Ao descrevermos os habitantes do mundo mental, convém dividi-los em três ordens análogas à divisão dos habitantes do mundo astral, ou seja: humanos, não-humanos e artificiais, embora as subdivisões não sejam tão numerosas como as dos respectivos habitantes astrais, porque as más paixões humanas, que existem em tão grande quantidade no plano astral, não têm cabido no plano mental.
Habitantes humanos. Subdividem-se em duas classes: os que ainda têm corpo físico e os que dele já se desprenderam, isto é, os vivos e os mortos como vulgar e erroneamente são chamados. Uma pequena experiência do plano mental basta para alterar fundamentalmente o conceito que o estudante possa ter das mudanças que se seguem à morte física. Ao abrir sua consciência no plano astral e mais ainda no mundo mental, compreende desde logo que a plenitude da verdadeira vida não se pode conhecer no mundo físico, e quando saímos deste mundo e depois de passar pelo astral passamos ao celeste, entramos na verdadeira vida. A linguagem humana não tem palavras apropriadas para expressar esta condição, e talvez os adjetivos "encarnado" e "desencarnado" sejam os menos expostos à má compreensão.
Os encarnados. Os habitantes do mundo mental que ainda estão em corpo físico são invariavelmente os Adeptos e seus discípulos já iniciados, pois enquanto um Mestre não ensina a seu discípulo a maneira de usar o seu corpo mental, ele não poderá atuar conscientemente nem mesmo nos subplanos inferiores do mental. Para funcionar conscientemente durante a vida física nos subplanos superiores, é necessário um adiantamento muito maior, porque requer a unificação do homem, de sorte que no mundo físico já não é uma personalidade influenciada pela individualidade, e sim, embora em corpo de carne e ossos, é a mesma individualidade que, embora limitada pelo corpo físico, contém em si o poder e o conhecimento de um Ego evoluído.
Magnífico espetáculo oferecem os Adeptos e seus discípulos iniciados aos que já tiveram o poder de vê-los. Esplêndidos globos de luz e cor flutuam por toda a parte, dissipando as influências malignas e atuando sobre quantos deles se aproximam, como o sol atua nas flores, e derramando em torno deles um sentimento de sossego e felicidade, que também costumam experimentar os que os vêem. No mundo celeste, Mestres e discípulos levam a cabo a maior parte de sua obra, sobretudo nos subplanos superiores onde as individualidades podem comunicar-se diretamente. Do plano causal derramam sobre o mundo do pensamento sua intensa influência espiritual e provocam magnos e beneficentes movimentos de toda espécie.
No mundo celeste se distribui muita da energia espiritual recebida do glorioso sacrifício voluntário dos Nirmanakâyas. Também ali se dão ensinamentos diretos aos discípulos suficientemente adiantados para recebê-los dessa forma, pois podem comunicar-se mais rápida e completamente do que no plano astral. Além de todas estas atividades, Mestres e discípulos realizam um trabalho estreito com os que chamamos mortos, conforme veremos mais adiante.
No mundo mental não se encontram aquelas entidades intrometidas que causam tanto prejuízo no mundo astral. Num mundo cujas características são o altruísmo e a espiritualidade não podem penetrar o mago negro e seus discípulos, pois o egoísmo é a essência de todos os procedimentos da magia negra, que o estudo das forças ocultas aplica inteiramente a fins pessoais. Embora a maioria dos magos negros seja muito inteligente e a matéria de seu corpo mental seja por conseguinte sumamente ativa e sensitiva em relação a certas percepções, sempre estão relacionados com algum desejo pessoal e por isso só podem achar expressão no mental inferior inextricavelmente mesclado com a matéria astral, donde se segue desta limitação que a atividade do mago negro e seus discípulos se restringe aos planos astral e físico.
Um indivíduo de viciosa e egoísta conduta pode ter períodos de puro e abstrato pensamento durante os quais se valha de seu corpo mental, se aprendeu a utilizá-lo. Mas quando a personalidade interfere com o esforço para produzir algum resultado maligno, o pensamento já não é abstrato, e o indivíduo atua em conexão com a acostumada matéria astral. Pode-se afirmar que o mago negro só atua no plano mental quando esquece sua condição de mago negro; e então só será visível para os que atuam conscientemente no plano mental e nunca para os que gozam do repouso celeste depois de sua vida astral, pois cada um deles está inteiramente recluso no mundo de sua própria mentalidade que nada do exterior o afeta, e acha-se completamente seguro. Assim se justifica a antiga descrição do céu, considerado como o lugar "onde os malvados deixam de importunar e os fatigados descansam".
Em sono ou em êxtase. Ao pensar nas entidades encarnadas que atuam no mundo mental, pergunta-se se o homem comum durante o sono ou o indivíduo psiquicamente muito desenvolvido, durante o êxtase ou transporte, podem penetrar no mundo mental. Em ambos os casos a entrada é possível, porem sumamente rara, porque é absoluto requisito prévio a pureza de conduta e de propósito; e ainda que o extático ou transportado chegasse ao plano mental, não aluaria com plena consciência, mas tão-só com capacidade para receber determinadas impressões.
