Capítulo 7 - Reencarnação

Enviado por Estante Virtual em sex, 08/06/2012 - 19:19
Esta vida do Ego em seu próprio mundo, que é tão gloriosa e tão plenamente satisfatória para o homem desenvolvido, tem uma parte muito pequena na vida da pessoa comum, pois no seu caso o Ego ainda não atingiu um estágio de desenvolvimento suficiente para estar desperto em seu corpo causal. Em obediência à lei da natureza ele se recolheu para dentro do corpo causal, mas ao fazer isso perdeu a sensação de vida intensa, e o incansável desejo de sentir isso uma vez mais o empurra na direção de outra descida à matéria.
 
Este é o esquema de evolução indicado para o homem no presente estágio – que ele se desenvolva pela descida à matéria densa, e então ascenda para trazer de volta a si mesmo o resultado das experiências assim obtidas. Sua vida real, portanto, abrange milhões de anos, e o que temos o hábito de chamar de uma vida é só um dia nesta existência maior. De fato, é apenas uma pequena parte de um dia, pois uma vida de setenta anos no mundo físico é freqüentemente seguida por um período de vinte vezes esta duração passado nas esferas mais altas.
 
Cada um de nós tem uma longa série destas vidas físicas atrás de si, e o homem comum ainda tem uma série bem longa delas à sua frente. Cada uma delas é um dia na escola. O Ego veste sua roupa de carne e entra na escola do mundo físico para aprender certas lições. Ele as aprende, ou não, ou aprende em parte, conforme o caso, durante o seu dia escolar de vida terrena; então ele depõe sua vestimenta de carne e retorna para casa em seu próprio nível para descansar e renovar-se. Na manhã de cada nova vida ele retoma novamente sua lição do ponto onde ele a deixou na noite passada. Algumas lições ele pode ser capaz de aprender em um dia, enquanto outras podem lhe tomar muitos dias.
 
Se ele é um aluno capaz e aprende rápido o que é preciso, se ele obtém uma noção inteligente das regras das escola, e se dá ao trabalho de adaptar sua conduta a elas, sua vida escolar é comparativamente curta, e quando acaba ele prossegue plenamente equipado para a vida real dos mundos superiores para os quais este é só uma preparação. Outros Egos são meninos mais preguiçosos que não aprendem tão rápido; alguns deles não entendem as regras da escola, e por causa desta ignorância estão constantemente infringindo-as; outros são travessos, e mesmo quando vêem as regras não podem conduzir-se de pronto para agir em harmonia com elas. Todos estes têm uma vida escolar mais longa, e por suas próprias ações atrasam sua entrada na vida real dos mundos superiores.
 
Pois esta é uma escola em que nenhum aluno jamais falha; cada um deve chegar até o final. Ele não tem escolha quanto isso; mas a extensão de tempo que levará na qualificação de si mesmo para os exames superiores é deixada inteiramente a seu critério. O aluno prudente, percebendo que a vida escolar não é uma coisa em si, mas só uma preparação para uma vida mais gloriosa e muito mais vasta, esforça-se para compreender tão completamente quanto possível as regras de sua escola, e modela sua vida de acordo com elas o mais que puder, de modo que nenhum tempo possa ser perdido no aprendizado de quaisquer lições que forem necessárias. Ele coopera inteligentemente com os Instrutores, e dispõe-se para realizar o máximo de trabalho que lhe for possível, a fim de que o mais cedo possível ele possa chegar à maioridade e entrar em seu reino como um Ego glorificado.
 
