A ínfima subdivisão do mundo celeste a cujo nível a humilde costureira elevou os Egos postos a seu cuidado, tem por características principais os afetos de parentesco e amizade, inegoístas, embora algo limitados. Mas devemos precaver-nos contra uma má inteligência neste ponto. Ao dizer que os afetos de família elevam o homem até o sétimo subplano celeste e que a devoção religiosa o eleva até o sexto, pode parecer que se alguém possuísse ambas as qualidades intensamente vigorizadas haveria de dividir a sua vida celeste entre os subplanos inferiores, passando primeiro no sétimo subplano um período de felicidade familiar e ascendendo depois ao sexto para ali consumir a energia espiritual engendrada pela devoção religiosa.
Contudo, não é isto o que sucede, porque em tal caso o indivíduo se despertaria conscientemente no sexto subplano, onde se encontraria relacionado com aqueles que foram na terra objeto de tão amorosa devoção quanto foi capaz de sentir. Assim deve ser se razoavelmente o consideramos, porque o capaz de devoção religiosa e ao mesmo tempo afeto de família, tem esta virtude mais vigorosa do que quem só tem seu ânimo orientado numa só direção. A mesma regra rege em todo o processo ascensional. Um subplano inclui sempre, além de suas características peculiares, as dos subplanos inferiores, de sorte que estas características sobem de ponto nos habitantes de um subplano em relação às mesmas características nos habitantes dos subplanos inferiores.
Ao dizer que o afeto de família é a característica do sétimo subplano, não se há de supor que o amor fique restrito a este subplano, senão, antes, significa que o indivíduo que alcança esse plano depois da vida astral, tem por tônica fundamental de seu caráter o amor à família e o único que o capacita a entrar na vida celeste. Mas nos subplanos superiores predomina um amor muito mais nobre e puro do que tem por assento o sétimo subplano.
Uma das primeiras entidades que os investigadores observaram no sétimo subplano do plano mental, ofereceu um assinalado exemplo do tipo de seus habitantes. Era um homem que em sua vida terrena fora comerciante de comestíveis, pessoa de poucos alcances intelectuais e de muito débeis sentimentos religiosos, porém de impecável honradez comercial. Desde logo que havia assistido à missa todos os domingos porque era costume; mas a religião tinha sido para ele uma espécie de enigma incompreensível, sem relação com os misteres da vida diária, para a resolução de cujos problemas nunca se tomava em conta. Portanto, carecia de sentimento devocional que o houvesse elevado ao sexto subplano, e em troca sentia profundo e terno afeto pela esposa e filhos, de tipo consideravelmente inegoísta. Freqüentemente estas pessoas ocupavam seu pensamento, e por eles, mais do que por si próprio, trabalhava da manhã à noite em sua venda. Ao terminar a vida astral, abandonando o corpo de desejos, encontrou-se no subplano inferior do mundo mental, rodeado de sua esposa e filhos.
Não era então nosso homem nem mais inteligente nem mais espiritual do que quando vivia no plano físico, porque a mudança de um mundo para outro não implica progressos repentinos. O ambiente no qual se achava com sua família não era muito refinado, pois só representava seu ideal de abstenção de gozos materiais durante a vida terrena; porém, o vendeiro era tão intensamente feliz quanto era capaz de sê-lo, e como sempre pensou em sua família mais do que em si mesmo, estava certamente atualizando características inegoístas determinantes de uma qualidade permanente que se manifestaria em suas futuras vidas terrenas.
Outro caso típico foi o de um homem que ao morrer havia deixado em menor idade a sua única filha, e no mundo celeste a tinha sempre ao seu lado e se ocupava em traçar os mais formosos projetos a respeito do futuro dela.
Outro caso é o de uma jovem absorta na contemplação das perfeições de seu pai, procurando-lhe surpresas agradáveis e novos prazeres. Também observaram os investigadores uma mulher grega que passava ditosamente o tempo todo com seus filhos, um deles um galhardo jovenzinho que ela imaginava vencedor nos jogos olímpicos.
Surpreendente característica do sétimo subplano nas investigações realizadas, foi a de encontrar ali grande número de romanos, cartagineses e ingleses dos séculos passados, ao passo que havia poucos hinduístas e budistas. A razão é que os homens do primeiro grupo concentraram o sentimento inegoísta, amorosos nos afetos de família, que os deteve no sétimo subplano, enquanto que os hinduístas e budistas atualizaram mais intensamente seu sentimento devocional, que os levou a mais alto nível.
Houve, por certo, uma infinita variedade nos casos observados, e os diferentes graus de adiantamento se distinguem pela maior ou menor intensidade luminosa dos corpos mentais cujas cores indicavam as qualidades predominantes em cada entidade. Alguns eram amantes que tinham morrido na plenitude de seu afeto e haviam ocupado seu pensamento na pessoa amada com exclusão de toda outra. Havia os quase selvagens, como, por exemplo, um malaio, de evolução muito embrionária, na etapa tecnicamente chamada terceira classe inferior de pitris, que tinha uma ligeira experiência celeste resultante do amor professado a uma filha durante a vida terrena.
