A Alma do Mundo, e Suas Potencialidades

Enviado por Estante Virtual em sab, 17/12/2011 - 01:24

Especialmente nos países que não foram abençoados com a civilização que deveríamos buscar uma explicação da Natureza, e observar os efeitos daquele poder sutil, que os antigos filósofos chamavam de a "alma do mundo". Apenas no Oriente, e nas imensas regiões da África inexplorada, encontrará o estudante de Psicologia alimento abundante para a sua alma sedenta de verdade. A razão é óbvia. A atmosfera nas regiões populosas está nocivamente viciada pela fumaça e pelas emanações de fábricas, máquinas a vapor, estradas de ferro e barcos a vapor, e especialmente pelas exalações miasmáticas dos vivos. A Natureza depende, tanto quanto o ser humano, das condições antes de poder agir, e sua poderosa respiração pode, por assim dizer, ser facilmente estorvada, impedida e interrompida, e a correlação de suas forças ser destruída num dado ponto, como se ela fosse um homem. Não apenas o clima mas também influências ocultas tendem diariamente não só a modificar a natureza físico-psicológica do homem, mas também a alterar a constituição da chamada matéria inorgânica num grau não facilmente compreendido pela ciência européia.

Vejamos, "Três espíritos vivem no homem e o animam", ensina Paracelso; "três mundos projetam seus raios sobre ele; mas todos os três apenas como a imagem e o eco de um único e mesmo princípio de produção que constrói e une todas as coisas. O Primeiro é o Espírito dos Elementos [corpo terrestre e força vital em seu estado bruto]; e Segundo, o Espírito dos Astros [corpo sideral ou Astral]; o Terceiro é o Espírito Divino [Augoeides]. Estando nosso corpo humano de posse da "matéria terrestre primeva", como Paracelso a chama, podemos aceitar facilmente a tendência da moderna pesquisa científica "para encarar os processos da vida animal e vegetal como meramente físicos e químicos". Essa teoria corrobora ainda mais as afirmações dos filósofos antigos e a Bíblia mosaica, segundo as quais os nossos corpos foram feitos de pó e para o pó voltarão. Mas devemos lembrar que:

"`És pó e ao pó voltaras',

não é da alma que se falou"

O homem é um pequeno mundo - um microcosmo dentro do grande macrocosmo. Como um feto, ele está suspenso, por três espíritos, na matriz do macrocosmo; e enquanto seu corpo terrestre está em simpatia constante com a terra, sua mãe, a sua alma astral, vive em uníssono com a anima mundi sideral. Ele está nela, como ela está nele, pois o elemento que impregna o universo enche todo o espaço, e é o próprio espaço, só que sem bordas e infinito. Quanto ao seu terceiro espírito, o divino, o que é ele senão um raio infinitesimal, uma das incontáveis radiações que procedem da Causa Superior - a Luz Espiritual do Mundo? Tal é a trindade na natureza orgânica e inorgânica - a Espiritual e a Física, que são Três em Um, e a respeito da qual diz Proclus que "A Primeira Mônada é o Deus Eterno; e Segunda, a Eternidade; a Terceira, o Paradigma, ou o padrão do Universo"; constituindo as três a Tríada Inteligível. Tudo neste universo visível é Emanação dessa Tríada, e uma Tríada microcósmica em si. E assim elas se movem em majestosa procissão nos campos da Eternidade, em torno do Sol Espiritual, do mesmo modo como no sistema heliocêntrico os corpos celestiais se movem em redor dos Sóis visíveis. A Mônada pitagórica, que vive "na solidão e nas trevas", pode permanecer sobre esta terra para sempre invisível, impalpável e indemonstrada pela ciência experimental. Contudo, todo o universo estará gravitando ao seu redor, como o fez desde o "começo do tempo", e a cada segundo o homem e o átomo aproximam-se desse solene momento na eternidade, em que a Presença Invisível se revelará à sua visão espiritual. Quando cada partícula de matéria, mesmo a mais sublimada, for rejeitada da última forma que constitui o derradeiro elo daquela cadeia de dupla evolução, que, através de milhares de séculos e sucessivas transformações, impulsionou o ser para a frente; e quando ela for revestida pela essência primordial, idêntica à de seu Criador, então esse átomo orgânico impalpável terá terminado sua marcha, e os filhos de Deus "regozijar-se-ão" uma vez mais com a volta do peregrino.

"O homem", diz Van Helmont, "é o espelho do universo, e a sua tripla natureza está em relação com todas as coisas". A vontade do Criador, por cujo intermédio todas as coisas foram e receberam seu primeiro impulso, é a propriedade de todo ser vivente. O homem, dotado de uma espiritualidade adicional, tem a parte maior dela sobre este planeta. Depende da proporção de matéria nele existente a capacidade de exercer a sua faculdade mágica com maior ou menor sucesso. Dividindo essa potência divina em comum com todo átomo inorgânico, ele a exerce durante toda a vida, conscientemente ou não. No primeiro caso, quando em plena posse de seus poderes, ele se tornará o seu mestre, e o magnale magnum (a Alma Universal) será controlado e guiado por ele. No caso dos animais, plantas e minerais, e mesmo da média Humanidade, esse fluído etéreo que impregna todas as coisas quando não encontra nenhuma resistência, e é abandonado a si mesmo, os move seguindo seus impulsos diretos. Todo ser criado nesta esfera sublunar foi formado deste magnale magnum (ou Alma Universal), e relaciona-se a ele. O homem possui um poder celestial duplo, e está unido ao céu. Este poder existe "não apenas no homem exterior, mas, num certo grau, também nos animais, e às vezes em todas as outras coisas, pois as coisas no universo estão em relação umas com as outras; ou, pelo menos, Deus está em todas as coisas, como os antigos já observaram com uma correção admirável. É necessário que a força mágica seja despertada tanto no homem exterior quanto no interior. (...) E se o chamamos de poder mágico, só os ignorantes podem se assustar com essa expressão. Mas, se preferis, podeis chamá-lo de poder espiritual - spirituale robus vocitaveris. Existe um tal poder no homem interior. Mas, como existe uma certa relação entre o homem interior e o exterior, essa força deve ser difundida por todo o homem".

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