“Ainda existe uma escola de filosofia que a cultura moderna perdeu de vista”. Com estas palavras o Sr. A. P. Sinnett iniciou seu livro The Occult World (O Mundo Oculto), a primeira exposição popular da Teosofia, publicado há trinta anos (em 1881). Durante os anos que se passaram desde então, milhares têm aprendido a sabedoria nesta escola, mesmo que à maioria das pessoas seus ensinamentos ainda seja desconhecidos, e elas possam dar só a mais vaga das respostas à pergunta “O que é Teosofia?”.
Já existem dois livros respondendo esta questão: Esoteric Buddhism (O Buddhismo Esotérico), de A. P. Sinnett, e The Ancient Wisdom (A Sabedoria Antiga), de A. Besant. Näo pretendo competir com estes trabalhos modelares; o que desejo é apresentar uma exposição, tão clara e simples quanto a possa fazer, que possa ser considerada introdutória para eles.
Já existem dois livros respondendo esta questão: Esoteric Buddhism (O Buddhismo Esotérico), de A. P. Sinnett, e The Ancient Wisdom (A Sabedoria Antiga), de A. Besant. Näo pretendo competir com estes trabalhos modelares; o que desejo é apresentar uma exposição, tão clara e simples quanto a possa fazer, que possa ser considerada introdutória para eles.
Com freqüência falamos da Teosofia como sendo não uma religião em si, mas a verdade que subjaz em todas as religiões igualmente. Assim é; já, de um outro ponto de vista, podemos seguramente dizer que ela é a um tempo uma filosofia, porque nos apresenta com clareza uma explanação do esquema de evolução tanto das almas como dos corpos contidos em nosso sistema solar. É uma religião até onde, tendo nos mostrado o curso ordinário da evolução, também põe diante de nós e recomenda um método de abreviarmos este curso, de modo que por esforço consciente podemos progredir mais diretamente para o alvo. É uma ciência, porque trata estes dois assuntos como matéria não de fé teológica, mas de conhecimento direto obtenível através de estudo e investigação. Ela assevera que o homem não tem necessidade alguma de crer com fé cega, porque ele tem em si poderes latentes que, quando despertados, capacitam-no para ver e examinar por si mesmo, e passa a provar seu argumento mostrando como aqueles poderes podem ser despertados. Ela própria é um resultado do despertar de tais poderes pelos homens, pois os ensinamentos que nos apresenta são fundamentados sobre observações diretas feitas no passado, e tornadas possíveis apenas por tal desenvolvimento
Como uma filosofia, explica-nos que o sistema solar é um mecanismo cuidadosamente ordenado, uma manifestação de uma vida magnificente, da qual o homem é apenas uma pequena parte. De qualquer modo, enfoca esta pequena parte que nos interessa diretamente, e trata dela de modo exaustivo sob três aspectos – presente, passado e futuro.
Trata do presente descrevendo o que o homem realmente é, visto por meio das faculdades desenvolvidas. Costuma-se falar do homem como possuindo uma alma; a Teosofia, como resultado de investigação direta, inverte a frase, e afirma que o homem é uma alma, e que possui um corpo – de fato diversos corpos, que são seus veículos e instrumentos nos diversos mundos. Estes mundos não estão separados no espaço; estão simultaneamente presentes conosco, aqui e agora, e podem ser examinados; eles são divisões do lado material da Natureza – diferentes graus de densidade na agregação de matéria, como em breve será explicado em detalhe. O homem tem uma existência em diversos deles, mas normalmente só é consciente do mais inferior, ainda que algumas vezes em sonhos e transes tenha vislumbres de alguns dos outros. O que dizemos morte é o abandono do veículo pertencente a este mundo inferior, mas a Alma ou o homem real em um mundo superior já não é mudada ou afetada por isto mais do que o homem físico é mudado ou afetado quando tira seu casaco. Tudo isso é uma questão, não de especulação, mas de observação e experimento.
