi o intrépido criador dos remédios químicos; o fundador de grupos corajosos; controversista vitorioso, que pertence àqueles espíritos que criaram entre nós um novo modo de pensar na existência natural das coisas. O que dissemos através de seus escritos sobre a pedra filosofal, sobre os pigmeus e os espíritos das minas, sobre os símbolos, sobre os homúnculos, e sobre o elixir da vida, que são empregados por muitos para baixar sua estima, não pode extinguir a nossa recordação agraciada de suas obras gerais, nem a nossa admiração por seus intrépidos e livres esforços, e sua vida nobre e intelectual."

Mas nossas modernas luzes pretendem saber mais, e as idéias dos Rosa-cruzes sobre os espíritos elementares, os duendes e os elfos, afundaram no "limbo da Magia" e dos contos de fada para a infância.

Concedemos de bom grado aos cépticos que metade, ou talvez mais, desses supostos fenômenos não passam de fraudes mais ou menos hábeis. As recentes revelações, especialmente dos médiuns "materializados", apenas comprovam este fato.

O que pensariam os espiritistas sensíveis do caráter dos guias angélicos, que, depois de monopolizar, às vezes por anos, o tempo, a saúde e os recursos de um pobre médium, o abandonam de repente quando ele mais precisa de sua ajuda? Somente as criaturas sem alma ou consciência poderiam ser culpadas de tamanha injustiça. As condições? - Mero sofisma. Que espíritos são esses que não convocariam, se necessário, um exército de espíritos amigos (se é que existem) para arrancar o inocente médium do abismo aberto aos seus pés? Tais coisas aconteceram nos tempos antigos, e podem acontecer agora. Houve aparições antes do Espiritismo moderno e fenômenos como os nossos em todos os séculos passados. Se as manifestações modernas são uma realidade e fatos palpáveis, então também devem tê-lo sido os pretensos "milagres" e as façanhas palpáveis de outrora; e se estas não passam de ficções supersticiosas, então também o são aquelas, pois não repousam sobre provas melhores.

Mas, nesta torrente diariamente crescente dos fenômenos ocultos que se precipitam de um lado a outro do globo, embora dois terços das manifestações se tenham revelado espúrios, o que dizer daqueles que são comprovadamente autênticos, acima de dúvidas ou de sofismas? Entre estes é possível encontrar comunicações que chegam através de médiuns profissionais ou não, as quais são sublimes e divinamente elevadas. Às vezes, através de crianças e de indivíduos ignorantes e simples, recebemos ensinamentos filosóficos e preceitos, orações poéticas e inspiradas, músicas e pinturas que são totalmente dignas das reputações de seus alegados autores. As suas profecias realizam-se com freqüência e as suas explicações morais são benfazejas, embora estas últimas ocorram mais raramente. Quem são esses espíritos, o que são esses poderes ou inteligências que são evidentemente exteriores ao próprio médium e que são entidades per se? Essas inteligências merecem o nome; e diferem tão completamente da generalidade de fantasmas e duendes que erram em redor dos gabinetes das manifestações físicas como o dia da noite.

Devemos confessar que a situação parece ser muito séria. O controle de médiuns por tais "espíritos" inescrupulosos e falazes está se generalizando cada vez mais; e os efeitos perniciosos de semelhante diabolismo multiplica-se constantemente. Alguns dos melhores médiuns estão abandonando as sessões públicas e se afastando dessa influência; e o movimento espírita tem cariz de igreja. Arriscamo-nos a predizer que a menos que os espíritas se disponham ao estudo da filosofia antiga de modo a aprender a discernir os espíritos e a proteger-se dos da mais baixa espécie, dentro de vinte e cinco anos eles terão que voar para a comunidade romana a fim de escapar a esses "guias" e "diretores" que animaram durante tanto tempo.

Diz Henry More, o respeito platônico inglês, em sua resposta a um ataque contra os que acreditam nos fenômenos espíritas e mágicos feito por um céptico dessa época, chamado Webster. "Quando àquela outra opinião, segundo a qual a maior parte dos Ministros reformistas sustenta que foi o demônio que apareceu sob a forma de Samuel, [ela está abaixo da crítica]; pois embora eu não duvide que em muitas dessas aparições necromânticas sejam os espíritos burlescos, não as almas dos mortos, que aparecem, não obstante estou convencido da aparição da alma de Samuel, como estou convencido de que em outras necromancias devem ser o demônio ou tais espécies de espíritos, como acima descreve Porfírio, que se transformam em formas e figuras oniformes, desempenhando uma a parte dos demônios, outro a dos anjos ou desses, e outro ainda a das almas dos mortos: E eu reconheço que um desses espíritos poderia nesse caso personificar Samuel, pois Webster nada alegou em contrário. Pois seus argumentos são deveras extraordinariamente frágeis e canhestros..."

Quando um metafísico e filósofo como Henry More dá um testemunho como este, podemos dizer que a nossa opinião está bem fundamentada.

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