Como exemplo da possibilidade de entrar no plano mental durante o sono, mencionaremos um incidente ocorrido em relação com experiências que a Loja de Londres da Sociedade Teosófica realizou sobre o estado de consciência durante o sono. Algumas destas experiências estão descritas no livro Sonhos. Os que leram este livro recordarão que ante a mente de várias classes de indivíduos adormecidos se expôs a representação mental de uma bela paisagem dos trópicos, a fim de comprovar até que ponto recordariam a visão quando despertos. Um caso não referido nesse livro, por não ter relação com os sonhos, nos servirá de exemplo.
Era uma mulher de mente pura e considerável, embora de inculta capacidade psíquica, a quem surpreendeu a visão do quadro mental da paisagem dos trópicos. Foi tão vivo o sentimento de reverente gozo, tão altos e espirituais os pensamentos suscitados pela contemplação do esplendente espetáculo, que a consciência da mulher adormecida se transportou ao plano mental. No entanto, não podemos acreditar que ela fosse consciente das condições do referido plano, senão que se achava no mesmo estado em que se encontra um homem comum depois da vida astral, ao chegar ao oceano de luz e cor em que ele flutua, inteiramente absorto em seus próprios pensamentos. Isto é, que a mulher adormecida permanecia em extática contemplação da paisagem e de tudo quanto a paisagem lhe sugeria, com aguda intuição, a perfeita apreciação e o intenso vigor do pensamento peculiar do plano mental, em contínuo gozo de uma inefável felicidade.
Várias horas esteve a mulher adormecida nesta condição, embora parecesse ter perdido a noção do tempo, até que por fim despertou com um sentimento de profunda paz e gozo interior, embora não se recordasse de nada do que sonhou. Não há dúvida de que semelhante experiência, quer se recorde ou não no corpo físico, servirá de um impulso estimulante na evolução espiritual do Ego.
Embora por falta de um número suficiente de provas experimentais fosse temerário falar demasiado positivamente, parece certo que o resultado como o descrito só seria possível no caso de que a pessoa dormindo tivesse já um alto grau de desenvolvimento psíquico, e a mesma condição se requer para que um indivíduo hipnotizado em transporte mediúnico alcance o plano mental. Tanto é assim, que nem um em cada mil dos clarividentes comuns o alcançam, e mesmo o que o alcança tem de estar não só muito adiantado psiquicamente, mas tem de ter perfeita pureza de conduta e propósito. Além destas extraordinárias características, resta ainda a dificuldade que sempre se opõe ao psíquico inexperiente para transportar exatamente uma visão de um plano superior ao inferior. Todas estas considerações corroboram o que foi dito anteriormente sobre a necessidade de que um prestigioso instrutor eduque as qualidades psíquicas do indivíduo antes de se poder dar crédito aos seus relatos.
Os desencarnados. Antes de se considerar em pormenor as condições em que as entidades desencarnadas se encontram nos diversos subplanos do plano mental, convém ter uma idéia muito clara da distinção entre os quatro subplanos rúpicos e os três arúpicos. Nos quatro subplanos rúpicos o homem vive inteiramente no mundo de seus próprios pensamentos, ainda identificado com a personalidade que assumiu na vida passada na terra, enquanto que nos três subplanos arúpicos o Ego reencarnante já tem consciência do que o rodeia e das condições do plano, e conhece suas vidas passadas e o que lhe está destinado fazer na encarnação imediata.
Convém recordar que depois da vida astral que se segue à perda do corpo físico, o homem passa sucessivamente pelos dois estados de consciência correspondentes aos quatro subplanos rúpicos ou do mundo mental inferior, e aos três subplanos do mundo mental superior. No entanto, a maioria está tão pouco evoluída e sua consciência é tão tênue em ambos os mundos, que bem se pode dizer que vivem sonolentas neles, embora consciente ou inconsciente, dormindo ou acordado, todo ser humano tem que chegar ao plano causal antes de se reencarnar no plano físico, e segundo progride em sua evolução, é mais real para ele o seu conta to com o plano causal.
Não só é ele ali mais consciente à medida que progride, senão que sua permanência nesse mundo é cada vez mais longa, porque sua consciência se vai elevando lenta mas firmemente pelos diversos planos do sistema.
Por exemplo: o homem que começa a evoluir só é consciente no plano físico durante a vida terrena e nos subplanos inferiores do plano astral depois da morte do corpo físico. Quando o indivíduo está algo mais adiantado, já passa um curto período da vida celeste nos subplanos inferiores do mundo mental, embora ainda passe no mundo astral a maior parte do intervalo entre duas encarnações. Conforme progrida, a vida astral vai-se tornando cada vez mais curta e a celeste mais longa, até que, quando alcança um alto grau de inteligência e espiritualidade, passa rapidamente pelo mundo astral e permanece longo tempo no mundo celeste, isto é, no subplano superior dos quatro rúpicos ou com forma. Ali, então, sua consciência se eleva consideravelmente até passar para o mundo causal, onde, no corpo causal, permanece a maior parte do tempo entre duas encarnações.
O processo se repete daí em diante, no sentido de que cada vez é mais curta a vida astral e mais longa e plena a vida celeste, até que chega a hora da unificação e o homem já não se reclui nem se ensimesma em seus próprios pensamentos, senão que, ao perceber a grandiosidade do mundo celeste, conscientiza-se das possibilidades de sua vida e pela primeira vez começa a viver de fato. Mas por então deve ter entrado na Senda e assumido seu destino em suas próprias mãos.