Em todos estes casos, o toque de amor inegoísta os fez merecedores de elevar sua consciência até o subplano inferior do mundo celeste, apesar de que em suas atividades na vida terrena nada mais havia capaz de manifestação além no dito subplano.
Na maioria dos casos observados as imagens das pessoas amadas distavam muito da fidelidade, de modo que os Egos por elas representados eram apenas capazes de manifestar-se por meio delas, embora sempre mais satisfatoriamente do que por meio do corpo físico. Na vida terrena vemos parcialmente nossos parentes e amigos, e só percebemos deles as qualidades que se afinam com as nossas, de maneira que para nós é como se não existissem as demais facetas de seu caráter.
Nossa convivência com eles e nosso conhecimento deles no mundo físico significam muito para nós e costumam ser o que há de mais caro em nossa vida; porém, tal convivência e conhecimento são em realidade sempre deficientes, porque mesmo no caso raro de crermos que conhecemos a fundo uma pessoa, só está manifesto durante aquela vida terrena um aspecto de seu verdadeiro ser, o aspecto que percebemos e conhecemos, sem que possamos penetrar no fundo do Ego. Portanto, se por meio da visão mental direta e perfeita nos fosse possível ver pela primeira vez em sua totalidade o nosso parente ou amigo, ao encontrá-lo no mundo celeste, provavelmente não o reconheceríamos, pois não nos pareceria o mesmo que conhecemos e contatamos na terra.
O intenso afeto que eleva o indivíduo até o subplano inferior do mundo celeste é uma força tão poderosa que alcança a pessoa amada e suscita nela uma resposta cuja intensidade vibratória depende do grau de evolução do Ego que responde; porém, seja qual for o seu grau de intensidade, há resposta.
Embora o Ego ou o verdadeiro ser do homem só se possa conhecer plenamente em seu próprio plano, que é o causal, constituído pelos três subplanos superiores do plano mental, sempre se está mais próximo do referido conhecimento em qualquer dos subplanos celestes do que no mundo físico; e portanto, ali podemos conhecer muitíssimo melhor que aqui nossos parentes e amigos.
Ao considerar este ponto se tem de ter em conta o grau de evolução dos Egos relacionados. Se o que está no subplano inferior do mundo celeste tem suficiente espiritualidade e seu amor é muito intenso, poderá forjar uma imagem da pessoa amada, por meio da qual esta possa manifestar-se num grau considerável se está bastante adiantada em sua evolução.
Vemos, portanto, existirem duas razões para que a manifestação seja incompleta. A imagem do amado forjada pelo amante residente no subplano inferior do mundo celeste pode ser tão vaga e ineficaz que não lhe sirva de meio de manifestação ao amado por muito evoluído que esteja. Por outro lado, ainda que a imagem seja perfeita, pode o amado não ter bastante adiantamento para valer-se dela.
Mas em todos os casos o intenso afeto do amante influi no Ego do amado, que qualquer que seja seu grau de evolução se relacionará com sua imagem celeste, embora não seja capaz de manifestar-se plenamente por ela, pois o grau de manifestação do Ego do amado por meio da imagem forjada pelo amante depende da qualidade da imagem e da potência manifestativa do amado. Mas por débil que seja, a imagem alcançará sua influência no Ego do amado muito mais facilmente do que no seu corpo físico.
Se o amado ainda vive no plano terrestre, sua personalidade está inconsciente da manifestação celeste da individualidade, muito mais real que a personalidade, que é tudo quanto ordinariamente podemos ver.
Um ponto interessante sobre este particular é que se um indivíduo pode relacionar-se com a vida celeste de vários parentes e amigos simultaneamente, poderá também manifestar-se ao mesmo tempo nas várias imagens que deles se forjem.
Este ponto não oferece dificuldade para os que conhecem a mútua relação de uns planos com outros, e lhes será tão fácil manifestar-se simultaneamente em ambas as imagens como para nós é fácil perceber ao mesmo tempo a impressão de vários objetos em diferentes partes do corpo físico.
A relação de um plano com outro é análoga à de uma dimensão com outra.
Nenhum número de unidades da dimensão inferior pode igualar a uma unidade da dimensão imediata superior, e da mesma maneira, por muitas que sejam as imagens, não esgotariam o poder de manifestação do Ego. Pelo contrário, a multiplicidade de manifestações dá ao Ego nova oportunidade de progresso no plano mental, como resultado direto recompensador, segundo a lei de justiça divina, das ações determinadas pelo amor inegoísta.