A Teosofia explica-nos as leis sob as quais esta vida escolar deve ser vivida, e neste sentido dá uma grande vantagem aos seus estudantes. A primeira grande lei é a da evolução. Cada homem tem de se tornar um homem perfeito, desenvolver até ao máximo grau as divinas possibilidades que jazem latentes em si, pois este desenvolvimento é o objetivo de todo o plano até onde concerne a ele. Esta lei da evolução constantemente o pressiona para diante em direção a realizações cada vez mais altas. O homem sábio tenta antecipar suas exigências – andar à frente do currículo necessário, pois deste modo ele não só evita toda a colisão contra ele, mas com desta atitude obtém o máximo de assistência. O homem que se atrasa na corrida da vida sente sua firme pressão constantemente constrangendo-o – uma pressão a que, se resistir, rapidamente se tornará dolorosa. Assim o que se retarda na senda da evolução tem sempre a sensação de estar sendo caçado e impelido pelo destino, enquanto que o homem que coopera inteligentemente é deixado perfeitamente livre para escolher a direção na qual andar, desde que seja para diante e para cima.
 
A segunda grande lei sob a qual esta evolução está tendo lugar é a lei de causa e efeito. Não pode haver nenhum efeito sem sua causa, e cada causa deve produzir seu efeito. Não são de fato duas, mas uma só, pois o efeito é realmente parte da causa, e aquele que põe em movimento uma aciona também a outra. Não existe na Natureza nenhuma idéia tal como recompensa ou punição, mas somente causa e efeito. Qualquer um pode ver isso em conexão com a mecânica ou a química; o clarividente o vê com igual clareza no que se refere aos problemas da evolução. A mesma lei atua tanto no mais alto como no mais baixo dos mundos; lá, como aqui, o ângulo de reflexão é sempre igual ao ângulo de incidência. É uma lei da mecânica que a ação e a reação sejam equivalentes e opostas. Na matéria quase infinitamente mais fina dos mundos superiores a reação não é de modo algum sempre instantânea; pode se distribuir algumas vezes por longos períodos de tempo, mas retorna inevitável e exatamente.
 
Assim como a lei mecânica no mundo físico é certa em seu funcionamento, o é também a lei mais elevada de acordo com a qual o homem que envia um bom pensamento ou empreende uma boa ação recebe o bem em troca, enquanto que o homem que envia um mau pensamento ou faz uma ação má recebe o mal em retorno com igual precisão – uma vez mais, de modo nenhum como uma recompensa ou punição administrados por alguma vontade externa, mas simplesmente como o resultado mecânico e definido de sua própria atividade. O homem aprendeu a apreciar um resultado mecânico no mundo físico, porque a reação é usualmente quase imediata e pode ser vista por ele. Ele não entende sempre a reação nos mundos superiores porque aquela faz um percurso muito mais largo, e freqüentemente volta não nesta vida física, mas em alguma outra futura.
 
A ação desta lei traz a explicação para diversos problemas da vida comum. Ela importa para os diferentes destinos da vida comum. Importa para os diferentes destinos impostos sobre as pessoas, e também para as diferenças das próprias pessoas. Se um homem é inteligente em certa direção e outro é incapaz, é porque em uma vida anterior o inteligente devotou muito esforço praticando naquela direção especial, enquanto que o incapaz o está tentando pela primeira vez. O gênio e a criança precoce são exemplos não do favoritismo de alguma deidade, mas do resultado produzido por vidas anteriores de aplicação. Todas as variadas circunstâncias que nos rodeiam são o resultado de nossas próprias ações no passado, precisamente como o são as qualidades que hoje nos encontramos possuindo. Somos o que fizemos de nós, e nossas circunstâncias são as que merecemos.
 
Há, contudo, um certo ajuste ou dosamento destes efeitos. Ainda que a lei seja uma lei natural e mecânica em sua operação, não obstante existem certos grandes Anjos que estão ligados à sua administração. Eles não podem mudar sequer numa grama a quantidade de resultado que decorre de qualquer ação ou pensamento, mas podem dentro de certos limites apressar ou atrasar sua ação, e decidir de que forma será.
 
