Concentração

Enviado por Estante Virtual em seg, 16/12/2013 - 00:37
A meditação é usualmente dividida em três estágios: Concentração, Meditação e Contemplação. Poderia ser ainda mais subdividida, mas é desnecessário fazê-lo aqui; de outra parte, o iniciante deveria manter em mente que a meditação é uma ciência para toda a vida, de modo que não deve esperar atingir o estágio da pura contemplação em seus primeiros esforços. 
 
A concentração consiste em focalizar a mente em uma única idéia e mantê-la ali. Patanjali, o autor do clássico hindu Aforismos do Yoga, define Yoga como 'a suspensão das modificações do princípio pensante'. Esta definição é aplicável à concentração, ainda que Patanjali provavelmente vá além em seu pensamento e inclua a cessação da faculdade mental de construção de imagens e de todas as expressões concretas do pensamento, virtualmente assim passando além do estágio da mera concentração para o da contemplação. 
 
Para poder se concentrar, então, é necessário ganhar controle sobre a mente e aprender por prática gradual a estreitar seu leque de atividades, até que se torne unidirecionada. Alguma idéia ou objeto é escolhido sobre o qual concentrar-se, e o passo inicial é eliminar da mente todo o resto, excluir portanto toda a corrente de pensamentos alheios ao assunto, que dançam ante a mente como as imagens cambiantes do cinema. É verdade que muito da prática inicial do estudante deverá ser nos estágios inicias esta forma de exclusão repetida de pensamentos; e pôr-se a fazer isso é um treinamento excelente. Mas há uma outra e muito melhor maneira de atingir a concentração; consiste em se tornar tão interessado e absorvido no tema escolhido que todos os outros pensamentos são por isso mesmo excluídos da mente. Estamos constantemente fazendo isso em nossas vidas diárias, inconscientemente e por força do hábito. Escrever uma carta, fazer contas, tomar grandes decisões, resolver problemas difíceis, todas estas coisas colaboram para que a mente seja induzida a um estado mais ou menos profundo de concentração. O estudante deve aprender a consegui-la à vontade, e será mais bem-sucedido cultivando o poder e o hábito de observar e prestar atenção aos objetos externos. 
 
Tome qualquer objeto: um porta-canetas, um pedaço de papel, uma folha, uma flor, e note os detalhes de sua aparência e estrutura que normalmente passam despercebidos; enumere uma por uma suas propriedades, e logo achará o exercício de um interesse absorvente. Se for capaz de estudar o processo de sua manufatura ou crescimento, o interesse aumentará ainda mais. Nenhum objeto na natureza é de fato completamente tosco ou desinteressante; e quando algo se nos aparece assim, a falha em apreciar a maravilha e a beleza de sua manifestação reside em nossa própria falta de atenção. 
 
Como auxílio à concentração, é bom repetir em voz alta as idéias que lhe passam pela mente. Assim; este porta-canetas é preto; ele reflete a luz da janela em algumas partes de sua superfície; tem cerca de dezessete centímetros de comprimento, cilíndrico; sua superfície é gravada com um desenho; o desenho tem forma de galhos e é formado por séries de linhas gravadas muito juntas; e assim por diante à vontade. 
 
Desse modo o estudante aprende a retirar-se do mundo maior e fechar-se no pequeno mundo de sua escolha. Quando isso for conseguido satisfatoriamente terá atingido um certo grau de concentração; mas é evidente que haverá ainda muitos e diversos pensamentos rolando pela mente, ainda que todos em torno do porta-canetas. O falar em voz alta ajuda a diminuir a velocidade dessa corrente de pensamentos e evita que a mente devaneie. Gradualmente pela prática ele aprende a limitar ainda mais o círculo de pensamentos até que literalmente pode direcionar a focalização da mente para um só ponto. 
 
A prática acima é por natureza um pouco difícil de ser conseguida; requer um grau de aplicação estrênua, e, mais que tudo, pode aparecer algo fria ao estudante, já que desperta pouca emoção. Um outro exercício de concentração pode portanto ser feito correntemente, mas antes de descrevê-lo devemos dizer que o exercício anterior, em algum momento da carreira do estudante, precisa ser dominado. Algum grau de maestria nisso é pré-requisito para a visualização bem-sucedida, isto é, o poder de reproduzir mentalmente um objeto com minúcia de detalhes sem ele estar visível aos olhos, e a visualização acurada é uma parte necessária de muito do trabalho que é feito pelos estudantes treinados em métodos ocultos tais como a construção deliberada de formas-pensamento e a criação mental de símbolos no cerimonial. Coerentemente, o estudante que for mesmo dedicado não negligenciará este tipo de trabalho por causa de sua dificuldade e por requerer aplicação. Ele também se porá a trabalhar na visualização, observando e perscrutando cuidadosamente um objeto, e então com os olhos fechados tentará fazer uma representação mental dele. 
 
O segundo método mencionado antes é o de não se concentrar sobre um objeto físico, mas sobre uma idéia. Se alguma virtude for tomada isso terá a vantagem de despertar o entusiasmo e a devoção do estudante, e essa é uma consideração muito importante nos estágios iniciais da prática, quando a perseverança e firmeza são com freqüência penosamente testadas. Além disso, os esforços constroem aquela virtude no caráter. Neste caso a concentração é mais dos sentimentos e menos evidentemente um processo mental. O estudante se esforça por reproduzir em si mesmo a virtude, digamos simpatia, pela qual anseia, e por força de manter-se numa única emoção, pelo poder da vontade eventualmente terá sucesso em sentir simpatia. É mais fácil ser unidirecionado no sentimento do que no pensamento, pois este último é mais sutil e ativo; mas se uma intensa concentração de sentimento puder ser induzida, a mente em certa medida a seguirá.
 

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