Disto se infere que segundo o homem progride, aumentam suas oportunidades que em todos os sentidos se lhe deparam. Seu adiantamento conquista o amor e reverência dos demais, e assim terá muitas imagens suas no mundo mental, e ao mesmo tempo se acrescentará sua capacidade de recepção e manifestação.
Exemplo disso nos oferece um caso observado por nossos investigadores.
Era uma mãe que morreu há muitos anos deixando na terra dois filhos que ela adorava. Naturalmente, estes dois filhos, de 15 e 16 anos de idade, eram as primeiras figuras do seu céu, e ela pensava neles e imaginava como os deixou ao morrer. O amor que a mãe derramava incessantemente sobre as imagens influía beneficamente nos dois filhos que iam crescendo para a virilidade no plano físico; porém, não afetava aos dois por igual, não porque a mãe preferisse a um mais que ao outro, e sim pela grande diferença na vitalidade de ambas as imagens e que a mãe não podia distinguir, pois lhe pareciam perfeitas. Mas aos olhos dos investigadores uma imagem estava mais vitalizada do que a outra, porque, segundo se averiguou, um dos dois filhos havia se dedicado ao comércio, e embora não fosse um mau homem, distava muito de ser espiritual, enquanto que o outro chegou a ser um homem de aspirações inegoístas e de refinada cultura, de maneira que tinha enaltecido sua consciência em grau muito superior à de seu irmão, e por conseguinte seu Ego era muito mais capaz de vitalizar a imagem de sua adolescência forjada pela mãe. A imagem tinha mais alma e por isso era mais vitalizada.
Unicamente por este meio é possível a comunicação entre os que ainda estão aprisionados no corpo físico e os que estão no subplano inferior do mundo celeste. Como já dissemos, um Ego pode manifestar-se gloriosamente por meio da imagem forjada dele no mundo celeste pelos que o amaram na terra, e contudo ser inconsciente de dita manifestação enquanto atua por meio do corpo físico, crendo-se incapaz de comunicar-se com os residentes no mundo celeste.
Mas se o Ego chegou a uma etapa de unificação de consciência e pode usar a plenitude de suas faculdades por meio do corpo físico, será capaz de comunicar-se frente a frente com seus parentes e amigos como quando estavam no mundo físico, pois a morte não afetou o amante, mas tão-só abriu seus olhos mentais à visão do mundo celeste que continuamente nos rodeia. Neste caso, o amante aparecerá com a mesma forma que teve na terra, porém um tanto estranhamente glorificada, porque tanto o corpo astral como o corpo mental reproduzem a configuração do corpo físico dentro do ovóide cujo contorno está determinado pelo corpo causal, de modo que a configuração física tem o aspecto de uma neblina densa rodeada de outra menos densa. Durante toda a vida passada nos quatro subplanos inferiores do mundo mental, mantém-se vivo o sentimento de personalidade, pois esta pertence ainda ao corpo mental inferior, até que, ao elevar o Ego a sua consciência ao plano causal e atuar ali conscientemente, se unificam e entrefundem a individualidade e a personalidade, de maneira que pela primeira vez o homem reconhece sua verdadeira essência como real e permanente Ego durante suas encarnações.
Alguns perguntam se no mundo mental se tem noção do tempo, se há sucessão de dias e noites, e de sono e vigília. A única coisa que há no mundo celeste em relação a este particular é o despertar da mente à inefável felicidade de que o Ego desfruta, e também a lenta queda no sono de uma ditosa inconsciência ao terminar a vida celeste, que no princípio se nos descreveu comparando-a a uma espécie de prolongamento ou série de todas as horas ditosas de uma pessoa na terra, porém com centuplicada felicidade.
Sem dúvida esta descrição é muito deficiente, como o são todas as que são feitas tomando por comparação as coisas do plano físico; porém mesmo assim se aproxima mais da verdade do que a sucessão de dias e noites.
Certamente existe uma infinita variedade de modalidades de felicidade no mundo celeste, porém não entra em seu plano o sono alternado com a vigília.
Quando o Ego abandona definitivamente o corpo astral e fica com o corpo mental inferior como uma envoltura externa, sobrevêm um período de inconsciência superficial cuja duração varia entre limites muito extremos, analogamente ao que ocorre ao morrer o corpo físico. O despertar da consciência mental assemelha-se ao despertar pela manhã do sono profundo de uma noite. Da mesma forma que ao despertar pela manhã passamos por um período de preguiça deleitosa durante o qual a mente não está ativa nem o corpo rígido, assim também, quando ao despertar o Ego no mundo mental, passa por um período mais ou menos longo de intensa e gradualmente crescente felicidade até alcançar a plena atividade.
A primeira vez que o Ego experimenta este admirável sentimento de gozo, enche todo o corpo de sua consciência, e pouco a pouco se vê rodeado de um mundo de imagens forjadas por sua mente com as características peculiares do subplano a que o levou o seu estado de consciência.