Se isso não fosse feito haveria pelo menos a possibilidade de que nos estágios primitivos o homem pudesse errar tão seriamente que o resultado de seu erro pudesse ser mais do que ele pudesse suportar. O plano da Deidade é dar ao homem uma limitada porção de livre-arbítrio; se ele usa bem esta pequena porção, ele ganha o direito para uma porção maior da próxima vez; se ele a usa mal, o sofrimento se abate sobre ele como resultado do mau uso, e ele se vê constrangido pelo resultado de suas ações anteriores. Quando o homem vai aprendendo a usar seu livre arbítrio, mais e mais dele lhe é confiado, de modo que ele adquire para si praticamente ilimitada liberdade na direção do bem, mas seu poder de agir mal é estritamente restringido. Ele pode progredir tão rápido quanto quiser, mas não pode destroçar sua vida em sua ignorância. Nos primeiros estágios da vida selvagem do homem primitivo é natural que houvesse no todo mais mal do que bem, e se o resultado integral de suas ações retornasse de uma só vez sobre o homem ainda tão pouco desenvolvido, poderia muito bem arrasar os poderes recém desenvolvidos que ainda seriam excessivamente frágeis.
 
Além disso, os efeitos de suas ações são variados em caráter. Enquanto que alguns deles produzem resultados imediatos, outros precisam de muito mais tempo para sua ação, e assim sucede que à medida que o homem vai evoluindo ele tem acima de si uma nuvem suspensa de resultados não descarregados, alguns deles bons, outros maus. Desta massa (que para fins de analogia podemos considerar como se fosse um débito para com os poderes da natureza) uma certa quantidade recai devidamente em cada um de seus sucessivos nascimentos; e aquela quantidade, assim assinalada, pode ser considerada o seu destino para aquela vida particular.
 
Tudo que isso significa é que certa quantidade de alegria e certa dose de sofrimento lhe são devidos, e inevitavelmente lhe sucederão; como ele enfrentará este destino e que uso fará dele, fica inteiramente à sua escolha. É certa quantidade de força que tem de ser esgotada. Nada pode evitar a ação desta força, mas sua ação pode ser sempre modificada pela aplicação de uma nova força em outra direção, exatamente como é o caso na mecânica. O resultado do mal passado é como qualquer outro débito; pode ser pago com um único e vultoso cheque do banco da vida - alguma suprema catástrofe; ou pode ser pago em muitas notas pequenas, por problemas e preocupações menores; em alguns casos pode mesmo ser pago miúdo por um vasto número de minúsculos aborrecimentos. Mas uma coisa é muito certa – que, de uma forma ou doutra, o pagamento terá que ser feito.
 
As condições de nossa vida presente, então, são absolutamente o resultado de nossa própria atuação no passado; e o outro lado desta asserção é que nossas ações nesta vida estão construindo as condições para a próxima. Um homem que se encontra limitado seja em poderes seja em circunstâncias externas pode nem sempre ser capaz de tornar-se ou às suas condições o que ele desejaria para esta vida; mas ele pode certamente assegurar para a próxima qualquer coisa que escolher.
 
Toda ação do homem não termina em si mesmo, mas invariavelmente afeta outros em seu redor. Em alguns casos este efeito pode ser comparativamente trivial, enquanto que em outros pode ser do mais sério caráter. Os resultados triviais, sejam bons ou maus simplesmente são pequenos débitos ou créditos na nossa conta com a Natureza; mas os grandes efeitos, sejam bons ou maus, criam uma conta pessoal que deve ser acertada com a pessoa envolvida.
 
Um homem que dá uma refeição para um mendigo faminto, ou o conforta endereçando-lhe uma palavra amável, receberá o resultado de sua boa ação como parte de uma espécie de fundo geral de benefícios da Natureza; mas alguém que por alguma boa ação muda todo o curso da vida de outro homem seguramente terá de encontrar aquele mesmo homem novamente em uma vida futura, a fim de que o que tiver sido beneficiado possa ter a oportunidade de retribuir a benesse que lhe tiver sido feita. Alguém que cause aborrecimento a outro sofrerá proporcionalmente por isso em algum lugar, de algum modo, no futuro, ainda que ele possa jamais encontrar de novo o homem que tiver incomodado; mas alguém que prejudica seriamente outro, que arruína sua vida ou retarda sua evolução, deve certamente encontrar sua vítima de novo em algum momento ulterior no curso de suas vidas, para que possa ter a oportunidade, por serviço caridoso e auto-sacrificado, de contrabalançar o mal que tiver feito. Resumindo, grandes débitos devem ser pagos pessoalmente, mas os pequenos vão para o fundo geral.
 