A Teosofia tem muito a nos dizer da história passada do homem – de como no curso da evolução ele veio a ser o que é hoje. Isto também é uma questão de observação, por causa do fato de que existe um registro indelével de tudo o que acontece – uma espécie de memória da Natureza – por cujo exame as cenas da evolução anterior podem ser feitas passar ante os olhos do investigador como se estivessem acontecendo neste exato momento. Por este estudo do passado aprendemos que o homem é divino em sua origem e que tem uma longa evolução atrás de si – uma evolução dupla, a da vida ou Alma interior, e a das formas externas. Aprendemos, também, que a vida do homem como Alma é, ao que nos parece, de enorme extensão, e que aquilo que por hábito costumamos chamar de sua vida na realidade é só um único dia da sua existência real. Ele já viveu por muitos desses dias, e tem muitos mais deles ainda à sua frente; e se desejamos entender a vida real e seu objetivo, devemos considerá-la em relação não só a este seu dia singular, que inicia no nascimento e encerra na morte, mas também aos dias que se passaram antes e os que ainda estão por vir.
Dos que ainda estão por vir também há muito a ser dito, e neste assunto, igualmente, uma grande quantidade de informação definida é disponível. Tal informação pode ser obtida, primeiro, de homens que já passaram muito para diante do que nós ao longo da estrada da evolução, e conseqüentemente têm disso uma experiência direta; e, segundo, de inferências feitas a partir da direção óbvia dos passos que percebemos já terem sido dados anteriormente. A meta deste ciclo particular está à vista, mesmo que ainda muito acima de nós, mas pareceria que, mesmo quando a tivermos atingido, uma infinitude de progresso ainda estaria à frente de cada um que estiver querendo empreendê-lo.
Uma das mais extraordinárias vantagens da Teosofia é a de que a luz que nos traz de uma vez resolve muitos dos nossos problemas, afasta muitas dificuldades, pondera as aparentes injustiças da vida, e em todas as direções traz ordem ao aparente caos. Pois enquanto que alguns de seus ensinamentos são baseados na observação de forças cuja atuação direta está algo além do conhecimento do homem comum do mundo, se este os aceitar como hipótese muito cedo chegará a ver que deve estar correta, porque ela, e ela sozinha, fornece uma explicação coerente e razoável do drama da vida que está sendo representado diante dele.
A existência de Homens Perfeitos, e a possibilidade de entrarmos em contato com Eles e sermos ensinados por Eles, são proeminentes dentre as grandes novas verdades que a Teosofia traz ao mundo ocidental. Uma outra delas é o estupendo fato de que o mundo não está mergulhando cegamente na anarquia, mas que seu progresso está sob o controle de uma Hierarquia perfeitamente organizada, de modo que o fracasso para mesmo a mais minúscula de suas unidades é de todas as impossibilidades a mais impossível. Um vislumbre do trabalho desta Hierarquia inevitavelmente engendra o desejo de cooperar com ele, de servir nele, por mais humilde que seja a capacidade, e nalguma ocasião num futuro distante ser digno de juntar-se às mais externas de suas fileiras.
Isto nos leva àquele aspecto da Teosofia que chamamos de religioso. Aqueles que vêm a conhecer e entender estas coisas estão insatisfeitos com os morosos éons da evolução; eles anseiam por se tornar úteis mais imediatamente, e então procuram e obtêm conhecimento da Senda mais curta porém mais escarpada. Não há possibilidade de escapar à quantidade de trabalho que tem de ser feito. É como carregar um peso montanha acima; seja carregando-o por um atalho mais escabroso, seja mais gradualmente por uma estrada de aclive suave, precisamente o mesmo número de passos deve ser dado. Portanto fazer o mesmo trabalho em uma fração reduzida do tempo significa esforço determinado. Pode ser feito, contudo, pois têm sido feito; e os que o fizeram concordam que o trabalho é mais do que bem pago. A limitação dos vários veículos é com isso gradualmente transcendida, e o homem liberado se transforma num colaborador inteligente no poderoso plano para a evolução de todos os seres.