Assim estes são os principais fatores que determinam o próximo nascimento do homem. Primeiro age a grande lei da evolução, e sua tendência é pressionar o homem para uma posição em que ele possa mais facilmente desenvolver as qualidades de que ele mais precisa. Para os propósitos do plano geral, a humanidade é dividida em grandes raças, chamadas raças-raiz, que dominam e ocupam o mundo sucessivamente. A grande raça Ariana ou Indo-Caucásica, que no presente momento inclui os habitantes mais avançados da Terra, é uma delas. A que veio antes na ordem da evolução foi a raça Mongólica, usualmente chamada de Atlante nos livros Teosóficos, porque o continente de onde regeu o mundo agora jaz debaixo das águas do oceano Atlântico. Antes desta veio a raça Negróide, da qual alguns descendentes ainda subsistem, mesmo que hoje em dia já estejam muito misturados com rebentos das raças posteriores. De cada uma das grandes raças-raiz saem muitos rebentos que chamamos sub-raças – tais como, por exemplo, as raças Românicas ou a Teutônica; e cada uma destas sub-raças por sua vez se divide em raças-ramo, tais como os Franceses e Italianos, os Ingleses e os Alemães.
 
Estas distribuições são feitas a fim de que cada Ego possa ter uma ampla escolha de variadas condições e ambientes. Cada raça está especialmente adaptada para desenvolver em seu povo uma ou outra das qualidades que são necessárias no curso da evolução. Em cada nação existe um número quase infinito de condições diferentes, riquezas e misérias, um largo campo de oportunidades ou uma total falta delas, facilidades para o desenvolvimento ou condições em que este desenvolvimento é difícil ou a bem dizer impossível. Em meio de todas estas infinitas possibilidades a pressão da lei de evolução tende a guiar o homem para exatamente aquelas que melhor preencham suas necessidades no estágio em que ele porventura se encontrar.
 
Mas a ação desta lei é limitada pela outra lei de que falamos, a lei de causa e efeito. As ações do homem no passado podem não ter sido tais que mereça (se pudéssemos dizer assim) as melhores oportunidades possíveis; ele pode ter posto em movimento em seu passado certas forças cujo inevitável resultado será produzir limitações; e estas limitação podem agir evitando seu recebimento das melhores oportunidades possíveis, e assim como resultado de suas próprias ações no passado ele pode ter que se haver com menos. De modo que podemos dizer que a ação da lei de evolução, que é deixada para produzir por si realmente o melhor possível para cada homem, é restringida pelas próprias ações prévias do homem.
 
Como característica importante nesta limitação – que pode atuar tão poderosamente para o bem quanto para o mal – é a influência do grupo de Egos com que o homem criou ligações definidas no passado – aqueles com quem ele formou laços fortes de amor ou ódio, de ajuda ou dano – aquelas almas que ele deve encontrar de novo por causa das conexões feitas com elas em dias há muito passados. Sua relação com elas é um fator que deve ser levado em conta antes que possa ser determinado onde e como ele deverá renascer.
 
A vontade da Deidade é a evolução do homem. O esforço daquela natureza que é uma expressão da Deidade é dar ao homem o que quer que seja mais adequado para esta evolução; mas isso é condicionado pelas faltas no passado e pelos elos que ele já formou. Pode ser suposto que um homem descendo à encarnação pudesse aprender as lições necessárias para aquela vida em qualquer uma de uma centena de posições. Da metade ou mais delas ele pode ser excluído pelas conseqüências de algumas de suas muitas e variadas ações no passado. Entre as poucas possibilidades que lhe restam abertas, a escolha de uma possibilidade em particular pode ser determinada pela presença naquela família ou naquela redondeza de outros Egos com quem ele tem um saldo credor por serviços prestados, ou a quem ele por sua vez deve um débito de amor.
 

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