Em sua feição religiosa, também, a Teosofia dá aos seus seguidores uma regra de vida, baseada não em supostas ordenações proferidas num período remoto do passado, mas no simples bom senso, como indicado pelos fatos observados. A atitude do estudante de Teosofia em relação às regras que ela prescreve parece antes as que adotamos por medida higiênica do que uma obediência a imposições religiosas. Podemos dizer, se quisermos, que esta coisa ou aquela outra está de acordo com a Vontade Divina, pois a Vontade Divina é expressa no que conhecemos como leis da natureza. Porque aquela Vontade sabiamente dispôs todas as coisas, infringir suas leis significa perturbar o suave funcionamento do esquema, atrasar por um momento aquele fragmento ou pequena parte da evolução, e conseqüentemente trazendo desconforto para nós mesmos e outros. É por esta razão que o homem sábio evita infringí-las – não para escapar da imaginária ira de alguma deidade ultrajada.
Mas se de um certo ponto de vista podemos pensar na Teosofia como uma religião, devemos notar dois grandes pontos de diferença entre ela e o que é ordinariamente chamado de religião no Ocidente. Primeiro, ela não exige fé de seus seguidores, nem mesmo fala de fé no sentido em que este termo é usualmente empregado. O estudante da ciência oculta ou sabe uma coisa ou suspende seu julgamento sobre ela; não há espaço neste esquema para a fé cega. Naturalmente, os iniciantes no estudo ainda não podem saber por si mesmos, assim eles são solicitados a ler os resultados das várias observações e lidar com eles como sendo hipóteses prováveis – para serem aceitas e agirmos em função delas provisoriamente, até o momento em que possam prová-las por si mesmos.
Segundo, a Teosofia jamais procura converter qualquer homem de qualquer religião que ele já abrace. Ao contrário, ela explica sua religião para ele, e o capacita para ver nela significados mais profundos do que ele jamais conhecera antes. Ela o ensina a entendê-la e vivê-la melhor do que o fazia, e em muitos casos devolve a ele, em um nível mais inteligente e mais alto, a fé que ele previamente havia perdido toda.
A Teosofia têm seu aspecto de ciência também; é verdadeiramente uma ciência da vida, uma ciência da Alma. Ela aplica a tudo o método científico da observação reiterada e meticulosa, e então tabula os resultados e faz deduções a partir deles. Deste modo tem investigado os vários planos da Natureza, as condições da consciência humana durante a vida e após o que é comumente chamado de morte. Não pode ser demais repetir que suas asserções em todos estes pontos não são vagas suposições ou dogmas de fé, mas são baseadas na direta e muitas vezes repetida observação do que acontece. Seus investigadores têm tratado já em alguma extensão de assuntos mais no âmbito da ciência comum, como pode ser averiguado por quem ler o livro recém lançado Occult Chemistry (A Química Oculta).
Assim vemos que a Teosofia combina em si algumas das características da filosofia, da religião e da ciência. Qual, poderia ser perguntado, é seu evangelho para este mundo atribulado? Quais são os pontos principais que sobressaem de suas investigações? Quais são os grandes fatos que tem para apresentar à humanidade?
Eles têm sido bem resumidos em três pontos principais.
Há três verdades que são absolutas, e que não podem ser ignoradas, ainda que possam permanecer silentes por falta de voz.
“A alma do homem é imortal, e seu futuro é o futuro de uma coisa cujo crescimento e esplendor não têm limites.
“O princípio que concede vida reside em nós e fora de nós, é imorredouro e eternamente beneficente, não é ouvido ou visto ou sentido, mas é percebido pelo homem que deseja percepção.
“Cada homem é seu legislador absoluto, o dispensador de glória ou miséria a si mesmo; o decretador de sua vida, sua recompensa, sua punição.
“Estas verdades, que são tão grandes quanto a própria vida, são tão simples quanto a mente mais simples do homem”.
Ditas com mais brevidade, e na linguagem do homem das ruas, isso significa que Deus é bom, que o homem é imortal, e que assim como semearmos, assim devemos colher. Há um definido esquema das coisas; está sob direção inteligente e opera sob leis imutáveis. O homem tem seu lugar neste esquema e vive segundo estas leis. Se compreendê-las e cooperar com elas, avançará rapidamente e será feliz; se não as entender – se, propositalmente ou não, transgredí-las, atrasará seu progresso e será miserável. Isso não são teorias, mas fatos provados. Que quem duvida se informe, e verá.